Texto publicado originalmente no site da revista AVENTURAS NA HISTÓRIA, em 25/10/2019
Sexo: Religiosamente Incorreto
Na antiguidade, jamais existiu a ideia ou mera concepção da
palavra pecado, mas após a ascensão do cristianismo, o prazer carnal foi
praticamente criminalizado
Por M.R. Terci *
Muito antes de se estabelecer os severos regramentos da
vontade de Deus, os líderes religiosos dos primórdios do cristianismo sentiram
tamanha repulsa pela flagrante sensualidade da vida romana, que passaram a
condenar todos os prazeres do corpo como inerentemente pecaminosos.
Até então, jamais existiu a ideia ou mera concepção do
pecado, e após a ascensão do cristianismo, o prazer carnal foi praticamente
criminalizado.
Mas em diversas culturas da antiguidade, a sexualidade
convivia muito bem com a religiosidade, aliás, o sexo, em sua forma
ritualizada, não estava ligado ao casamento nem ao âmbito privado e objetivava
alcançar o favor desse ou daquele deus que traria mudanças positivas para a
comunidade.
A partir de recentes descobertas arqueológicas, como
esqueletos de amazonas, ídolos com formas sensualizadas, restos de ervas
afrodisíacas, resquícios de arte erótica pré-histórica, é possível se traçar as
origens de antigas práticas ritualísticas ao longo de quatro milhões de anos,
onde, em todas as sociedades humanas, o sexo ocupou lugar de grande destaque.
As civilizações da antiguidade possuíam um comportamento
mais permissivo em relação à prática sexual. De fato, o mundo antigo – em
especial os povos helênicos – tinha uma visão muito mais despojada do que nós
quanto a muitas práticas sexuais. Nudez pública, as orgias abertas, sexo
ritualístico com prostitutas religiosas, relações sexuais entre indivíduos não
casados e pederastia – esta última, comum na Grécia antiga, quando um homem
maduro fazia de um menino seu aprendiz.
No antigo Egito, três mil anos antes de Cristo, a
sexualidade era vista como algo muito natural. O clima quente obrigava as
pessoas a andarem com pouca roupa ou nuas e havia orgias religiosas
relacionadas a ritos de fertilidade e colheita que ocorriam diariamente.
Ora, anteriormente, o sexo não era ligado ao casamento e nem
ao âmbito privado. Muito antes, no Paleolítico e no começo do Neolítico,
desconhecia-se, por assim dizer, o vínculo entre sexo e procriação e os homens
sequer imaginavam que tivessem alguma participação no nascimento de uma
criança.
Fertilidade era exclusividade feminina, estando a mulher em
papel de destaque nessas sociedades, pois seu corpo era associado à vida e a
morte; sangrava em certas fases da Lua e produzia leite e gente em outras. O
corpo da mulher era um receptáculo mágico, cuja força sobrenatural, incluía o
poder mágico de fazer com que o órgão sexual masculino se erguesse,
proporcionando prazer – tanto para experimentar quanto para oferecer. Assim,
não é de admirar que o poder sexual da mulher infundisse tamanho respeito em
nossos ancestrais.
* M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de
Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como
cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle
Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.
Texto reproduzido do site: aventurasnahistoria.uol.com.br
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