Se Bukowski fosse seu conselheiro, acredite, você não sofreria por amor.
Por Pamela Camocardi *
Bukowski está na moda. Primeiro os internautas
compartilharam fragmentos de Clarice Lispector, depois de Caio Fernando Abreu,
agora é a vez de Bukowski. O problema é que, metade dos que compartilham as
frases de efeito do escritor, nunca ouviram falar dele e, pior, nunca leram nenhuma
de suas obras.
Sejamos realistas: Charles Bukowski não é autor para
qualquer leitor. Seletivo, audacioso e sem pudor, o escritor transformava em
textos palavras que, nem sempre, deveriam ser ditas.
Longe (longe mesmo) de ser romântico, o Velho
Safado (alcunha de Bukowski) tinha uma visão distorcida e fria do amor e,
considerava uma grande “perda de tempo” sofrer por qualquer sentimento que
fosse, já que para ele, todos eram passageiros: “O amor é uma espécie de
preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz a gente se sentir bem,
ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil
outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.”
(Charles Bukowski, Numa Fria, 1983).
A verdade é que sua obra, de caráter inicialmente obsceno e
estilo totalmente coloquial , talvez pela vida que levava (o escritor nunca fez
questão de esconder que seus trabalhos eram, na maioria das vezes,
autobiográficos), apresentava descrições de porres, relacionamentos
superficiais e uma aversão ao mundo constante.
Polêmico e famoso (um dos escritores mais conhecidos nos
EUA), Bukowski teve mais de 50 obras publicadas, além de ter muitos de seus
poemas adaptados para o cinema e estarem presentes em álbuns de diversas bandas
como: Red Hot Chilli Peppers, Anthrax, Apollo 440 e Bad Rádio).
O escritor não via problema na solidão e acreditava que
sofrer por estar só era loucura: “Existem coisas piores do que ser sozinho, mas
a maioria das vezes isso leva décadas para se perceber e a maioria das vezes
quando você percebe é tarde demais e não há nada pior do que tarde demais.”
(Charles Bukowski, War all the time, 1984).
De estilo agressivo e inconformado com o mundo, possuía uma
forma descuidada com a escrita: “A beleza não existe, especialmente num rosto
humano – ali está apenas o que chamamos fisionomia. Tudo é um imaginado,
matemático, um conjunto de traços. Por exemplo, se o nariz não sobressai muito,
se as costas estão bem, se as orelhas não são demasiadamente grandes, se o
cabelo não é muito comprido. Esse é um olhar generalizante. A verdadeira beleza
vem da personalidade e nada tem a ver com a forma das sobrancelhas. Me falam de
mulheres que são lindas… Quando as vejo, é como olhar um prato de sopa.”
Há quem diga que o escritor construiu em suas obras um muro
de defesa da própria personalidade, ou seja, fazia papel de agressivo para
esconder a fragilidade emocional em que vivia. Definições essas que morreram
com o escritor em 1994.
Bukowski nunca foi visto como bom moço e, embora tenha seus
defensores e amantes da literatura até hoje, o próprio escritor se definia como
um anti-herói: “Como qualquer um pode lhe dizer, não sou um homem muito bom.
Não sei que palavra usar para me definir. Sempre admirei o vilão, o fora-da-lei,
o filho-da-puta. Não gosto dos garotos bem barbeados, com gravatas e bons
empregos. Gosto dos homens desesperados, homens com dentes rotos e mentes
arruinadas e caminhos perdidos. São os que me interessam. Sempre cheios de
surpresas e explosões. Também gosto de mulheres vis, cadelas bêbadas que não
param de reclamar, que usam meias-calças grandes demais e maquiagens borradas.
Estou mais interessado em pervertidos do que em santos. Posso relaxar com os
imprestáveis, porque sou um imprestável. Não gosto de leis, morais, religiões,
regras. Não gosto de ser moldado pela sociedade”.
Críticas e elogios a parte, as obras do escritor merecem ser
lidas. Afinal, não é qualquer autor que traz para a literatura seus
conhecimentos empíricos.
* Pamela Camocardi - Professora por vocação, escritora por paixão e teimosa por
natureza. Criadora e colunista do site o site ¨Entrelinhas Literárias¨, costuma
transformar em textos palavras que, nem sempre, deveriam ser ditas.
Texto e imagem reproduzidos do site: obviousmag.org
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