quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Primatas notáveis, nada mais

Foto: Bispo/Editora Trip.

Primatas notáveis, nada mais.
Por Gustavo Ranieri.

Em 2003, quando era professora adjunta na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especializada em divulgação científica, a bióloga e então pesquisadora Suzana Herculano-Houzel passou a se interessar mais amplamente pela diversidade e evolução do cérebro. Tinha, principalmente, o interesse de entender como esse complexo e fundamental órgão se comparava entre os humanos, mas também entre esses e outras espécies de mamíferos, por exemplo. A inquietação crescia à medida que percebia que, apesar de importantes e vastas pesquisas em torno de genes, tipos de células e áreas funcionais, não se sabia ainda do que eram feitos os cérebros. Ou seja, quantos neurônios e células gliais realmente existiam em cada estrutura cerebral – dizia-se entre os cientistas que eram 100 bilhões de neurônios, embora a origem de tal número fosse desconhecida –, mas, essencialmente, por que tantos colegas afirmaram e endossaram ao longo de séculos o conceito de que o cérebro humano não se comparava ao de outras espécies simplesmente porque seríamos especiais, alguém fora da curva da evolução. Como teria sido, questionava ela, que nos tornamos o que somos? Como nosso cérebro aumentou tanto de tamanho em 1,5 milhão de anos, enquanto outros grandes primatas, como o gorila, mantêm há muito mais tempo um cérebro com um terço do tamanho do nosso, apesar de seu corpo ser o dobro ou o triplo do humano?

Em resumo, tudo isso levou Houzel a colocar em prática um longo estudo, o qual a transformou em neuroanatomista e neurocientista, e, com o apoio do cientista Robert Lent, que era chefe do Departamento de Anatomia da UFRJ, desenvolveu um método inovador que permitiu contar com precisão o número de neurônios ao transformar o cérebro humano em sopa. Sim, dissolvê-lo até sobrar apenas a membrana nuclear em cada célula, livre para a contagem. A conclusão do estudo levou a neurocientista a desmentir diversos mitos e a revelar que o cérebro humano tinha, na verdade, 86 bilhões de neurônios, sendo 16 bilhões destes no córtex – área responsável pelas atividades psíquicas, verbalização e racionalização –, resultando, consequentemente, na explicação de por que temos a maior capacidade biológica frente a outras espécies, já que todas contam com menos neurônios nessa região. Portanto, não somos biologicamente especiais, e nem um ponto fora da curva. “A gente é apenas mais um primata, que por uma série de circunstâncias, como graças à modificação da dieta [quando os ancestrais primatas aprendem a cozinhar o alimento, conseguindo maior energia calórica por dia], consegue ter o maior número de neurônios no córtex e, portanto, a maior capacidade biológica, adquirir e transmitir conhecimento cultural e tecnológico. É isso que distancia a gente tão enormemente de todos os outros animais.”

A divulgação do estudo, feito com quase nada de recurso, resultou também no grande reconhecimento internacional do trabalho de Houzel, que em 2016 foi convidada para assumir o posto de professora – com direito a um laboratório próprio e verba para ele – dos departamentos de Psicologia e Ciências Biológicas da Universidade Vanderbilt, na cidade norte-americana de Nashville, no Tennessee. Tornou-se assim mais uma importante cientista brasileira a migrar de país diante da conhecida e repetida falta de apoio do governo brasileiro para a pesquisa científica. “Se você é cientista no Brasil, muito provavelmente é funcionário público e muito provavelmente é professor, o que quer dizer que você é contratado para dar aula e tem zero incentivo para fazer pesquisa, a ser produtivo, a se destacar, porque seu salário é determinado pelo governo. Ou seja, é um sistema feito para não funcionar. É estupidamente desmotivador. Não tenho mais nenhuma mágoa, ficou para trás. O que tenho hoje é o alívio e a felicidade de trabalhar em um lugar onde o que faço é considerado uma coisa importante e é reconhecido como tal.”

