Publicado originalmente no site Revista Ideias, em 10 de julho de 2018
Onde foram parar as conversas?
Falar sobre Proust, tentar entender Homero, relembrar as
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, conversar sobre Eça, saber de Camus,
percorrer um a um os Buendía de “Cem Anos de Solidão”… Onde foram parar as
conversas que esvaziavam copos e enchiam almas naquele tempo em que todos
podiam sentar num bar e entre um papo e outro falar do futebol, da política, de
como está caro o quilo da banana e dos planos do futuro? Cadê aquele momento em
que um amigo contava para outro sobre sua sorte e isso interessava tanto que
ninguém puxava ar para disputar atenção ou tratar de outra coisa que não fosse
o colocado na mesa? Onde foi parar o entendimento de que o silêncio, muitas
vezes, é o mais necessário numa conversa?
O tempo da delicadeza passou, todos sabem. Mas passou também
o momento da inteligência, das ideias, da discussão digna e, principalmente, da
troca entre os diferentes. Essa pobre e
resistente contemporaneidade tratou de crescer a partir de um cerne ridículo de
que cada macaco tem que ficar no seu galho ou, no ainda mais popular, cada um
no seu quadrado. E em vez de procurarmos o contraditório para enriquecer
questões, tratamos todos de nos fecharmos em teorias mancas, mal elaboradas, a
gritar perguntas e bufar respostas ao mesmo tempo.
Vivemos de slogans. Os livros, que deveriam ser o
complemento da vida, se transformaram em objetos que empoeiram nas estantes e
complicam os herdeiros. Raros são os que recorrem às bibliotecas para explicar
a loucura do mundo. A grande massa não sabe, ainda e de novo, que a história se
dá em círculos que fazem longo caminho através dos séculos e acabam sempre
tendo o mesmo ponto de partida e de chegada. Fôssemos mais atentos, poderíamos
pular etapas e entender de reconstrução, renascimento e progresso antes mesmo
que as decadências nos alcançassem.
Nos nichos em que as conversas ainda são possíveis, não
entram, por óbvio, aqueles que não são dados aos diálogos. E por isso, também
por isso, os turrões não saem do lugar e se enforcam em seus palavrórios
doentios que entopem veias e vias sem ao menos repercutir eco.
É triste o momento em que estamos. Mas temos o arbítrio das
alternativas. Podemos continuar nos afundando nesta noite que ainda pode
demorar muito a passar ou apressar o alvorecer de ideias, a começar pelo
entendimento de que a verdade que seu vizinho proclama é tão desconectada,
irrealista, certeira e razoável quanto a sua. Depende de onde você está. E
podemos também, e principalmente, dar as costas ao palavrório raso e recorrer
aos grandes ensinamentos que estão disponíveis desde Tales de Mileto.
Texto e imagens reproduzidos do site: revistaideias.com.br
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