Publicado originalmente no site do jornal EL PAÍS BRASIL, em 27 de fevereiro de 2020
Nove perguntas que você deveria fazer ao psicólogo antes de
começar uma terapia
Esse teste é a melhor maneira para garantir que você vai
contar sua vida ao profissional adequado
Por Manuela Sanoja
Faz semanas, talvez meses, que qualquer coisa te altera.
Quando você não estoura por bobagem, começa a chorar sem motivo. Os amigos
tentam te animar, mas você sabe que precisa de outra ajuda, então põe mãos à
obra para marcar uma consulta com um psicólogo ou terapeuta. Você intui que
essa é a solução, mas como saber se está escolhendo a pessoa adequada? A melhor
maneira de descobrir é não deixar que o profissional seja o único a fazer as
perguntas.
Antes de lhe contar sua vida, pergunte sobre sua carreira
Entre os psicólogos, como em todas as carreiras, há
profissionais e profissionais. Alguns são adequados para realizar certos
projetos e outros se encaixam à perfeição no manejo de situações completamente
diferentes. Saber qual lhe convém fica mais fácil se você conseguir que
respondam às seguintes perguntas:
Qual é sua especialidade?
No Brasil, essa pergunta é importante porque a psicoterapia
não é uma atividade privativa de psicólogos, podendo ser praticada por outros
profissionais, como psicanalistas —desde que não utilizem o título de
psicólogo.
Que tipo de terapia faremos?
É importante saber em que consiste o percurso planejado pelo
profissional, já que eles podem ser muito diferentes, e é importante estar
disposto a se submeter a esse plano. Cada terapeuta tem suas preferências. “A
cognitiva-comportamental trata a forma como o indivíduo interpreta as
situações, como reage a elas e as emoções que lhe geram; a psicanálise procura
a origem de nossos problemas em vivências passadas (geralmente na infância); o
enfoque sistêmico trabalha da posição que determinadas posições ocupam na sua
vida…”, diz a doutora em psicologia Silvia Álava. A abordagem escolhida pelo
especialista dependerá da escola de que provenha e do tipo de problema que lhe
apresentarmos. “Embora ele não tenha completamente claro o que acontece, depois
de uma primeira sessão o profissional desenvolverá uma hipótese de trabalho em
que escolherá o tipo de terapia”, continua a especialista.
Como sei se dará certo?
Pedir que tenha resultados garantidos é demais, mas com esta
pergunta é possível obter informações relevantes. “É preciso perguntar e
pesquisar se a metodologia do especialista é respaldada por evidências empíricas
e se ficou demonstrada sua eficácia em casos como o que lhe apresentamos”,
esclarece Álava. Para descobrir isso, podemos nos dirigir diretamente ao
terapeuta ou a qualquer conselho de psicologia. Se uma metodologia tiver aval
científico em casos como o nosso, é provável que funcione, mas isso não é
garantido: também é importante nos sentirmos à vontade com o método. “A química
entre o psicólogo e o paciente é fundamental. Quando não existe, podemos nos
sentir pouco à vontade numa terceira ou quarta sessão, e largar sem ter
conseguido nada”, aponta Dapra. Álava concorda: “É preciso criar um vínculo e
uma aliança terapêutica. A pessoa que temos diante de nós deve nos passar
credibilidade, e devemos confiar nas emoções que nos transmite”.
É hora do que interessa
Você recebeu a recomendação de um profissional que parece
competente, e se dependesse de você começaria a terapia hoje mesmo. Mas tenha
paciência. Há mais coisas que convém ter claras antes de contratar seus
serviços:
Quanto vai custar?
Perguntar sobre o preço é de mau gosto? Nada disso. Na
verdade, você faria mal em evitar esta questão. Para Dapra, porém, pagar menos
nem sempre é um bom sinal: “Quem cobra pouco é porque não tem pacientes e usa o
preço como chamariz ou porque se valoriza pouco profissionalmente”. Também há
profissionais que oferecem a primeira sessão gratuita, mas “é uma forma de
atrair clientes”, acrescenta. E se você não puder pagar? “Há centros que
trabalham com fundações ou estão integrados a mestrados, que são mais baratos”,
diz Álava.
Quanto tempo durará o tratamento?
Não hesite em fazer esta pergunta, mas leve em conta que
respondê-la é difícil até para o profissional mais preparado. “Depende de
muitas variáveis”, diz Álava. A principal é que estejamos envolvidos na
terapia. O psicólogo dará as ferramentas, técnicas e estratégias com as quais
resolver o problema, mas é o paciente que deve fazer o trabalho. “Também
depende do tipo de diagnóstico, não é o mesmo um transtorno de ansiedade, que
tem um tratamento mais curto [entre três e seis meses, em média, segundo
Dapra], que um da personalidade, que exige ferramentas para toda a vida”,
esclarece Álava. Mais clara está a duração das sessões: “Entre 40 minutos e uma
hora”, diz Dapra.
E se eu precisar de medicação?
“O habitual é que a psicoterapia baste”, diz a especialista,
mas certas pessoas que podem precisar de fármacos. Nesses casos, o especialista
recomendará a visita a um psiquiatra. “O psicólogo não pode receitar remédios,
e nunca deve fazê-lo”, observa a especialista. Não pode nem sequer nos propor
remédios próprios da homeopatia. “Se fizer isso, desconfie”, afirma Álava.
Melhor perguntar agora do que lamentar mais tarde
Uma vez começado o tratamento, é normal que continuem
surgindo perguntas. Qualquer fase da terapia é oportuna para fazê-las, mas o
melhor é se antecipar. Estas são as perguntas que podem aparecer durante o
tratamento:
Como saberei se o tratamento está funcionando?
“O melhor indicador é como você se sente, mas há registros e
medidas tomadas durante a terapia”, esclarece Álava. O profissional pode
mencioná-los de antemão. A especialista se refere, por exemplo, a questionários
que o psicólogo aplica ou a diários em que o processo vai sendo anotado. Assim
poderemos comparar se continuamos tendo a mesma quantidade de crises do que
quando começamos a terapia, se nos sentimos tão mal quanto… Também permitem
medir nossa melhora com as capacidades de linguagem emocional que vamos
adquirindo ao longo das sessões: “No princípio, você se sente ‘médio’, ‘mal’ ou
‘bem’, mas essas não são emoções. Passadas umas três ou quatro sessões, você é
capaz de se expressar mais”, esclarece Dapra.
O que devo fazer se não notar uma melhora?
Aqui entra em jogo a confiança entre terapeuta e paciente.
“Se você travar, deve ser sincero e claro com o psicólogo”, afirma Álava. Só
assim ele poderá avaliar se é preciso mudar o enfoque, procurar outras
variáveis que não estejam sendo tratadas, ou saber se você está pondo o foco
unicamente no negativo. “Há pessoas que vão ao psicólogo com expectativas de
estarem sempre bem, mas isso é impossível na vida. Não se trata de estar todo o
dia em cima de uma nuvem cor de rosa, e sim de saber gerir as situações ruins,
e o psicólogo é quem nos dará as ferramentas para isso”, esclarece a especialista.
E se recair ao terminar a terapia?
“Uma parte muito importante das sessões é trabalhar a
prevenção para que isto não ocorra, mas se acontecer não é preciso se
preocupar. Podemos voltar a repassar as ferramentas e técnicas que aprendemos”,
continua Álava. Nesse caso, é muito provável que o processo seja muito mais
curto: “O habitual é que em poucas sessões se volte a conseguir”, conclui.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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