Rodrigo Teixeira, o brasileiro por trás do hit ‘Me Chame
pelo Seu Nome’
Produtor do filme indicado ao Oscar é um dos nomes mais
promissores do cinema brasileiro — e internacional também.
By Caio Delcolli
Rodrigo Teixeira é fundador da produtora e distribuidora RT
Features.
Aos 41 anos, o carioca radicado em São Paulo Rodrigo
Teixeira tem trilhado um caminho bastante inusitado como realizador de cinema e
séries. Fundador da produtora e distribuidora RT Features, ele tem se envolvido
em dezenas de projetos nacionais e internacionais variados entre si — e, no
processo, mostrado uma inquietação incomum para botar a mão-na-massa.
O mais recente golaço em sua carreira é Me Chame pelo Seu
Nome. Há mais de um ano firme e forte como hit do cinema independente, desde a
primeira exibição no Festival de Sundance de 2017, a obra está indicada ao
Oscar de Melhor Filme deste ano, entre outras três categorias. Em parceria com
produtoras norte-americanas e europeias, Teixeira ajudou a concretizar o
longa-metragem dirigido por Luca Guadagnino sobre um romance entre dois rapazes
em um verão na Itália.
"Falar sobre um relacionamento entre dois homens em
1983, quando o mundo parecia ser mais conservador e está voltando a ser hoje, e
falar com delicadeza, é político, de certa forma", conta em entrevista em
HuffPost Brasil.
Forte concorrente na categoria de roteiro adaptado — James
Ivory, responsável pelo texto e também um dos produtores, tem levado todos os
prêmios da temporada — e adorado por crítica e público, Me Chame pelo Seu Nome
revelou ao mundo o ator Timothée Chalamet, de 22 anos, indicado ao prêmio de
Melhor Ator.
Há 20 anos na profissão, Teixeira trabalha hoje com Lourenço
Sant'Anna e Sophie Mas na frente internacional da RT. Recentemente, o trio
confirmou sua primeira incursão em Hollywood com Ad Astra, uma ficção
científica co-produzida e protagonizada por Brad Pitt que chega aos cinemas com
distribuição da Fox.
No já bastante respeitado currículo da RT, estão as
produções internacionais Mistress America (2015) e Frances Ha (2012), ambas
dirigidas por Noah Baumbach, um dos principais "diretores-autores" na
ativa hoje; o terror A Bruxa (2015) e a comédia dramática Patti Cake$ (2017),
dois outros sucessos da cena independente; a série da HBO latino-americana O
Hipnotizador e Skate Kitchen (2018), recebido com empolgação em Sundance deste
ano.
Entre as produções brasileiras da RT, destacam-se O Cheiro
do Ralo (2008), o primeiro longa da empresa, O Abismo Prateado (2011), Alemão
(2014) e os inéditos O Animal Cordial e A Sombra do Pai, ambos de Gabriela
Amaral.
Leitor atento de roteiros e livros, Teixeira busca
incessantemente por boas histórias. "Eu produzo o que gostaria de ver. É o
maior prazer que tenho neste trabalho. Batalhei por muitos anos para conseguir
chegar a esse ponto", conta.
Leia a entrevista abaixo.
HuffPost: Como o projeto de Me Chame pelo Seu Nome foi parar
nas suas mãos?
Rodrigo Teixeira: Ele já existia há muitos anos e eu o
conhecia antes de o Luca se tornar o diretor. Na época, não tinha um confirmado
e eu achava que precisava de um. O Luca entrou e, um mês depois, eu também. Eu
acreditava no roteiro, no Luca e tudo acabou se provando muito melhor do que eu
imaginava.
Por que produzir uma história de amor quando tantos filmes
nos últimos tempos têm demonstrado uma preocupação com a política?
Todo o cinema tem uma preocupação política, você tem camadas
disso. Vai depender da análise de cada um. Contar uma história de amor pode ter
um viés político-social. Falar sobre um relacionamento entre dois homens em
1983, quando o mundo parecia ser mais conservador e está voltando a ser hoje,
falar com delicadeza e do jeito bonito que a história é contada, é político, de
certa forma. É um filme sobre liberdade de sentimento, expressão,
relacionamentos. Há uma compreensão do pai com o filho, isso aí é uma mensagem
política para os pais do mundo inteiro, para que eles sejam compreensíveis com
as escolhas do filho, independente de qualquer coisa.
O filme está grande, tem feito sucesso há mais de um ano.
Quando você trabalhou nele, desconfiava que ele cresceria assim?
Nunca imaginei que o filme viria a ter um caminho assim.
Estou muito feliz com o que está acontecendo, mas não imaginava que chegaria
onde chegou. Eu sabia que tinha um bom filme, mas não que seria indicado a
tantos prêmios. Preferiria não exagerar, porque não sabia com quem estava
concorrendo. Tenho aprendido muito sobre como esse processo funciona. Visitei a
Academia, conversei com o presidente John Bailey e entendi como a cabeça deles
funciona. No Brasil, a gente [o mercado de cinema] pensa muito localmente, mas
tem que ser muito mais aberto. É muito engraçado isso.
A RT tem uma experiência bastante ampla com o mercado
brasileiro e internacional. O que você acha que o mercado nacional pode
aprender com o de fora, como o europeu ou norte-americano?
Eles são completamente diferentes entre si. Tanto o Brasil
quanto a grande a maioria dos países fora os Estados Unidos precisam de incentivo
público para que filmes sejam realizados, então os mercados têm lógicas
diferentes. Os Estados Unidos têm a lógica industrial: Hollywood é uma
indústria, o cinema independente é uma indústria. Então é tudo completamente
diferente, não dá para comparar. A gente está bastante solidificado em
televisão e publicidade, mas no cinema, depende dos incentivos públicos e tem
que trabalhar para melhorá-los.
O mercado audiovisual brasileiro tem crescido bastante, há
filmes de gêneros variados e novas séries de TV surgindo. Você acha que o
nacional está em um bom caminho, acha que há coisas que devem ser melhoradas?
Todo mercado tem que ser melhorado, em todo país, então é
difícil apontar algo. No Brasil, o de cinema está crescendo e tem que se
amplificar. A gente tem que discutir formatos de financiamento e formação de
público, porque o público vê filme nacional com vários preconceitos. O cinema
brasileiro está evoluindo, basta ver nossa presença internacional. É só ver os
trabalhos que a gente fez nos últimos anos. O resultado tem sido bem
impressionante.
Você tem produzido projetos que, entre si, são de gêneros e
formatos variados. Inclusive, deve conhecer várias boas ideias por aí que nem
sequer não foram realizadas. Que tipo de projeto te dá uma comichão para
produzir?
Eu trabalho com meu gosto, produzo o que gostaria de ver. É
o maior prazer que tenho neste trabalho. Batalhei por muitos anos para
conseguir chegar perto de tentar viabilizar o tipo de coisa que eu gosto e
acredito. Vivo procurando histórias, lendo livros, estudando cinema, lendo
sobre diretores e conversando com o pessoal em viagens. Curiosidade é a
característica essencial do produtor. E ainda tem muito chão pela frente, muita
batalha para brigar.
Me Chame pelo Seu Nome está em cartaz desde 18 de janeiro.
Tem 132 minutos de duração, classificação indicativa 14 anos e distribuição da
Sony.
Veja abaixo o trailer e os prêmios que o filme já ganhou ou
aos quais foi indicado:
Indicações ao Oscar:
Melhor Filme (Guadagnino, Peter Spears, Emilie Georges e
Marco Morabito);
Melhor Ator (Chalamet);
Melhor Roteiro Adaptado (Ivory);
Melhor Canção Original (Sufjan Stevens, pela música
"Mystery of Love").
Já venceu:
Bafta — Melhor Roteiro Adaptado (Ivory);
Critics' Choice — Melhor Roteiro Adaptado (Ivory);
American Film Institute (AFI) — Filme do Ano;
Gotham Independent Film Awards — Melhor Filme (Teixeira,
Ivory, Guadagnino, Spears, Georges, Marco Morabito e Howard Rosenman);
New York Film Critics Circle Awards — Melhor Ator
(Chalamet).
Outras indicações:
Globo de Ouro — Melhor Filme de Drama, Melhor Ator em Drama
(Chalamet) e Ator Coadjuvante (Hammer);
Bafta — Melhor Filme (Guadagnino, Georges, Spears e
Morabito), Melhor Direção (Guadagnino) e Melhor Ator (Chalamet);
Critics' Choice — Melhor Filme, Melhor Diretor (Guadagnino),
Melhor Ator (Chalamet), Melhor Ator Coadjuvante (Hammer), Melhor Ator
Coadjuvante (Michael Stuhlbarg), Melhor Canção ("Mystery of Love") e
Melhor Fotografia (Sayombhu Mukdeeprom);
Sindicato dos Produtores (PGA) — Melhor Filme (Guadagnino,
Spears, Georges e Morabito);
Independent Spirit Awards — Melhor Filme (Teixeira,
Guadagnino, Spears, Georges, Morabito, Ivory e Rosenman), Melhor Diretor
(Guadagnino), Melhor Ator (Chalamet), Melhor Ator Coadjuvante (Hammer), Melhor
Montagem (Walter Fasano) e Melhor Fotografia (Mukdeeprom).
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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