Publicado originalmente no site do jornal El País Brasil, em 13 de maio de 2019
Como passar da queixa ao sucesso
Todos temos uma mentalidade fixa que nos impede avançar e
uma mentalidade de crescimento que nos impulsiona na vida e nos leva à
felicidade
Por Pilar Jericó
Todos erramos. Mas nem todo mundo vive o erro da mesma
forma. É possível que você veja em seu trabalho, ou na sua família, pessoas
que, diante de um fracasso, se acabem em justificativas ou culpem o mundo pelo
que aconteceu. Outras, por outro lado, encaram a situação como um caminho para
aprender e se superar. Carol Dweck, professora da Universidade de Stanford e
autora do livro Mindset - a nova psicologia do sucesso, observou a reação de
crianças e adultos diante dos erros. E comprovou algo interessantíssimo: a
maneira como vivemos o erro define nosso mundo interno de crenças, nossa
maneira de ver a nós mesmos e, portanto, nossa capacidade de ser feliz. Segundo
esta reconhecida pesquisadora existem duas mentalidades: o mindset
(mentalidade) fixo e o mindset de crescimento, que não depende nem da
inteligência nem de variáveis sociais.
O mindset fixo considera que o talento e as habilidades são
inatos e que existe pouca margem de manobra para mudar. São as pessoas que se
queixam, que evitam projetos de transformação e que justificam seu erro usando
qualquer desculpa. “O relatório não ficou bom porque meu colega não parou de me
atormentar”, por exemplo. Paradoxalmente, estes indivíduos podem ser
terrivelmente exigentes consigo mesmos. Para evitar sua própria “destruição
interior” evitam os desafios. Precisam impedir que se pareçam pouco espertos
diante de uma dificuldade! Conhece a alguém assim? Podem ser pessoas muito
inteligentes, mas esta maneira de pensar as paralisam.
As pessoas com mindset de crescimento, por outro lado,
consideram que o sucesso depende fundamentalmente do esforço. Não consideram
apenas o resultado final, mas também se importam com o processo de
aprendizagem. Para estas pessoas os erros não significam uma “catástrofe
interior”, pois fazem parte da evolução. Buscam as críticas dos outros para
continuar avançando.
Uma vez que descrevemos as duas mentalidades, façamos um
exercício. Se você pensa nos problemas que te pressionam, que tipo de reação
tem? A resposta é dada pela própria professora Dweck. Todos temos os dois tipos
de mindset. Dependendo de nossa forma de ser, há aspectos em nossa vida ou
certos problemas que vão parar no terreno das justificativas. Outros, por sua
vez, nos levarão a arregaçar as mangas para seguir em frente. Por isso, se
queremos enfrentar uma dificuldade com sucesso, a solução está em nós mesmos.
Ela passa por um processo composto por quatro fases, que se estão sendo
aplicadas com sucesso na educação de crianças e na formação de adultos.
Na primeira fase temos de ser honestos e identificar aquelas
situações que nos ativa o mindset fixo. Todos, absolutamente todos, nos
entregamos alguma vez a um mar de desculpas, de culpa ou de negação de nós
mesmos. “Não faço a a apresentação em inglês porque não vou bem”; “alguém
conseguiu tal coisa porque tem costas quentes” ou “não sou capaz de fazer o que
meu colega faz”. O mundo das justificativas é muito criativo.
Em segundo lugar, precisamos tomar consciência de como atua
nossa mentalidade fixa. Para isso, se nos paralisamos diante de um problema, é
recomendável descrever o nosso mindset fixo para afastá-lo (“quando ele entra
em ação, faz com que eu pense...”). Também podemos ter frases internas que
resistam a essa sensação: “hoje não, Pilar”, por exemplo. Outra técnica é a que
Dweck e seu marido colocam em prática diante de um problema ou discussão.
Quando aparece entre eles o mundo das justificativas, para evitar que se
prejudiquem, jogam a culpa em uma terceira pessoa imaginária. Ambos sabem que
essa pessoa não existe, claro, mas assim conseguem descarregar a energia da
frustração para se reconstruir depois.
Terceiro passo: quando um problema nos paralisa devemos
aplicar a mentalidade de crescimento que costumamos usar em outro momento de
nossa vida ou em outra área. Precisamos lembrar o que dizemos a nós mesmos
quando estamos neste mindset, como aprendemos e como poderíamos usá-lo para
esta situação que nos preocupa. Para isso se sugere criar uma frase que sirva
de slogan e tê-la presente: “quando você se esforça, você consegue”, por
exemplo. Deve ser uma fórmula capaz de nos fazer reagir, por isso nos deve
tocar no pessoal.
Por último, como aconselha Dweck em sua conferência TED,
temos que incluir o poder do ainda. Ao invés de dizer “não sei falar chinês”, é
preciso substituir por “não sei falar chinês ainda”. Este conceito abre as
portas à possibilidade. Por último, se pudéssemos tomar consciência de nossas
duas mentalidades, do dano que nos produz mentalidade fixa e da capacidade que
temos para nos transformar com a de crescimento, viveríamos os problemas com
mais recursos e nos sentiríamos melhor com a gente mesmo.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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