Publicação compartilhada do site BBC BRASIL, em 25 de julho
de 2021
5 maneiras de ser mais feliz no trabalho (e por que
Schopenhauer tinha razão)
Por Santiago Iñiguez de Onzoño
The Conversation*
A busca pela felicidade é uma questão abordada por filósofos
com frequência. As três escolas de filosofia da Grécia clássica deram respostas
ao tema.
O estoicismo defendia o desapego das coisas materiais e a
busca pelo equilíbrio dentro de nós: o domínio da razão sobre as necessidades
físicas.
Já o epicurismo se propunha a explorar todos os tipos de
prazeres para se alcançar o êxtase por meio da experiência sensorial e
intelectual.
Por fim, o cinismo questionou o significado da pergunta
sobre a busca da felicidade, já que seria impossível encontrar respostas
precisas para esse tipo de pergunta. Assim, seria preferível viver como se
quiser e justificar as coisas como se preferir.
Eu acho que nenhuma dessas três alternativas satisfaz
plenamente as aspirações da maioria das pessoas, que não são céticas, nem
querem viver como eremitas ou em excesso permanente.
Arthur Schopenhauer, o filósofo alemão frequentemente
rotulado de "pessimista", ainda assim fez uma tentativa no que chamou
de "eudemonologia", ou teoria da felicidade. A partir dela, ele
formulou uma série de recomendações, especialmente úteis no trabalho, mas
também no vida.
Já que passamos pelo menos metade do nosso tempo dedicados a
tarefas profissionais, é importante identificar quais caminhos ou recomendações
podem nos ajudar a aprender a aproveitar esse processo.
1. Entender a felicidade como um caminho
A primeira recomendação é entender a felicidade como um
caminho, não como um destino. Ou como o resultado de um exercício permanente e
não como uma meta a ser alcançada.
Essa afirmação evoca o sentido da vida como uma viagem,
presente na literatura desde a Odisséia, de Ulisses.
Pessoas que identificamos como felizes não o são porque
chegaram a uma situação e lá se estabeleceram. Na verdade, para permanecer em
determinada situação, manter um relacionamento pessoal ou persistir em um
estado de espírito equilibrado, é necessário continuar trabalhando muito.
Acontece como nas estratégias de negócios: a opção marginal
de "continuar igual" implica em investir na manutenção da presença no
mercado, continuar melhorando o relacionamento com os clientes, melhorando a
imagem da marca, e não simplesmente não fazer nada.
Isso se aplica à vida pessoal, como aprendemos sobre a
importância da resiliência durante a pandemia. O princípio também se aplica ao
trabalho.
Para ser feliz na profissão é preciso continuar melhorando permanentemente, treinando para estarmos atualizados e traçando novos objetivos.
O segredo da felicidade de Matthieu Ricard, o 'homem mais
feliz do mundo'
O que podemos aprender com a ideia de felicidade dos
astecas?
Existem pessoas que pensam que você pode viver da boa
reputação e das conquistas do passado, o que é um erro. Devemos continuar a
demonstrar competência e valor com o desempenho pessoal, principalmente porque
isso vai melhorar nossa autoestima e nossa felicidade.
2. Ser não é ter
Não confunda melhorar e progredir com acumular mais coisas.
Ser é não ter, como muitos filósofos explicaram.
Schopenhauer explica a sensação de vazio que advém da
realização de um bem material no qual estão colocadas todas as expectativas.
"A riqueza é como a água do mar: quanto mais você bebe,
mais sede terá. O mesmo vale para a fama", explica.
E pode-se acrescentar que isso também se aplica a poderes e
cargos na empresa, se não forem entendidos com vocação para o serviço.
3. Evitar os sentimentos extremos
Evite sentimentos extremos, especialmente inveja, ódio e
raiva.
Embora às vezes encontremos imagens caricatas de CEOs em
biografias, filmes e até em materiais educacionais, retratando chefes
insuportáveis e furiosos, ou enfurecidos com episódios irrelevantes, os
verdadeiros líderes são aqueles que ensinam e se tornam referências
comportamentais.
Chefes irascíveis só fazem com que as pessoas ao seu redor
acabem saindo da empresa.
A inveja é um vício particularmente prejudicial, porque gera
amargura. É sobre tristeza pelo bem dos outros, algo mesquinho e que muitas
vezes as pessoas rejeitam.
Como Sêneca, um filósofo da Roma clássica, afirmou:
"você nunca será feliz se o atormentar que outra pessoa seja mais feliz do
que você".
Infelizmente, parece que seu aluno, o imperador Nero, não
aprendeu a lição.
Pelo contrário, a experiência de muitos mostra que a
generosidade é a estratégia de vitória a longo prazo, e as pessoas que a
cultivam recebem reconhecimento recíproco.
Uma parte essencial da gestão consiste justamente na
capacidade de ensino. Esta dimensão projeta uma dimensão mais ampla para a
gestão e também aumenta a felicidade pessoal.
4. A felicidade está intrinsecamente relacionada à saúde
Como explica Schopenhauer, "nove décimos de nossa
felicidade se baseiam exclusivamente na saúde".
Curiosamente, o filósofo alemão antecipava os avanços da neurociência e toda a corrente de bem-estar ("wellbeing") que se deslocou para o ambiente empresarial.
Dado que a saúde física é de natureza relativamente efêmera,
são essenciais a resiliência e a busca por equilíbrio, entendido como um estado
de consciência que permite enfrentar a dor.
Mas de toda forma, como diz o ditado em latin "mens
sana in corpore sana", se você cuidar de sua saúde corporal, estará
construindo uma saúde mental melhor.
5. Exercitar a alegria
O último conselho neste texto é a importância de se
exercitar sistematicamente a alegria.
A alegria é um estado de espírito que pode ser cultivado, e
quanto mais você pratica, mais você consegue.
Como explicou Sigmund Freud, o humor desnuda a repressão, gera
proximidade e contribui para um ambiente melhor.
Por isso, é aconselhável usar o humor nas reuniões de
trabalho, talvez não no início, para não banalizar a troca de ideias, mas em
alguns momentos, para quebrar o gelo ou relaxar uma discussão.
Novamente, se passamos tanto tempo no trabalho, parece
desejável podermos nos divertir de vez em quando.
Uma das atuações mais memoráveis de Rita Hayworth no
cinema é a música Zip (zíper) no filme O Querido Joey, em que ela interpreta
uma honrada filantropa pressionada a interpretar, em um leilão beneficente, um
de seus números famosos da época em que era uma vedete.
Uma das frases da divertida canção diz:
"Zip; eu estava lendo Schopenhauer ontem à noiteZip; e
acho que Schopenhauer estava certo."
Eu concordo com ela.
* Santiago Iñiguez de Onzoño é presidente da IE University.
Texto e imagem reproduzidos do site: bbc.com

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