Crédito: Revista IMPRENSA.
Publicado originalmente no site Portal Imprensa, em 25/04/2017.
Para Ayres Britto, liberdade de imprensa e democracia são
como irmãs siamesas
Por Marília Marasciulo
A liberdade de expressão sempre fez parte da vida do
magistrado Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e
um dos ganhadores do Troféu Liberdade de Imprensa. Nascido em Propriá, cidade
no estado de Sergipe à beira do rio São Francisco, sua mãe era artista e o pai,
juiz e poeta. Desde a infância, Ayres Britto desenvolveu gosto por filosofia e
literatura, em especial a poesia brasileira. "Ter liberdade é ter
autonomia de vontade, de concepção e prática da existência", afirma.
"É tecer por conta própria uma visão de mundo e poder expressá-la também
por conta própria."
Aos 24 anos, formou-se em Direito pela Universidade Federal
de Sergipe. A partir de então, seguiu uma carreira brilhante na área. É mestre
em Direito do Estado e doutor em Direito Constitucional, ambos os títulos
obtidos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 2003, foi
nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, cargo que exerceu até o fim de
2012. No período, foi relator de processos de grande repercussão social, entre
eles o julgamento da inconstitucionalidade da Lei de Imprensa, encerrado em
2009.
Uma das últimas legislações do tempo da ditadura que
continuavam em vigor, a lei editada em 1967 previa penas mais rigorosas do que
o Código Penal para os jornalistas que cometiam crimes de calúnia, injúria e
difamação. Durante o julgamento, Ayres Britto declarou que havia
incompatibilidade total entre a Lei de Imprensa e a Constituição Federal de
1988. Na época, defendeu que a imprensa é uma ferramenta que transita da
informação em geral para a investigação e denúncia e, portanto, é fundamental
para a evolução político-cultural das sociedades. Em seu voto, ressaltou ainda
que quando se trata de liberdade de imprensa, não há espaço para o meio-termo.
"Ou ela é inteiramente livre, ou dela já não se pode cogitar senão como
jogo de aparência jurídica", disse.
Após deixar o STF aos 70 anos, Ayres Britto retornou à
advocacia e tornou-se presidente da Comissão Especial de Defesa da Liberdade de
Expressão da OAB, cujo mandato de dois anos acaba de encerrar. Na visão dele, a
relação da liberdade de imprensa com a democracia é mútua e se retroalimenta —
uma depende da outra, como irmãs siamesas. A liberdade de imprensa serve à
democracia e vice-versa e, de certa forma, sustenta a cidadania, pois ativa
debates públicos. No entanto, Ayres Britto ainda enxerga como desafio a
compreensão da sociedade civil e do Poder Judiciário do caráter absoluto dessa
liberdade. “Quem quiser reagir, pode, mas somente no plano das consequências,
nunca antes [da publicação], se não se configura censura”, afirma. E repete,
quase como um mantra: “A liberdade de expressão é a maior expressão da
liberdade.”
Texto e imagem reproduzidos do site: portalimprensa.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário