domingo, 4 de março de 2018

Rodrigo Teixeira, o brasileiro por trás do hit ‘Me Chame pelo Seu Nome’


Rodrigo Teixeira, o brasileiro por trás do hit ‘Me Chame pelo Seu Nome’

Produtor do filme indicado ao Oscar é um dos nomes mais promissores do cinema brasileiro — e internacional também.

By Caio Delcolli

Rodrigo Teixeira é fundador da produtora e distribuidora RT Features.

Aos 41 anos, o carioca radicado em São Paulo Rodrigo Teixeira tem trilhado um caminho bastante inusitado como realizador de cinema e séries. Fundador da produtora e distribuidora RT Features, ele tem se envolvido em dezenas de projetos nacionais e internacionais variados entre si — e, no processo, mostrado uma inquietação incomum para botar a mão-na-massa.

O mais recente golaço em sua carreira é Me Chame pelo Seu Nome. Há mais de um ano firme e forte como hit do cinema independente, desde a primeira exibição no Festival de Sundance de 2017, a obra está indicada ao Oscar de Melhor Filme deste ano, entre outras três categorias. Em parceria com produtoras norte-americanas e europeias, Teixeira ajudou a concretizar o longa-metragem dirigido por Luca Guadagnino sobre um romance entre dois rapazes em um verão na Itália.

"Falar sobre um relacionamento entre dois homens em 1983, quando o mundo parecia ser mais conservador e está voltando a ser hoje, e falar com delicadeza, é político, de certa forma", conta em entrevista em HuffPost Brasil.

Forte concorrente na categoria de roteiro adaptado — James Ivory, responsável pelo texto e também um dos produtores, tem levado todos os prêmios da temporada — e adorado por crítica e público, Me Chame pelo Seu Nome revelou ao mundo o ator Timothée Chalamet, de 22 anos, indicado ao prêmio de Melhor Ator.

Há 20 anos na profissão, Teixeira trabalha hoje com Lourenço Sant'Anna e Sophie Mas na frente internacional da RT. Recentemente, o trio confirmou sua primeira incursão em Hollywood com Ad Astra, uma ficção científica co-produzida e protagonizada por Brad Pitt que chega aos cinemas com distribuição da Fox.

No já bastante respeitado currículo da RT, estão as produções internacionais Mistress America (2015) e Frances Ha (2012), ambas dirigidas por Noah Baumbach, um dos principais "diretores-autores" na ativa hoje; o terror A Bruxa (2015) e a comédia dramática Patti Cake$ (2017), dois outros sucessos da cena independente; a série da HBO latino-americana O Hipnotizador e Skate Kitchen (2018), recebido com empolgação em Sundance deste ano.

Entre as produções brasileiras da RT, destacam-se O Cheiro do Ralo (2008), o primeiro longa da empresa, O Abismo Prateado (2011), Alemão (2014) e os inéditos O Animal Cordial e A Sombra do Pai, ambos de Gabriela Amaral.

Leitor atento de roteiros e livros, Teixeira busca incessantemente por boas histórias. "Eu produzo o que gostaria de ver. É o maior prazer que tenho neste trabalho. Batalhei por muitos anos para conseguir chegar a esse ponto", conta.

Leia a entrevista abaixo.

HuffPost: Como o projeto de Me Chame pelo Seu Nome foi parar nas suas mãos?

Rodrigo Teixeira: Ele já existia há muitos anos e eu o conhecia antes de o Luca se tornar o diretor. Na época, não tinha um confirmado e eu achava que precisava de um. O Luca entrou e, um mês depois, eu também. Eu acreditava no roteiro, no Luca e tudo acabou se provando muito melhor do que eu imaginava.

Por que produzir uma história de amor quando tantos filmes nos últimos tempos têm demonstrado uma preocupação com a política?

Todo o cinema tem uma preocupação política, você tem camadas disso. Vai depender da análise de cada um. Contar uma história de amor pode ter um viés político-social. Falar sobre um relacionamento entre dois homens em 1983, quando o mundo parecia ser mais conservador e está voltando a ser hoje, falar com delicadeza e do jeito bonito que a história é contada, é político, de certa forma. É um filme sobre liberdade de sentimento, expressão, relacionamentos. Há uma compreensão do pai com o filho, isso aí é uma mensagem política para os pais do mundo inteiro, para que eles sejam compreensíveis com as escolhas do filho, independente de qualquer coisa.

O filme está grande, tem feito sucesso há mais de um ano. Quando você trabalhou nele, desconfiava que ele cresceria assim?

