Crédito: Olívia Nachle
Publicado originalmente no site da revista TRIP, em 02 de maio de 2018
Fogo em Bali
Aos 30, a estilista Karla Pires se diz pronta para casar e
investir em sua marca em Bali, onde posou para este ensaio. Mas ela não
pretende se acomodar: ”A mulher nessa idade entra em estágio de fogo”
Por Carlos Messias
“Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem tem essa
pressa de viver.” Este trecho de “Coração selvagem”, canção de Belchior,
poderia muito ser o mantra da modelo e estilista Karla Pires. Desde criança,
quando trocou sua Goiânia natal por Cuiabá (MT) e, depois disso, por Campinas
(SP), ela aprendeu a não ficar muito tempo no mesmo lugar. “Minha mãe sempre
mudou muito. E ela falava para mim: ‘Você tem que conhecer o mundo’”, conta
Karla, por Skype, diretamente de Cantão, na China, onde passa uma temporada a
trabalho.
Desde cedo, ela segue ao pé da letra o conselho materno. Aos
18 anos, foi morar sozinha em São Paulo, onde começou sua carreira como modelo,
que conciliou com a faculdade de publicidade no Mackenzie. Em um estágio, ainda
na área de marketing, teve o primeiro contato com a criação de moda – o que se
mostrou um caminho sem volta. “Percebi que gostava muito mais de trabalhar com
moda do que com publicidade.”
Com o canudo embaixo do braço, pisou fora do país pela
primeira vez: foi para a Austrália estudar inglês. Longe de ser aquele caminho
típico de recém-formada que, sem saber o que fazer da vida, vai passar um tempo
no exterior, Karla tinha um objetivo muito claro: dominar o idioma para ser
aceita na Esmod, em Paris, uma das escolas de moda mais tradicionais do mundo,
onde se formou estilista em 2013.
Mesmo com 1,66 metro de altura – bem abaixo da média das
modelos na Europa –, Karla procurou uma agência francesa, que apostou em seu
rosto delicado e em uma carreira comercial para a brasileira. Deu certo: as
viagens não pararam mais.
Carimbando o passaporte
Passados seis anos, ela já morou em nove países (Turquia,
Índia, Indonésia, Inglaterra, Espanha e Colômbia, além dos já mencionados
Austrália, França e China), o mesmo número de tatuagens que possui no corpo.
Uma delas, no dorso, traz em inglês: “Corações, promessas e amizade – três
coisas no mundo que nunca deveriam ser quebradas”. “Dá um desconto, eu tinha 17
anos”, pede a modelo, que acrescenta: “Mas a mensagem é real, acredito nela até
hoje”.
Aos 30 anos, a pisciana começa a sentir na pele as diferenças
que traz a maturidade. “A mulher nessa idade entra em um estágio de fogo. Dizem
que a vontade de fazer sexo aumenta. Ainda não cheguei a sentir mais desejo,
mas me sinto mais à vontade com a minha própria sexualidade”, revela. “Também
fiquei mais caseira, prefiro jantar com vinho a balada. Comecei a filtrar mais
as amizades e os lugares que frequento. Passei a só gastar minha energia com o
que vale a pena. E me tornei mais responsável com dinheiro, hoje penso no
futuro.”
Além da carreira como modelo, seu foco está na marca Yaz the
Label, que criou em 2016, em Bali, onde é confeccionada. “Minhas roupas seguem
uma linha mais tribal, tipo o Burning Man [festival no deserto americano].”
Outra certeza é o DJ sul-africano Clint Lee, que começou a namorar no ano
passado.
Só gringo
Desde que deixou o Brasil, Karla não se envolveu com nenhum
compatriota. “O homem brasileiro é muito player, não só na hora da conquista
como durante o relacionamento”, avalia. “Eles também são muito possessivos.
Ainda vejo isso pelos dramas que as minhas colegas que moram fora enfrentam com
os namorados. São horas e horas de Skype para lidar com alguma crise de ciúme.
Os caras querem saber nos mínimos detalhes o que rolou durante as sessões de
foto. Se ficou de roupa ou sem, se algum homem participou do shooting”, conta.
“Isso não é uma coisa que tem na França, por exemplo. Lá os caras não jogam
verde pra colher maduro. E as mulheres são muito independentes. Apenas
comunicam que vão fazer isso ou aquilo, nunca entram nessas de negociar.”
Karla conseguiria até fazer um atlas comparando o machismo
em diferentes áreas do mundo. “É uma coisa cultural. Nos países onde a religião
é muito forte, você vê que o homem é naturalmente mais machista. Na Índia, a
mulher está sempre um nível abaixo. Os fotógrafos mantêm o nariz empinado e
querem que a modelo faça exatamente o que eles pedem. Na Ásia e na Turquia,
também sinto que não melhorou.”
Ela também explica como a misoginia limita sexualmente: “Nem
todos os homens sabem lidar com o prazer feminino. São egoístas na cama, não
procuram explorar e entender até onde vão determinados pontos [erógenos] da
mulher. Vai passando o tempo e o homem perde a curiosidade por uma mulher, fica
aquele negócio estagnado. Aí, quando você conhece o seu namorado seguinte,
sente como se fosse uma virgem”.
Quase hippie
A modelo sabe o que não quer e exatamente o que quer em um
homem. “Tenho uma vibe meio hippie, não curto mauricinho nem caras muito
materialistas. Também não gosto de modelo do tipo Ken, da Barbie. Gosto de
meninos meio largados, que dividem todas as decisões com a mulher. Também acho
importante ter bom humor.”
Predicados nos quais, segundo ela, o namorado Clint
gabarita. Mesmo com a vibe hippie, Karla acredita em monogamia e enxerga um
futuro sólido para o casal. “Meus pais se separaram muito cedo, não via o
casamento como algo real. Todo mundo dizia: ‘Quando chegar a hora, você vai
saber’. E quando conheci o Clint, de cara soube que seria ele. Na primeira
semana, já falamos em casar e os nomes dos nossos filhos.”
No próximo verão europeu, terminada a temporada da modelo na
China, eles devem ir morar juntos em Ibiza, onde ele discotecará em clubes
locais e ela vai articular as vendas da Yaz the Label em lojas espanholas. Pelo
menos até segunda ordem. “Quando fico em um lugar por mais de três meses, já
quero me mudar de novo.”
Texto e imagem reproduzidos do site: revistatrip.uol.com.br
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