Publicado originalmente no site da revista TRIP, em 27.02.2018
A Sustentável Leveza do Ser
Por Autumn Sonnichsen
A educação não é só na casa ou na escola – também existe na
rua, no parquinho, na mesa do bar e no farol vermelho
Eu sei que muitos acreditam firmemente no lema que diz que
uma educação boa começa em casa, com pais fortes e educados que deixam um
espaço seguro e saudável para as crianças se descobrirem como seres humanos.
Mas isso também dá muito espaço para abrir mão da responsabilidade pela
comunidade, de não se responsabilizar pela criança sem casa, ou pela criança
com uma casa precária, ou mesmo até com uma casa que poderia ser muito boa, mas
em que a mãe trabalha dez horas por dia e ainda pega quatro horas de busão para
ir e voltar e não sobra mais tempo para nada. A educação não é só na casa ou na
escola – também existe na rua, no parquinho, na mesa do bar e no farol
vermelho.
Estão faltando tantas educações. A educação de ser civil, de
ser civil com os empregados, de ser civil com os que têm menos. A educação do
corpo, de aprender como se faz não só para aceitar os nossos corpos, mas também
como achar o prazer fundamental em viver dentro da nossa pele, o trabalho diário
da força, e de sentir algo mais agudo no corpo que temos e que conseguimos
construir. O trabalho diário da gentileza. O trabalho de compartilhar, e o
trabalho de proporcionar a beleza, a beleza profunda, a todos. O trabalho de
fazer mais do que só sobreviver.
A Tereza Perez, uma das maiores cabeças na educação
brasileira que conheço, me escreveu uma carta outro dia em que ela me disse: “O
convívio, os modelos de relacionamento, o reconhecimento do conhecimento como
valor de transformação, o aprender a lidar com as diferenças, a respeitar, a
argumentar, a cuidar de si e do outro, a esperar, a se comprometer consigo e
com o grupo, a não mentir, a exercer a empatia, o diálogo. Pode ser nesse mesmo
espaço que também se aprende o desrespeito, a violência, a dissimulação, a
injustiça. Educar é fazer escolhas”.
Pensei muito em como eu ia ilustrar a minha coluna este mês,
pois um bumbum talvez não fosse apropriado para este tema, e decidi que nada
mais justo do que mostrar uma das pessoas que a Tereza mais educou neste mundo,
o Luiz, o filho dela.
Tenho muita sorte de poder chamar o Luiz de amigo. Tenho
sorte por alguém que foi educado por uma mulher tão sábia estar tão presente na
minha vida. Ele me mostra através das suas pequenas escolhas diárias o quanto
uma educação mais ampla pode proporcionar a um homem. Também tenho muita sorte
por tal homem educado ir atrás de mim na Bahia para carregar meus equipamentos
e levantar as bailarinas por aí.
Obrigada, Tereza.
Texto e imagem reproduzidos do site: revistatrip.uol.com.br
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