Nunca imaginei que o filme viria a ter um caminho assim. Estou muito feliz com o que está acontecendo, mas não imaginava que chegaria onde chegou. Eu sabia que tinha um bom filme, mas não que seria indicado a tantos prêmios. Preferiria não exagerar, porque não sabia com quem estava concorrendo. Tenho aprendido muito sobre como esse processo funciona. Visitei a Academia, conversei com o presidente John Bailey e entendi como a cabeça deles funciona. No Brasil, a gente [o mercado de cinema] pensa muito localmente, mas tem que ser muito mais aberto. É muito engraçado isso.

A RT tem uma experiência bastante ampla com o mercado brasileiro e internacional. O que você acha que o mercado nacional pode aprender com o de fora, como o europeu ou norte-americano?

Eles são completamente diferentes entre si. Tanto o Brasil quanto a grande a maioria dos países fora os Estados Unidos precisam de incentivo público para que filmes sejam realizados, então os mercados têm lógicas diferentes. Os Estados Unidos têm a lógica industrial: Hollywood é uma indústria, o cinema independente é uma indústria. Então é tudo completamente diferente, não dá para comparar. A gente está bastante solidificado em televisão e publicidade, mas no cinema, depende dos incentivos públicos e tem que trabalhar para melhorá-los.

O mercado audiovisual brasileiro tem crescido bastante, há filmes de gêneros variados e novas séries de TV surgindo. Você acha que o nacional está em um bom caminho, acha que há coisas que devem ser melhoradas?

Todo mercado tem que ser melhorado, em todo país, então é difícil apontar algo. No Brasil, o de cinema está crescendo e tem que se amplificar. A gente tem que discutir formatos de financiamento e formação de público, porque o público vê filme nacional com vários preconceitos. O cinema brasileiro está evoluindo, basta ver nossa presença internacional. É só ver os trabalhos que a gente fez nos últimos anos. O resultado tem sido bem impressionante.

Você tem produzido projetos que, entre si, são de gêneros e formatos variados. Inclusive, deve conhecer várias boas ideias por aí que nem sequer não foram realizadas. Que tipo de projeto te dá uma comichão para produzir?

Eu trabalho com meu gosto, produzo o que gostaria de ver. É o maior prazer que tenho neste trabalho. Batalhei por muitos anos para conseguir chegar perto de tentar viabilizar o tipo de coisa que eu gosto e acredito. Vivo procurando histórias, lendo livros, estudando cinema, lendo sobre diretores e conversando com o pessoal em viagens. Curiosidade é a característica essencial do produtor. E ainda tem muito chão pela frente, muita batalha para brigar.

Me Chame pelo Seu Nome está em cartaz desde 18 de janeiro. Tem 132 minutos de duração, classificação indicativa 14 anos e distribuição da Sony.

Veja abaixo o trailer e os prêmios que o filme já ganhou ou aos quais foi indicado:
  
Indicações ao Oscar:

Melhor Filme (Guadagnino, Peter Spears, Emilie Georges e Marco Morabito);

Melhor Ator (Chalamet);

Melhor Roteiro Adaptado (Ivory);

Melhor Canção Original (Sufjan Stevens, pela música "Mystery of Love").

Já venceu:

Bafta — Melhor Roteiro Adaptado (Ivory);

Critics' Choice — Melhor Roteiro Adaptado (Ivory);

American Film Institute (AFI) — Filme do Ano;

Gotham Independent Film Awards — Melhor Filme (Teixeira, Ivory, Guadagnino, Spears, Georges, Marco Morabito e Howard Rosenman);

New York Film Critics Circle Awards — Melhor Ator (Chalamet).

Outras indicações:

Globo de Ouro — Melhor Filme de Drama, Melhor Ator em Drama (Chalamet) e Ator Coadjuvante (Hammer);

Bafta — Melhor Filme (Guadagnino, Georges, Spears e Morabito), Melhor Direção (Guadagnino) e Melhor Ator (Chalamet);

Critics' Choice — Melhor Filme, Melhor Diretor (Guadagnino), Melhor Ator (Chalamet), Melhor Ator Coadjuvante (Hammer), Melhor Ator Coadjuvante (Michael Stuhlbarg), Melhor Canção ("Mystery of Love") e Melhor Fotografia (Sayombhu Mukdeeprom);

Sindicato dos Produtores (PGA) — Melhor Filme (Guadagnino, Spears, Georges e Morabito);

Independent Spirit Awards — Melhor Filme (Teixeira, Guadagnino, Spears, Georges, Morabito, Ivory e Rosenman), Melhor Diretor (Guadagnino), Melhor Ator (Chalamet), Melhor Ator Coadjuvante (Hammer), Melhor Montagem (Walter Fasano) e Melhor Fotografia (Mukdeeprom).

Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com

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