sábado, 14 de março de 2020

Sexo: Religiosamente Incorreto


Texto publicado originalmente no site da revista AVENTURAS NA HISTÓRIA, em 25/10/2019

Sexo: Religiosamente Incorreto

Na antiguidade, jamais existiu a ideia ou mera concepção da palavra pecado, mas após a ascensão do cristianismo, o prazer carnal foi praticamente criminalizado

Por M.R. Terci * 

Muito antes de se estabelecer os severos regramentos da vontade de Deus, os líderes religiosos dos primórdios do cristianismo sentiram tamanha repulsa pela flagrante sensualidade da vida romana, que passaram a condenar todos os prazeres do corpo como inerentemente pecaminosos.

Até então, jamais existiu a ideia ou mera concepção do pecado, e após a ascensão do cristianismo, o prazer carnal foi praticamente criminalizado.

Mas em diversas culturas da antiguidade, a sexualidade convivia muito bem com a religiosidade, aliás, o sexo, em sua forma ritualizada, não estava ligado ao casamento nem ao âmbito privado e objetivava alcançar o favor desse ou daquele deus que traria mudanças positivas para a comunidade.

A partir de recentes descobertas arqueológicas, como esqueletos de amazonas, ídolos com formas sensualizadas, restos de ervas afrodisíacas, resquícios de arte erótica pré-histórica, é possível se traçar as origens de antigas práticas ritualísticas ao longo de quatro milhões de anos, onde, em todas as sociedades humanas, o sexo ocupou lugar de grande destaque.

As civilizações da antiguidade possuíam um comportamento mais permissivo em relação à prática sexual. De fato, o mundo antigo – em especial os povos helênicos – tinha uma visão muito mais despojada do que nós quanto a muitas práticas sexuais. Nudez pública, as orgias abertas, sexo ritualístico com prostitutas religiosas, relações sexuais entre indivíduos não casados e pederastia – esta última, comum na Grécia antiga, quando um homem maduro fazia de um menino seu aprendiz.

No antigo Egito, três mil anos antes de Cristo, a sexualidade era vista como algo muito natural. O clima quente obrigava as pessoas a andarem com pouca roupa ou nuas e havia orgias religiosas relacionadas a ritos de fertilidade e colheita que ocorriam diariamente.

Ora, anteriormente, o sexo não era ligado ao casamento e nem ao âmbito privado. Muito antes, no Paleolítico e no começo do Neolítico, desconhecia-se, por assim dizer, o vínculo entre sexo e procriação e os homens sequer imaginavam que tivessem alguma participação no nascimento de uma criança.

Fertilidade era exclusividade feminina, estando a mulher em papel de destaque nessas sociedades, pois seu corpo era associado à vida e a morte; sangrava em certas fases da Lua e produzia leite e gente em outras. O corpo da mulher era um receptáculo mágico, cuja força sobrenatural, incluía o poder mágico de fazer com que o órgão sexual masculino se erguesse, proporcionando prazer – tanto para experimentar quanto para oferecer. Assim, não é de admirar que o poder sexual da mulher infundisse tamanho respeito em nossos ancestrais.

* M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.

Texto reproduzido do site: aventurasnahistoria.uol.com.br

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