terça-feira, 23 de abril de 2024

Brasil e seu falsos heróis, a saga que nunca acaba

Post compartilhado do Facebook/A Toca do Lobo, de 22 de abril de 2024

Brasil e seu falsos heróis, a saga que nunca acaba.

Quando você pensa que não há nada mais deprimente e estúpido do que ser militante e fã de político, eis que o Bostil lança agora uma nova categoria:

O militante e fã de ex BBB.

PQP, é muita carência e ignorância para um povo só.

Quão vazia e insignificante tem de ser a sua vida para você tornar um pessoa medíocre, vazia, o seu herói ou sua heroína?

A mídia cria o personagem que ela quer e o povo abraça. Não tem jeito, somos a nação mais estúpida do planeta.

Mas aguardem!

Vem aí, muito em breve, mais um possível futuro deputado ou senador.

Detalhe no visual Dr. Rey, afinal, pra "bom médico", estetoscópio é acessório de moda.

Mas calma que ainda não acabou.

Aqui sempre há mais espaço para a total e completa ignorância, já que agora tem também militante fã de "ex esposa" de BBB.

Sim, companheiras (os) de BBBs, pessoas que até ontem não haviam produzido nada relevante, hoje, mesmo fiéis às origens, somam MILHÕES de seguidores e tornam-se também influenciadoras poderosas sem ter o que falar ou o que fazer.

Que vergonha deste país.

E eu, imbecil que sou, insisto em produzir algo relevante ou, ao menos, honesto.

Texto e imagem reproduzidos de post do Facebook/A Toca do Lobo

Clique para acessar, em Link da postagem original com comentários, compartilha do Facebook/A Toca do Lobo:

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Ler comentários na internet é inútil em tempos de delinquência moral

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 21 de abril de 2024

Ler comentários na internet é inútil em tempos de delinquência moral

Lutas políticas, nas redes sociais, são um terreno fértil para o uso pragmático do discurso, que esvazia o valor da linguagem. Luiz Felipe Pondé para a FSP:

Não leio comentários acerca do que escrevo ou falo. Interesse zero. Tampouco tenho interesse em "debates". Debates são um fetiche quando tomados como forma para se "avançar" no entendimento de questões complexas e que mobilizam muitos interesses e paixões das partes em contenda.

Mas, às vezes, leio, por curiosidade mórbida talvez, comentários feitos a textos de colegas colunistas ou artigos em geral e constato que são, em sua imensa maioria, uma enorme perda de tempo.

Claro que há exceções nesse balaio de inconsistências —usemos um termo chique hoje— que são os comentários, mas em geral não justifica o tempo perdido.

O caso da guerra entre Israel e Hamas é um exemplo que beira a caricatura. Articulistas, jornalistas e colunistas são no Brasil, em sua total maioria, contra Israel, mas nos comentários um monte de gente acusa os veículos de "estarem a serviço do sionismo". O que fazer diante de tal absurdo?

Aliás, vale salientar que argumentos como este são herdeiros diretos da peça antissemita russa czarista "Os Protocolos dos Sábios de Sião" —os judeus mandam no mundo com seu dinheiro.

Essa epidemia de inconsistências que as redes geram —muitas vezes, como no caso dos comentários, apresentados como democratização da informação e opinião— é uma das manifestações de uma situação estrutural mais profunda, que é a relação delinquente que a humanidade sempre teve com a fala, a linguagem e a emissão de opiniões.

Não aprendemos a falar "para" o conhecimento consistente de nada. Aprendemos a falar, na melhor das hipóteses, "para" garantir a sobrevivência, a defesa e convencer as fêmeas a aceitar o sexo de forma suave.

E, por sua vez, sendo o sexo frágil, as fêmeas aprenderam a falar "para" garantir o melhor dos mundos possível para elas e sua prole, muito antes de Leibniz (1646-1716) ter concebido sua filosofia do melhor dos mundos possível criado por Deus na sua teodiceia.

No restante dos casos, a linguagem está a serviço do delírio, da mentira, da fofoca, da manipulação das mentes e dos corações. Portanto, é mais fácil ser inconsistente no uso da linguagem do que seu contrário.

Por isso, o trabalho do jornalismo decente, não preguiçoso, e do intelectual decente não enviesado ideologicamente, é tão difícil e raro.

A única forma de combater as fake news seria derrubar as redes sociais, ideia absurda, claro —e nem assim, porque a mentira é proporcional ao simples aumento da circulação da palavra, porque amamos a mentira em si, sem nenhuma razão especial, como dizia o escritor francês Georges Bernanos (1888-1948).

Mas podemos ir mais além do que as lamúrias e os clichês de ocasião no que se refere ao problema das fake news. Suspeito que o lamento ao redor das fake news e as lágrimas de crocodilo a elas associadas aumenta a cada momento simplesmente porque quem domina as redes é a direita.

Fosse o contrário, não sei, não. Os bolcheviques praticaram fake news —como todo mundo— largamente. Talvez uma das mais famosas tenha sido quando espalharam que o czar Nicolau 2° era um agente alemão na Primeira Guerra Mundial —Nicolau 2° era muito idiota para tal.

A prática do pragmatismo revolucionário no uso da moral e da linguagem foi comum entre comunistas. Lenin, Trótski e Stálin o usaram a larga. Marx veria as fake news como úteis para o pragmatismo revolucionário da linguagem, se usado para o lado "certo".

Toda luta política acirrada é um terreno fértil para esse uso pragmático revolucionário da linguagem. O importante é acuar a palavra do outro, esvaziá-la de valor, gerar mais engajamento de uma determinada narrativa. Isso não vai mudar.

Se as leis conseguirem infligir duras perdas financeiras às grandes plataformas da internet, pode-se atingir algum resultado tímido, lembrando que quem criará e aplicará as leis serão os mesmos sapiens que adoram a mentira a favor do que creem.

A delinquência moral é estrutural em nossa espécie. O que nos confunde são os salamaleques, recurso clássico de quem detém o monopólio legítimo da violência no uso da linguagem.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

domingo, 21 de abril de 2024

Obras entram em Domínio Público

Legenda/crédito: Banner postado para simples ilustração, em publicação blog 'Demanda WEB'.

Publicação compartilhada do site ESTUDAR FORA, de 22 de setembro de 2022

As obras que entraram em domínio público em 2022: lista inclui 2 prêmios Nobel e até o Ursinho Pooh

Por Mariane Roccelo 

Todos os anos, obras internacionalmente famosas entram em domínio público dentro e fora do Brasil. Por aqui e em todos os países signatários da chamada Convenção de Berna — evento onde foi estabelecido o reconhecimento do direito autoral — a obra se torna pública, livre e gratuita após setenta anos o falecimento do autor ou do último co-autor em casos de produções coletivas.

Para algumas obras audiovisuais, músicas gravadas, livros e textos publicados, as datas para entrarem em domínio público pode variar para menos de 70 anos da morte do autor. No Brasil, por exemplo, uma obra audiovisual se tornam públicas após 70 anos de sua primeira divulgação. Confira a seguir alguns dos principais livros, filmes e composições que se tornaram públicas no início deste ano.

Em 2022, obra de diversos artistas renomados completam 70 anos da primeira publicação. Entre os nomes que aparecem na lista de 2022, estão Ernest Hemingway, Franz Kafka, Agatha Christie, William Faulkner e Bertolt Brecht. Aparecem também 2 vencedores do prêmio Nobel de literatura, Sinclair Lewis e André Gide, e a primeira edição do famoso livro Ursinho Pooh, escrito por Alan Alexander Milne.

Obras de Sinclair Lewis

2021 marcou os 70 anos da morte do escritor e dramaturgo norte-americano Sinclair Lewis. Nascido em Minessota, Estados Unidos, Lewis era formado em literatura pela Universidade Yale e escreveu livros de sucesso da primeira metade do século XX, como “Não vai acontecer aqui” e “Babbitt”.

O autor recebeu alguns dos prêmios mais importantes da literatura, entre eles o Nobel de 1930 e um Pulitzer de Melhor Obra de Ficção em 1925 com o livro “Doutor Arrowsmith”. Nas obras, o escritor faz críticas inteligentes sobre materialismo e sistema econômico norte-americano.  O site da Universidade de Yale mantém uma página em homenagem ao autor (disponível aqui).

