Publicado originalmente no site Resenhando, em 20 de novembro de 2017.
Entrevista com Carlos Minuano, autor da biografia de
Clodovil Hernandes
"Clodovil não era fácil. E escrever sobre ele, muito
menos".
Carlos Minuano, jornalista e autor de "Tons de
Clô",
a primeira biografia
de Clodovil Hernandes
Por Helder Moraes Miranda
Autor de "Tons de Clô", a primeira biografia do
estilista, apresentador de programas na televisão e deputado federal Clodovil
Hernandes, Carlos Minuano promete polêmica ao revelar histórias ainda
desconhecidas do grande público.
Lançada pela editora Best-Seller, a obra promete decifrar,
ou quase, a personalidade de Clodovil que, com temperamento intempestivo e
colecionador de desafetos, era amado e odiado pelas mesmas características que
o consagraram: a autenticidade e a irreverência.
O livro revela os bastidores da vida regada a luxo, glamour
e sexo, que foi interrompida em 2009 e até hoje é envolta em muitos rumores,
mistérios e dúvidas. Conhecido por contratar garotos de programa, Clô, como era
apelidado, sempre teve dificuldade para lidar com a sexualidade, mas usava
bordões que falavam disso como uma maneira de se defender.
Carlos Minuano, o autor da obra, é jornalista e pós-graduado
em cinema. Em 20 anos de carreira, já escreveu nos principais veículos do país,
como no jornal Folha de S.Paulo, revistas Carta Capital e Rolling Stone, além
de diversas publicações da editora Abril. Atualmente, é repórter do jornal
Metro (Band) e colaborador no portal UOL.
Ele está estreando no audiovisual com uma websérie sobre
sexualidade, protagonizado pela escritora Nalini Narayan, que deve estrear
ainda esse ano no YouTube. E também trabalha em um próximo livro sobre a bebida
psicodélica ayahuasca. "Tons de Clô" será lançado na próxima quarta-feira,
dia 22 de novembro, a partir das 19h, na livraria da Vila da Fradique Coutinho.
RESENHANDO - Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre
Clodovil Hernandes?
CARLOS MINUANO - Começou em uma reportagem para o UOL, fui
cobrir a inauguração de um espaço em homenagem a ele em Ubatuba. Nessa viagem,
comecei a conhecer algumas histórias e falei sobre elas com meu amigo Guilherme
Fiúza. Ele começou a por pilha na história até que o Carlos Andreazza, do grupo
Record, me ligou e me convidou para fazer o livro.
RESENHANDO - O que foi mais desafiador em escrever essa
biografia?
C.M. - Tudo foi desafiador. Clodovil não era fácil. E
escrever sobre ele, muito menos. Digo isso porque ele não deixou herdeiros, e
em seu círculo de amizades encontrei uma boa quantidade de pessoas que
decidiram não colaborar com o livro. Deu bastante trabalho.
RESENHANDO - Quando você percebeu que estava na hora de
parar de pesquisar e começar a escrever?
C.M. - Foram dois anos de pesquisa e redação, encontrei
muita coisa que demandava mais tempo de apuração. Mas trabalho em um jornal
diário e a vida por lá não é fácil. Estourei o prazo algumas vezes e quando a
paciência da editora estava acabando percebi que era hora de começar a
escrever.
RESENHANDO - De que maneira teve acesso às histórias
secretas de Clodovil, como a contratação de garotos de programa?
C.M. - Em uma pesquisa, ao buscar uma informação, acontece
de se encontrar muitas outras. Uma fonte pode levar a outras, e foi isso o que aconteceu
no caso da biografia do Clodovil. Várias pessoas que entrevistei me contaram
histórias sobre os garotos de programa.
RESENHANDO - Houve algum ponto da biografia de Clodovil que
o chocou?
C.M. - O mais chocante foram histórias sobre a morte dele,
mas que não pude contar no livro, por falta de provas, tempo e recursos para
investigação. Tem muito a ser apurado na fase pós-morte.
RESENHANDO - Dos desafetos públicos que Clodovil tinha, qual
é o mais controverso na sua opinião?
C.M. - Foram muitos. Não sei dizer qual o mais controverso.
O mais impactante, talvez, tenha sido a briga com o programa "Pânico na
TV". Foi o que mais desequilibrou Clodovil.
RESENHANDO - Clodovil estava certo em relação às brigas que
comprava?
C.M. - Isso é muito relativo. Ele comprou algumas brigas
importantes e pagou caro por isso. Por exemplo quando criticou ao vivo o
processo da constituinte, em 1988, que estava sendo aprovada de maneira não tão
transparente. Perdeu o emprego por isso. Mas em tantas em outras, não tinha
razão alguma. Foi por puro destempero mesmo. Clodovil era assim.
RESENHANDO - No mundo politicamente correto e careta de
hoje, Clodovil conseguiria se tornar o Clodovil Hernandes que ele foi? Teria
mais dificuldades ou facilidades?
C.M. - Difícil dizer isso. Penso que seria a mesma coisa. Um
desfile de encrencas e confusões, mas sempre com muito estilo e autenticidade.
RESENHANDO - Conhecedor da história de Clodovil, aponte a
principal qualidade e o principal defeito dele.
C.M. - Sua principal qualidade acho que foi a autenticidade.
O defeito, sua mania de se envolver em brigas e confusões.
RESENHANDO - Por que Faustão e Silvio Santos se recusaram a
falar sobre Clodovil em seu livro?
C.M. - Bom, sei lá, mas acho que talvez porque não costumam
dar entrevistas mesmo.
RESENHANDO - Depois de biografar a obra do estilista, qual é
a sua opinião pessoal sobre ele?
C.M. - O Clodovil era cheio de contradições, mas me
impressionou seu lado criativo, o profissionalismo e a espontaneidade. Foi sem
dúvida uma pessoa incrível.
*Helder Moraes Miranda escreve desde os seis anos e publicou
um livro de poemas, "Fuga", aos 17. É bacharel em jornalismo e
licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos,
pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São
Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado
de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais,
escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de
cultura e entretenimento Resenhando.
Texto e imagens reproduzidos do site: resenhando.com
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