Tabata Amaral: A dona do sonho gigante para mudar a educação
no Brasil
"No Brasil o tamanho do seu sonho e até onde você pode
chegar tem cor, gênero e CEP", disse, em entrevista ao HuffPost Brasil.
By Ryot Studio Brasil
Ela chega caminhando tranquila, com seus óculos de armação
grossa e um sorriso simpático no rosto. O cabelo na altura dos ombros –
"cortei esses dias", conta ela. Antes estava quase na cintura. O tom
de voz é baixo e manso. Todos devem falar que ela parece muito jovem – aposto
que não aguenta mais esse comentário – mas acena delicadamente com a cabeça
quando deixo escapar essa percepção quase como um reflexo. Comenta que, mais
tarde, vai mediar uma palestra com "mulheres mais velhas". Na semana
anterior, ela é quem estava falando para uma plateia. Acostumou-se com esse lugar
de inspiração.
Tabata Amaral, 24 anos, formou-se em Ciências Políticas e
Astrofísica em Harvard há dois anos. A jovem nascida na Vila Missionária,
periferia de São Paulo, conseguiu bolsa integral na universidade americana, uma
das mais prestigiadas do mundo – e em outras cinco nos EUA. Pode até parecer
uma história clichê da menina que foi "salva" pela educação, aquela
velha conversa de que a mudança está nos jovens e precisa começar a ser feita
em sala de aula. Mas foi o que aconteceu.
Via a ciência como uma grande oportunidade para mudar de
vida e para mudar a vida da minha família.
A ciência e os estudos foram a grande porta que ela
encontrou. "Todas as oportunidades que eu tive foram na área de matemática
e ciência. Fui para cinco olimpíadas mundiais e via a ciência como uma grande
oportunidade para mudar de vida e para mudar a vida da minha família". Filha
de um cobrador de ônibus e de uma diarista, ela conta que não conhecia nada
além de seu bairro. Até que participou de uma olimpíada brasileira de
matemática de escolas públicas e foi premiada. Ganhou uma bolsa para estudar no
Etapa.
"Foi a primeira vez que eu vi o tamanho da desigualdade
do Brasil porque eu sou de uma comunidade periférica e nunca saía, só conhecia
aquele ambiente e minha primeira sensação foi de revolta de ver que o lugar
onde você nasce importa tanto. Percebi que no Brasil o tamanho do seu sonho e
até onde você pode chegar tem cor, gênero e CEP".
Mas não se deixou tomar por essa revolta. Enfrentou
preconceito, se dedicou, estudou ainda mais.
"Lembro de um rapaz falar que
com certeza eu era um menino disfarçado de menina porque eu era boa em
ciências. Mostrei que eu podia ser boa em ciência sendo uma menina. Me agarrei
a isso, como uma pranchinha que podia me salvar. Estudava muito, acreditava que
aquilo ia transformar minha vida".
Lembro de um rapaz falar que com certeza eu era um menino
disfarçado de menina porque eu era boa em ciências. Mostrei que eu podia ser
boa em ciência sendo uma menina.
Talvez não tivesse ideia do quanto. Conseguiu uma bolsa para
estudar inglês e fazer as provas de inscrição nas faculdades americanas para
realizar seu sonho de ser astrofísica. Teve muito apoio de amigos, professores,
da família. "Muita gente me ajudou a realizar esse sonho. Fiquei sabendo
que tinha sido aceita em Harvard quatro dias antes do meu pai morrer".
Na faculdade, começou a pensar em como poderia mudar de fato
a realidade do seu País e de outros jovens. E foi quando passou a se dedicar a
outra área. "Comecei astrofísica, mas passei a me questionar se aquele
seria o melhor caminho... tinha acabado de perder meu pai para as drogas, super
jovem, e mudei para estudar política pública de educação, que é minha grande paixão".
Paixão e missão. Hoje, criou e participa de dois movimentos
sociais, o Mapa pela Educação, que tem o objetivo de levar educação de
qualidade para os jovens, e o Acredito, um movimento de renovação política.
Planeja fazer mestrado em políticas públicas e economia e sonha em mudar a
situação da educação no Brasil.
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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