O motivo da entrevista a seguir é que Suzana Herculano-Houzel acaba de lançar o livro A vantagem humana (Companhia das Letras), no qual narra, em 300 páginas, de forma extremamente acessível e, por vezes, até cômica, todo o processo que transcorreu ao longo dos últimos anos; detalha as etapas do estudo mencionado acima; e põe fim tanto a mitos quanto ao estereótipo do cientista como um ser egocêntrico, alheio a quem não é da mesma área. “Isso faz parte da minha campanha de valorização da ciência e para lembrar as pessoas de que cientista é gente. Acontecem coisas na vida da gente que são iguais como na de qualquer outra pessoa.”

O estudo narrado em A vantagem humana é aquele que te trouxe o reconhecimento internacional e com o qual você mostra que não somos frutos de um desvio excepcional na evolução, mas simplesmente um primata cuja vantagem seria ter mais neurônios no córtex cerebral do que qualquer outro animal, o que explica nossas capacidades notáveis. Você acabou também por desmitificar a falsa informação, reconhecida pela classe científica, de que possuíamos 100 bilhões de neurônios e dez vezes este valor de células gliais. Passados alguns anos da conclusão desse estudo, tal conhecimento já se tornou universal ou você enfrenta resistência de outros cientistas que discordam de seus estudos? Olha, é natural que se leve tempo até um novo conhecimento, um novo entendimento, uma nova explicação sobre o que a gente é se espalhar por toda a comunidade científica. Isso é perfeitamente natural e não quer dizer que as pessoas resistem às ideias. Elas simplesmente ainda não tomaram conhecimento do assunto, que é a razão de ser tão importante a gente não só transmitir conhecimento pela educação formal, mas também a possibilidade que a gente, cientista, tem hoje de viajar, conhecer, visitar colegas em outras universidades e países para trocar ideias e informações. Ver essa mudança acontecer é extremamente gratificante. A gente já encontra, por exemplo, cada vez mais artigos científicos, revisões e livros com menção à estimativa real de quantas células o cérebro humano tem. Não são 100 bilhões de neurônios e dez vezes este valor de células gliais. São cerca de 86 bilhões de neurônios e no máximo o mesmo tanto de células gliais, meio a meio. É a demonstração de que uma ciência feita inicialmente no Brasil, com quase nada de recurso, tem o poder de transformar a compreensão de cientistas mundo afora.

Aliás, no livro você se prontifica a acabar também com o mito de que usamos apenas 10% das funções do cérebro. De onde surgiu isso, você faz ideia?
A gente não sabe, mas uma das possibilidades era justamente o que me fez começar toda essa linha de investigação, que era esse outro mito de que o cérebro humano tinha 100 bilhões de neurônios. E cadê os números? De onde vieram? Quem contou? Quem mostrou isso e como? E daí você descobre que não existe. No caso dos 10%, a gente sabe que o cérebro é utilizado por inteiro o tempo todo. O que muda apenas é como a gente o usa, que partes você está usando um pouco mais ou um pouco menos a cada momento. E qual é a experiência que você tem, quanto treino você dá para cada uma dessas redes cerebrais? Mas, de qualquer maneira, com o que a ciência tem disponível hoje para examinar o cérebro funcionando, tudo atesta que a gente o usa por inteiro, o tempo todo, apenas de maneiras diferentes.

De acordo com o que você narra em A vantagem humana, podemos dizer então que as transformações genéticas que determinaram nossa transformação de Homo erectus em Homo sapiens em 1,5 milhão de anos, um curtíssimo período frente à idade da vida na Terra, foi graças a esses nossos ancestrais primatas terem aprendido a cozinhar o alimento, conseguindo assim mais energia, resultando na manutenção de mais neurônios ativos?
Em capacidade cognitiva, é isso que o registro fóssil conta. Há cerca de 1,5 milhão de anos, você encontra esqueletos de seres que tinham já uma forma parecida com a nossa, mas possuíam um cérebro muito menor, com um terço do tamanho do nosso. Quer dizer, tinham essencialmente como adultos o tamanho de um cérebro de uma criança recém-nascida hoje. Eles já eram bípedes, tinham a cabeça ereta em cima da medula espinhal, mãos como as nossas, capazes de manipular objetos, e aparentemente já faziam uso dessa capacidade de fabricar suas próprias ferramentas. Sabia-se disso sobre eles, mas não havia nenhuma resposta razoável sobre o que mudou dentro desse tempo que, de repente, acontece esse crescimento tão rápido do cérebro, do crânio. E é aí que entra o cozimento do alimento. Então você junta uma série de circunstâncias, como ser bípede, saber manipular objetos e já ter capacidade biológica cognitiva bastante razoável, afinal, mesmo com um terço dos neurônios que temos como seres humanos, você fica no nível praticamente de um chimpanzé, que é um ser bastante capaz e com DNA semelhante ao nosso. Com essa combinação de tamanho do corpo e do cérebro que os antepassados já tinham, eles deviam estar muito perto do limite metabólico, do limite energético

