Publicado originalmente no site [huffpostbrasil], em 18 de setembro de 2019
10 grandes filmes que foram proibidos ou censurados
A história do cinema está cheia de produções que foram perseguidas pelos mais diversos motivos.
By Rafael Argemon
A atual política de rever o repasse de recursos para filmes com temática LGBT por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), além de casos como o adiamento do lançamento do longa Marighella e a proibição da exibição do documentário Chico: Artista Brasileiro (2015) em um festival no Uruguai, reascenderam uma questão que o cinema, e as artes em geral, sofrem desde sempre: a censura.
Pelos mais variados motivos, filmes são banidos ou censurados no mundo todo. Seja por razões políticas, morais ou religiosas, grandes títulos só foram exibidos em salas de cinema muitos anos depois de terminados, transformando-os em obras “malditas”.
Pensando nisso, selecionamos aqui 10 grandes filmes que foram proibidos ou censurados no mundo:
Saló ou os 120 Dias de Sodoma (1975)
O mais incompreendido dos filmes do cineasta e poeta
italiano Pier Paolo Pasolini, Saló é uma adaptação livre de Os 120 Dias de
Sodoma, do Marquês de Sade, transportado para a Itália fascista de Benito
Mussolini. A produção seria a primeira parte da Trilogia da Morte, que se
contraporia a Trilogia da Vida, formada por Decameron (1971), Os Contos de
Canterbury (1972) e As Mil e Uma Noites (1974), mas Pasolini foi assassinado
por um garoto de programa poucos meses depois de encerrar as filmagens de Saló.
Crítica ácida aos horrores do fascismo, o filme, infelizmente, acabou ficando
marcado mais pelo escândalo do que pelas questões que levanta. Foi proibido em
diversos países com costumes mais conservadores, como Sri Lanka e Irã, mas
também em locais ditos mais “liberais”, como a Austrália e a Finlândia, que
liberou a exibição de Saló apenas em 2001.
A Última Tentação de Cristo (1988)
Católico convicto, Martin Scorsese ficou fascinado com o
Jesus mais humano retratado no livro do grego Níkos Kazantzákis, e entendia que
as pessoas poderiam compreender melhor a figura de um Cristo mais acessível ao
público, que entendia as aflições e contradições dos seres humanos exatamente
por ele mesmo ser um. Mas a mensagem compreendida por muitos cristãos pelo
mundo afora foi totalmente contrária ao que Scorsese imaginava. Vários grupos
religiosos rejeitaram o filme e as reações foram muitas vezes violentas. Em 22
de outubro de 1988, em um grupo fundamentalista cristão francês lançou
coquetéis molotov dentro de uma sala de cinema que exibia o longa em Paris.
Treze pessoas ficaram feridas. Quatro com queimaduras graves. O filme foi
proibido em países como a Turquia, Argentina, México e Chile. Nas Filipinas e
em Singapura, a produção só teve sua exibição liberada em 2010.
Laranja Mecânica (1971)
Adaptação do livro do escritor inglês Anthony Burgess,
Laranja Mecânica foi banido no Reino Unido a pedido de seu próprio diretor, o
americano Stanley Kubrick, que vivia há anos na Inglaterra. Incomodado com as
críticas ruins que acusavam o filme de ser excessivamente violento e por conta
de ameaças de morte que recebeu, Kubrick exigiu que o longa fosse liberado a
passar nos cinemas britânicos apenas depois de sua morte, que aconteceu em
1999. O filme também foi proibido em países como Irlanda, Coreia, Singapura,
África do Sul. Aqui no Brasil, ele chegou aos cinema apenas sete anos depois de
seu lançamento, e com bolinhas pretas que cobriam os corpos em cenas de nudez.
O Grande Ditador (1940)
Logo que começou a produção de O Grande Ditador, em 1937,
Charles Chaplin foi pressionado pelo governo inglês a desistir de fazer o
filme. O motivo? O Reino Unido ainda tentava uma aproximação com o governo
nazista. Claro que, quando foi lançado, em 1940, o grande libelo de Chaplin
contra o autoritarismo foi usado pelo próprio governo inglês como propaganda
anti-nazista. A Alemanha, claro, baniu o filme, mas, de acordo com o jornalista
Otavio Cohen relata em seu livro A História Bizarra da 2ª Guerra Mundial, o
próprio Hitler assistiu ao filme. E mais de uma vez! O curioso foi que além da
Alemanha nazista, o longa foi proibido no Brasil de Getúlio Vargas, que por
anos foi simpático aos nazistas e classificou o filme de ser “comunista”, e no
período das ditaduras militares do Paraguai e Argentina.
