domingo, 10 de novembro de 2024

'Porque ainda estamos aqui', por Fernando Gabeira

Artigo compartilhado do site do GABEIRA, de 4 de novembro de 2024  

Porque ainda estamos aqui 

Por Fernando Gabeira (In Blog)

Quase toda noite vejo um filme na TV. Saí de casa para ir ao cinema apenas três vezes em quase metade de um ano. Fui generosamente recompensado. Vi “Dias perfeitos”, de Wim Wenders, “Zona de interesse”, de Jonathan Glazer, e “Ainda estou aqui”, de Walter Salles.

Sobre o filme de Wenders, escrevi um texto. “Zona de interesse” ampliou meu interesse pela obra de Martin Amis, autor do livro.

É mais difícil escrever sobre “Ainda estou aqui”. Chorei durante o filme. Lembrei-me da infância, quando levei minha avó, que mal falava português, para ver “Direito de nascer” no cinema. Ela chorou intensamente e a consolei no caminho de volta para casa, insistindo no argumento de que aquilo não existiu, era uma invenção. Os netos não poderiam me consolar agora. O filme é baseado na história real da família de Rubens Paiva, sequestrado e morto pela ditadura militar.

Lembro-me da época. A reconstituição é tão perfeita que a própria ditadura parece se desprender da tela e vir até minha poltrona com seu cheiro ácido. As janelas com grades mostrando apenas um pedaço do céu do Rio, a privada das celas com um buraco e dois sulcos desenhados no chão para que apoiássemos os pés. Chamávamos essa latrina de boi.

Foi possível sentir a nostalgia da vida praiana antes do golpe militar. A ditadura eram alguns sinais sombrios, ainda um pouco distantes da família de Rubens: um helicóptero sobrevoando a praia, um caminhão com soldados, notícia no rádio sobre o sequestro de um embaixador. Quando é levado pela polícia política, o drama se precipita. A família nunca mais soube dele, apenas recebeu um atestado de óbito, um quarto de século depois.

Esse é o núcleo da história de Eunice Paiva, transformada em livro pelo filho, o talentoso escritor Marcelo Rubens Paiva. Ele era o menino ao lado de quatro irmãs. Conduzir a família com o pai desaparecido, vivendo simultaneamente os problemas emocionais, financeiros e a própria pressão da ditadura, foi uma tarefa gigantesca. Eunice a cumpriu maravilhosamente. E Fernanda Torres a interpretou tão bem no cinema que a imagem das duas estará sempre entrelaçada.

Toda a carga daquela situação trágica foi absorvida por Eunice, que estava sempre alerta para atenuar o impacto nos filhos. Sua preocupação maternal era tão intensa que, mesmo nas masmorras da ditadura, ao encontrar a filha, ambas encapuzadas, ela procura acalmá-la:

— Tudo vai se resolver logo.

A volta do pai não se resolveria ao longo dos anos. Rubens foi morto como muitos que não participaram da luta armada e, possivelmente, foram torturados para dizer algo que não sabiam.

Há uma cena em que Eunice dá uma entrevista sobre o marido. Isso já depois de muitos anos. O fotógrafo queria uma foto familiar, com todos tristes. Eunice pede que sorriam. Era uma das maneiras que a família tinha para triunfar sobre seus algozes: todos sofreram, mas não perderam a capacidade de sorrir e fortaleceram seus vínculos afetivos.

Eunice se transformou numa advogada que defendia os direitos dos povos indígenas. A família mudou para São Paulo. No final da vida, ela sofreu de Alzheimer, mas sua memória será preservada num país em que quase nunca nos dedicamos a lembrar.

Um belo filme, roteiro premiado, boas ideias como fazer a crônica familiar usando câmeras Super 8. “Ainda estou aqui” consagra Fernanda Torres, nos dá algumas cenas de Fernanda Montenegro vivendo Eunice idosa já atingida pela doença e afirma a carreira de Walter Salles como um dos grandes cineastas da atualidade.

Rubens Paiva sonhava com um Brasil melhor e mais justo. Eunice Paiva é a expressão da excelência humana em época de grandes crises. Sua família amorosa ainda está aqui e, na verdade, é por causa desse tipo de gente que ainda estamos aqui, com inspiração para melhorar, enxugando as lágrimas, voltando a sorrir, pois o obscurantismo jamais matará o afeto e a esperança.

Texto e imagem reproduzidos do site gabeira com br

domingo, 20 de outubro de 2024

ENTREVISTA > Felipe Neto , Influenciador e youtuber

Publicação compartilhada do site NEWS UN, de 12 de maio de 2023

Entrevista: Felipe Neto fala à ONU News sobre futuro da internet, jovens e discurso de ódio

O influenciador Felipe Neto no Podcast ONU News com Monica Grayley e Felipe de Carvalho.

Qual vai ser a próxima inteligência artificial? Não somos nós que vamos programar. Vai ser a máquina. E a coisa começa sair, completamente, da nossa linha de raciocínio de controle. Esse é o meu medo. 

Felipe Neto , Influenciador e youtuber.

Eleuterio Guevane - ONU News Português O influenciador Felipe Neto no Podcast ONU News com Monica Grayley e Felipe de Carvalho.

Influenciador digital diz que combate à desinformação e notícias falsas é dever também do usuário. Para ele, é preciso checar tudo “cinco vezes” e não confiar no que se recebe por causa da sofisticação das fake news.

Criador de conteúdo esteve nas Nações Unidas em 2 de maio para participar do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa a serviço da Unesco. Ele analisou o papel de crianças e jovens na rede, combate ao racismo e à desinformação, defendeu a regulamentação da internet, proteção de pessoas vulneráveis a ataques online e o combate a preconceitos linguísticos ao declarar sua paixão pela língua portuguesa.

Acompanhe a conversa com Monica Grayley e Felipe de Carvalho. 

ONU News: Como começou este projeto com youtuber lá em 2010. Como você lida hoje com a proporção que isso tomou. Tantos seguidores, status de celebridade? 

Felipe Neto: Caramba, já são 13 anos. É impressionante. Primeiro, obrigado pelo convite. É uma honra estar aqui. 13 anos de uma vida. Eu já sou um adolescente na vida digital. Oficialmente, não mais criança porque é justamente aos 13 anos...Começou como uma brincadeira porque na época que a gente começou a gravar vídeo lá trás ninguém fazia ideia de que isso seria uma profissão. Ninguém fazia ideia de que isso daria dinheiro. Era só uma grande diversão: vou produzir vídeos, vou colocar no ar e ver o que as pessoas acham. Então, muito inspirado também por alguns americanos que já começavam a fazer isso, eu comecei a gravar uns vídeos em casa e a coisa degringolou assim. Foi da noite para o dia. Um vídeo que eu tinha feito começou a pegar uma quantidade absurda de visualizações. E nunca mais parou. Desde então, é um trabalho sempre de reinvenção. De tentar descobrir como se recriar para continuar sendo assistido, continuar tendo relevância no cenário de entretenimento como qualquer programa sempre tem que fazer. E tem sido 13 anos de muitas vitórias, muitas conquistas, muita luta também. Mas também de muito orgulho de toda a trajetória que a gente construiu. 

ON: Felipe, muita gente diz que hoje as crianças estão passando muito tempo na internet. E você também já se pronunciou sobre isso. Eu queria saber até que ponto esse tempo passado na internet, ajuda, educa, também como você próprio diz, se vicia essas crianças. Isso é saudável? 

FN: Primeiro é importante a gente quebrar as idades. Isso é muito importante no debate. Eu não sou pedagogo, é óbvio que eu aqui falo como um estudioso desse assunto, não como uma pessoa acadêmica ou com propriedade para falar. Quem a gente tem que ouvir mesmo são os pedagogos, os psicólogos infantis, os educadores.  Ouvindo essas pessoas, o que eu aprendi foi. A mais importante medida inicial é quebrar as idades e entender quantos anos essa criança tem e a partir dessa idade qual seria a recomendação técnica especializada. 

Até dois anos de idade, a recomendação oficial é zero tela.  Zero. Já foi comprovado, inúmeras vezes, por diversos estudos diferentes, que até dois anos de idade toda exposição à tela é prejudicial.  Isso é realista? Não é. Hoje, com tecnologia invadindo e os pais com, cada vez menos tempo, porque hoje pai e mãe têm que trabalhar. Os dois estão sempre ocupados. O tempo é cada vez mais escasso. Você conseguir um tempo em que a criança fica ali, né, em paz, vamos dizer assim, acaba sendo sagrado para os pais. Então, é muito errado a gente apontar o dedo na cara dos pais, que não têm tempo, que são massacrados pelo atual sistema para conseguirem pagar as contas, “vocês são pais ruins porque estão deixando a criança na frente da tela”, é muito injusto.  Então, o que a gente precisa tentar é minimizar o dano, diminuir o perigo. Então, até dois anos, a recomendação é zero. Se não for possível, que o pai e a mãe assistam junto da criança. Não apenas deixem a criança com o device, com o aparelho solta num canto, concentrada assistindo.  Isso é extremamente perigoso. A gente está falando de linhas do tempo aí como TikTok, Reels e Shorts no YouTube que não têm nenhum tipo de trabalho para se precaver o que a criança vai assistir. O TikTok principalmente. Você não tem nenhum tipo de filtro ali. A criança vai entrar num vídeo bonitinho, fofinho e depois está vendo um vídeo adulto. Então é fundamental que determinadas redes não entrem em contato com as crianças. 

A partir dos dois anos de idade, você começa a ter a recomendação de introdução de tela, porque aí é inevitável, com determinadas limitações. Então até os seis anos de idade, que seria a idade pré-escolar, você vai ter uma recomendação de uma a duas horas diárias com o acompanhamento dos pais. De novo: é realista? Não é. Não é realista. A gente sabe que não vai acontecer. Você não vai conseguir deixar uma criança de 5 anos idade hoje assistindo a uma hora só na tela. Não dá para obrigar os pais. Então, os pais têm que, pelo menos, se fazer presentes. 

A partir dos seis anos de idade até os 13 anos idade, você tem uma maior inserção. e aí você tem outros limites sendo estabelecidos. Então, quebrar as idades, entender e ler sobre isso é fundamental para que a gente tenha um ambiente menos nocivo. Agora essas plataformas não estão nem aí para qual é a idade da criança, para o risco que está sendo colocar aquela criança exposta a determinados conteúdos e principalmente no vício que vai gerar na criança. Então, principalmente as timelines infinitas de vídeos curtos como TikTok, Reels, Shorts, Kwai etc são criadas para viciar. 

ON: E fica aquele loop, né? 

FN: Exato. O loop que você não para nunca de assistir, ele gera o que a gente chama de vício comportamental. De novo, estudado. Os especialistas vão falar isso abertamente: vício comportamental é o vício que você não consegue não agir de determinada forma mesmo que o dano, a longo prazo, seja grande. Então você vai ver aí jovens ficando 7, 8 horas, por dia, nessas timelines, sem conseguir sair delas, presas pela liberação de dopamina no cérebro pelo consumo dessas timelines.  

Esse é para mim, é o maior perigo, não só pelo vício. O vício, obviamente, é o maior problema, mas também pelo risco de radicalização quando entram conteúdos políticos, sociais e que normalmente vão para extremos. Nunca são razoáveis. São sempre extremistas. Então é uma área inteira, complexa e que precisa ser muito debatida. 

ON: E uma outra área complexa é a questão da inteligência artificial. Vou passar pra você, Felipe. 

ON: Eu gostaria de acrescentar esse ponto. Tem essas tendências que você está sinalizando com a timeline infinita, mas agora tem novas tendências como as plataformas de inteligência artificial que estão sendo cada vez mais usadas. Que preocupações você tem com este tipo de espaço, de ambiente e de tecnologia. 

FN: É importante que a gente entender qual é a inteligência artificial, né? Por exemplo, o algoritmo de recomendação que é o que vai mostrar o vídeo do TikTok pra você quando você vai passar pro próximo vídeo é uma inteligência artificial. Só que não é uma inteligência artificial com a qual você dialoga. Então, as pessoas tendem a pensar que a inteligência artificial é o ChatGPT. É aquele chat que você vai conversar como robô. A inteligência artificial, ela está ali o tempo inteiro na internet. Ela que impulsiona tudo.  

Hoje, está se falando muito sobre esses riscos da perda de empregos, de substituições de determinadas funções e tudo mais, graças à inteligência artificial que está chegando em níveis absurdos. 

Eu sou extremamente preocupado com este tema porque a mente explode quando você começa a fazer certas perguntas. A gente está criando uma inteligência artificial hoje que é capaz de criar. Ela é capaz de do nada reunir elementos que existem na natureza e na criação humana, unir isso e criar algo completamente novo. 

Esse é o processo que nós fazemos como seres humanos. Quando a gente cria uma música, a gente não inventa uma nota nova, a gente não inventa um som novo. A gente reúne o que existe. A máquina está fazendo exatamente o que o ser humano faz em termos de criatividade. Até que ponto isso vai chegar? Porque quanto maior o processamento e a capacidade dessa máquina, ela vai ser capaz agora de antecipar coisas que nós não conseguimos prever. Como? Qual vai ser a próxima inteligência artificial? Não somos nós que vamos programar. Vai ser a máquina. E a coisa começa sair, completamente, da nossa linha de raciocínio de controle. Esse é o meu medo. Mas é algo fascinante de ser ver, né? E que precisa ser regulamentado. Não tem jeito. A gente precisa de regulamentação. Caso contrário, a gente corre risco. 

ON: E a gente vai falar sobre isso daqui a pouquinho. Mas antes da minha próxima pergunta sobre você ser uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, segundo a Time, eu gostaria de saber como você consome a internet? Tem dias que você fica mais, tem dias que você fica menos. Como você consome esse produto? 

FN: Há três anos, eu estudo quase que, diariamente, o consumo de internet e como isso é prejudicial quando é demais. E todos nós estamos demais. O smart phone ele é uma das melhores e piores coisas já inventadas pela humanidade. Ao mesmo tempo que ele é fascinante para a gente ter as respostas na ponta do dedo, ele cria um vício, uma dependência que é impressionante. Talvez sem precedentes aí. 

Eu sou viciado. E acho que a esmagadora maioria da população hoje é. E eu tento, de alguma forma, lutar contra isso. Mas é muito, muito difícil. O cérebro da gente está, cada vez mais condicionado, à liberação constante de dopamina. A dopamina “é o hormônio” que produz a sensação de recompensa no nosso cérebro. 

Então, todas as drogas, todas elas. Elas agem com a dopamina. Vão agir em outros efeitos também, mas elas fundamentalmente estão relacionadas à dopamina, sensação de recompensa. E essa sensação de recompensa que era para a gente sentir, relativamente, muito pouco. Nós evoluímos sentido ela pouco, né? O que dava recompensa para a gente? Era terminar uma tarefa, fazer alguma coisa prazerosa, mas não o tempo todo. Nós transformamos isso em 24 horas por dia. A gente não consegue mais... O ser humano tem uma incapacidade hoje de sentir tédio. A gente sente tédio e se deprime. A gente fica melancólico, a gente se afunda quando está no tédio.  A gente vai para o fundo do poço quando a gente entre aspas não tem nada pra fazer. E isso pra mim é terrível assim. Eu, hoje em dia, tento dar valor para os meus momentos quando eu não tenho nada pra fazer e eu tento não fazer nada porque o nosso cérebro não deixa. Ela vai pegar o celular automaticamente. 

ON: E estar com pessoas, né, Felipe? Se relacionar... 

FN: Exatamente. Estar com pessoas. E hoje, a gente está vendo hoje uma quantidade enorme de crianças e pré-adolescentes que acham entediantes até as conversas. Isso não é querendo falar mal da próxima geração porque sempre tem essa tendência de querer criticar as gerações seguintes. Não é essa a questão. A questão é a introdução dos smartphones e o perigo que pode representar para esses jovens acharem a vida entediante, enquanto o digital é onde elas têm a liberação constante de dopamina e é a única coisa que importa. Esse é o perigo.  

ON: Felipe, já que você falou dos jovens, eu queria te perguntar: Se por um lado, as redes sociais têm esse risco de vício e problemas de saúde mental, por outro lado também é uma plataforma onde você pode defender causas de minorias e você tem feito bastante isso. Na sua visão, qual é o papel do jovem hoje na política? 

FN: Cara, em primeiro lugar, é importante dizer isso mesmo. Não adianta a gente só falar mal da internet, do celular, smartphone... Todas essas ferramentas são fantásticas, mudaram o mundo. A gente pode usar isso pro bem todos os dias. Eu crio conteúdo, Eu estou lá. Eu produzo vídeos. Eu quero levar entretenimento pras pessoas, alegrar a família, tirar risada. O que a gente precisa é moderar as coisas. É isso que a gente tem que defender, né? E o papel do jovem, hoje, ele vem se tornando cada vez mais potente porque hoje qualquer pessoa tem voz. Então todo mundo pode ser ouvido. Você pode falar essa frase de duas maneiras: “Todo mundo hoje pode ser ouvido” porque, ao mesmo tempo que a internet empodera vozes que podem ser revolucionárias para o bem. Ela também empodera vozes revolucionárias para coisas bem complexas. Como a gente está vendo aí: anti ciência, contra a democracia, teocratas que querem posição da religião na política. Coisas realmente terríveis que remetem a um resgate do século 16 e é por isso que a gente chama essas pessoas reacionárias. Então impedir o avanço desse tipo de comportamento extremista, conservador não tem problema, mas sim o ultraconservadorismo, é fundamental. 

E os jovens, eles são muito cooptáveis. O que isso significa? É fácil convencer. Então quando ele vê um vídeo na internet, muitas vezes curtos, dando respostas muito simples para problemas complexos, esse jovem se encanta. E aí você acaba tendo determinados expoentes políticos que se destacam e recebem muitos votos porque estão ali repetindo essas respostas simples: “como se resolve a criminalidade? Mata o bandido.”  E aí grita isso na cabeça de um jovem que não vai ler um livro de criminologia, obviamente, não vai estudar profundamente como funciona, ele vai entender (erroneamente): “É realmente. Se o bandido tá morto, ele não vai roubar de novo. Isso soluciona.” E ele começa a se encantar por esses discursos rasos, populistas e que não funcionam para absolutamente nada, e surgem esses expoentes políticos. 

Então, fazer com que o jovem tenha contato com conteúdo que seja leve, dinâmico e que traga informação precisa sobre política e sociedade é fundamental. Só que hoje, há muito pouco trabalho relacionado a isso. 

ON: E você? Então você é a favor do jovem, mais engajamento, jovens na política, claro. E você, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, aos 35 anos de idade, está na hora de se candidatar a um cargo político ou nada disso? 

FN: Sob nenhuma hipótese. Eu sinto que eu tenho muito mais a colaborar e contribuir do lado de fora da política do que dentro. Na verdade, eu estou dentro da política. O que eu não preciso é de um cargo eleito. Se eu tiver um cargo eleito, hoje, por exemplo, eu vou ter milhões de implicações e limitações, que eu não tenho não tendo um cargo eleito. Eu posso trabalhar como consultor, para determinados projetos, como trabalhei no PL 2630, o projeto da regulamentação da internet, durante três anos, eu venho envolvido como consultor. Então quando precisarem de mim, estou aqui. Estou disposto a falar o que eu penso, defender meus ideais, defender o que acredito.  Agora, se eu entro pra política, por exemplo, eu já não posso trabalhar como criador de conteúdo de entretenimento, que é a minha paixão, o que eu amo fazer. Então, eu sinto que eu sou um agente político, externo à vivência política tradicional e desta forma eu posso contribuir muito mais. 

ON: E você tem isso absolutamente claro na sua cabeça? Porque tem gente que diz, não sei, talvez no futuro... 

FN: Muito claro, eu não tenho absolutamente nenhum desejo. É óbvio, eu já não tive desejos na vida que depois se tornaram desejos. Embora esse eu acho que seja absolutamente remota a chance. Eu não quero deixar registrado em nenhum lugar que eu digo nunca. Eu não sei como vou estar quando eu tiver 60 anos, mas hoje sobre nenhuma hipótese. 

ON: Então vamos falar de política. Aproveitando essa sua colocação, um dos temas mais fortes no mundo e no Brasil também é o discurso de ódio. O que você pode contar para gente como produtor de conteúdo sobre esse “sem filtro” que as pessoas têm nas redes sociais. Isso piorou, isso sempre existiu?   

FN: Primeira coisa: É importante diferenciar “discurso de ódio” de “post com raiva”. São duas coisas bem distintas. Eu falo isso e a extrema direita fica revoltada. Quando a gente fala em coibir o discurso de ódio, ninguém está dizendo que você não pode ter estamos de ficar com raiva, indignação, cobrança, usar palavras contundentes nas suas críticas. Nada disso é o alvo quando a gente fala de discurso de ódio. O discurso de ódio é o uso sistemático de inferiorização de pessoas que já são marginalizadas. Então é o racismo. É lógico que tudo isso são crimes tipificados. Crime de racismo é crime de racismo. Não vamos chamar de discurso de ódio. É porque o discurso de ódio está envolvido com esses crimes tipificados. É a transfobia, é a homofobia, é o machismo, a misoginia. Existem zilhões de formas de você fazer esse discurso de ódio. Aí significa que o homem branco, hetero, não é capaz de ser alvo de discurso de ódio? Não. Não é isso que estou dizendo.  Só que o problema é que a extrema direita tenta cooptar o discurso de ódio para falar assim: “me xingou. Isso é discurso de ódio.” Ela usa, o tempo inteiro, a reação do oprimido, que às vezes, é uma reação de raiva, de frustração, cobrança, pra dizer que eles são os propagadores do discurso de ódio. 

Então quando você vê um político ser transfóbico, por exemplo, e a transfobia hoje, na Justiça brasileira, ela já foi igualada ao crime de racismo. Se você é transfóbico é o mesmo nível de um racista, você se revoltar contra a transfobia é como você se revoltar contra o racismo. E aí você se revolta contra isso, e eles dizem: “É você que está me censurando. É você que está tirando o meu direito de ser transfóbico. É inacreditável a gente viver um cenário desse. É inacreditável. A transfobia é igual ao racismo. Se você é transfóbico, se você é racista, você está no mesmo nível de pessoa. As pessoas têm que cobrar desse tipo de gente com toda contundência possível. Não existe debate ou diálogo com um racista. Não existe. Tem que ser coibido. Então a gente entender o que é o discurso de ódio parte do pressuposto de que a gente primeiro precisa defender as pessoas em situação vulnerável. 

Eu fui alvo de discurso de ódio amplamente. Como? Me acusando de crimes que eu não cometi, de maneira terrível e nojenta, mas não como pela minha cor da pele, pela minha sexualidade, por nada disso. Então, primeiro, a gente precisa proteger  as pessoas mais vulneráveis que são atacadas pelo que elas são. Depois, a gente precisa proteger pessoas que são expostas à situação de desinformação e ataques à reputação. 

Então essa pra mim, é a minha forma de enxergar o discurso de ódio, que, infelizmente, hoje, eu acho que a gente não está nem perto, de estar no caminho certo. 

ON: Felipe, e esta corrente de notícias, que a gente viu acontecendo, todos os dias, principalmente em épocas de campanhas políticas, uma enxurrada de notícias falsas, de desinformação deliberada. Você disse, em Paris, que começou a usar o mesmo estilo, de mostrar o noticiário e explicar o que acontecia, o quer mentira. Mas a impressão de que se tem, é que quase uma luta da qual não se pode escapar. O que cada um pode fazer, além claro de checar as notícias? Mas tem umas que são muito verossímeis... 

FN: Bom, a primeira coisa que a gente entender é o seguinte. Existem vários tipos de agentes, mas dois principais na desinformação. O que cria, deliberadamente, sabendo o que está fazendo ou seja: “estou criando essa notícia falsa porque estou numa guerra midiática. Eu preciso criar uma notícia falsa pra vencer essa guerra por que do outro lado está um inimigo muito poderoso que vai desvirtuar a família e matar criança.”  

ON: Ou que não é do “meu partido”, digamos assim, meu partido entre aspas... 

FN: Exato. Essas pessoas que criam essas notícias, elas têm plena convicção de que estão no caminho certo, de que estão lutando em nome de Deus, de que estão atendendo a questões espirituais muito mais importantes. Elas estão completamente perdidas. A partir daí, o que a gente tem é um mundo de pessoas que não são pessoas más. Não são pessoas vis. Não são pessoas que estão acordando, todo dia, pensando como eu vou destruir a reputação da outra pessoa por estar nessa guerra. Essas primeiras pessoas que eu descrevi são terríveis, precisam estar na cadeia. Essas segundas pessoas, não. Elas são o pai de família, a mãe de família, o tio do churrasco (risos), a gente chama sempre “tio do churrasco”, que recebem essas notícias e acreditam. Não é que ele está passando e achando que ele está desinformado. Ele acredita, ele tem certeza que aquilo é verdade, e sai passando adiante. 

Então diferenciar esses dois agentes é fundamental. E aí, você tem duas maneiras de agir diferente. O cara que está aqui na ponta fazendo a notícia, esse tem que ser investigado pela Polícia Federal. Esse tem que ter os acordos entre plataformas e sistema judiciário para conseguir ter quebra de sigilo, conseguir expor quem são essas pessoas: os agentes criadores das notícias de desinformação. 

A pessoa que está em casa compartilhando, essa pessoa não pode ser criminalizada. 

ON: É o usuário, né? 

FN: É o usuário. Então, quando o PL (2630) começou, existia ali uma tentativa de criminalizar essas pessoas. E eu fui uma das pessoas que mais levantou e gritou. Eu disse: gente, não. Vocês querem criminalizar o tio de vocês que está passando a notícia adiante simplesmente porque é uma vítima de um sistema onde não há educação. Então a gente tem que lutar para que essas pessoas sejam educadas a usar a internet. Eu sei que é utópico, é óbvio, mas a utopia existe porque a gente tem que ter um ideal de busca. A gente tem que buscar alguma coisa. Então levar educação digital para a vida dessas pessoas é o único caminho, a longo prazo, de solução: que é instruir, cada vez mais, campanhas de conscientização de que tudo que você recebe, na internet, você precisa checar cinco vezes. Tudo. Não importa se foi sua mãe que mandou, não importa se foi a pessoa em que você mais confia na Terra, não importa se você ouviu do influenciador que você confia. Tudo você tem que checar.  Criar essa cultura de checagem é fundamental para a gente conseguir fazer com que esses agentes da desinformação que criam as notícias se frustrem ao não vê-las sendo compartilhadas com muita intensidade. 

É muito difícil porque esses agentes criadores, eles estão cada vez melhores. Então, a gente conscientiza, a gente mostra pras pessoas. Elas entendem só que aí, cara, eles vêm com um vídeo, montado assim. O que eu tive que desmistificar... 

Você citou o vídeo que eu fiz para o Instagram. Ali, o que eu olhei? Eu observei e disse: eles fazem muitas visualizações com essas mentiras escabrosas, que são fáceis de provar que são mentiras. Então eu vou fazer o que eu faço de melhor na minha vida, que é me comunicar e fazer vídeo, e eu vou levar leveza para desmentir fake news. Ao invés de só ser aquela coisa um pouco tradicional: “isso é fake, ou checagem de fatos”, que é muito importante. A checagem é fundamental. Mas eu queria tentar fazer uma coisa jovem, fresh. Aí, eu pegava as notícias dessa galera, investigava, e aí foi a primeira vez que eu tive que fazer um trabalho jornalístico, na minha vida, de fato. Olha, e aí eu preciso tirar o chapéu para os jornalistas, vocês trabalham demais, meu Deus do céu! E aí, eu fazia um apanhado num vídeo provando que aquilo era uma mentira. Com links, com fontes, com informação, só que com piada, com humor, com leveza e tal. 

E não imaginava que o projeto ia pegar a quantidade de gente que pegou. Só no Segundo Turno (das eleições presidenciais no Brasil), aqueles 28 dias ali do segundo turno, eu fiz mais de 300 milhões de visualizações desses vídeos. Desmentindo fake news da extrema direita. E ali, eu pude perceber o quão trabalhoso é você mostra algo que é simples de provar que é mentira, o quanto de trabalho que isso dá para você transformar em palavras fáceis. É difícil. 

ON: Felipe, tem o papel das pessoas de checar a informação, mas tem também o papel das empresas, o papel dos governos na questão da regulação da internet e do conteúdo que circula na internet. Você está acompanhando, de perto, no Brasil esse processo de regulamentação da internet. Como está, na sua avaliação, caminhando esse processo. Essa é a única saída. 

FN: É a única saída. Não existe outra saída. E as próprias plataformas dizem disso. É uma ilusão, esse mundo neoliberal, bobo, de dizer que: é só você não criar lei nenhuma e regra nenhuma, que as empresas, o capital se regula. Ele se regula, sem dúvida nenhuma, esmagando a classe média pra baixo, deixando o máximo possível de pessoas numa situação precária para a concentração de renda ser a maior possível para os bilionários. Somente a força do coletivo é capaz de impedir a desigualdade. Não existe outra forma. Se você estudar todos os países que são os países com menor desigualdade social, você vai ver que são Dinamarca, Finlândia, Islândia, você vai enxergar um Estado forte agindo para evitar desigualdade, para diminuir a desigualdade, alicerçar a base da sociedade para ter condição de ter oportunidade. 

Você fala isso, as pessoas escutam comunismo. Acabei de falar Dinamarca, Islândia, Suíça, as pessoas escutam comunismo. Enfim. Por que eu digo isso? Porque é só através de regulamentação que você consegue ter harmonia. É justamente por isso, que as pessoas estudam isso a vida inteira. A TV é regulamentada, o jornal é regulamentado, rádio é regulamentado, por que a internet não pode ser regulamentada? Porque as pessoas criaram esse medo de que regulamentação é censura. Não é. 

ON: Porque já foi mais ou menos regulamentado pelas empresas de comunicação que têm os seus algoritmos que controlam. É isso? 

FN: Exatamente. Hoje em dia, a Justiça fica tentando aplicar para as empresas regulamentações da vida física. Então, a gente fica tentando adaptar, sabe? Então, discurso de ódio, como a gente combate? Com as tipificações criminais de: injúria, difamação, calúnia que não funcionam direito pro sistema digital. Então é uma série de problemáticas. Quando você começa a debater essa regulamentação, você começa a ter uma série de embates. Você vê gente saindo de bueiros assim desesperadas querendo gritar, todo tipo de coisa. Eu estou há três anos envolvido com o PL2630, junto com Orlando Silva, como consultor, dando meus pitacos, dando minhas ideias. E há três anos, eu ouço todo tipo de coisa escabrosa. É muito difícil. É um tema muito sensível. A gente precisa. É urgente porque a situação é caótica. E as empresas, as próprias plataformas ficaram três anos pedindo: regulamentem, regulamentem. E agora quando surge o PL (2630), elas estão gritando que tem que ser mais discutido. Três anos. E elas fingem que não teve debate. 

Então a situação terrível. Hoje, enquanto a gente grava, nesse exato momento, vai ao depois, mas para quem está assinto agora. Enquanto a gente está gravando isso aqui, a nossa Câmara (dos Deputados do Brasil) está votando o PL 2630 ou não votando porque eu acredito que não vai ser votado. Vamos descobrir. A situação é caótica e eu sinto que o Brasil deu alguns passos pra trás nessas últimas semanas.  

ON: E a gente lembra que é a Câmara de Deputados do Brasil à qual o Felipe se refere. A gente tem duas perguntas rápidas pra você.  

Eu vou começar com uma e depois passo para o Dia Mundial da Língua Portuguesa porque a gente está gravando na semana do Dia Mundial. Felipe, você fala de coisas que poucos falam. Uma delas é a questão da depressão. E você fala abertamente. Essa sinceridade, essa transparência, isso ajuda muitos dos seus seguidores. Mas se você chegar a um lugar onde poucos te conhecem, você citou o Oriente Médio. Vamos dizer que você chega lá. Como você se apresentaria? Por que as pessoas gostam de você? 

FN: (Risos). Que pergunta boa... Olha é difícil, viu? Eu sempre evitei a palavra youtuber. Mas fica impossível evitar, é difícil. Porque eu não crio conteúdo só pro YouTube, né? Mas eu me apresentaria como criador de conteúdo digital. Mas é difícil saber por que as pessoas gostam. Eu acho que eu tenho diferentes públicos porque eu tenho diferentes personas na internet. Quem me assiste só no YouTube não tem ideia das minhas pautas políticas. Às vezes, são jovens de 14, 15 anos me encontram na rua, às vezes, não fazem a mínima ideia, dizem: meu pai não gosta que eu te assista. Não sei por quê. Eu pergunto, ele gosta do Bolsonaro? E ele diz: “gosta”. É isso. E eu penso: Ah, ele não sabe. Não precisa saber. Não está na idade de saber. Então eu tenho públicos que é o público do YouTube, do Instagram, da Twitch. Às vezes, vem um senhor, sei lá 63 anos, ele vem dizer o quanto ele é meu fã, e eu falo: não é possível que este senhor está me assistindo minhas lives no YouTube. Mas aí, ele diz que o que eu falei no Twitter. E aí eu sei que é do Twitter, ou um molequinho que vem falar comigo, e eu sei que é do YouTube. Então, eu tenho diferentes públicos e por isso que minha audiência acaba sendo muito heterogênea. Diferentes idades, tipos de públicos, porque eu tenho diferentes personas, isso me agrada muito.  

E eu não forço isso. Não tento ser diferente. É porque no Twitter, eu falo de pautas sociais, no YouTube eu tenho o meu programa. Se você falar com Luciano Huck, ele vai ser a mesma pessoa no Domingão do Huck, ele vai ser a mesma pessoa que ele é num jantar ou no Twitter ou fazendo stories no Instagram. No Instagram, eu não ou cara que está no YouTube. Eu vou ser o cara que está gravando e criando uma diferença no público, na percepção das pessoas. É sempre o mesmo Felipe. São só diferentes formas de me expressar. Mas eu sempre a mesma pessoa no final. 

ON: E já que você falou em expressão. Vamos passar para a nossa língua. Dia 5 de maio é o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Você tem uma peculiaridade de ter crescido com duas variantes. Você cresceu no Brasil com a sua família que é de Portugal, você tem uma grande conexão com Portugal. Boa parte da sua família está lá. Como foi isso? 

FN: Eu estava conversando nesses bastidores que eu acho muito engraçado quando eu vejo um brasileiro tendo dificuldade para entender o português de Portugal.  Eu nunca ouvi o português de Portugal que eu não entendesse perfeitamente. Nunca. Às vezes, eles estão falando rápido e eu só escuto português rápido, mas eu entendo tudo porque eu fui criado com o português de Portugal 24 horas presente na minha vida. 

ON: Que foi a sua avó. 

FN: Minha avó que me criou junto com a minha mãe. Assim duas mães. Minha vó que faleceu agora esse ano. E a presença do português de Portugal na minha vida sempre foi o tempo inteiro. Não só por ela, eu tenho muita família em Portugal. Eu amo o som que faz assim. É lindo. E a gente recebe muitas mensagens falando assim que estão preocupados que o filho está falando “brasileiro”. E é lógico, óbvio, que a gente não quer que ninguém mude a sua forma de falar, né? Eu e meu irmão, né? Porque o Lucas, meu irmão, é um fenômeno infantil absurdo. Lucas é a Xuxa da era digital.  E aí a gente recebe muitas mensagens dos pais preocupados porque os filhos em Portugal, ou Moçambique ou outros países. Eu recebo muitas mensagens do pessoal de Cabo Verde falando: “Ai, meu filho está falando brasileiro”. Eu acho isso muito engraçado, vai, o termo “brasileiro”. Não eles falarem. Mas o termo brasileiro. (Não existe uma língua com esse nome). Mas é óbvio, a gente não quer que isso aconteça. O Lucas tem vídeo de conscientização sobre isso. Eu falo também. Mas ao mesmo tempo, eu não sei como impedir... (risos); como impedir? Eu estou falando do meu jeito, eu não tenho como mudar a minha forma de falar nem conseguiria. Mas, eu sinto que a esmagadora maioria não está preocupada, a esmagadora maioria abraça e fala: “Ah, não tem problema. Está engraçado e tudo mais. Mas eu acho que no final, o português de Portugal volta porque a criança vai lidar com ele no dia a dia.  

ON: E que mensagem você deixa para o Dia Mundial da Língua Portuguesa neste 5 de maio. Essa língua que vai das Américas à Ásia. A gente se comunica com ela em todo o mundo. 

FN: Olha. Eu devo tudo à língua portuguesa. Porque os números que foram alcançados pelo meu canal no YouTube, principalmente em português, são até difíceis de acreditar. Em 2020, eu fui o segundo Youtuber mais assistido do planeta. O número naquele ano foi, se eu não me engano, mais de 5 bilhões de visualizações, e ele é meio incompreensível. O primeiro lugar era falando em inglês foi o “PewDiePie” naquele ano. Do terceiro ao décimo lugar eram todos ou em espanhol ou em inglês. Não tinha nenhum em português na lista dos 50 ou 60. A gente tem uma língua que é linda, fantástica e maravilhosa que eu amo de paixão, mas que não é tão falada quanto o espanhol, o inglês e o mandarim ou outras línguas. Nós temos aí, em torno de 250 milhões? 

ON: Quase 300 milhões. São 285 milhões. 

FN: Que bom. Eu sempre quis tirar essa dúvida porque o Google tem diferentes informações. Agora eu tenho um número oficial pra mim: 285 milhões. O inglês tem mais de 1 bilhão. Nem sei qual é o número oficial. É absurdo, esse é o número que tem no Google. Mas quanta gente fala inglês, gente? Eu acho que é mais ainda. E o espanhol é uma quantidade enorme de pessoas. Se não me engano, aí por favor chequem, eu acho que são quase 800 milhões, por aí. O ponto de partida do português está muito abaixo dessas duas outras línguas. Mas o povo é uma coisa...não existe nada igual assim. Então, eles me proporcionaram números que são completamente fora da realidade. Durante esse ano de 2020, foi o ano da pandemia também é importante ressaltar que todas as audiências foram explosivas de entretenimento. Foi o ano em que as pessoas ficaram em casa. Eu tive, em média, 35 milhões de pessoas diferentes assistindo o meu canal por mês. Isso dá mais de 10% das pessoas que falam português no planeta. Estou falando de pessoas diferentes assistindo ao meu canal, por mês. Esses números para mim são absurdos. Eu devo tudo na minha vida a nossa língua. Tudo. Então eu sou um grande admirador e aprendi também. E acho importante a gente falar disso já que a gente está falando de língua porque eu era um cara com um extremo preconceito linguístico. O que é o preconceito linguístico. Eu precisei estudar muito pra entender esse conceito, né? É a pessoa que se coloca como superior por saber escrever, por saber falar... 

ON: Uma variante qualquer. No seu caso, a do Rio de Janeiro. 

FN: Exato. A do Rio de Janeiro. Exatamente. A gente se coloca numa posição de superioridade. E a gente é ensinado desde o berço, isso. A tratar mal e com deboche e inferiorização quem troca palavras, quem escreve o que a gente chamada errado. Trocar o mas por mais. Escrever com certeza junto e tudo mais. Quando você vai estudar e conversar com pessoas que estudam Letras, você descobre que isso é um profundo preconceito. A função da língua é se fazer entender. Ponto. Ela não é demonstrar superioridade. Então eu pego muito o com certeza como exemplo porque eu não duvido que daqui a 50, 60 anos, o com certeza seja junto. E todos nós que ficamos debochando, ridicularizando, inferiorizando essas pessoas, vamos ficar com cara de tacho. Assim como aconteceu quando farmácia era escrito com PH e quem escrevia com F era ridicularizado: “Você não sabe escrever. Você é burro.” E a gente faz isso agora. Exatamente igual.  

Então é importante a gente diminuir o preconceito linguístico. Óbvio, ensinar que existe a norma culta da língua, principalmente para testes, provas, para você demonstrar conhecimento da língua, para você também mostrar que você lê e que estuda. É importante, principalmente na norma acadêmica, como exigência. Mas, não ter preconceito e não agir com inferiorização e, principalmente, quando é uma pessoa que não teve acesso à educação que você teve. Não tem nada pior do que você ridicularizar uma pessoa que não teve acesso à educação como você teve e você diminuí-la porque ela escreve de uma maneira diferente da sua.”  

ON: E a língua vai evoluindo... 

FN: Exato. A língua é viva. Isso é lindo demais. A língua é viva. Ela muda. Pelé acabou de entrar no dicionário... 

ON: Pois é: “Único”. Pelé agora é único... E Felipe Neto também vai entrar no dicionário. (Risos)... 

FIM 

Texto, imagem e vídeo, reproduzidos dos sites: news un org e youtube com

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

'Programação neurolinguística': o que é a técnica de coach...

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 25 de setembro de 2024

'Programação neurolinguística': o que é a técnica de coach promovida por Pablo Marçal.

Desprezada no mundo acadêmico, a PNL não passa de pseudociência. Eli Vieira para a Gazeta do Povo:

Em um vídeo antigo repostado há um mês em um canal menor de técnicas motivacionais para empresários, Pablo Marçal, empreendedor e candidato à prefeitura de São Paulo, se dispôs a explicar uma das suas técnicas mais comentadas, a “programação neurolinguística” (PNL). O candidato prometeu que usaria a PNL para intimidar os adversários: “tem gente já cancelando as idas nos próximos debates”, disse em coletiva de 22 de agosto.

“O que é PNL? Vários alunos têm me cobrado”, disse Marçal. Mas ele não vai direto à resposta. Ele critica supostas percepções erradas de quem pergunta e define o que é coach, profissão de conselheiros não habilitados em terapia psicológica que se popularizou nos EUA antes de chegar ao Brasil. Apesar do tom elogioso aos coaches, ele tem negado que é um deles nos debates eleitorais.

No vídeo, Marçal cita autores da área. “Essa galera, eles só condensaram o comportamento e colocaram um nome, mas isso sempre existiu”. O que é PNL? “É ensinar o seu cérebro a se comportar”. O empresário segue em sua explicação mencionando meditação, oração em silêncio e “padrão mínimo”. “Não adianta ser positivo sem ter atitude. Então, meu filho, aprende a usar a PNL. A PNL nada mais é que ensinar o seu cérebro a se comportar”.

Se comportar de que jeito? Ele dá um exemplo: “tem cura a pobreza. Pobreza emocional, pobreza adâmica, tem cura. Mas ela só vai crescendo quando você se relaciona com gente rica, que é próspera, e essas pessoas não são nojentas, porque às vezes um rico nojento bloqueou você. Você tem que usar a PNL e ressignificar”. Outro exemplo de Marçal é que ele parou de ver pornografia “depois de 20 anos afundado nisso”.

Programação neurolinguística é tratada com desdém no mundo acadêmico

O empresário diz que um só livro é suficiente para aprender PNL, “Manual de programação neurolinguística” do americano Joseph O’Connor (Ed. Qualitymark, 2017). O livro tem a avaliação de 4,8 estrelas na Amazon, com base na opinião de mais de mil leitores. A obra dá conselhos ao leitor como colocar-se em um estado relaxado e pensar em algo que lhe dá raiva, para aprender a controlar a raiva; e alega que “PNL é qualquer coisa que funcione”.

Mas no mundo acadêmico, em que os termos “programação”, “neuro” e “linguística” surgiram, a PNL não goza de grande respeito. Em um livro recente que busca explicar as principais descobertas da psicologia para leigos (Psych, 2023), Paul Bloom, psicólogo de Yale, sequer a cita. Alguns acadêmicos, como o psicólogo alemão Siegfried Greif, são taxativos: a PNL “é classificada como uma pseudociência”, afirmou Greif em um manual internacional de aconselhamento baseado em evidências publicado em 2022 pela editora acadêmica Springer.

A PNL foi lançada em um livro de 1975 pelo palestrante de autoajuda Richard Bandler e o linguista John Grinder, que diziam se basear em observações de terapeutas psicológicos eficazes como Milton Erickson, que devem ser imitados — prática que eles chamaram de “modelagem”. Erickson, que também era psiquiatra, utilizava em sua terapia outras técnicas controversas como a hipnose.

“Talvez a filosofia central da PNL é resumida na frase ‘o mapa não é o território’. Isto é, cada um de nós opera com base na nossa representação interna do mundo (nosso ‘mapa’) e não no próprio mundo (o ‘território’)”, afirmou em artigo crítico de 1988 o psicólogo britânico Michael Heap. Esta ênfase na representação interna “não é nova, nem singular”, escreveu o especialista.

Heap, dando enfoque às alegações da PNL sobre representações internas, concluiu que ela tem “relativamente pouco apoio empírico” (em evidências). Uma das alegações seria que uma pessoa que faz uma representação interna mais baseada na percepção visual tenderia a olhar para cima com uma inclinação para a esquerda, quando está se lembrando de algo, ou para a direita, quando está elaborando ideias ou mentindo.

Outro acadêmico, Christopher Sharpley, publicou em 1987 uma revisão de 44 estudos e concluiu que “os dados das pesquisas não apoiam os princípios básicos da PNL nem sua aplicação em situações de aconselhamento”. Somente 13,6% dos estudos apoiavam algumas das alegações da teoria.

Nas quase quatro décadas que se passaram desde essas críticas, pouca coisa mudou. “Não hesitamos em concluir que psicólogos de aconselhamento e aqueles interessados na prática de coach baseada em evidências devem ignorar a marca da PNL a favor de modelos, abordagens e técnicas para as quais há uma clara base evidencial”, disseram em uma revisão de 2019 para a Sociedade Psicológica Britânica os acadêmicos Jonathan Passmore e Tatiana Rowson.

PNL é difícil de definir e se baseia em muitos resultados que caíram

Passmore e Rowson afirmaram que a PNL “é difícil de definir”, não porque é complexa, mas porque “a maioria dos textos não oferece uma definição, ou, ao invés disso, compartilham uma história na esperança de comunicar o que acreditam que a PNL faz”, como fez Marçal no vídeo citado.

Para piorar, enquanto Passmore e Rowson escreviam, explodia na psicologia uma profunda crise causada por muitos de seus resultados populares falharem em reaparecer quando os experimentos eram refeitos — foi a chamada “crise da replicação”. Muitos resultados favorecidos por coaches, como a alegação de que uma “postura de poder” em comunicações públicas afetaria até a fisiologia do organismo, simplesmente caíram. Como resumiu a Gazeta do Povo, o resultado da crise foi que metade dos estudos em psicologia têm resultados questionáveis e os resultados falsos são os mais citados por outros estudos.

PNL toma vocabulário emprestado de áreas que não a endossam

Uma das áreas da qual a PNL toma emprestado parte de seu vocabulário é o behaviorismo radical, área da psicologia que se dedica ao estudo do comportamento de uma forma maximamente objetiva.

Em um experimento clássico de 1948, um dos fundadores da área, o psicólogo B. F. Skinner, observou que pombos desenvolviam comportamentos que ele chamou de “supersticiosos” em resposta a entregas regulares de comida por uma máquina. Um girava três vezes até cada entrega, como se tivesse associado os giros à recompensa. Outro lançava a cabeça contra um canto da gaiola. Dois desenvolveram um movimento pendular da cabeça e do corpo. Tudo isso apesar de a entrega de comida ser garantida, “sem nenhuma referência em absoluto ao comportamento da ave”. O cientista propôs que cada comportamento era o que a ave estava fazendo por acaso no início das entregas, e foi “reforçado” quando repetido e seguido por mais alimentação.

Guardadas as proporções entre pombos e humanos, e considerando que o mercado dá recompensas de forma mais imprevisível que as entregas regulares de comida do experimento, não é de se surpreender que empresários acreditem que seu sucesso é devido a técnicas nebulosas sem provável efeito real como a programação neurolinguística. Uma técnica da PNL pode ser aplicada hoje, um bom resultado nos negócios ou na vida pessoal pode ser alcançado amanhã, e a conexão causal entre uma coisa e outra está mais na representação subjetiva do mundo do empresário que ouviu o conselho do que no mundo real.

A PNL parece tão boa quanto qualquer tipo de conselho do senso comum. Alguns conselhos que ouvimos são valiosos, por mais que pareçam à primeira vista banais. Alguns podem soar banais, mas são amparados em pesquisa, como os conselhos de produtividade intelectual da engenheira Barbara Oakley em seu curso “Aprendendo a aprender”: por exemplo, fazer exercícios físicos se houver dificuldade de concentração, escrever lições à mão para se fixarem melhor na memória, e usar a técnica de cronometrar períodos de 25 minutos de concentração (conhecidos como “pomodoros”).

O que a PNL tem de adicional é uma apropriação do vocabulário científico até em seu próprio nome. Este uso de “adornos científicos” é, segundo a filósofa britânica Susan Haack, um sinal de cientificismo — uma deferência exagerada à ciência, por causa de seus inegáveis sucessos, que ignora que nem tudo o que é conhecimento precisa ser científico. Porém, para ser conhecimento, é preciso haver mínimo rigor, até em áreas fora da ciência. A PNL enfrenta grandes dificuldades em convencer a maior parte do mundo acadêmico que suas alegações e técnicas têm esse rigor.

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Os perigos dos celulares para as crianças

Imagem postada pelo blog Ideias & Lideranças, para ilustrar o presente artigo - (Crédito da foto: Hal Gatewood/Unsplash)

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 17 de setembro de 2024

Os perigos dos celulares para as crianças

“O ato de nos restringirmos é uma forma de sermos livres”, Anna Lembke em “Geração Dopamina” (numa livraria perto de si). Rodrigo Adão da Fonseca para o Observador:

A presente crónica é dirigida aos pais que não compreendem os danos causados pela presença omnipresente dos telemóveis na vida dos seus filhos. E à sociedade em geral, que ignora (ou finge ignorar) que o impacto dos telemóveis nas crianças, adolescentes (e até adultos) não é igual para todos, perpetuando desigualdades.

Ao longo dos últimos anos, o telemóvel transformou-se numa extensão do corpo de jovens (e menos jovens). Enquanto ferramenta de comunicação este tipo de dispositivos é desenhado para funcionar como facilitador (“interface”) de uma panóplia de gratificações instantâneas que, embora aparentemente atraentes, são profundamente nocivas. E se podemos assumir que os adultos deverão ter o discernimento para avaliar os níveis de consumo e que tipo de relação devem manter com os equipamentos e tudo o que eles atualmente possibilitam (algo que merecerá análise numa futura crónica), no caso das crianças e adolescentes é particularmente grave a ingenuidade com que as expomos a estímulos massivos, continuados e permanentes, de uma significativa violência.

Não obstante o tema ser complexo, ele pode ser simplificado nas suas principais causas e consequências, para ser percebido por qualquer interlocutor comum.

O alinhamento de interesses entre “smartphones” e empresas de tecnologia permite que estes equipamentos sejam hoje o mecanismo ideal para gerar de forma massiva e continuada os estímulos necessários para libertar uma substância química denominada “dopamina”. Explicando: o uso constante de dispositivos digitais facilitou o acesso a redes sociais, jogos de diversão, lojas online e plataformas de apostas. O que têm todos estes serviços em comum? Todos têm no cerne da sua conceção e funcionamento uma ambição: estimular a libertação de dopamina, o neurotransmissor que está diretamente ligado ao prazer imediato e à recompensa. Cada notificação, cada “gosto” ou mensagem recebida, cada encomenda efetuada ou colocada no “carrinho de compras”, cada fase de um jogo que vencemos (ou até perdemos), cada aposta feita, gera uma descarga de dopamina, criando um ciclo de gratificação rápida. Este ciclo, no entanto, tem vários custos: desde logo, à medida que vamos obtendo gratificações, o nosso cérebro necessita de estímulos maiores (leia-se, maiores descargas de dopamina) para atingir o mesmo nível de satisfação ou prazer; e ao habituar o cérebro a estas recompensas imediatas, crianças, adolescentes (e até adultos) perdem progressivamente a capacidade de se concentrarem em tarefas mais demoradas e complexas, como o estudo, a leitura de um livro, a análise de um problema não evidente. Com o tempo, crianças, adolescentes e até adultos deixam de conseguir projetar atividades ou organizar recompensas mediatas – as quais, frequentemente, implicam prescindir das recompensas imediatas ou “sacrifícios”. Por fim, o excesso de libertação de dopamina conduz a estados crescentes de frustração, ansiedade, compulsão ou irritabilidade que destroem o equilíbrio emocional e a relação com os outros (desde os que nos são próximos até ao mundo em geral, como facilmente se perceciona, hoje, em redes sociais como o Facebook ou o X). Não é exagerado dizer que graças à exposição atual aos telemóveis e suas adições, as democracias se estão a tornar ditaduras de “junkies”, condicionadas pelo tráfego de estímulos digitais à dopamina.

A existência de um polo de estímulos imediatos, continuados e persistentes, que atua como uma extensão do nosso corpo (a que chamamos “telemóvel”) é especialmente preocupante em contexto escolar, pois vai concorrer diretamente com o que é necessário para uma sã aprendizagem. A apreensão de conhecimentos requer esforço, paciência e foco, qualidades que são minadas pela presença omnipresente do telemóvel (na escola, e fora dela). Se um estudante alterna entre prestar atenção às aulas e “checkar” o telemóvel, o que vai acontecer é que rapidamente vai perder capacidades para reter informações, concentrar-se e desenvolver um pensamento estruturado. São vários os estudos que, pelo menos desde os anos 60 (altura em que o psicólogo Walter Mischel da Universidade de Stanford começou a estudar os fenómenos de gratificação diferida em crianças) nos convidam a adiar a exposição a estímulos imediatos como forma de reforçar a resiliência e a autonomia individuais. No que diz respeito aos telemóveis, em concreto, não faltam estudos que demonstram que as escolas que retiraram os telemóveis do seu ambiente viram o rendimento académico melhorado, principalmente entre os alunos de menor desempenho (junto, aqui, um dos mais interessantes, conduzido por Louis-Philippe Beland e Richard Murphy e publicado pela London School of Economics em 2015).

E é precisamente aqui que reside um dos pontos mais preocupantes desta questão: o uso de telemóveis nas escolas não afeta todas as crianças de igual forma. As crianças de famílias mais pobres são potencialmente mais vulneráveis aos malefícios do uso massivo de telemóveis. Desde logo, porque a pobreza está historicamente associada (entre outros aspetos) à preferência por recompensas imediatas, algo que é hoje agravado com o recurso intenso a dispositivos que oferecem uma gratificação constante. Acresce que as crianças das famílias mais abastadas têm potencialmente acesso a rotinas mais estruturadas: aulas de música, desporto, explicações e outras atividades extracurriculares que preenchem o seu tempo de forma útil. Estas atividades não só limitam o tempo de ecrã, como promovem o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais. Para as crianças de famílias mais pobres, no entanto, o cenário é diferente. Muitas vezes, estas não têm acesso a atividades extracurriculares e o tempo livre é ocupado com o telemóvel ou consolas de jogos. Este “vazio” do tempo livre é preenchido com distrações e alienações que perpetuam o ciclo de desigualdade. Ao invés de passarem o tempo a desenvolver competências ou a melhorar o desempenho académico, cada vez mais as crianças, adolescentes (e também adultos) mergulham num ciclo de dopamina e distrações digitais. No caso de crianças, porém, que já enfrentam múltiplas barreiras ao sucesso académico, em que o telemóvel não é apenas uma distração, mas um obstáculo real à sua capacidade de superar as desigualdades sociais, é urgente tomar medidas que salvaguardem o seu futuro.

Retirar os telemóveis do ambiente escolar (e não escolar) não vai ser fácil, e vai encontrar inúmeras resistências, em especial quando começar a abranger adolescentes de outros ciclos de estudo com graus de dependência já elevados (e em muitos casos, irreversíveis). A solução encontrada baseada não na proibição, mas na recomendação, é acertada, pois mais do que proibir, precisamos de cidadãos conscientes da necessidade de autorrestrição e de um maior equilíbrio na relação com tecnologias que nos estão a devorar – às crianças, aos adolescentes e, já agora, a muitos adultos (tema a recuperar em crónicas futuras).

Texto reproduzido do blog: otambosi blogspot com