Publicado originalmente no site El País Brasil, em 26 FEV 2018
Wangari Maathai, a queniana que semeou árvores e ideais
Quando essa Nobel da Paz morreu, havia mais de 47 milhões de
árvores plantadas graças à sua iniciativa
Por Isabel Valdés - Isabel Rubio
A vida de Wangari Maathai foi muito diferente da de outras
meninas africanas de sua geração. Essa distinção a ajudou a seguir um caminho
que terminou por lhe dar o Nobel da Paz em 2004 — a primeira mulher africana a
recebê-lo. Nascida e criada no distrito de Nyeri, na época parte da colônia
britânica do Quênia, entrou na escola aos oito anos —
um internato da Missão Católica
Mathari, onde aprendeu inglês e que lhe
abriu as portas para a única instituição preparatória católica de mulheres no Quênia, o Colégio
Loreto, em Limuru. Naquele momento, o colonialismo estava chegando ao fim na
África Oriental, e os políticos lutavam para dar educação a suas jovens
promessas; foi quando John F. Kennedy, então senador dos Estados Unidos,
decidiu financiar um programa para que estudantes africanos estudassem no país.
Maathai foi um dos 300 escolhidos.
Graduou-se em Biologia no atual Benedictine College, no
Kansas, com especializações em química e alemão. Depois, passou para a
Universidade de Pittsburg, onde fez um mestrado também em Biologia, em 1966.
Ali, pela primeira vez, participou de um evento relacionado com o meio
ambiente. Voltou à África e ingressou como ajudante no Departamento de Anatomia
Veterinária da Universidade de Nairóbi. Depois de alguns anos ali, fez um
doutorado nas universidades de Giessen e Munique, na Alemanha. Foi a primeira
mulher da África Oriental a ter um doutorado. Lutou sempre a partir da
Associação de Mulheres Universitárias, onde ampliou sua visão como ativista.
Fundou em 1977 o Movimento Cinturão Verde, um sistema de plantação de sementes
para as mulheres. Ingressou também na política. Foi parlamentar no Quênia e
integrou o Conselho de Honra do World Future Council. No dia em que Maathai
morreu, por câncer de ovário, em 2011, havia mais de 47 milhões de árvores
plantadas graças à sua iniciativa e à ideia de que a luta pelo planeta em que
vivemos é a soma de muitas pequenas batalhas.
Os seres humanos passam tanto
tempo acumulando, pisoteando, negando a outras pessoas. E, no entanto, quem são
os que nos inspiram mesmo depois de mortos? Os que serviram aos outros, e não a
si mesmos.
Maathai se soma à lista de três mulheres cientistas cujas
histórias já foram contadas pela série Mulheres na Ciência, que será publicada
pelo EL PAÍS até o dia 8 de março. Este especial, inspirado pelo livro As
Cientistas: 50 Mulheres que Mudaram o Mundo, de Rachel Ignotofsky (editora
Blucher), já destacou estudiosas como Rosalind Franklin, que ajudou a desvendar
o DNA, e Grace Hopper, que tornou a linguagem do computador mais humana.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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