Para a manutenção dos neurônios e demais atividades biológicas?
Sim, a gente hoje calcula, baseado em orangotangos e gorilas, que era necessário passar oito horas por dia comendo para se adquirir a energia necessária. Imagine oito horas do seu dia catando comida e ingerindo um alimento com muito pouco valor calórico, pois uma batata, uma cenoura, uma raiz que seja e que pensamos ser cheia de caloria, quando você a ingere crua, a digestão é muito difícil, mastigar é muito difícil. Se a gente comesse hoje em dia como todos os outros animais comem, passaria tanto tempo, tantas horas por dia procurando comida e se alimentando que isso estabeleceria um limite absoluto que impede um tanto a mais de neurônios no cérebro ou um corpo com um tanto a mais de tamanho.

Certamente não estaríamos conversando agora...
Certamente não, eu estaria lá fora procurando comida e você também [risos]. E com zero certeza de que a gente vai ter calorias suficientes para chegar ao dia seguinte. Então, você pega a capacidade manual de manipular objetos, aliada com o bipedismo – que custa metade da energia de andar nas quatro patas –, e junta isso tudo com o que parece que começa a existir naquela época, que são as caças coletivas, ou seja, organização, pois isso traz uma vantagem quando você consegue se coordenar com outros indivíduos. E a isso ainda se soma o cozimento do alimento, o que faz você ser libertado daquele máximo energético, porque agora consegue ingerir, assimilar mais calorias em menos tempo. Ter um cérebro grande não só deixa de ser um risco, mas passa a ser uma vantagem também, pois tem o benefício de ser capaz de sustentar mais neurônios. Essa para mim é a melhor resposta que a gente tem no momento para entender como e tão rápido o cérebro triplica de tamanho.

Nós éramos Homo erectus e tínhamos um terço do tamanho do cérebro que temos hoje. E a partir do momento em que, graças ao consumo de alimentos cozidos e, por isso, mais calóricos, conseguimos equilibrar a energia que gastamos e a que precisamos para manter nosso funcionamento do corpo e cérebro, novos seres que nasceram nos milhares de anos seguintes já viriam com uma maior quantidade de neurônios ou essas células podem se multiplicar ao longo da existência?
Não parece ser essa segunda alternativa. Existe uma variação bastante grande no número de neurônios que a gente tem no começo da vida e mudanças que acontecem depois. Julgando o que a gente sabe a partir de análises em ratos e camundongos, você não continua ganhando neurônios ao longo da vida individual. Agora que estamos estudando o grau de variabilidade em humanos, mas a gente sabe é que existe naturalmente, espontaneamente, uma variação muito grande em número de neurônios entre cérebros diferentes, entre indivíduos. Também é sabido que no começo da vida, em mamíferos, você supostamente tem uma produção de número excessivo de neurônios. O cérebro produz muito mais do que consegue de fato manter na idade adulta. Essa é uma possibilidade, de que com a mudança tão grande na quantidade de energia [calórica] passou-se a trabalhar com essa disponibilidade naturalmente alta de número de neurônios. Mas a gente não tem a menor ideia se é isso que de fato acontece. Porque a outra possibilidade é que cada indivíduo tenha um ponto diferente nessa curva de excesso e depois queda e eliminação, o que estabiliza a pessoa em certa quantidade de neurônios. Ou seja, isso acontece igual para todo mundo, mas haveria variação natural, espontânea, sobre quantos neurônios você tem no cérebro, antes e depois dessa curva.

Mas existe uma idade em que essa eliminação e essa estabilização do número de neurônios acontecem?
É supostamente na primeira idade, até os 3 ou 4 anos, mas, de novo, a maior parte do que a gente acha que sabe sobre o cérebro humano depois do nascimento, na verdade, é inferência a partir do que a gente sabe que acontece com ratos e camundongos. Há muitos buracos ainda nessa história. Então existe, sim, a possibilidade de que quando você tem mais calorias disponíveis, na primeira infância, você consegue sustentar um número maior de neurônios. A gente tem um estudo que está para sair agora, em que aparentemente isso acontece em ursos. O urso vive uma demanda metabólica muito grande, porque o corpo dele é muito grande. E por todas as regras que valem, todas as proporções que valem para outros animais, você esperaria que o urso tivesse um número de neurônios no córtex maior que um cachorro. De fato, o urso tem um cérebro grande, mas o número de neurônios dele é proporcional ao que se encontra no cérebro de um gato. A nossa suspeita, por enquanto, é que isso se deva justamente à restrição energética. Talvez isso sustente essa possibilidade de que na evolução humana você tem esse aumento tão rápido no tamanho do cérebro por causa da maior disponibilidade de calorias, justamente nessa fase do começo da vida, quando o cérebro tem a possibilidade de gerar mais neurônios, mas só consegue sustentar um certo número deles.

Mas as crianças nascem com os 86 bilhões ou adquirem ao longo da primeira infância?
Grande parte desses 86 bilhões está no cerebelo e, de fato, o cerebelo só se desenvolve depois que a gente nasce. O cerebelo ganha neurônios ao longo da primeira infância, mas ele parece se estabilizar em torno dos 4 anos de idade. Essa é uma estimativa, pois isso é quando o cerebelo chega a um patamar mais ou menos estável. Mas aqueles 16 bilhões de neurônios no córtex a gente já nasce com eles. E a suspeita é que no começo da vida a gente tem muito mais do que 16 bilhões. Se for algo comparável ao que a gente encontra em ratos e camundongos, é possível que depois do nascimento a gente chegue a ter 30 bilhões no córtex, mas isso se perde ao longo do desenvolvimento, e essa perda é importante. Essa perda faz parte do processo que esculpe o cérebro, que transforma um monte de neurônios, que representam capacidades várias, indeterminadas ainda, em habilidades de fato.

Seria a capacidade cognitiva de cada um? A capacidade cognitiva, biológica, o que você é capaz de fazer, dado o número de neurônios que você tem. Porque, supostamente, nesse início da vida, as pessoas têm uma quantidade parecida de neurônios, mas ainda assim você sabe o papel que a educação e a informação têm. É isso o que vai dando forma ao seu cérebro, é isso o que vai fisicamente esculpindo as redes de conexão. Isso que transforma o que é capacidade biológica cognitiva em habilidades reais.

No livro, você mostra que os neurônios consomem cerca de 25% da energia calórica de uma dieta padrão do ser humano. A qualidade do alimento e o equilíbrio entre os nutrientes representam algum impacto nesse processo?
Os neurônios têm um certo custo, uma certa quantidade de energia para funcionar, e isso, aparentemente, para o número de neurônios que temos, é em torno de 500 calorias por dia, chova ou faça sol. Se você passar o dia inteiro em jejum, o seu cérebro encontrará uma maneira de requisitar o equivalente a 500 calorias do seu corpo, seja do seu fígado, dos seus músculos. Essa energia será transferida para o cérebro, e isso mantém você funcionando. Isso quer dizer que tem um certo custo energético que independe de onde isso vem. Agora, tem toda uma outra necessidade do corpo que está incorporada nessas calorias para o cérebro, e funciona muito mais a longo prazo, que é você ter o colesterol necessário para formar e recompor membranas dos neurônios, ter todos os aminoácidos necessários – dos 20 no total, há oito que a gente não consegue produzir, por isso que comer proteína é tão importante. A mesma coisa vale para várias gorduras. Há muitas delas que o nosso corpo precisa ingerir e que não as produz. O ômega 3 é uma dessas. Além de tudo o que a gente chama de vitamina. Daí que vem a importância de uma alimentação balanceada.

