A depressão crônica se abate sobre o Brasil.
Ilustração Patrick Cassimiro, da revista Nova Escola.
Publicado originalmente no site Huffpost Brasil, em 19/07/2017.
Nunca fomos tão infelizes. Eis o porquê.
Por Rodrigo Ratier
O título pode parecer exagerado. O Brasil, afinal de contas,
é osso desde sempre. Mas não consigo pensar num momento mais depressivo em
nossa História – e acho que não estou sozinho.
O Datafolha do final de junho perguntou a 2,7 mil pessoas
sobre a imagem do País. 81% citaram aspectos negativos. 47% disseram ter
vergonha de ser brasileiro. Não é preciso ir longe, faça o teste. Pergunte a um
conhecido se ele ou ela está feliz. Aliás, pergunte a si próprio: você está
feliz?
A resposta pode até começar positiva caso você tenha motivos
pessoais para estar bem. Porém inevitavelmente deriva para um
"mas..." e aí vem a lembrança da atual crise política, econômica e
social. A impressão é que estamos todos cansados, ou deprimidos, ou
decepcionados, ou irritados. Ou todas as anteriores. Ninguém, enfim, passa
imune ao mal-estar que nos rodeia.
O caos não chega a ser novidade. Só nos últimos 50 anos,
tivemos ditadura, hiperinflação, moratória, planos econômicos fracassados, dois
presidentes impedidos e um que morreu antes de assumir. Ainda assim, penso que
há algo de novo – tristemente novo – nos tempos bicudos em que vivemos.
Trata-se da conjugação, inédita a meu ver, de três fatores geradores da
megadepressão que nos rodeia.
Falta de esperança
Em outras épocas de dificuldade, por mais que a situação
fosse complicada, havia a crença em um futuro melhor. "Amanhã vai ser
outro dia", dizia Chico Buarque em seu Apesar de Você, hino de protesto
contra o Regime Militar. Essa chama se esvaiu.
Na economia, diz-se que a retomada consistente vai demorar
alguns anos, no melhor dos casos. E na política, as opções viáveis oscilam
entre o requentado, o mais do mesmo, o autoritarismo conservador e o velho em
roupa de novo. Você vê algo de diferente no horizonte? Eu, não. Sinto
conformismo no ar, e em todos os casos, o medo vencendo a esperança, numa
inversão do slogan vitorioso de Lula em 2002.
Ódio social
Começamos com a divisão entre coxinhas e petralhas. Pode-se
argumentar que não é uma novidade e que se trata apenas de uma reedição da
clivagem entre esquerda e direita.
Mas, amplificado pelo ódio das redes sociais, o fosso entre
os dois lados aumentou, a ponto de o diálogo ter se interrompido – as famosas
"bolhas" de informação estão aí para comprovar. Alguém disposto a
fazer a ponte? Ninguém, ainda, teve sucesso.
E o que é pior: hoje observam-se divórcios também nos
diferentes polos ideológicos. As esquerdas não se entendem, e as direitas
também não. Cada um carrega sua bandeira sozinho, sem muita força para as lutas
necessárias e sem grande interesse em escutar o que pedem possíveis aliados.
O baixo nível do debate público
Na gritaria por atenção instantânea, ofender se tornou mais
importante do que conversar e expor ideias de forma racional e razoável. A
tendência, que vem do século passado, ganha feições ferozes na arena do
Facebook.
A forma, polêmica e agressiva, toma o lugar do conteúdo.
Quanto a ele: onde estão as ideias? Quem está pensando nosso país? Onde estão
os grandes projetos? As visões de futuro e suas conexões com o presente e o
passado, de modo que se possa imaginar o que vem por aí? Essas vozes existem,
claro. Mas, hoje, se encontram silenciadas pelos brucutus da opinião fácil.
E você, como vê nossa situação? Temos saída? Em caso
afirmativo, por onde começar?
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário