O tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de
Minas Gerais, concede
entrevista em Brumadinho (REPRODUÇÃO TV GLOBO)
Brumadinho 29 de JAN de 2019
Um rosto sereno na tragédia de Brumadinho
Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de MG, tem
sido a voz da equipe de resgate que lida com a ansiedade do país na busca de
sobreviventes do rompimento na barragem da mina do Feijão
Por Heloísa Mendonça
Desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), o
tenente Pedro Aihara se tornou o rosto conhecido do trabalho árduo de centenas
de bombeiros que têm corrido contra o tempo para localizar as vítimas e
desaparecidos da tragédia. Porta-voz da corporação desde o primeiro dia da
tragédia, tem sido entrevistado repetidamente pelas dezenas de jornalistas que
acompanham os desdobramento do desastre na mina administrada pela Vale. Sua
desenvoltura e serenidade para lidar com as perguntas têm surpreendido o Brasil
inteiro, até por conta de sua pouca idade. Ele tem 25 anos e já participou do
resgate na mina do Fundão, em Mariana (MG). Preparado, ele segue se
demonstrando humano. O tenente se emocionou na manhã desta segunda-feira ao
falar sobre a incansável busca pelos desaparecidos. "A maior dificuldade é
ter de lidar com a angústia. Podem ter certeza de que estamos trabalhando como
se essas pessoas fossem nossas mães e nossos pais”, disse com os olhos
marejados no início da manhã.
Aihara, que tem dormido de três a quatro horas por dia desde
a tragédia, ressalta em todos os seus anúncios que o trabalho tem sido feito da
maneira mais ágil possível, mas que ele demanda muitas particularidades, já que
se trata de uma “operação de guerra”. “A gente entende que os familiares das
vítimas estejam numa situação em que buscam muita informação, mas temos que
entender que essa atuação é muito delicada, estamos falando de milhões de
rejeitos de minério de ferro, trabalhamos com uma barragem. E, dentro da área
quente, trabalhamos com material orgânico envolvendo animais, plantas e
pessoas. É preciso fazer um trabalho muito criterioso”, diz. “Um trabalho
rápido, por mais que a gente se esforce, não é possível de ser feito na
agilidade que as famílias querem”, lamenta. A buscas, explica ele, se estendem
por uma área de 10km de distância e milhões de metros cúbicos de rejeitos.
Aihara não tem se esquivado das perguntas da imprensa nem do
questionamento mais doloroso feito repetidamente nas coletivas sobre a
possibilidade de encontrar sobreviventes. Segundo o tenente, pela
característica da lama, será muito difícil que alguém que foi arrastado pelos
rejeitos da barragem da Vale tenha sobrevivido. O relógio tampouco ajuda. Com o
passar dos dias, as chances de encontrar sobreviventes é ainda menor, mas não
está descartada. Os bombeiros trabalham também em áreas limítrofes para tentar
encontrar alguém que possa ter conseguido fugir. “A tragédia envolve lama, que
é um tipo de material que ocupa muito espaço, é diferente de quando a gente tem
algum tipo de desabamento, em que há bolsões de ar e é provável encontrar
sobreviventes... Mas ainda trabalhamos com todas as possibilidades”, ponderou
na manhã desta segunda.
A possibilidade de as buscas se estenderem por meses
dependerá de como será o trabalho de recuperação de corpos, na avaliação do
tenente. “É um trabalho extremamente pontual. É preciso ter cuidado para o
material de animas não ser confundido com a de humanos. Pela quantidade de
rejeitos, irá durar semanas”.
Atualmente, 280 bombeiros trabalham na operação da tragédia
de Brumadinho. Cerca de 14 aeronaves, fornecidas pela própria corporação,
Polícia Militar, Polícia Civil, Força Aérea Brasileira e o Governo do Rio de
Janeiro, estão em uso para auxiliar as equipes. Alguns bombeiros vieram de
outros estados, como São Paulo, Rio, Espírito Santo, Alagoas e Goiás. O número
de integrantes de Minas Gerais chega a 130.
Assim como o tenente Aihara, muitos deles trabalharam há
três anos na tragédia de Mariana, quando a barragem de Fundão se rompeu,
matando 19 pessoas e deixando um mar de lama pelo Rio Doce. O episódio deu a
eles mais experiência nesse tipo de resgate, mas lidar psicologicamente com
tamanha perda de pessoas é ainda um grande desafio. Segundo Aihara, as equipes
que estão trabalhando nos resgates estão passando por atendimento psicológico.
Trabalhando incansavelmente em um resgate perigoso que
envolve lama e uma área de risco, os esforços dos bombeiros são reconhecidos
por muitos moradores e familiares de desaparecidos que assistem dos bairros e
estradas o sobe e desce constante de helicópteros. A missão dos bombeiros
mineiros, no entanto, não tem sido valorizada adequadamente pelo Estado de
Minas Gerais, que vive uma crise fiscal. Atualmente os salários dos bombeiros
estão sendo parcelados e a quitação integral do 13º salário de 2018 está
atrasada, e sem perspectiva de ser recebido em curto prazo.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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