quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Vício em internet é comparado a dependência química

Foto: André Moreira/Equipe JC

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 04/08/2017 

Vício em internet é comparado a dependência química

Quem passa por esse problema pode sofrer crise de abstinência

Por: Laís de Melo/Equipe JC.

Apesar de a internet ainda ser um meio de comunicação descentralizado, onde mais da metade da população mundial ainda não tem acesso, cada vez mais as pessoas estão vivendo conectadas, online. Assim como existe o lado positivo para isso e longas discussões e pesquisas a respeito, o excesso e a falta de limite dos usuários tem se tornado um problema que também vem sendo debatido. Estudos realizados em uma Universidade de Chicago, e no Brasil, pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (IPq-HCUSP), no ano de 2012, já alertavam para o aumento da dependência às redes sociais.

O vício por internet e redes sociais, pode ser tão grave que pode ser comparado ao de um dependente químico, segundo explicações da psicóloga Petruska Menezes. “Se compara às dependências químicas porque a ausência pode causar crises de abstinência assim como acontece com o uso de substâncias”, afirmou a psicóloga. Essas crises, segundo Petruska, podem também serem parecidas com os dependentes de substâncias químicas como álcool, cigarro e drogas.

“A dependência se caracteriza pela dificuldade e sofrimento em não manter os hábitos normais da vida, trazendo inclusive desconfortos de ordem psicossomáticas. Podem ocorrer alterações do ciclo sono-vigília, mudança de humor, principalmente mau humor, sudorese, ansiedade, palpitações, sentimentos de opressão, isolamento social, na vida real, fora da internet. Esses são alguns dos sintomas”, conta a especialista. 

A jornalista e doutoranda em Sociologia, Juliana Almeida, discute e analisa sobre vários campos de conhecimento sobre comportamento social online, e reitera que as redes sociais existem há muito tempo, porém, eram muito mais restritas antes do avanço da internet. Mas, o que era para ser algo positivo, em alguns casos, pode realmente se tornar um problema de grande proporção.

“As redes sociais possibilitaram muito mais do que você se relacionar com outras pessoas. Elas possibilitaram você reunir em um só espaço várias redes que você tinha de forma separada. No seu perfil você tem amigos, conhecidos, familiares, pessoas que você se relaciona profissionalmente. Isso gera uma nova forma de relacionamento. É uma nova forma de você lidar com a visibilidade. O seu perfil numa rede social é uma vitrine, mas, é também algo extremamente perigoso se você não utilizar com cuidado”, disse.

Os viciados virtuais, como são denominados por estudiosos, segundo a doutoranda Juliana, existem sim. Inclusive, existem também clínicas especializadas para tratar essas pessoas. “São pessoas que entram em crise de ansiedade quando o celular descarrega. Já assisti uma reportagem muito interessante sobre isso na Globo News, em que as pessoas andam com três, quatro celulares para não correrem o risco de ficarem desconectadas. Isso causa crise de ansiedade, Síndrome de Pânico. São sintomas dessa vida que nós temos e que é muito perigoso, de nós não desconectamos mais. Não temos tempo de ócio necessário, de contemplação, de pausar um pouco a vida, por causa da internet. Se você não está fazendo nada, você está com o celular na mão de alguma forma se conectando”, ressaltou.

Ela explica ainda que a internet e as redes sociais não se tratam mais de um “mundo virtual”, como foi muito apontada. Não existem mais estudos sobre se a internet afasta ou aproxima as pessoas. Está claro que se trata de algo real, porém, em outro nível de realidade. “A partir do momento que a pessoa está navegando na rede, ela está conectada e interagindo de alguma forma. Hoje as discussões são muito maiores, e tratam justamente da questão do vício. Das pessoas não conseguirem ter uma vida plena além da rede social, que acabou virando uma vitrine. O narcisismo social acaba se criando de uma forma muito perigosa. Porque se você tem uma vitrine, você pode expor sua vida”, argumenta.

A interação social por meio das redes pode passar a ser um problema também quando as pessoas não suportam viver a sua vida real, segundo a psicóloga Petruska. “Com seu corpo, seu jeito, sua maneira de ser e passa a viver no mundo virtual tendo-o como algo vital e central em sua vida. Então precisa de aceitação do outro via likes ou compartilhamentos e, expor-se narcisicamente para se sentir temporariamente bem. Ou seja, é o excesso, o abuso e a importância que as redes sociais ocupam na vida de cada um que gera o problema”, salienta.

É importante que todos os usuários tenham o equilíbrio entre as diversas atividades do dia a dia, para saber até onde é bom ou ruim utilizar as redes sociais. “Deixar de fazer outras atividades como comer, dormir, atividades de lazer, sair com amigos, visitar a família, estudar ou trabalhar para ficar nas redes sociais é um prejuízo e uma delimitação muito restrita da vida”, conclui a psicóloga.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

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