JUH ALMEIDA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Publicado originalmente no site HuffPost Brasil, em 5 de janeiro de 2019
Frida Carla, advogada, mãe e defensora da prostituição como
escolha
Ela garante que as 3 funções podem coexistir tranquilamente
em uma só mulher: "Não há nenhuma exploração nisso, há uma troca justa e
consensual."
By RYOT Studio e CUBOCC
Frida Carla é a 317ª
entrevistada do "Todo Dia Delas", um projeto editorial do HuffPost
Brasil.
Frida Carla conhece os dois lados da moeda: no início da
juventude, foi garota de programa por necessidade, quando, na ocasião, as
circunstâncias não lhe deixaram alternativa; hoje, aos 34 anos, ela tem uma
profissão de prestígio e permanece trabalhando como acompanhante de luxo nas
horas vagas. "Eu faço por prazer", explica. Frida nasceu em Salvador,
em uma família pobre de pai ausente, mas viveu parte de sua infância e
adolescência no subúrbio de São Paulo. Engravidou aos 15 anos. "Foi pura
falta de orientação sobre métodos contraceptivos. Ninguém falava comigo sobre
isso", lembra. O progenitor assumiu a paternidade de Luiz Henrique, mas
nunca esteve presente material ou afetivamente.
Falta de orientação sexual pode destruir juventudes
inteiras.
Ainda aos 15 anos, grávida e sem qualquer apoio familiar, a
alternativa que restou a Frida foi fazer programas para sobreviver.
"Comecei cedo, por necessidade. Era triste, porque eu era só uma menina,
eu não queria me prostituir naquela época, mas precisava sobreviver e criar meu
filho", conta. Aos 23, foi aprovada no vestibular para o curso de Direito.
"Eu escolhi essa profissão porque era uma profissão de status, poderia me
dar conforto. Hoje, eu faria outra coisa, algo como filosofia ou
jornalismo", ressalva.
Mas ela sobreviveu, e até hoje mora com o filho – hoje com
19 anos –, e se divide entre os clientes do escritório e os clientes de seus
programas. Ela voltou a trabalhar como acompanhante de luxo recentemente, mesmo
estabilizada como advogada. "É por puro prazer", garante. Além do
abandono paterno, Frida relata ter sofrido abusos emocionais por parte de sua
mãe. "O abuso familiar é devastador, mas a gente só se dá conta depois que
sai dele". Nesse processo, seu filho Luiz Henrique foi muito importante.
"Ele me abriu os olhos, me ajudou a revolucionar minha vida. Ele é
responsável por tudo isso."
Eles se divertem, e eu me divirto também – a diferença é que
eu ganho por isso.
Ela conta que foi através do diálogo com o filho que
descobriu que não há pecado em fazer as próprias vontades, ainda que isso
contrarie a moral do senso comum. "Antes eu me prostituía por necessidade:
pra sobreviver, pra criar meu filho, pra me formar... era horrível não ter
outra opção. Depois de formada eu parei por um tempo, mas percebi que, na
verdade, estar com pessoas diferentes me faz feliz. Então, eu tenho uma
profissão, mas eu me prostituo porque me faz feliz. Isso é suficiente",
garante.
Apesar de segura e bem-resolvida com suas escolhas, Frida
transparece mágoas dos abusos familiares que sofreu ao longo da vida: "Meu
pai sempre foi ausente, minha mãe me induzia à prostituição, me abandonou
quando engravidei e abusou psicologicamente de mim. Só hoje, mulher feita e
fora da casa dela, percebo o quanto isso foi danoso."
É possível viver um relacionamento abusivo com sua mãe, eu
vivi isso.
A história dela traz à tona uma série de questionamentos da
atualidade: seria a prostituição apenas exploração, ou um direito de quem pode
escolher? Por que a moral tradicional tolera relacionamentos sexuais casuais
gratuitos, mas condena quem cobra por isso? Questionada, ela diz que
prostituição pode, sim, ser exploração, mas não necessariamente. "Hoje eu
mesma administro todos os meus ganhos. Não há nenhuma exploração nisso, há uma
troca justa e consensual", explica, com tranquilidade. Hoje, a advogada,
mãe e prostituta garante que as 3 funções podem coexistir tranquilamente em uma
só mulher.
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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