Publicação compartilhada do site do jornal EL PAÍS BRASIL,
em 10 de junho de 2021
Tédio social ou por que não vamos mais com a cara de ninguém
depois da pandemia
Especialistas concordam que exista uma apatia generalizada
com a crise do coronavírus, mas insistem na importância de retomar as relações
pelo bem da nossa saúde mental
Por Silvia C. Carpallo
Já sabemos que a pandemia impactou em mais áreas da nossa
vida, além da nossa saúde. Obviamente, também o fez em nossa economia e em
nossas perspectivas de curto prazo. Mas também o fez em nossas relações
pessoais. Com amigos, parceiros ou familiares. Mas se déssemos uma olhada nas
redes sociais, poderíamos dizer que o fenômeno é um pouco maior, algo mais
generalizado. Existe um tédio social. Algo como se depois da pandemia fôssemos
um pouco menos com a cara de todo mundo do que antes. Como se estivéssemos
decepcionados com a sociedade.
“As consequências sociais da pandemia foram variadas, marcadas pela ambivalência entre o positivo e o negativo”, explica Juan Antonio Roche Cárcel, presidente do Comitê de Sociologia das Emoções da Federação Espanhola de Sociologia (FES). O sociólogo, que publicou vários estudos sobre as consequências sociais do coronavírus, insiste que houve uma “tensão entre as forças individualizantes e comunitárias”. Em outras palavras, “existem aspectos de maior egoísmo individual e aspectos de maior sentido comunitário”. Mas parece que, no final das contas, alguns nos impactaram mais do que outros.
Os confrontos não aconteceram apenas nas varandas dos bares ou nas reuniões familiares. Tampouco apenas nos grupos de WhatsApp. Toda a sociedade parece ter se polarizado na hora de opinar sobre novos assuntos, como o uso correto ou não das máscaras ou a aplicação das vacinas. Cada um com seus argumentos. “Houve uma polarização do político que também afeta a esfera privada”, insiste Juan Antonio Roche Cárcel. Pois o debate de nossos políticos passou das discussões nos meios de comunicação às nossas videoconferências. Mas principalmente às nossas discussões no Twitter, com muitos desconhecidos. “As redes sociais serviram, por um lado, para conectar famílias ou amigos, mas também para gerar fake news, uma exacerbação das emoções, uma intensificação dos ódios, o desrespeito pelo diferente. Esta situação gerou medo e solidariedade, que são duas das grandes respostas sociais que estiveram presentes nestes meses”, insiste o sociólogo.
Tudo isso impactou também nos meios de comunicação. No início da pandemia, nos aferrávamos às imagens dos aplausos para os profissionais da saúde, das comunidades de moradores fazendo compras para os idosos ou dos restaurantes distribuindo refeições gratuitas aos mais necessitados. A estas alturas, as imagens predominantes da pandemia são as de festas ilegais, as frases com desculpas impossíveis para desrespeitar as restrições ou as pessoas que chegaram a enfrentar até mesmo a polícia. Ambas as realidades representam apenas grupos de pessoas e nem sempre as maiorias. No entanto, onde o foco da atenção é colocado, marca a nossa forma de entender a sociedade em seu conjunto.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário