sábado, 14 de setembro de 2019

Valentina Sampaio, 1ª modelo trans da Victoria's Secret...

Valentina Sampaio durante desfile da L'Oreal, na Semana de Moda de Paris, em 2018
PASCAL LE SEGRETAIN VIA GETTY IMAGES

Valentina Sampaio, 1ª modelo trans da Victoria's Secret: 'Este é apenas o começo'

Modelo cearence de 21 anos foi pioneira ao estrelar uma capa da Vogue Paris, a representar a L’Oréal e, agora, a Victoria's Secret.

By Andréa Martinelli

“Imagine um mundo em que não seja novidade uma modelo transgênero ser garota propaganda ou desfilar por alguma marca. Isso não seria incrível?”, questiona a modelo brasileira Valentina Sampaio, de 21 anos, em entrevista por e-mail ao HuffPost Brasil. “Significaria que é algo normal e que está acontecendo o tempo todo”, continua. Ela, que é natural de Aquiráz, em Fortaleza (CE), é a primeira mulher trans a integrar o time de modelos da Victoria’s Secret ― ela está no novo catálogo da linha “Pink” da grife.

Quando foi anunciada pela marca no início de agosto, ela comemorou e disse ser “um sonho realizado e que representa muito” em suas redes sociais. Afinal, ícones da moda como Gisele Bündchen e Tyra Banks já estiveram neste mesmo lugar. Em seguida, celebridades, fãs e outras modelos comemoraram junto com ela a notícia. “Uau, finalmente!”, escreveu a atriz trans Laverne Cox; “só as brasileiras para fazer essa marca renascer”, escreveu de seus seguidores.

“Eu sinto muito orgulho por estas realizações, mas este é apenas o começo”, pontua, segura de que sua carreira ainda alcançará outras metas. “Tenho muito orgulho de representar uma mudança positiva na indústria da moda. É importante usar minha voz e visibilidade para tentar mudar o status quo não apenas na indústria da moda, mas também na sociedade.”

Valentina, em catálogo para a linha "Pink", da Victoria's Secret 
linha traz peças para a prática de esportes e também de conforto. 
DIVULGAÇÃO/VICTORIA'S SECRET

Sampaio estreou nas passarelas em 2014, no Dragão Fashion Brasil, evento de moda tradicional do Ceará ― e desde então sua carreira deslanchou. A modelo chamou da imprensa internacional atenção quando se tornou a primeira transexual a ser garota-propaganda da marca L’Oréal Paris, em 2016. Neste mesmo ano, ela estreou na São Paulo Fashion Week (SPFW). Em 2017, foi novamente pioneira ao ser a primeira modelo trans na capa da Vogue Paris.

Na época em que foi capa da Vogue francesa, Valentina disse à revista que o convite foi uma “felicidade gigantesca” e que a ascensão de sua carreira aconteceu de modo “muito rápido” e surpreendente. Quando foi convocada para ser garota-propaganda da L’Oréal, ela tinha apenas 18 anos. Hoje, três anos depois, a modelo reconhece que suas conquistas não são individuais e que sua presença reflete mudanças que vêm acontecendo de forma paulatina.

“Eu obviamente estou muito feliz com as mudanças na indústria. E não apenas para a comunidade trans. É inspirador ver muitas minorias representadas, seja pelo gênero, biotipo ou etnia. Todos precisam ser representados na moda e na sociedade. Me sinto orgulhosa e inspirada por fazer parte dessa evolução e planejo usar minha voz para continuar a ultrapassar limites.”

Valentina Sampaio desfila para a coleção de primavera/verão 
da espanhola The 2nd Skin Co's no Mercedes Benz 
Fashion Week em Madri, em julho de 2019. 
GABRIEL BOUYS VIA GETTY IMAGES 

Limites estes que, diante de um cenário social, se tornam cada vez maiores. O Brasil é o País que mais mata pessoas trans no mundo, segundo a ONG Transgender Europe. De acordo com levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em conjunto com o Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), 163 pessoas trans foram assassinadas no País em 2018.

Dados como estes e crescer em uma comunidade ribeirinha na região metropolitana de Fortaleza (Ceará), não fizeram o sonho da modelo ser menor. Trabalhar com a Victoria’s Secret era um objetivo de Valentina. E não foi fácil chegar até lá. Ela conta que, para fazer parte do catálogo da marca, passou por uma série de testes ― parte deles online. Primeiro, um casting virtual. Depois, uma entrevista formal por Skype para, enfim, chegar até o resultado positivo.

As imagens para o catálogo da linha “Pink” que Valentina participa foram feitas em junho deste ano, em Nova York, nos EUA. Ela foi fotografada por Sebastian Kim. Até o momento, a marca não divulgou o catálogo completo da linha.

Teddy Quinlivan foi o nome escolhido para integrar o time 
de modelos da Chanel. Na foto acima, ela desfila durante 
a Semana de Moda de Milão, em 2018. 
ESTROP VIA GETTY IMAGES

Para a modelo, mesmo diante do cenário de preconceito e invisibilidade a que a comunidade trans ainda é submetida, ganhar reconhecimento e firmar uma carreira desde tão nova em um ambiente que só há poucos anos de propôs quebrar com uma lógica que apenas reproduzia estereótipos ― é algo que gera resultados positivos para todos. Em especial, para as mulheres trans.

“Ainda há um longo caminho a percorrer”, aponta Valentina. “Mas acredito que estamos dando alguns passos rumo à representatividade e inclusão, e isto deve continuar acontecendo, em todas as esferas”, conclui.

Tanto que, depois da Victoria’s Secret anunciar que Valentina era uma das novas caras da marca, foi a vez da tradicional Chanel assinar seu primeiro contrato com uma modelo trans. Teddy Quinlivan foi o nome escolhido.

Um anúncio significativo em meio a polêmicas

O anúncio de Valentina como primeira mulher trans a estampar uma campanha da marca vem em meio à polêmicas. Tanto a grife quanto seu evento anual, o Victoria’s Secret Show, enfrentam críticas pela falta de diversidade e por não acompanhar tendências contemporâneas da indústria da moda.

Ano passado, ao negar que contrataria modelos trans e plus size para o desfile, Ed Razek, chefe de marketing da empresa, causou revolta e levou a modelo trans norte-americana Nikita Dragun, a fazer um protesto silencioso. Ela fez seu próprio ensaio como “angel” e divulgou em suas redes sociais.


Em meio a polêmicas, o desfile talvez não aconteça neste ano. Foi o que a modelo Shanina Shaik, que já desfilou cinco vezes para marca, disse recentemente ao jornal australiano The Daily Telegraph.

A grife não confirmou a informação, mas já havia divulgado que, neste ano, o desfile das “angels” não será televisionado pela primeira vez em 20 anos. Modelos brasileiras como Gisele Bündchen, Adriana Lima e Alessandra Ambrósio já fizeram parte do time de estrelas da marca.

Texto e imagens reproduzidos do site: huffpostbrasil.com

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