No livro, você cita o homem de Neandertal, que desapareceu há 35 mil anos aproximadamente. Apesar de ter supostamente o cérebro com o mesmo tamanho do Homo sapiens, seria um potencial cognitivo menor uma das causas de seu desaparecimento frente à crescente presença dos sapiens no período Paleolítico Médio e Inferior?
Acho que aí nesse ponto a gente já tem uma demonstração de como ciência e tecnologia são importantes. Ambos existiram ao mesmo tempo no planeta, coexistiram, mas geograficamente separados. Ao mesmo tempo, por milhares de anos, havia seres humanos na África e seres humanos na Europa. Uns não sabiam dos outros, eles não conviviam. Neandertal é o nome que a gente dá para um indivíduo da nossa espécie que tem uma série de características diferentes e conhecíveis e que habitava o que depois virou a Europa. Mas eles eram exatamente tão humanos quanto a gente. Prova disso é que obviamente tivemos mistura genética quando uma população invadiu a outra. A biologia deles, até onde se sabe dizer, era realmente muito parecida, com a diferença de que os neandertais eram mais robustos, mas isso é facilmente atribuído à temperatura mais baixa europeia, e parece que eles tinham a formação da laringe diferente da nossa atual, o que não permite produzir sons tão elaborados como a gente hoje consegue fazer. Quer dizer, os sapiens em relação aos neandertais já teriam uma vantagem em termos de capacidade de comunicação. O que você tem são duas populações biologicamente semelhantes, em termos de capacidade cognitiva também, mas que tinham diferenças enormes com relação às habilidades cognitivas. Quando os dois se confrontam, porque, claro, um deles já tem mais tecnologia do que o outro – pois o povo que consegue migrar maior distância é quase por definição o que detém mais habilidade tecnológica –, o resultado natural é a aniquilação dos que têm menos habilidades. Isso, aliás, deveria ser uma mensagem muito importante para os governantes de hoje. Quem não tem sua própria cultura tecnológica acaba sendo eliminado. Quem desenvolve a sua ciência e o seu conhecimento, e sabe passar adiante, tem uma série de vantagens óbvias sobre todas as outras populações.

Aliás, há muito tempo se fala sobre um cenário que continua igual: a falta de apoio e investimentos na pesquisa científica no Brasil. Ela é fruto do que, em sua opinião?
Falta de cultura e falta de visão. A gente sabe que a ciência não coloca dinheiro no bolso de nenhum político imediatamente. A ciência no Brasil infelizmente nunca foi assunto de plataforma eleitoral, nunca foi nada que ajudasse a eleger ninguém. A história econômica do Brasil é, infelizmente, uma história muito imediatista, do tipo o que consigo fazer agora e o que vai botar meu nome no jornal, é uma história de tirar proveito próprio. E o proveito próprio acaba em uma geração. A ciência é algo que faz sentido ao longo de gerações. Então, se você não tem essa visão de futuro, de construir algo que é muito maior do que só o que cabe no seu bolso, você como país não tem por que investir em ciência e tecnologia. E o problema maior para mim é que isso só se muda com educação. E educação, para acontecer de maneira rica, de maneira valorizada, começa com você ter compreensão de que ciência, conhecimento e tecnologia são riquezas fundamentais. Então, se você não tem uma, você não tem a outra.

O foco presente em A vantagem humana era atestar que nosso cérebro não era especial, embora de fato tenhamos mais habilidades cognitivas. E isso você não só provou como aprofundou outras descobertas. E hoje, de que forma prosseguem suas pesquisas? O que te inquieta neste momento?
No momento, tenho estudado de que forma cérebros diferentes são feitos, e isso me levou a vertentes diferentes agora, que são entender o que isso tem a ver com longevidade, que está relacionada com quanto de energia o cérebro custa e como se mantém, que implicações isso tem, por exemplo, com quanto a gente dorme, como você junta isso tudo na história da evolução dos mamíferos... É bacana ver as perguntas mudando. Não sei dizer hoje o que estarei estudando daqui a 20 anos. Mas, daqui a 20 anos, quando olhar para trás, certamente conseguirei reconhecer um caminho. Essa é a diferença entre evolução e as teorias evolutivas.

Texto e imagem reproduzidos do site: livrariacultura.com.br

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