Obras de André Gide

Outro autor que completou 70 anos da morte em 2021 foi o escritor francês André Gide, vencedor do Nobel de Literatura em 1947. Entre os livros mais famosos de Gide, estão “O Imoralista”, “Os moedeiros falsos” e “Corydon”. Filho de um professor de Direito da Universidade de Paris, ele também era um ativista defensor dos direitos de homossexuais e gay assumido no início do século passado – período em que a comunidade LGBTQIA+ era ainda mais perseguida.

No livro “Corydon”, ele reuniu um conjunto de ensaios em que discute a naturalidade e forte presença de homossexuais em diversas civilizações ao longo da história da humanidade.

Milne com o filho Christopher e o urso de pelúcia que deu origem ao famosos Ursinho Pooh.

Um dos ursinhos mais famosos dos desenhos animados, o Ursinho Pooh foi criado pelo escritor britânico Alan Alexander Milne, que lançou a primeira edição do livro em 1926. Ambientada na Floresta de Ashdown, em Sussex, Inglaterra, as histórias contam a relação do menino Christopher Robin com seus amigos, o urso Pooh, o tigre chamado Tigrão, o leitão chamado Leitão, o coelho chamado Coelho, o burro chamado Ió, a coruja chamada Corujão e o canguru filhote chamado Guru.

Antes de entrar para domínio público, os direitos sobre a obra eram da Disney. O personagem principal Pooh e alguns dos amigos animais são baseados em bonecos de pelúcia que pertenciam ao filho de Milne, Christopher Robin Milne.

Ernest Hemingway – O sol também se levanta

A capa da edição brasileira de “O Sol Também se Levanta, da Editora Bertrand. À direita, Hemingway de farda em Milão, em 1918.

A obra “O sol também se levanta” (no original: The Sun Also Rises), do escritor norte-americano Ernest Hemingway (O Velho e o Mar, Por Quem os Sinos Dobram), é um dos livros mais famosos que entram em domínio público neste ano. Ambientada em París no período pós-primeira Guerra Mundial, o livro conta a história de Jacob Barnes e um grupo de expatriados ingleses e estadunidenses.

Franz Kafka – O Castelo

A capa da edição brasileira de “O Castelo” da Editora Cia. das Letras. À direita, retrato de Kafka tirado por Sigismund Jacobi.

A novela “O Castelo” (no original: Das Schloss), do escritor Austro-húngaro Franz Kafka foi lançada em 1926. A obra é um dos escritos inacabados de Kafka, que morreu antes de poder finalizá-la. O livro conta a história do personagem “K” que, ao chegar em uma vila, enfrenta dificuldades para acessar às autoridades locais que governam a população a partir de um castelo particular.

O livro têm um enredo bastante comum aos leitores de Kafka, e debate a relação entre sociedade civil, burocracia e Estado. Durante a formação, o escritor cursou direito na Karl-Ferdinands-Universität, atual Karls-Universität, em Praga, após abandonar o curso de química na mesma instituição.

Agatha Christie – O assassinato de Roger Ackroyd

A capa da edição brasileira de “O assassinato de Roger Ackroyd” da Editora Globo Livros. À direita, retrato de Agatha Christie em 1910.

Uma das obras mais famosas da escritora inglesa Agatha Christie, “O assassinato de Roger Ackroyd” (Do original, The Murder of Roger Ackroyd), conta a história do assassinato do milionário Roger Ackroyd, esfaqueado com uma adaga tunisiano. O crime é o terceiro de uma série de assassinatos que acontecem na vila King’s Abbott, que passam a ser investigados pela protagonista, Caroline Sheppard.

A obra foi inicialmente publicada em 1926 e considerada a melhor novela escrita da história em 2013, pela Associação British Crime Writers. O livro é considerado um cânone entre do gênero romance policial e uma das obras que fez com que Christie recebece o apelido de “Rainha do Crime”.

William Faulkner – Soldiers’ Pay

O livro de estreia do escritor americano William Faulkner entra em domínio público em 2022. Publicado pela editora Boni & Liveright em 1926, até hoje não foi possível confirmar se a história foi, de fato, escrita por Faulkner. Os registros confirmam apenas que foi a primeira obra publicada pelo autor.

O livro conta a história de um aviador gravemente ferido durante a Primeira Guerra Mundial, que volta para a casa em uma pequena cidade da Georgia, Estados Unidos, e tem que enfrentar as mudanças na vida pessoal e limitações físicas do pós-guerra. Até o momento, a obra não tem edição publicada no Brasil.

Bertolt Brecht

A peça “Man Equals Man”, do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht é uma das obras que pertencem à primeira fase da carreira do escritor. Inspirada nos desenvolvimentos sociais e políticos da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), a obra fala sobre a transformação forçada de Galy Gay em um modelo ideal de soldado e como é possível modelar e transformar a personalidade de uma pessoa.

Filmes

Friedrich Wilhelm Murnau – Fausto

Fausto é uma das obras mais famosas do cineasta Friedrich Wilhelm Murnau, um dos nomes mais importantes do movimento expressionista alemão. O filme é baseado no filme homônimo escrito por Goethe, e conta a história da lenda alemã sobre o alquimista e cientista Dr. Johannes Georg Faust, que, desiludido com o mundo, faz um pacto com um demônio. O filme está disponível na íntegra e com legendas em português no Youtube.

“A Letra Escarlate” (do original The Scarlet Letter)

Outro filme que entra em domínio público é baseado no livro “A Letra Escarlate” (do original The Scarlet Letter), do escritor Nathaniel Hawthorne, e dirigido pelo cineasta suéco Victor Sjöström. A história conta a tragédia de Hester Prynne, uma jovem que tem uma filha sem estar casada, que vive na cidade de Salem, Estados Unidos, em 1850.

O filme homônimo é considerado a melhor adaptação do livro de Hawthorne e foi produzido pela produtora MGM em 1926, pertencendo atualmente ao arquivo da UCLA. O filme está disponível na íntegra no Youtube.

George Fitzmaurice – O Filho do Sheik

O filme mudo “O Filho do Sheik” (do original The Son of the Sheik), dirigido pelo cineasta francês George Fitzmaurice, é baseado no romance homônimo da escritora britaânica Edith Maude Hull. O filme é estrelado pelo italiano Rudolph Valentino, apelidado de “Latin Lover”, um grande ator do cinema mudo que morreu no mesmo ano em que a obra foi lançada. O filme também está disponível na íntegra no Youtube.

Música

Obras do compositor austríaco Arnold Schoenberg

Considerado um dos compositores mais influentes do século XX, Arnold Schoenberg pertenceu à corrente do expressionismo alemão. Por ser judeu, o músico foi alvo do Partido Nazista durante a Segunda Guerra Mundial e teve as obras proibidas no país naquele período. Para fugir dos nazistas, Schoenberg se mudou para os Estados Unidos e se tornou cidadão americano em 1941.

Texto reproduzidos do site: www estudarfora org br

sábado, 30 de março de 2024

Internet e democracia: "um momento sombrio" segundo Manuel Castells

Entrevista compartilhada do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de  29 de março de 2024

Internet e democracia: "um momento sombrio" segundo Manuel Castells.

O sociólogo espanhol, pioneiro em estudar os efeitos da internet, teme pelos estragos do mau uso da tecnologia. Entrevista à Veja:

Lá na pré-história da internet, em 1996, o sociólogo espanhol Manuel Castells intuiu o ponto ao qual chegaríamos. Com o lançamento do livro A Sociedade em Rede, um clássico instantâneo, ele desenhou a disseminação da internet e boa parte dos problemas (e também os benefícios) que nasceriam de tanta prevalência. Autor de outros vinte trabalhos em torno do tema, ele é um dos mais celebrados especialistas do impacto das modernas tecnologias em tempo de comunicação acelerada e informações falsas. Professor da Universidade Aberta da Catalunha e da Universidade do Sul da Califórnia, Castells acaba de publicar Testimonio: Viviendo Historia, ainda não traduzido para o português, obra na qual revisita sua trajetória pessoal, ao acompanhar o mundo em transformação. Mergulha sobretudo nos dias de maio de 1968, quando a agitação estudantil reinventou a civilização ocidental, ao anunciar que era “proibido proibir” — Castells esteve no coração dos protestos e acabou sendo expulso da França. Na semana passada ele participou, em Brasília, do Seminário Internacional Democracia e Novas Tecnologias, em comemoração ao bicentenário do Senado. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, ele trata dos riscos, mas também das oportunidades, de um planeta conectado.

Há dez anos, o senhor disse que a comunicação em rede revitalizaria a democracia. Ainda acredita nisso? Até certo ponto, sim, porque a democracia depende da abertura das instituições para a livre expressão e o livre protesto dos cidadãos de todo o mundo. A internet acabou com o monopólio do poder de comunicação, porque as empresas são proprietárias das plataformas de mídia social. Como o modelo de negócio pressupõe aumento do tráfego, elas não têm interesse em limitar a autoexpressão. O problema é que essa livre expressão cheia de contradições e conflitos não segue as normas de comportamento que gostaríamos. Quais sejam: educação, respeito e construção. Isso não é um problema das redes sociais, mas sim de quem somos como humanos.

O problema então é o mau uso da tecnologia? Originalmente, a internet era o domínio de elites supostamente educadas e de boa vontade, mas, com 5,4 bilhões de usuários no mundo, as pessoas comuns também passaram a povoá-la. Uma boa parcela dessas pessoas é sexista, racista, xenófoba, homofóbica, fanática religiosa, nacionalista extremista e propensa à violência. A internet é nosso espelho.

E o que ele mostra? Não é uma imagem muito bonita. Somos capazes de comunicação livre e de escolhas ideológicas independentes, mas o conteúdo da liberdade pode não ser o que esperávamos. Adolf Hitler, Donald Trump e Jair Bolsonaro foram eleitos democraticamente.

Mas já não temos a opção de desligar a internet… O que fazer? Não há como voltar atrás. Só podemos tentar regular o potencial uso negativo dessas tecnologias extraordinárias. Eu observei os embriões da sociedade em rede entre 1996 e 2000. No século XXI, a plena digitalização da sociedade, não apenas com a internet, se tornou uma plataforma para o pleno desenvolvimento da sociedade em rede. Aliás, é do que tratarei em meu próximo livro, A Sociedade Digital, que deve ser publicado em breve.

Sucessivos estudos, sobretudo com adolescentes, mostram as pessoas mais ansiosas, tristes e solitárias — e a internet parece ter culpa no cartório. Como desatar esse nó que amarra a sociedade? Isso não é verdade. Está provado que a internet aumenta a sociabilidade e a satisfação com a vida para a maioria da população — temos evidências empíricas de cinquenta institutos de pesquisa ao redor do mundo. Mas as pessoas estão de fato ansiosas e tristes — mas não solitárias — por causa do massivo deterioramento das condições de vida na maior parte dos países. No entanto, mais uma vez, como ressaltei anteriormente, criminosos e fascistas também usam a internet. É uma boa desculpa para os políticos dizerem, como sempre fazem, que é tudo culpa da internet. Mas não é.

E de quem é a culpa? Em muitos casos, é culpa deles.

Não há dúvida: observamos uma mudança na forma como as pessoas usam as redes sociais, que deixaram de ser um lugar de diálogo saudável e amistoso. Como esse comportamento nocivo poderá afetar a sociedade? Isso, de fato, está criando uma polarização prejudicial entre visões extremas. No entanto, a maior parte das interações não é sobre política e ideologia. Na verdade, elas representam menos de 20% das conversas. As pessoas falam mais sobre suas vidas, músicas, sonhos e tristezas. Os grupos ideológicos extremos alimentam o conflito entre si e tornam seus debates mais visíveis. Eles moldam a conversa em torno da violência e do confronto. A civilidade nos debates públicos deixou de existir. Basta olhar para os debates nos parlamentos em todo o mundo. Há mais insultos e acusações infundadas em vez de argumentos. Não apenas no ambiente virtual da internet, mas na realidade e materialidade dos templos da democracia.

O que motiva a crescente onda de notícias falsas, as infames fake news? Justamente a polarização e a violência, porque os humanos tendem a acreditar no que querem e rejeitam aquilo com que não concordam. Isso é o que a neurociência diz sobre nossos cérebros. Procuramos notícias ou fake news não para nos informar, mas para nos reafirmar.

A inteligência artificial (IA) ganhou, nos últimos meses, imenso espaço — e dadas as denúncias de aproveitamento desonesto da ferramenta, com o objetivo de enganar os cidadãos, entramos em novo fosso. Afinal de contas, é possível usar as tecnologias em benefício de uma sociedade mais pacífica? Sim, claro. Por meio de regulamentação e da aplicação de algoritmos diferentes. A inteligência artificial não opera em um vácuo. Ela depende de bases de dados abertas, e as bases existentes são tendenciosas. Atualmente, já existem algumas empresas, como a (startup americana) Anthropic, que desenvolvem IAs cujas bases de dados consultadas foram tratadas de forma ética para evitar esse tipo de problema.

O senhor acha realmente que a regulamentação das redes sociais e da inteligência artificial está seguindo em uma direção positiva em todo o mundo? A regulamentação é absolutamente necessária. Estou trabalhando nisso com o governo espanhol e alguns especialistas. A indústria está ciente dos problemas, é como uma bomba atômica. Simplesmente não dá para confiar apenas nos humanos.

A pandemia, que pôs a humanidade dentro de casa, diante de telas, teve papel transformador? Somos seres humanos melhores do que há cinco anos? Nós lutamos com sucesso contra a Covid-19 em todo o mundo, mas 7 milhões morreram por ignorância e má política governamental. O Brasil e os Estados Unidos não se saíram bem. Nós mostramos que a engenhosidade humana e a ciência podem nos salvar, mas, independentemente da doença que resultou na pandemia, os humanos não progrediram em superar sua própria estupidez.

Seu livro mais recente, Testimonio: Viviendo Historia, ainda sem tradução para o português, é uma reflexão profunda baseada nas suas próprias vivências, especialmente no tempo das manifestações estudantis de maio de 1968, em Paris. Considerando tudo o que viveu, como percebe o mundo agora? Eu acredito que estamos em um momento sombrio da história, porque nosso superdesenvolvimento tecnológico está em contradição com nosso subdesenvolvimento moral e político.

Haveria, agora, um novo sistema geopolítico, desenhado com a ajuda do poder de influência da internet? Geopoliticamente, sim, as coisas mudaram. A dominação do Ocidente, representado por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, acabou. Hoje eles representam apenas 20% da população mundial e 40% do produto interno bruto (PIB) global. O resto do mundo está dividido entre Ásia, Oriente Médio e América Latina, com exceção da Argentina, que hoje se tornou um satélite dos americanos. Cada país tem sua própria estratégia, mas todos concordam em não se curvar ao velho monopólio. A guerra na Ucrânia é decisiva, porque sinaliza o ressurgimento de uma Rússia militarmente muito poderosa.

E, ainda assim, o senhor tem mesmo convicção de que a democracia prospere? A solução para a crise da democracia é que as elites do poder ouçam seu povo. O orçamento de metade das pessoas na União Europeia não chega ao final do mês e 20% da população está na pobreza. Os Estados Unidos têm uma economia dinâmica, mas a desigualdade é histórica, com a educação e a saúde em crise permanente.

Mas as derrapagens democráticas parecem se espalhar sem freio… A América Latina está em guerra. Vocês só não dizem isso claramente. Há as guerras do narcotráfico em todos os países. No México, 250 mil pessoas foram mortas ou desapareceram nos últimos vinte anos. Há gangues e facções no Equador, no Peru e, agora, também no Chile e na Argentina, onde o Exército chegou a ocupar a cidade de Rosário.

E o Brasil? Também está envolto por gangues. O Brasil é um escândalo de desigualdade. Como disse meu amigo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não se trata de um país pobre, é um país injusto. Lula estava melhorando a situação, mas grande parte da classe política está bloqueando suas medidas para obter benefícios políticos.

E qual o resultado dessa postura? Não pode haver democracia estável sem democracia social, com políticas redistributivas e um Estado de bem-­estar social decente. A economia criminosa está desenfreada, e as pessoas temem a violência diária mais do que qualquer outra coisa. Muitas forças policiais são corruptas e não protegem os cidadãos. Os Estados são continuamente penetrados pela corrupção.

Parece então não haver espaço para esperança… Há saída? Sim. Nós podemos lutar e usar nosso conhecimento e nossa vontade para criar um mundo melhor. Não podemos perder a esperança. Se o fizermos, não haverá salvação possível.

Publicado em VEJA de 29 de março de 2024, edição nº 2886

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

sábado, 16 de março de 2024

A terrível ideia de querer pensar

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 16 de março de 2024

A terrível ideia de querer pensar

Qualquer fraqueza que a filosofia brasileira tenha se deve a uma coisa só: à falta de calçadas boas nas cidades do país. Alexandre Soares Silva para a revista Crusoé:

Uma das maiores discussões filosóficas da história está sendo travada no Brasil, agora mesmo, entre a filósofa Márcia Tiburi e o professor de filosofia Aluízio Couto.

