Publicado originalmente no site [huffpostbrasil.com], em 19 de janeiro de 2020
Como lidar com o medo diante de uma decisão e o que
significa 'seguir a intuição'
Para a nossa análise mais racional, uma lista de prós e
contras é suficiente. Mas a parte mais emocional da nossa escolha é mais
difícil de ser aprendida ou ensinada.
Por Ana Beatriz Rosa
Passar por uma mudança pode ser assustador. Mesmo quando a
transformação é positiva, ainda assim dá medo. É o medo do desconhecido, que
vem com o pensamento: “não sei o que vai acontecer”. É medo do processo, que
vem com a indagação: “e se durante a mudança tiver muito sofrimento?”. E é o
medo do fracasso, que é a angústia de passar por toda uma fase de transição e,
no fim, não ter o resultado esperado.
O medo, inclusive, é uma de nossas emoções mais ancestrais.
E ele surge como um mecanismo de proteção e sobrevivência para que a gente
resista, tanto individualmente quanto coletivamente.
Mas o medo tem se transformado ao longo do tempo. Se antes a
gente vivia ameaças de extinção, hoje vivemos medos ligados a ameaças afetivas,
financeiras, de autoestima e realização.
Justamente por isso, grandes mudanças, muitas vezes, nos
exigem grandes reflexões. Mas o que será que devemos levar em conta em todo
esse processo? E como não torná-lo tão desgastante emocionalmente?
“Acho que a primeira escolha importante é dar o passo e
abrir mão do controle, pois não sabemos o que o futuro nos reserva”, explica
Vivian Wolff, especialista em desenvolvimento humano, em entrevista ao HuffPost
Brasil.
De acordo com ela, lembrar da impermanência da vida e
praticar a aceitação são fundamentais em um processo de mudança, quer ele seja
turbulento ou não.
Em termos científicos, podemos entender a tomada de decisão
como um processo cognitivo que envolve análises emocionais e racionais de
nossas experiências passadas. Aliado a isso, consideramos os riscos e suas implicações
para o presente e para o futuro.
São vários os fatores que podem influenciar cada uma dessas
etapas, tais como: a falta ou excesso de informações; complexidades ou não do
conteúdo; os contextos de incertezas; nosso valores e crenças; o raciocínio; e
os recursos emocionais de cada indivíduo.
Mas como, de fato, tomar uma decisão? Bom, para alguns
casos, a famosa lista de prós e contras, que parece simples, é uma ótima
ferramenta. Em outros, principalmente quando envolve contextos mais subjetivos,
ela se torna insuficiente.
Isso porque, por muito tempo, o ser humano achou que ele só
decidia de forma racional. Foi, principalmente, com os avanços dos estudos em
psicologia, teorias comportamentais e economia que a gente passou a entender
que nossas decisões são muito mais emocionais do que a gente pensa.
“Precisamos levar em conta a influência do inconsciente em
nossas decisões. Aliás, poucas são as decisões conscientes que tomamos”,
explica a especialista em neurociência Cecília Barreto.
E quando falamos em inconsciente, estamos falando,
principalmente, dos nossos vieses cognitivos.
“Os vieses são espécies de ‘leis’ que o nosso cérebro cria
para diminuir o trabalho dele. Existe todo um algoritmo para que eu não precise
ficar tomando consciência de todas as decisões o tempo todo. Porque a
consciência exige muito esforço da parte mais elaborada do nosso cérebro. Para
evitar isso, há todos esses vieses para automatizar grande parte dessas
decisões”, argumenta a especialista.
Os vieses impactam o nosso dia a dia das pequenas às grandes
decisões. E, segundo Barreto, o que a gente precisa fazer é não deixar que a
nossa vida seja refém de um deles. Ou seja, a gente precisa trazer para a
consciência as nossas decisões.
″É nesse sentido que a decisão mais emocionalmente
inteligente é aquela em que você consegue unir a razão e a emoção”, defende.
Para a nossa análise mais racional das decisões, não tem
muito mistério. Como disse anteriormente, uma lista de prós e contras é
suficiente. Mas a parte mais emocional da nossa decisão é mais difícil de ser
aprendida ou ensinada. Ela é a nossa intuição.
“A nossa intuição, na realidade, é muito mais científica e
biológica do que a gente pensa. Ela é uma espécie de grupo de ‘dicas’ que o
nosso inconsciente nos dá por conta de todos os aprendizados passados que estão
na gente, mas que eu nem sempre consigo me lembrar de forma consciente. Também
são os aprendizados coletivos que foram passados evolutivamente por conta do
nosso desenvolvimento como sociedade e até mesmo por nosso material genético”,
explica Barreto.
E como lidar com a falta de controle e frustração
Mas e como a gente lida com o descontrole em todo esse
processo de decisão? Aqui vai o spoiler: a gente não lida. A gente simplesmente
aceita o fato de que não dá para controlar tudo, muito menos em um processo de
mudança.
Muitas pessoas dizem que a grande sabedoria da vida é você
compreender as coisas sobre as quais você tem controle e aquelas que você não
tem. E aí você entende como você pode agir sobre elas.
“O controle, em si, é uma grande ilusão. E o nosso cérebro
sofre muito por isso. Tem muitos estudos que falam sobre como a sensação de ter
controle já diminui a ansiedade”, argumenta a especialista em neurociência.
Já que eu não posso ter controle de tudo, o que eu preciso
fazer para me sentir melhor em um processo de tomada de decisão? Uma boa
estratégia, segundo Barreto, é aumentar aquela esfera sobre a qual eu sinto que
tenho controle.
“Em um dos estudos sobre ansiedade e ilusão de controle,
eles usam o exemplo de idosos que estão se aproximando da morte. Aqueles idosos
que começaram a cuidar de uma plantinha no asilo se sentiram muito mais felizes
e melhores porque eles tinham uma coisa na vida deles que estava sob controle”,
compartilha.
Talvez, então, seja assim que a gente precise aprender a
agir na nossa vida. Entender que, diante de uma grande decisão e uma
oportunidade de mudança, a gente precisa ressaltar aquilo que está sob o nosso
controle — e agir sobre isso. E, é claro, sem esquecer de ouvir a nossa
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário