Publicado originalmente no site da revista CARTA CAPITAL, em 27 de janeiro de 2020
Quem são as pessoas LGBTs?
Por Bruno Branquinho
Os primeiros conceitos fundamentais para entender quem é a
população LGBT são sexo, gênero e orientação afetivo-sexual
Há pouco tempo, uma amiga médica, cis e heterossexual, me
mandou uma mensagem no Instagram após eu divulgar um dos textos da nossa
coluna: “Branquinho, desculpa a ignorância, mas o que é uma pessoa cis?”. Pouco
tempo depois, recebo outra mensagem de um amigo, cis, heterossexual e também
psiquiatra, pedindo indicação de uma fonte para entender melhor sobre as
diferentes preferências sexuais e identidades de gênero.
Essas duas mensagens me levaram a refletir sobre o conteúdo
da coluna. A proposta, que é falar de saúde e particularidades da população
LGBT, vem sendo cumprida semana após semana. No entanto, não havia parado para
pensar que talvez, para uma parcela considerável do público, fosse interessante
deixar claro algo que pode ser uma premissa básica para todos os outros textos:
quem é a população LGBT de que tanto falamos aqui?
Primeiramente, devemos lembrar que hoje, com a evolução dos
debates sobre gênero, sexualidade e identidade, mais e mais denominações vêm
surgindo para caracterizar os indivíduos. Por isso, apesar de aqui usarmos a
sigla LGBT (que seria uma abreviação de Lésbicas, Gays, Bissexuais e
Transexuais/Travestis), por ser mais curta e mais conhecida pela maior parte
das pessoas, há outras siglas possíveis que aparecem em outros lugares (LGBT*,
LGBTQ+, LGBTQIA+ etc). Independente da sigla, ao nos referirmos à essa
população, estamos falando das minorias sexuais, ou seja, grupos marginalizados
e que não possuem as mesmas oportunidades e privilégios que o grupo dominante
(população cis e heterossexual) devido à sua sexualidade e/ou identidade de
gênero.
Para me ajudar nessa discussão e no esclarecimento dos
termos de que vamos falar (e lembrando que há um extenso debate sobre esses
termos entre estudiosos e pessoas autodeclaradas, portanto, esse artigo tem
apenas caráter de disseminar informação ao público geral), eu pedi a ajuda do
querido Ricardo Sales, um dos maiores expoentes em diversidade no Brasil, que
gentilmente me cedeu sua tese de mestrado como bibliografia, na qual ele fala
sobre políticas de respeito à diversidade sexual no ambiente de trabalho.
Os primeiros conceitos fundamentais para entendermos quem é
a população LGBT são sexo, gênero e orientação afetivo-sexual.
Quando falamos do sexo de uma pessoa, estamos falando de
suas características biológicas, com os aspectos anatômicos, morfológicos e
fisiológicos (como a genitália, a capacidade reprodutiva, os cromossomos
sexuais e os hormônios produzidos) e indica como a pessoa foi identificada ao
nascer.
Já o conceito de gênero não remete apenas ao biológico e sim
a uma construção sociocultural. Essa construção determinaria o que a sociedade
considera esperado e apropriado em termos de comportamentos, papéis, atributos
e atividades para homens e mulheres. Podemos também introduzir outro conceito a
identidade de gênero, que nada mais é do que o gênero com o qual a pessoa se
identifica e cujo reconhecimento reivindica.
Quanto à orientação afetivo-sexual, ela indica por quem um
indivíduo sente atração afetivo-sexual (por um dos gêneros, por mais de um
gênero ou por nenhum deles).
Voilà! Tendo esses conceitos em mente, podemos falar um
pouco mais sobre outros termos relacionados a esses primeiros.
As definições que estão ligadas à orientação afetivo-sexual
de uma forma geral são mais conhecidas da população geral e compreendem:
Heterossexuais: são pessoas que sentem atração
afetivo-sexual por indivíduos de gênero diferente daquele com o qual se
identificam.
Homossexuais: são pessoas que sentem atração afetivo-sexual
por indivíduos de gênero igual àquele com o qual se identificam. Dentro desse
grupo de pessoas, é comum denominarmos os homens homossexuais de “gays” e as
mulheres homossexuais de “lésbicas”.
Bissexuais: são pessoas que sentem atração afetivo-sexual
por indivíduos de dois gêneros ou mais.
Pansexuais: são pessoas que sentem atração por indivíduos de
qualquer identidade de gênero ou por pessoas independente do seu gênero. Pode
ser vista como uma manifestação política, uma forma de afirmar que a identidade
de gênero é irrelevante ao se falar de atração afetivo-sexual.
Assexuais: são pessoas que não sentem atração sexual por
outras pessoas, independente do gênero. Podem, no entanto, desenvolver relações
e parcerias afetivas.
Já quanto ao gênero e à identidade de gênero, os termos mais
utilizados são:
Cisgênero/Cissexual/Cis: termos utilizados para designar
pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascimento.
Transgênero/Transexual/Trans: termos utilizados para
designar pessoas que não se reconhecem no gênero que lhes foi atribuído ao
nascimento.
Então, por exemplo, um homem cis é uma pessoa que se
reconhece social e legalmente como homem e que ao nascimento foi identificado
como sendo do sexo masculino, enquanto um homem trans é uma pessoa que se
reconhece social e legalmente como homem, no entanto, ao nascimento foi
identificado como sendo do sexo feminino.
Há ainda mais dois termos que podemos analisar em relação ao
gênero/identidade de gênero:
Travestis: Trata-se de uma identidade em disputa, eminentemente
latino-americana. Não há consenso absoluto a respeito da melhor definição.
Algumas travestis são pessoas que não se identificam com a classificação
binária homem-mulher, e entendem-se como integrantes de um terceiro gênero. O
processo de identificação pode ser marcado por posicionamentos políticos e
recortes de classe e raça. Deve-se sempre utilizar o artigo feminino, ou seja,
“a travesti”.
Não-binário: Pessoa que não se identifica com nenhum dos
gêneros ou se percebe como uma combinação deles. Refuta o sistema binário
homem-mulher.
Portanto, quando falamos aqui da população LGBT, falamos de
todas essas pessoas que fazem parte dessas minorias sexuais, ou seja, não são
cis e heterossexuais. A sociedade vem evoluindo no reconhecimento dessa
população e dessas novas definições e é importante que a informação e o
respeito sejam sempre propagados, para que todos se sintam à vontade para serem
quem são, sem violência e sem preconceito.
Texto e imagem reproduzidos do site: cartacapital.com.br
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