Intelectualmente, é eletrizante. Lembra um pouco o grande debate de 1948 entre o filósofo Bertrand Russell e o padre Copplestone sobre a existência de Deus. Acompanhem, se conseguirem: a filósofa disse que a América Latina devia se chamar “Abya Yala”, um nome indígena — mais adequado, segundo ela, aos “avessos a heterodenominações patriarcais europeias e capitalistas”. O Professor Aluízio disse, por sua vez, que dava para imaginar a filósofa dizendo isso “para pinturas rupestres em um discoporto”. E, como reza o método socrático que se faça quando uma proposição filosófica é ridicularizada, Márcia Tiburi está processando o Professor de Filosofia da rede pública.

Não me sinto preparado para comentar essas especulações filosóficas da filósofa muito filósofa Márcia Tiburi. É um raciocínio complexo demais para mim e, sugiro agora, com intimidade excessiva talvez, que para você também.

Mas sempre encarei a filosofia como algo intransponível para mim.

***

Uma vez, anos atrás, decidi que ia ganhar um hábito novo: ia pensar um pouco. Ia sair todas as tardes pra dar uma volta e pensar sobre um Grande Assunto. Daí saí naquela tarde, na época morava em Perdizes, e passeei pelas ruas arborizadas do Pacaembu pensando num desses grandes assuntos da filosofia. Acho que era a eternidade, ou o Céu, ou o Inferno.

Ao voltar pra casa tinha chegado num insight enormíssimo, que já esqueci qual foi, mas que me deixou excitado: na história da humanidade sou o primeiro homem que pensa! Que tira de verdade um tempo pra pensar! E decidi fazer isso (pensar) todas as tardes da minha vida.

Nunca mais fiz. É, nunca mais pensei em nada. Claro que algumas crises, poucas, me fizeram pensar durante duas ou três horas em problemas pessoais meus, defeitos de personalidade meus, ou melhor ainda dos outros. Traçar planos práticos. Mas nos grandes assuntos da filosofia, ou mesmo mais mesquinhamente da política, nunca mais pensei. Não de verdade.

E acuso todo mundo de fazer o mesmo. Sobre um assunto genérico temos espasmos de pensamento de trinta segundos. Depois nos distraímos, e nossas opiniões sobre as coisas (esquerda ou direita, feminismo ou antifeminismo, qual o papel do governo, o que é uma boa vida, ser elitista ou não ser, etc) são o acúmulo ao longo de anos de muitos espasmos de pensamentos de trinta segundos, misturados com as nossas reações emocionais a uma frase sobre o assunto dita por alguém simpático ou antipático, anos atrás.

E essas são as nossas opiniões, e por isso inclusive nos sacrificamos e somos mártires, lutamos contra ditaduras, somos torturados etc — por espasminhos de pensamento de trinta segundos acumulados ao longo de anos.

“Fale por você”, disse uma pessoa uma vez quando falei mais ou menos isso, e fiquei espantado olhando para a cara boçal da pessoa (uma indireta pra você, Guilherme Bocchini). Fiquei considerando se estava de fato olhando para a única pessoa que pensava no mundo. Mas poderia a única pessoa que pensava no mundo ser um simples carinha, meio banana, com opiniões iguais à de todo mundo, como o Guilherme Bocchini? Desculpe, não acredito. Muito menos acredito que pensar seja um hábito geral da humanidade e que só eu esteja de fora. (Você falou com um membro da humanidade recentemente? Pois então.)

Às vezes tenho certeza que os grandes nomes da filosofia foram pessoas que pensaram só mais um pouquinho que eu. Dois mil e quatrocentos anos atrás, Platão tirou umas três tardes de agosto pra passear num bosque de Siracusa e pensar no que é a justiça, e ainda aproveitou pra passar na padaria antes de voltar pra casa. Pronto, bastou isso: elevou a humanidade, rompeu o véu da ignorância, descobriu algo, criou uma filosofia.

***

Qualquer fraqueza que a filosofia brasileira tenha se deve a uma coisa só: à falta de calçadas boas nas cidades do país.

Como alguém pode ter qualquer pensamento coerente se, a cada três segundos, tem o raciocínio interrompido por um tropeço? Como um ser humano pode ter qualquer introspecção se o tempo todo é obrigado a olhar pra baixo pra dar o próximo passo?

Se, no lugar de caminhadas diárias de duas horas em volta do lago Silvaplana, Nietzsche tivesse que andar em volta da praça Sílvio Romero no Tatuapé, saltando as rachaduras no concreto, teria conseguido pensar o suficiente para escrever O Nascimento da Tragédia? Não, claro que não; ele não teria conseguido pensar o suficiente nem para escrever uma coluna da Márcia Tiburi.

Se você se preocupa com o destino do pensamento brasileiro, não construa escolas, não funde universidades nem think tanks: cuide da sua calçada.

Quanto a mim, qualquer insight que eu tenha tido na vida devo à calçada do Colégio São Domingos entre a rua Caiubi e a rua Bartira, em Perdizes: uns sessenta metros de superfície lisa, responsáveis por oitenta segundos diários de abstração feliz.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

terça-feira, 12 de março de 2024

Como era Freud dentro de seu consultório?

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 12 de março de 2024

‘Minha Análise com Freud’: leia trecho exclusivo do livro que mostra o pai da psicanálise como clínico.

Abram Kardiner (1891-1981) foi paciente de Freud na década de 1920; grande incentivador da psicanálise nos EUA, ele faz relato íntimo de como era ser analisado pelo médico. Julia Queiroz para o Estadão:

Como era Freud dentro de seu consultório? Como seus pacientes se sentiam ao deitar no mais famoso divã da história da psicanálise? Este é o tema do livro Minha Análise com Freud, de Abram Kardiner (1891-1981), psiquiatra norte-americano que foi professor na Universidade Columbia de Nova York e um dos fundadores da New York Psychoanalytic Institute.

A obra narra o período de seis meses em que Kardiner foi analisado pelo pai da psicanálise em seu consultório em Viena, Áustria, no início da década de 1920. Inédito no Brasil e publicado originalmente em 1977, o livro chega às livrarias nesta quarta-feira, 13 de março, pela Quina. Leia um trecho abaixo.

“Poucas pessoas tiveram o privilégio de ser analisadas pelo próprio Freud. Por uma série de eventualidades, cheguei a ele por meio de H. W. Frink [psicanalista americano]. Se eu fosse mais jovem, hesitaria em revelar os fatos biográficos necessários para essa empreitada”, explica o autor no prefácio.

Kardiner diz que seu objetivo não é contribuir à Freudiana, “sobre a qual já existe material abundante”, e sim revelar a técnica do médico a partir de um caso específico - o dele mesmo. O especialista conta, através dos encontros com Freud, sobre sua infância, as diferenças com o pai, a relação sinuosa com a madrasta e descreve os sonhos que foram analisados pelo psicanalista.

O período que passou com Freud alterou “o destino e a existência” de Kardiner, como ele próprio escreve no livro. Um deles momentos de análise e a interpretação de um sonho aparecem em trecho da obra selecionado pelo Estadão. Confira:

Leia trecho de Minha Análise com Freud:

Então houve outro sonho, acho que na mesma noite, o qual eu nunca compreendi por inteiro. Eu estava ao lado de um enorme gato do qual aparentemente eu não sentia medo, mas ele estava imóvel e indiferente.

Freud disse: “Bem, parece que chegamos a algo muito importante aqui. No primeiro sonho, você obviamente não quer que eu aprofunde a sua relação com seu pai. Quer que a imagem permaneça como você a retocou, e assim, no sonho, você me diz para não continuar escavando o passado, que não encontrarei nada de importante”.

“Mas por que”, perguntei, “teria eu retocado a imagem do meu pai?”

“Para que de alguma maneira você pudesse conviver com ele. Em sua primeira infância, ele evidentemente o apavorava. No entanto, quando sua madrasta chegou, o temperamento de seu pai mudou, e é esse temperamento retocado que você desejava conservar e assim esquecer o pai raivoso dos seus primeiros anos. Mas você permaneceu submisso e obediente a ele de modo a não despertar o dragão adormecido, o pai bravio”. Minha reação imediata foi aceitar a interpretação de Freud. Foi apenas muitos anos depois que entendi o erro básico que ele cometeu aqui.

O homem que havia concebido o conceito de transferência não o reconheceu quando ocorreu nesse caso. Ele não percebeu uma coisa. Sim, eu tive medo do meu pai na infância, mas aquele que eu temia agora era o próprio Freud. Ele poderia me ajudar ou me destruir, o que meu pai não mais poderia fazer. Com sua afirmação, ele deslocou toda a ação para o passado, assim fazendo da análise uma reconstrução histórica. A parte retouchée de sua interpretação, entretanto, estava bastante correta.

Eu havia sido mais temeroso e submisso diante do meu pai do que eu tinha consciência, e dissimulara de mim mesmo minha própria agressividade e hostilidade em relação a ele. Mas pelos mesmos motivos, eu agora temia que Freud fosse descobrir minha agressividade dissimulada. Fiz com Freud um pacto silencioso. “Continuarei a ser submisso desde que você me deixe usufruir de sua proteção”. Se ele me rejeitasse, eu perderia a minha chance de entrar nesse círculo profissional mágico. A aceitação tática, de minha parte, isolou do escrutínio uma parte importante do meu caráter.

“O gato”, eu disse. “E quanto ao gato?”

“O grande gato”, Freud respondeu, “é a sua madrasta”.

Isso desencadeou uma série de associações em minha mente. Eu ainda podia ver a expressão enigmática no rosto do gato. Ele parecia imóvel, inacessível, indiferente. O que tinha isso a ver com a minha madrasta? Se, por um lado, eu temia meu pai, por outro faltava-me “confiança” nela. Talvez fosse essa a conexão com o gato. Ela estaria ali quando eu realmente precisasse dela, sobretudo como uma proteção contra meu pai? A resposta parecia estar no gato. Ela não era hostil, mas imóvel!

Em voz alta, eu disse a Freud: “Mas a minha madrasta é uma força tão estabilizadora na minha vida que sempre lhe serei grato”.

Pela primeira vez na análise, Freud ergueu o tom de voz. “Você está enganado a respeito de sua madrasta. Ainda que seja verdade que ela lhe propiciou um ambiente estruturado, também o superestimulou sexualmente e assim intensificou sua culpa em relação ao seu pai. Para evitar esse dilema você se refugiou em sua homossexualidade inconsciente por meio da identificação com a sua mãe natural. A base para isso foi ter se identificado com sua mãe indefesa pelo medo de se identificar com seu pai raivoso, agressivo”.

Tentei compreender o que Freud estava me dizendo. Eu podia entender a identificação e a parte feminina. Quando criança, eu me lembro de sentir que deveria ser um privilégio extraordinário ser uma dessas notáveis criaturas. Elas pareciam dispor de um tempo tão mais tranquilo. Tudo o que precisavam fazer era cuidar da casa e dos filhos. A verdadeira responsabilidade recaía sobre o pai. Tendo eu assistido aos esforços do meu pai para sustentar uma vida simples, essa imagem era agora compreensível para mim. Ao olhar para esse homem que era um adulto gigante, eu, a criança, podia apenas sentir uma fragilidade que me tornava inepto para a tarefa de desempenhar feitos audaciosos, como ir para a América ou combater um mundo hostil e assim ganhar a vida arduamente. Desta maneira, meu desejo pelo papel feminino era de fato o desejo de escapar das tribulações de ser homem. Mas isso nunca interferiu em minha pulsão erótica direcionada ao sexo feminino. Portanto, a interpretação de Freud me surpreendeu. Não consegui entender o que tudo isso tinha a ver com homossexualidade inconsciente, e pedi a ele que me explicasse.

“O que você quer dizer”, perguntei, “com homossexualidade inconsciente?”

Ele esclareceu: “Ao identificar-se com a mãe, a criança renuncia à sua identificação com o pai, dessa forma descontinuando seu papel de rival do pai. Isso lhe garante a contínua proteção do pai, assim respondendo a suas necessidades de dependência”.

“O que posso fazer em relação a isso?”

A resposta de Freud foi: “Bem, assim como ocorre em relação ao complexo de Édipo, acaba-se aceitando, reconciliando-se com isso”.

Ao comparar minhas anotações com as de outros estudantes, descobri que, assim como o complexo de Édipo, a homossexualidade inconsciente era parte rotineira das análises de todos. Ela consumiu boa parte do restante da minha.

Eu havia deixado a última sessão sentindo-me tranquilo, mas de certa forma intrigado por essas novas compreensões.

Texto e imagens reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

sexta-feira, 1 de março de 2024

Ser humano: ser sexuado

Imagem postada pelo blog para simples ilustração

Artigo compartilhado do site JORNAL DO BRASIL, de 29 de fevereiro de 2024 

Ser humano: ser sexuado

Por Maria Clara Bingemer (mhgpal@gmail.com)

A sexualidade é uma dimensão constitutiva do ser humano e, ao mesmo tempo, algo que sempre o questionou ao longo dos tempos. Por atingir todas as dimensões da identidade humana, levantou questões conflitivas e críticas, assim como inspirou as mais belas produções poéticas e artísticas da humanidade. Com relação à religião, a sexualidade tem uma história de diálogo e confronto que até hoje marca a vivência de fé das pessoas e das comunidades religiosas.

Alguns autores refletiram sobre essa dimensão antropológica fundamental, seja na história geral ou na história específica do cristianismo, religião predominante no Ocidente. O britânico Peter Brown em seus inúmeros e importantes trabalhos ressalta a importância da questão da sexualidade na complexa construção do poder dentro da organização do Cristianismo. Em sua reflexão encontram-se elementos tais como a relação entre sexualidade e espiritualidade, incluindo aí tudo que diz respeito à continência sexual, jejum, ascese e penitência. Um de seus argumentos é que a desconfiança dos Padres da Igreja em relação à sexualidade nos primeiros séculos foi uma reação contra a libertinagem do Império Romano tardio, onde o cristianismo viveu seus primeiros momentos e se organizou como proposta.

Santo Agostinho foi um dos pensadores cristãos que desenvolveu o tema da religião e da sexualidade. Seus escritos trouxeram algo novo à visão dominante nos círculos intra-eclesiais. Tratou de questões delicadas, como a virgindade, castidade, fornicação e casamento elaborando elementos de uma moral sexual cristã. Seu pensamento influenciou e moldou teoria e prática da Igreja. Da mesma forma, a visão agostiniana, embora tenha predominado até os dias de hoje na teologia moral e no pensamento eclesial, recebeu diferentes interpretações ao longo do tempo.

A Reforma Protestante trouxe novidades significativas para a compreensão da sexualidade que existia na Idade Média. A recuperação do significado original da prática da castidade e da virgindade enraizadas no texto bíblico e com ela a valorização e a aceitação do casamento tanto para leigos quanto para clérigos, foi uma das mudanças mais significativas que a Reforma introduziu na vida cristã nas fronteiras entre a Idade Média e a Modernidade. Nesse aspecto, Martinho Lutero faz uma importante contribuição para a compreensão teológica cristã da sexualidade humana, ampliando-a para além de sua compreensão anterior.

A corrente dominante no Ocidente hoje concebe a sexualidade como um direito individual: entre adultos que consentem com o contato e a relação sexual entre si e vivem um código em que a libido é lícita. A moral cristã, diante dessa concepção, adota uma posição contracorrente, ao continuar sustentando que existem leis naturais e divinas - que também seriam objetivas e cognoscíveis - que delimitam o espaço do permitido e do proibido no que diz respeito à sexualidade. O consentimento individual não seria suficiente para delimitar uma prática proibida por essas leis. Devido a isso, muitos cristãos se sentem rejeitados ou excluídos de uma Igreja que lhes propõe práticas nas quais eles não se veem contemplados. Ou então sentem-se desconfortáveis diante de uma concepção quase que meramente jurídica da prática da sexualidade que não se coadunam de forma positiva com a vivência existencial da fé e a experiência espiritual da Transcendência Divina como experiência de amor e misericórdia.

Diante disso, é urgente voltar, parece-nos, ao texto bíblico do relato da Criação que possibilita uma reflexão teológica sobre a condição humana sexuada. O texto do Gênesis diz que Deus criou o homem macho e fêmea: "Ele os criou à imagem de Deus e os criou macho e fêmea "ish ischah” (Gn 1:27), mas é preciso observar que a sexualidade no texto bíblico não se refere apenas à genitalidade. A diferença sexual afeta todos os elementos da corporeidade humana. Ela não afeta apenas o corpo, mas caracteriza o ser humano como um todo. Não são as glândulas que têm demandas sexuais, mas todo o ser humano. Os apetites sexuais não são direcionados apenas para os órgãos sexuais do outro sexo, mas para a outra pessoa como um todo, como portadora da determinação sexual. A diferenciação sexual não se limita à esfera biofísica, mas também atinge a esfera psicológica, pois é um constitutivo antropológico. A sexualidade é uma parte ineludível de todo ser humano, mas o ser humano não se reduz à sua sexualidade. É Eros, não logos. e encontra a raiz de sua compreensão no impulso vital que lança o indivíduo humano em direção ao outro por meio do desejo, da proximidade, do contato, da comunicação, a fim de alcançar a comunhão.

A sexualidade orienta o homem em direção à alteridade: "Não é bom que o homem esteja só; eu lhe darei uma companheira como ele" (Gn 2:18). O ser humano único encontra sua plenitude na enriquecedora diferença e reciprocidade a ele dadas pelo outro. Essa reciprocidade no amor é expressa na doação sexual: "Adão conheceu Eva, sua mulher" (Gn 4:1). A diferenciação sexual na verdade pertence à semelhança do humano com o divino, ou seja, ela o torna capaz de amar e ser amado. Como parte da criação, a sexualidade, por um lado, é distinta da divindade e, por outro lado, é caracterizada como a vontade e a marca de Deus em Sua criação.

O ser humano é sexuado e isso revela sua relacionalidade marcada pela alteridade. Essa alteridade que o configura em sua identidade constitutiva é o que revela sua vocação para ser a imagem de Deus, que é comunhão em seu ser mais íntimo. O próprio termo - comunhão - fala da identidade de Deus Pai, Filho e Espírito Santo e da identidade do ser humano, criatura desse Deus, criado à sua imagem e semelhança. Ser humano é ser um filho da comunhão e não da solidão, é ser chamado e destinado à comunhão.

A criatura humana é relacional e transcendente, aberta ao mundo, aos outros, a Deus. É criatura destinada à comunhão. Por isso não se pode falar das núpcias entre o barro e o sopro, entre a terra e o céu, entre a argila e o espírito sem evocar a sexualidade. Esta não deve ser temida ou rejeitada como perigo ou lugar de tentação, mas acolhida como constitutiva de humanidade e caminho de plenitude.

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Maria Clara Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e autora de “O mistério e o mundo: Paixão por Deus em tempos de descrença” (Editora Rocco), entre outros livros.

Texto reproduzido do site: jb com br

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

'A era da fragilidade', por Fernando Schüler para a revista 'Veja'

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 18 de fevereiro de 2024

A era da fragilidade

O ambiente tóxico criado pelas guerras culturais atuais surge como um jogo em que todos perdem. Fernando Schüler para a Veja:

Ronaldo e Raquel marcam o primeiro encontro em um restaurante bacana. Ambos jovens, a expectativa é grande, mas nada funciona. “Gosto dele”, diz Ronaldo, seco, depois de escutar Raquel falando de seu “horror” com uma volta de Trump à presidência americana. Milei, mudança climática e mais dois ou três assuntos arruinaram o que deveria ter sido um encontro romântico. Coisa de doido? Não, infelizmente. É o que vai se repetindo nos almoços da turma do escritório, no grupo de WhatsApp da faculdade, nos almoços de família. Efeito de um dos mais curiosos fenômenos da nossa época: a distância que se cria, mundo afora, entre as posições ideológicas de homens e mulheres jovens, na faixa dos 18 aos 30 anos. Em grandes democracias como os Estados Unidos, Alemanha, Coreia do Sul ou Reino Unido, a diferença entre rapazes “conservadores” e gurias “progressistas” gira em torno dos 30%, e continua crescendo. No Brasil, o Datafolha mostrou o dobro da preferência pela esquerda, entre as mulheres, contra um equilíbrio entre eleitores masculinos.

John Burn-Murdoch, do Financial Times, acha que o movimento #MeToo foi o gatilho do processo. O movimento que desencadeou uma onda de denúncias em torno do assédio sexual. Exagero. O #MeToo é parte do Zeitgeist atual, mas não é seu originador. Não há uma explicação consensual para o fenômeno, mas algumas hipóteses. O gap ideológico cresceu com rapidez a partir da última década. A época do Great Awokening, o despertar dos temas associados à “justiça social” e seu “pânico moral” (expressão de Mark Lilla) em torno das questões de identidade de gênero, raça e orientação sexual. É exatamente nesse período, que se inicia por volta de 2011, que crescem de maneira assustadora os índices de depressão entre adolescentes. Não de maneira uniforme, mas obedecendo a uma gradação: meninos conservadores menos vulneráveis. Depois as meninas conservadoras, os meninos progressistas e, no fim da fila, mais sujeitas às tendências depressivas, as meninas progressistas. Catherine Gimbrone, da Universidade Columbia, diz que “alunos conservadores relataram consistentemente menos sintomas de internalização”. Isto é, sua vulnerabilidade ou percepção negativa dos dramas cotidianos, das ofensas, das desgraças do mundo, reais ou imaginárias, é menor.

É apenas uma hipótese. A cultura subjacente ao Great Awokening é binária. O feminino surge como polo positivo diante da “sociedade patriarcal” e seus demônios. Isso se reflete no plano da retórica, da estética e no ajuste na estrutura de direitos. A partir daí, sua contraface: a migração dos homens mais jovens para posições conservadoras. Algo que me lembrou da socióloga Arlie Hochschild e sua imagem genial para definir a mentalidade conservadora americana. Arlie passou cinco anos vivendo em uma comunidade ultraconservadora no sul dos EUA. Concluiu que aquelas pessoas percebiam seu mundo como uma longa fila em que todos aguardam, trabalhando duro, porque sabem que lá na frente há o “sonho americano”. Em um certo momento, porém, começam a perceber que há um monte de gente furando a fila. E o resultado é a raiva social. Se observarmos no mundo real das oportunidades educacionais, teremos um sinal do espectro desenhado por Hochschild: 60% dos estudantes universitários americanos, hoje, são mulheres, e nos processos de admissão do ano passado superaram os alunos homens em torno de 35%. Estudantes homens evadem mais do ensino médio, são pressionados pelo mercado de trabalho. No Brasil, não é diferente. No último Enem, 61,3% dos estudantes eram mulheres, contra 38,7% de homens. O curioso é reação engajada. De um lado, o silêncio; de outro, manifestações de que tudo é “muito positivo”. Significa que a desigualdade ou a falta de “diversidade” só é ruim para um lado. Para o outro, é bem-vinda. Sob o manto de palavras generosas, recriamos um hiato entre a retórica e o mundo real.

Os sintomas estão aí. O ambiente tóxico criado pelas guerras culturais atuais surge como um jogo em que todos perdem. Novas formas de exclusão, por um lado, e uma permanente sensação de fragilidade e perda de autodomínio, por outro. O resultado é a exacerbação de um tipo de cultura da vitimização, segundo a psicóloga Rahav Gabay, da Universidade de Tel Aviv. O mindset vitimista traz algumas marcas definidas: uma contínua busca pelo reconhecimento de sua condição de “vítima”; uma crença em sua própria “superioridade moral” em relação aos demais; a baixa empatia pelo sofrimento dos outros, sejam eles os “conservadores”, os “privilegiados” ou qualquer um do lado “errado” das clivagens sociais. E, por fim, a propensão de “ruminar sobre vitimizações passadas”. A “ferida purulenta”, na expressão de Nietzsche. O que mais me chamou a atenção foi a conexão entre o mindset da vítima e a perda do sentido da potência individual. A crença perversa de que “a vida de cada um está sob o controle de forças externas a si mesmo”. O avesso do “você quer, você pode”, na frase de Obama que tanto irrita os detratores do mérito.

Deveríamos caminhar na direção precisamente oposta. Evitar os excessos da política e seu assalto sobre a vida pessoal. Preservar um saudável ceticismo, e uma distância segura, diante de qualquer grande narrativa, de esquerda ou direita. Levar a sério, e não apenas seletivamente, a ideia de diversidade, aceitando que cada um tenha a sua tribo. E entender que jamais deveríamos destruir uma velha e terna amizade por causa do que alguém acha de Lula ou Bolsonaro, Greta Thunberg ou Elon Musk. Este último, aliás, perdeu sua própria filha, que ainda na adolescência decidiu que o pai era um bilionário desprezível, responsável pelos males do planeta. O que nos resta, no fundo, é um tipo de atitude. O psicólogo Scott Kaufman sugere trocar o mindset da vítima pelo “mindset do crescimento”. A ideia de que nossos traumas “não precisam nos definir”, e que é justamente a “sabedoria de lidar com o sofrimento que pode nos fazer pessoas melhores”. De minha parte, sigo as lições do velho turco ao Cândido e sua trupe, na obra-prima de Voltaire. A ideia de que, diante de “todo o mal que há na terra”, o mais prudente era reconhecer que sabíamos muito pouco. Que era preciso retomar o controle. Esquecer “o que se passa em Constantinopla” e aprender que, para além de toda a pretensão humana, “cultivar o próprio jardim” era o melhor que tínhamos a fazer.

Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Filme de diligência

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 2 de fevereiro de 2024

Filme de diligência

Não é que Nelson Rodrigues tenha necessariamente se inspirado nesses filmes, se bem que isso pode ter acontecido, mas ele viveu num contexto bem próprio dos filmes de diligência. Josias Teófilo para a Crusoé:

A revista O Cruzeiro de 21 de janeiro de 1956 publicou uma sessão chamada Arquivos Implacáveis com Nelson Rodrigues. O dramaturgo respondeu dez itens do que gosta e do que detesta. Entre os que detesta estão “samba”, “psicanalista”, “qualquer político”, “sujeito inteligente”. Entre os que gosta estão “visitar cemitérios”, “mulher bonita e burra”, “fluminense” e… “filme de diligência”. O que seria filme de diligência? Não é um termo usual. Na verdade eu nunca o tinha ouvido.

Diligências eram as grandes carruagens que levavam passageiros, malas e correspondências entre as cidades americanas. Estamos falando, portanto, de filmes de faroeste. Um dos clássicos dessa arte é justamente No tempo das Diligências, de 1939, estrelado por John Ford.

Mas há também quem trate assim os filmes sem diálogos inteligentes, sem referências artísticas, sem o método stanislavski de atuação. Eles também não têm a jornada do herói, bons valores a serem passados ao espectadores. É cinema puro e límpido. Diálogos simples. Um problema que se resolve – de preferência a solução de um crime, ou a trama para realizá-lo. Tudo em preto e branco e tons de cinza. E o mais: nesses filmes praticamente não existe a bondade no mundo. Os bandidos são maus, a polícia também. Os bandidos são frios, totalmente insensíveis. As vítimas também. Toda e qualquer pessoa fuma. Fuma em qualquer ambiente e sem parar.

Esse tipo de filme foi feito num período soturno da historia da humanidade: o período entre as guerras, e posterior à Segunda Guerra – quando a Europa estava sendo reconstruída, e o trauma daquele período ainda estava no ar.

Foi uma época de espiões, fotógrafos de guerra que arriscavam a vida para realizar fotos (como Robert Capa), cineastas filmaram no front em meio a bombardeios (como John Ford), escritores que foram soldados, jornalistas que desapareciam. Foi uma época de perigos e desencontros. Isso ficou impresso nos filmes de Fritz Lang (M), Marcel Carné (Le quais des brumes), Julien Duvivier (Les temps des assassins), Alfred Hitchcock (Rebecca), John Ford (No tempo das diligências), e tantos outros. E na dramaturgia de Nelson Rodrigues, que viu os filmes desses diretores nos antigos cinemas do Rio de Janeiro – provavelmente na Cinelândia.

Não é que Nelson Rodrigues tenha necessariamente se inspirado nesses filmes, se bem que isso pode ter acontecido, mas ele viveu num contexto bem próprio dos filmes de diligência. Teve um irmão morto. Passou privações materiais e a fome. Foi jornalista policial. Internou-se num sanatório. Lá conviveu com loucos, assassinos. Cobriu assassinatos, suicídios e daí tirou inspiração para peças e crônicas memoráveis.

Nelson Rodrigues poderia muito bem ser personagem de um filme de Marcel Carné na Paris dos anos 1950. Ou num filme americano contracenando com Humphrey Bogart, fumando e frequentando cemitérios.

Por vezes em suas peças tem-se a mesma impressão que nos filmes de diligência: todo mundo é mau. E os personagens repetem: “Eu sou um canalha”, como em Bonitinha mas ordinária ou Otto Lara Resende. Trata-se da história do jovem Edgar, convidado a casar-se com uma jovem, filha do seu patrão. Edgar, entretanto, ama Ritinha, uma moça que se prostitui para sustentar a família depois que a mãe foi demitida injustamente dos Correios. As irmãs acabam se prostituindo, e o responsável é exatamente o patrão de Edgar, que usa do dinheiro para corromper as jovens. “Toda família tem um momento em que começa a apodrecer”, é dito na peça.

É tanto mau que o espectador fica atordoado. É maldição atrás de maldição (se bem que o final da peça é feliz, de certa forma). Por que tudo isso? Manuel Bandeira explica: “A ficção de Nelson Rodrigues está cheia de coisas atrozes e imorais. É verdade, a vida também, mas quem, acreditando em Deus, ousaria classificá-lo de imoral. Por que a vida, criação de Deus, está cheia de coisas atrozes e imorais?“. Tal explicação serve perfeitamente para os filmes de diligência.

Texto e imagem reproduzidos dp blog: otambosi blogspot com

Facebook: 20 anos depois, qual é a importância da plataforma como mídia?

Facebook - (Crédito da foto: Adobe Stock)

Meio & Mensagem, de 5 de fevereiro de 2024 

Facebook: 20 anos depois, qual é a importância da plataforma como mídia?

Responsável por mudar a forma como pessoas e marcas interagem, rede social ainda tem na comunicação de massa e segmentação elementos importantes para as marcas

Por Bárbara Sacchitiello

Nesse domingo, 4, completaram-se exatos 20 anos em que quatro estudantes da universidade de Harvard, nos Estados Unidos, criaram a tela inicial da plataforma que viria a ser, anos depois, a maior e mais importante rede social do mundo: o Facebook.

Fruto das jovens mentes de Mark Zuckerberg, de seu colega brasileiro, Eduardo Saverin, e dos estudantes Dustin Moskovitz, Chris Hughes e Andrew McCollum, o Facebook foi elaborado para funcionar como um misto de dados e plataforma de comunicação para os estudantes de Harvard.

Não demorou para que a popularidade da rede extrapolasse as paredes da universidade, ganhando fama em outras instituições de ensino e, posteriormente, em outras cidades e partes do mundo.

As duas décadas de existência do Facebook abrangem não só o período de maior transformação na forma como as pessoas se comunicam e interagem pelos meios digitais como também contemplam a ascensão da internet como o território principal para a publicidade e conexão das marcas com os consumidores em todo o mundo.

Em uma sociedade ávida por curtir, comentar e compartilhar, algo difundido globalmente sobretudo pela força do Facebook, só uma rede social acabou sendo pouco. Se por anos foi o nome e corpo de uma única companhia, desde 2021, o Facebook é um dos (porém, ainda o mais lucrativo), pilar de negócios da Meta, companhia que agregou as operações do Instagram e WhatsApp, que lançou uma nova rede social (o Threads) e que mudou de nome ao tomar para si a missão de difundir, pelo mundo, o conceito do metaverso.

O Facebook em números

O aniversário de 20 anos foi completado dias depois da divulgação do balanço trimestral da Meta, que apresentou os resultados referentes ao quarto trimestre de 2023.

Nos meses de outubro, novembro e dezembro, a companhia (considerando Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads) teve um lucro líquido de US$ 14,02 bilhões, o que representa um significativo aumento de 201% em comparação com o mesmo período de 2022.

Analisando somente o Facebook, dados divulgados pela Meta no segundo semestre do ano passado mostraram que a rede social alcançou a marca de mais 3,08 bilhões de usuários ativos no mundo, o que torna a rede social, mesmo 20 anos depois de seu lançamento, ainda a mais utilizada no planeta.

Facebook, 20 anos: revolução e legado

Com números ainda tão superlativos em todo o planeta, o Facebook é um raro caso de uma rede social que conseguiu manter e preservar seu papel junto aos usuários e aos anunciantes, uma vez que a publicidade ainda é a principal fonte de receitas da companhia. Ainda que, ao longo dos anos, outras redes sociais tenham ocupado seu espaço no cotidiano das pessoas e das marcas, não dá para retirar o Facebook seu papel de elemento revolucionário na conexão instantânea entre as pessoas.

“Em um curto espaço de tempo, o Facebook cresceu por meio da conexão entre marcas, pessoas e fontes de informação. Com o tempo, apresentou diferentes produtos imersivos dentro da plataforma, evoluindo para ambientes com possibilidade de compra, troca e inspiração e foi, muitas vezes, de extrema relevância pra o resultado dos negócios”, relembra Glaucia Montanha CEO da Artplan São Paulo e CEO da Convert Digital Business.

O Facebook revolucionou, de forma rápida e intensa, a forma como as pessoas se conectam e interagem, também na opinião de Marcos Vinicius Costa, diretor de operações da Media.Monks. “É uma rede social que uniu de forma fácil o compartilhamento de informações, fotos, vídeos, atualização de status com amigos e familiares, trazendo o diferencial de fazer isso de forma pessoal e instantânea”, diz.

Outro diferencial, citado por Costa, está na criação de comunidades com interesses comuns, além da possibilidade de ter dado às empresas a chance de ter um canal direto de comunicação com seus clientes.

Ao analisar a importância do Facebook para a conexão humana, Henrique Fogaça, diretor de mídia da W+K São Paulo, faz uma referência. Para ele, o Facebook solidificou um caminho que já havia sido aberto pelo Orkut, rede social que teve no Brasil um de seus mais populares territórios. Porém, a plataforma de Zuckerberg conseguiu ir além, melhorando a experiência do usuário, investindo em novos features para a plataforma e fazendo aquisições importantes ao longo do tempo, como a do Instagram.

“Essas aquisições contribuíram muito para o portfólio da companhia e aumentaram a capacidade de alcance, interação e geração de conversas das marcas com os usuários”, reforça Fogaça.

Qual a importância do Facebook hoje?

Já há alguns anos, contudo, são comuns as análises e percepções de que o Facebook não detém, entre os usuários, o mesmo prestígio dos primeiros anos. Muitas pessoas que eram frequentadores ativos deixar de postar textos e fotos e até mesmo deixaram a rede social. As gerações mais jovens, também, vêm dando preferência aos recursos e ferramentas de outras redes, como Instagram e TikTok.

Ainda que o público não seja o mesmo de outrora, profissionais de mídia consideram que, como plataforma de mídia, o Facebook ainda é uma rede social fundamental para os anunciantes, tanto pelo uso que a plataforma ainda tem no Brasil como pelos recursos oferecidos às empresas.

“É fundamental para as empresas estarem presentes nessa rede social, pois ela é altamente versátil e oferece um alcance massivo de publico devido às suas dimensões”, diz Costa, da Media.Monks. O diretor cita como exemplo a veiculação avançada de anúncios segmentos e as otimizações das campanhas como vantagens importantes da rede social.

Mesmo após 20 anos – e com diversas outras redes sociais lançadas e competindo pela atenção do usuário, o Facebook ainda é um dos maiores players de alcance do Brasil. A opinião é de Fogaça, da W+K São Paulo. “Sua granularidade de segmentação traz uma maior segurança na assertividade das audiências e na eficiência das campanhas”, pontua.

A CEO da Artplan e da Convert também concorda com os demais profissionais sobre a relevância do Facebook como plataforma de mídia. Ela relembra um estudo de janeiro de 2023, divulgado pela Statista, que mostrava que o Facebook era o quarto país do mundo com maior número de visitantes da rede social, tendo, na época, 109 milhões de usuários. “Mesmo com a queda de público, segundo as pesquisas, sabemos que essa rede social possui um inventário relevante”, diz Glaucia.

Entretanto, ela alerta que a forma de se relacionar com as marcas e pessoas mudou muito a partir do surgimento e evolução de outras plataformas. ‘É certo que o Facebook possui um papel importante como plataforma de mídia, porém sua maior eficiência está no uso combinado com diferentes meios, formatos e demais ferramentas. Temos uma audiência polarizada que se comporta de formas diferentes em cada meio em que se apresenta maior conexão e afinidade. Dessa forma, a escolha do uso de uma plataforma precisa estar alinhada ao propósito, o que torna o cenário ainda mais desafiador”, analisa.

Texto e imagem reproduzidos do site: www meioemensagem com br/midia

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Filhos são coisa do passado quando as relações viram gestão estratégica

Artigo compartihado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de  4 de fevereiro de 2024

Filhos são coisa do passado quando as relações viram gestão estratégica

Procriar é um compromisso sólido demais para uma existência que, hoje, se move apenas pelo líquido. Luiz Felipe Pondé via FSP:

Uma mega tendência, dizem os especialistas, em futuro próximo, é a queda sustentada da natalidade no Brasil. Essa mega tendência é comum em países que se modernizaram. No Brasil, esse é um problema a mais porque o país envelheceu e não enriqueceu. Jovens geram mais riqueza e custam pouco, idosos geram menos riqueza e custam caro –pura estatística, inteligentinhos idosos ofendidos não precisam sair me xingando.

Esse processo não deverá mudar, porque as causas são históricas, sociais, existenciais e econômicas. Esse tipo de coisa não se muda com um workshop de mentoria ou mentiras do marketing. E a principal razão é associada aos "ganhos" da modernidade.

Uma nova sabedoria popular afirma por aí que, em matéria de filhos, o pior são os primeiros 40 anos. Afora a anedota, reside aqui uma motivação bastante séria para a queda da natalidade, filhos viraram um ônus grave para os candidatos a pais e mães –altamente neuróticos hoje. Melhor não os ter.

Filhos, durante milênios, foram o simples resultado da alta atividade sexual na espécie. Sem TV, sem celular, sem jantares sociais, sem carga exaustiva de trabalho, a humanidade, de média etária jovem, tinha no sexo sua principal diversão —isso para não falar no imenso número de estupros sistemáticos que deixavam as meninas grávidas já desde a primeira menstruação. Como se costumava saber, quando mulheres jovens transam e homens gozam dentro delas, a chance de engravidar é enorme.

O "progresso moderno" da humanidade transformou essa relação milenar num processo passível de grande espaço para gestão estratégica. O comportamento sexual e afetivo das pessoas passou a ser visto como um dos tópicos da agenda de planejamento de carreira. O que antes acontecia de modo espontâneo, assim como se respira, se transformou em objeto de cálculo de consequências. Essa passagem do espontâneo, impensado, ao calculado é a modernidade entre as pernas das mulheres.

Filhos hoje são matéria de contabilidade. Pesa-se muitas coisas antes de deixar um espermatozoide apressado chegar a um óvulo desavisado. Evidente que acidentes continuam a acontecer, mas ser moderno é exatamente calcular tudo de forma eficiente para evitar acidentes. A própria noção de que a maternidade seja um telos –finalidade essencial– da condição feminina é considerado machismo.

Filhos hoje são sinistros jurídicos. Implicam custos imensos em caso de separação –casamentos hoje são solúveis em água e filhos são uma imensa pedra em meio a reorganização da vida pós-casamento. Homens reclamam que no Brasil qualquer juiz toma um terço da sua renda sem a menor atenção ou análise mais detida da situação do ex-casal, quase como uma punição, enquanto mulheres reclamam que os pais fogem da responsabilidade e as deixam a ver navios com o pepino a ser descascado, atrapalhando, inclusive, sua futura vida sexual, afetiva e profissional.

O fato é que filhos são sólidos demais para uma existência que se move no líquido, como diria Bauman (1925-2017). Quando você tem um filho com uma pessoa, você está ligado a ela para sempre, o que, em nossos dias, pode implicar um enorme problema em vários níveis dos cálculos existenciais que caracterizam a vida contemporânea.

Filhos implicam em escola, saúde, atenção, finais de semana, férias, fracassos nas expectativas de que serão o que os pais pensam que seriam quando crescessem, incertezas quanto ao retorno do afeto dado a eles quando crianças, enfim, um mergulho que coloca você diante da contingência. Aliás, como dizia o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), quando um homem casa e tem filhos, oferece reféns para a contingência.

Mulheres veem filhos como um alto risco para sua independência e carreira profissional. O maior ônus biológico é delas, indiscutivelmente. Além das variáveis psicológicas e estéticas em jogo, são tomadas como por um tsunami de novos eventos, transformações e sentimentos. A mulher emancipada pensa mil vezes antes de ter um filho, dois nem pensar. E isso não vai mudar. O futuro é dos idosos solitários. Parabéns, modernidade!

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