Publicação compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 31
de julho de 2021
Acostumados a querer "melhorar o mundo",
esquecemos de elogiar o que é digno.
Se você parar para ver, vai notar a seu redor muitos seres
humanos dignos de elogios os mais variados. Via Gazeta, a crônica de Paulo
Polzonoff:
A gente elogia pouco. Muito pouco. O que é compreensível.
Afinal, somos educados a exercermos sempre o espírito crítico e a desconfiarmos
de tudo e todos neste mundo que seria sempre cruel. Tão empenhados estamos em
“melhorar o mundo”, porém, nos esquecemos de admirar e incentivar as infinitas
pequenas coisas que dão certo, às vezes até muito certo.
Por “mundo”, me refiro não ao governo, às instituições, às
celebridades – a essas coisas minúsculas que, por uma distorção do olhar,
parecem gigantescas e importantíssimas. Penso, aqui, nas pessoas simples, quase
todas anônimas, e suas boas intenções. E até nas tentativas que, muitas vezes,
resultam em fracassos interessantíssimos que ensinam a todos.
Não estou falando do elogio que é bajulação. Muito menos do
elogio-que-não-é-elogio, aquele feito com artimanha e planejamento para se
traduzir em promoção no trabalho, em venda, em voto ou até em cama. Penso no
elogio-elogio. Elogio com “e” maiúsculo e trabalhado. Aquela coisa simples e
sincera, mas jamais suficientemente rotineira.
No elogio verdadeiro, há muito mais trabalho do que na
crítica, por mais construtiva que ela seja ou pretenda ser. É preciso ser
extraordinariamente generoso a fim de reconhecer: um ser humano que não eu ou
você fez isso e aquilo bem, muito bem, melhor do que eu fiz hoje e
possivelmente melhor do que eu jamais faria. E, por isso, é digno de um elogio.
E, se você parar para ver, vai notar a seu redor muitos
seres humanos dignos de elogios os mais variados. O gari que está varrendo a
rua às 6h da manhã, e sob um frio de quatro graus negativos, por exemplo. O
motorista que, a despeito das buzinadas atrás dele, parou para deixar o
pedestre passar. O vendedor que o atendeu bem, mesmo você tendo experimentado
50 pares de sapato e dando vários sinais de que não levaria nenhum para casa.
Em se elogiando, claro que há sempre a possibilidade de o
outro se deixar envaidecer, tropeçando na banana da autocondescendência, quando
não da displicência. Daí porque se ouve com alguma frequência o famoso “não se
pode elogiar mesmo”. Mas esse arrependimento pelo elogio não faz sentido. O
elogio geralmente tem um objeto definido e está restrito a um tempo muito
específico. Ele não é, pois, garantia de infalibilidade alguma. E nem pretende
ser.
Elogiar é, para evocar aqui a filosofia sartreana que fez
minha cabeça no tempo em que ainda tinha cabelos, reconhecer o lugar do outro
no mundo. É dar momentaneamente um sentido à existência abençoadamente pequena
de todos nós. É perceber no outro uma centelha em meio a esse incêndio
avassalador que é a vida.
Elogiemos sem medo, pois, tudo o que nos rodeia e nos
encanta: os esforços próprios e alheios, as esperanças de sucesso que sempre
ignoram a probabilidade maior do fracasso, aquelas ideias ou opiniões tão
tolas, coitadas, mas que, ditas com entusiasmo, quase nos permitem ver a alma
de quem diz. E também, claro, as realizações de fato bem-sucedidas, provas do
quanto a Humanidade, mesmo parecendo vulgar, comum, repetitiva e trivial,
consegue às vezes se mostrar divina.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
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