Publicado originalmente no site HuffPost Brasil, em 14 de
dezembro de 2019
'História de um Casamento' é a crônica de um amor infinito
enquanto durou
Filme de Noah Baumbach mostra que, por mais dolorido que
seja, o fim de um relacionamento não significa o fim do amor.
Por Rafael Argemon (Redator Sênior HuffPost Brasil)
Logo nos primeiros minutos de História de um Casamento -
produção da Netflix que desponta como um dos fortes concorrentes ao Oscar 2020
- percebe-se que o filme de Noah Baumbach deveria, na verdade, se chamar
História de um Divórcio.
Seu título, mesmo que à princípio dúbio, já dá uma dica do
que vem pela frente, pois faz uma clara alusão a um dos maiores clássicos sobre
o fim de um relacionamento: Cenas de um Casamento (1974), do sueco Ingmar
Bergman, um dos ídolos de Baumbach.
No entanto, ao contrário da obra em que se inspira, História
de um Casamento tem um tom mais sereno, por mais que mostre que um processo de
divórcio sempre traz consigo o conflito.
Esse clima mais light fica evidenciado de cara, com os
monólogos elogiosos de Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson)
sobre as qualidades de seu cônjuge. Mas que terminam sendo apenas um exercício
diante de um terapeuta de casais.
O tom agridoce da deteriorização do relacionamento do casal
de protagonistas vai ficando mais ácido a partir do momento em que Nicole
resolve buscar ajuda de uma advogada, a tarimbada Nora Fanshaw (Laura Dern). E
é aí que o filme encontra alguns obstáculos.
Por mais que pareça estar se esforçando para não tomar muito
partido por um dos espectros do casal, fica evidente em muitas cenas que
Baumbach pende para o lado de Charlie. Algo compreensivo, já que a trama contém
fortes doses biográficas, pois é baseada no fim de seu casamento com a atriz
Jennifer Jason Leigh. Ou seja, temos mais uma vez o homem como “vítima”.
“Nós aceitamos um pai imperfeito. O conceito de bom pai foi
inventado há 30 anos. Antes disso, esperava-se que fossem calados, ausentes,
irresponsáveis e egoístas. Nós os amamos por seus defeitos. Mas as pessoas não
aceitam os defeitos de uma mãe. Você precisa ser perfeita. Charlie pode ser um
fodido, não importa. Você sempre será julgada um nível acima”, diz Nora a
Nicole. Precisa dizer mais alguma coisa?
É claro que Charlie também tem revelada sua parcela de
defeitos. Entre eles, um “justificável” caso de infidelidade bem típico de uma
visão masculina da realidade. Mas essas distorções aparecem mais quando o
processo entra na fase legal. E, claro, onde há advogados, há sangue.
No auge dessa batalha surge a grande cena do filme. Uma
conversa entre Nicole e Charlie que descamba para uma discussão acalorada, se
transforma em ódio e rancor e termina em decepção e tristeza. Uma cena que por
si só já renderia prêmios a Johansson e Driver.
No final, o amor, como quase sempre, vence, mas as pessoas
não precisam mais estar juntas para amar umas às outras, e é aí que História de
um Casamento acerta em cheio o coração do público, com uma conclusão que deixa
um nó na garganta e a inexorável constatação de que o amor não é imortal, mas
infinito enquanto dura.
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com

Nenhum comentário:
Postar um comentário