Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 7 de junho de 2025
Por que o cinema vai tão mal?
Com o digital, as opções de filmagem e edição aumentaram significativamente. O risco é perder-se em tantas possibilidades. Josias Teófilo para a Crusoé:
Cada filme novo lançado, uma nova decepção. E isso inclui filmes ganhadores do Oscar (como Anora), da Palma de Ouro em Cannes e de outros prêmios internacionais, filmes aclamados pela crítica etc.
O que aconteceu com o cinema?
Podemos esboçar algumas razões.
A primeira é a evidente instrumentalização política dos meios de legitimação de um filme, desde os editais que financiam o audiovisual, passando pelos festivais e mostras, até a crítica especializada.
Um filme é julgado pelo seu suposto efeito social, e não pelo resultado estético. Essa visão contamina toda a cadeia produtiva do audiovisual.
Isso se liga a um outro problema: o carreirismo.
Financiar um filme é difícil e demorado, constantemente os produtores usam temas engajados para conseguir recursos, ou inserem questões “sociais” em projetos já existentes para torná-los mais patrocináveis. E frequentemente funciona.
Isso vira um ciclo vicioso: projetos desse tipo são financiados, são legitimados pelos festivais e pela crítica, e inspiram outros projetos semelhantes.
Para completar, o meio audiovisual tornou-se extremamente especializado e autorreferente.
Nele, acontece o problema descrito no livro A estrutura das revoluções científicas, de Thomas Kuhn: o meio deixa de criar e passa reproduzir os próprios pressupostos, um fenômeno que acontece também na cultura.
Além disso, tem uma questão propriamente técnica, que é a seguinte: por praticidade, o meio audiovisual foi digitalizando-se, tanto na produção quando na exibição.
Com efeito, em tese é mais barato filmar em digital (se bem que na era digital os filmes não ficaram mais baratos, ao contrário).
Só que filmar em película demanda uma preparação maior: queimar 24 frames de filme por segundo não é brincadeira.
O diretor e os atores preparam a cena com grande dedicação.
A equipe de fotografia precisa de um grau de profissionalismo muito grande.
Filmar em película exige um preciosismo na preparação que não existe ao filmar em digital, em que é possível captar horas de imagem em 8k e depois editar (ou até cropar uma imagem maior).
Chegamos a outro fator: com o digital, as opções de filmagem e edição aumentaram significativamente.
Quem vai filmar tem uma gama de opções tremenda: pode filmar com Iphone (os novos filmam em 6k, com qualidade de cinema), com câmera digital de pequeno porte, com grandes câmeras digitais de cinema, com stead cam, com drone. É uma infinidade de opções.
O problema não é só perder-se no meio de tantas possibilidades, mas não ter o domínio completo dos equipamentos no sentido estético.
Por exemplo, os drones popularizaram-se enormemente, mas poucas produções usam bem esse recurso. O mesmo para stead cams, filmes feitos com celulares.
Até os anos 1970, não existiam stead cams, som direto, muito menos drones: era câmera na mão ou câmera num tripé, ou trilho.
É mais fácil saber usar bem poucos elementos. Os filmes tinham maior unidade. Eram mais sucintos e menos dispersos.
O mesmo se aplica a documentários: era preciso filmar ou pegar a mídia original de uma imagem de arquivo e reproduzi-la, hoje existe uma variedade imensa de imagens na internet, nos mais diversos formatos.
É preciso um trabalho monumental para dar unidade a tal diversidade.
Por fim, a crítica de cinema não tem tido relevância como no passado: as pessoas se informam mais por rede social que por jornais, e muitos dos jornais nem tem crítica de cinema.
O espectador não tem mais um referencial crítico, que serve para educar o olhar. Virou tudo questão de engajamento.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com
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