O Massacre da Serra Elétrica (1974)
O que você pensa quando encara uma fila gigante em um caixa
no supermercado? Tobe Hooper teve a ideia para O Massacre da Serra Elétrica
quando estava em uma loja de ferragens lotada. “Por que não usar uma serra
elétrica para abrir caminho na multidão”, imaginou o diretor. Mal sabia ele que
nascia ali um dos grandes clássicos do terror que causaria a fúria de pais
mundo afora, preocupados com a violência que seus filhos consumiam no cinema. O
Massacre da Serra Elétrica foi proibido por anos em países como Brasil,
Finlândia, Noruega, Suécia, Singapura e Austrália, sendo liberado por lá só na
década de 1980. Mas nada se comparar ao que o longa sofreu na Alemanha, em que
foi banido e teve todas as suas cópias confiscadas pelo governo em 1985.
Eu Vos Saúdo Maria (1985)
A visão moderna do francês Jean-Luc Godard sobre Maria
causou furor por onde passou. Não muito pelo filme em si, que apenas transporta
o “mito” para os tempos modernos em que Maria é apenas uma jovem que gosta de
jogar basquete, mas principalmente depois que o Papa João Paulo II condenou o
longa publicamente. Assim como na Argentina, o governo brasileiro, do então
presidente José Sarney, proibiu sua exibição. Mas vários intelectuais e músicos
organizaram sessões clandestinas e a pressão acabou fazendo com que a proibição
fosse cancelada.
O Encouraçado Potemkin (1925)
Um dos maiores clássicos do cinema e apontado por muitos
críticos como um dos maiores e mais importantes filmes da história, O
Encouraçado Potemkin, do cineasta Sergei Eisenstein era revolucionário de
diversas formas. Muito por conta do jeito em que foi filmado, com planos
incomuns para a época e uma edição ágil que passou a ser copiada. Porém, o que
chamou mais a atenção de muitos governos foi a parte “revolucionária” da
mensagem. O filme foi considerado uma propaganda do comunismo e banido em boa
parte do mundo fora da cortina de ferro, como Espanha, Reino Unido, França,
Alemanha... A lista é bem grande. Mas essas barreiras foram logo suplantadas
pelo incrível legado dessa que é uma das grandes obras primas da sétima arte.
A Vida de Brian (1979)
Nem o grupo cômico inglês Monty Python escapou da fúria dos
cristãos quando resolveu fazer piada com a vida de Jesus. Bom, não era bem
isso, já que A vida de Brian foca em Brian, um homem que acaba se metendo em
altas confusões por ser confundido com o filho de Deus. Muitos radicais não
acharam a mínima graça e o longa foi banido em países como África do Sul,
Irlanda, Malásia e Noruega. aliás, na Suécia, o longa filme foi liberado e até
exibido com o slogan: “O filme é tão engraçado que foi banido na Noruega”. Os
noruegueses liberaram a exibição no ano seguinte, em 1980.
O Último Tango em Paris (1972)
O Último Tango em Paris é controverso desde a sua concepção.
O filme nasceu como uma fantasia sexual de seu diretor, o italiano Bernardo
Bertolucci, que uma vez sonhou que encontrava uma mulher na rua e fazia sexo
com ela, sem nunca saber quem ela era e qual o seu nome. No Brasil, a ditadura
militar liberou a exibição do longa apenas em 1979. Já no Chile de Pinochet a
proibição durou 30 anos. No Reino Unido, assim como em uma série de países, o
filme teve várias cenas cortadas. Mas o grande problema que Bertolucci teve foi
em seu próprio país. Na Itália, seu filme foi exibido apenas em 1975 e o
cineasta foi condenado a quatro meses de prisão por “obscenidade”. A condenação
acabou sendo revertida. Em 2016, dois anos antes de sua morte, Bertolucci
provocou ainda mais polêmica ao admitir que a atriz Maria Schneider não sabia
previamente o que aconteceria na “famosa” cena em que Marlon Brando usa
manteiga para fazer sexo anal com sua personagem.
A Tortura do Medo (1960)
Conhecido como o filme que acabou com a carreira do diretor
britânico Michael Powell (Sapatinhos Vermelhos, Narciso Negro e Coronel Blimp -
Vida e Morte), A Tortura do Medo foi banido na Finlândia por 21 anos! O longa
foi pessimamente recebido pela crítica e pelo público britânico, que viu na
história do psicótico Mark Lewis (Karlheinz Böhm), que usa sua câmera para
matar e ao mesmo tempo filmar sua vítimas, um exercício sem sentido de
violência e voyeurismo. Mas o tempo mostrou que o filme merecia bem mais
reconhecimento. O British Film Institute o nomeou o longa como o 78º maior
filme britânico de todos os tempos. Já em 2017, uma pesquisa com 150 atores,
diretores, roteiristas, produtores e críticos classificou Tortura do Medo como
o 27º melhor filme britânico da história.
Texto e imagens reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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