quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

O livro de Jô - Uma autobiografia desautorizada - Volume 1

Jô Soares em foto para passaporte, em 1951

Cheio de estilo, Jô vai ao Jockey Club de luvas e cartola 

Rafael no colo do pai, Jô Soares
 Fotos: Reprodução/Livro

Publicado originalmente no site do jornal extra, em 24/11/2017

Jô Soares abre o baú de recordações em biografia e fala sobre o filho morto. 

Por Cleodon Coelho 

O apresentador e humorista Jô Soares abriu o baú de fotos e recordações em “O livro de Jô - Uma autobiografia desautorizada - Volume 1”, escrita em parceria com Matinas Suzuki Jr e recém-chegado às livrarias. Ele, que no dia 16 de janeiro completa 80 anos, relembra fatos curiosos de sua infância, passada entre o Copacabana Palace e o Jockey Club, no Rio de Janeiro, e se emociona ao lembrar do filho, Rafael, morto em 2014, aos 51 anos.

Jô, que na infância era chamado de Zezinho, nasceu quando a mãe, Mercedes, já estava com 40 anos. No aniversário de 4 anos, em 1942, ela fez uma festa inovadora: os meninos deveriam se vestir de cozinheiro e as meninas, de camareira. Entre os convidados, estava a futura atriz Joana Fomm. Para ficar parecido com um autêntico chef, dona Mercedes foi até a cozinha do Copa para reproduzir chapéu, calça e até o lenço usado no pescoço.

Com a mesma idade, Zezinho acompanhou o pai, Orlando, ao Grande Prêmio Brasil do Jockey Club, e virou atração: o pequeno estava em traje de gala, com direito até a cartola.

Jô garante que, mesmo temporão, não se sentia superprotegido. “Meus pais me criaram com rara liberdade e independência”. Num Natal, Jô pediu a Papai Noel uma estrela de xerife, igual às que via nos filmes de caubói. Depois de rodar as lojas do Rio, a mãe soube de uma promoção de sabonete, que oferecia o item com brinde. Comprou várias quantidades do produto, mas nada do prêmio. Até que foi bater na fábrica, para explicar o que estava acontecendo. Só arredou pé quando o fabricante, já cansado, cedeu uma peça. O pequeno quase desmaiou de emoção quando viu a estrela em cima da árvore.

Gordinho, ele sofria para subir a ladeira íngreme que dava acesso ao Colégio de São Bento, onde estudou. Num piquenique na praia, ele passou o dia inteiro debaixo do sol, sem camisa. Muito branco, virou um pimentão vermelho, com queimaduras de segundo grau por todo o corpo. A família só sossegou quando ele conseguiu fazer xixi, sinal de que o rim não havia sido lesionado. “Parecia cerveja preta, mas todo mundo achou bom”. Durante alguns dias, ficou dormindo sentado, na beira da cama, pois não conseguia encostar a pele no lençol.

Aos 12 anos, ele acompanhou a Copa de 50 e relata a emoção de ver o Brasil golear a Espanha, com o espetacular placar de 6 x 1. Jô conta que, em determinado momento, as pessoas que estavam no Maracanã começaram a cantar a marchinha “Touradas em Madri”, numa explosão de felicidade. Jô também esteve na final, quando o Brasil perdeu o título para o Uruguai. “O trauma da derrota apagou da minha mente boa parte daquele jogo”.

Aos 13, o hoje poliglota Jô embarcou com os pais para Nova York em um avião da Pan Am, que tinha um bar no deque inferior. Querendo mostrar desenvoltura no inglês, começou a conversar com um americano, que quis saber o que seu pai fazia. Orlando, que trabalhava com câmbio, acabou virando dono de uma empresa transportadora de valores, tamanha a dificuldade do menino em encontrar as palavras certas.

Com a mesma idade, em Paris, ele encontrou seu ídolo Orson Welles (diretor de “Cidadão Kane”) e, ao pedir autógrafo, ganhou de presente o passaporte do cineasta, que estava no maior porre. O menino ficou radiante, mas o pai o fez devolver o documento imediatamente.

Na adolescência, quando estudou num colégio interno da Suíça, Jô conheceu sua primera namorada: a alemã Angela Munemann. Pouco mais velha que ele, era cobiçada por todos os seus colegas. Nessa época, ele era remador. E foi vendo suas habilidades no esporte que a moça trocou o nobre russo Rudolf pelo brasileiro.

Sempre discreto em relação ao filho Rafael, ele conta no livro todo o drama que viveu. Filho de seu primeiro casamento com a atriz Theresa Austregésilo, em 1959, Rafinha nasceu em 1963. O apresentador revela que viveu 40 segundos de alegria, até ouvir o médico dizer: “Ele nasceu com hipospádia, um problema genético”. Tempos depois, os pais descobriram que ele também era autista. Jô viveu essa dor em silêncio. A mãe largou a carreira de atriz para cuidar do filho, que morreu em 2014, aos 51 anos, depois de uma batalha contra o câncer.

Outra passagem emocionante do livro se passa em 1977, quando - ao descer de um táxi - Jô ouviu uma frase surpreendente do motorista, que se recusou a receber o pagamento: “Fui eu que matei a sua mãe”. Dona Mercedes havia morrido atropelada em 1968, aos 70 anos. Abismado com a surpresa que o destino preparou, Jô falou: “Você não matou a minha mãe, foi um acidente”. O taxista continuou: “Faz anos que não consigo dormir. Só vou conseguir se o senhor me perdoar. Seu Jô, acho que foi Deus quem arrumou este nosso encontro”. “Você está perdoado”, disse o apresentador.^

Texto e imagens reproduzidos do site: extra.globo.com

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