O escritor Mark Manson estará na Arena#SemFiltro da Bienal
do Rio,
às 13h do próximo domingo (1). (Foto: Nick Onken)
Publicado originalmente no site G1 Globo, em 29/08/2019
Maioria da humanidade é medíocre em quase tudo, diz Mark
Manson, autor de 'F*deu Geral'
Escritor do best-seller 'A sutil arte de ligar f*da-se' é um
dos principais convidados da Bienal do Rio 2019. Ao G1, ele fala do sucesso de
seus livros e de problemas da auto-ajuda.
Por Carlos Brito, G1 Rio
Você não é especial. Mesmo quando desejar do fundo do
coração, o universo não irá conspirar a seu favor. Nem todos os seus sonhos –
na verdade, poucos deles – irão se transformar em realidade. Boa parte das
coisas que você quer jamais vai chegar às suas mãos.
As palavras do escritor Mark Manson podem soar duras. Mas o
objetivo, ele garante, é nobre. O autor do best-seller "A sutil arte de
ligar o f*da-se" e de "F*deu geral" é um dos principais
convidados da Bienal do Rio 2019, que acontece a partir de sexta-feira (30).
Por que 'A sutil arte de ligar o foda-se' é o livro mais
vendido no Brasil?
"Poucas coisas são tão efetivas em garantir a
infelicidade quanto a busca pela felicidade. As pessoas tendem a acreditar que
a felicidade é uma espécie de sistema matemático ou equação - uma vez
solucionados, teremos acesso a ela em caráter permanente", diz Manson, em
entrevista por telefone ao G1, direto de Nova York.
"Ou que ela está escondida em algum lugar ou mesmo que
pode ser acessada por meio das lições de algum guru ou crença. Isso leva a
pensamentos perigosos do tipo: 'Comprei um apartamento, agora vou ficar
feliz'... E é isso que considero negativo com boa parte do que se convencionou
chamar de 'auto-ajuda'. Muito dela promete oferecer 'o segredo para alcançar a
felicidade'."
No trabalho de Manson, não há espaço para pensamento mágico,
palavras de incentivo transformadoras e nem para o que, nos últimos tempos,
alguns sites e perfis passaram a chamar de "positividade tóxica".
Existe uma necessidade constante de estar bem, feliz e ser bem-sucedido o tempo
todo.
Manson acredita que felicidade e dificuldades formam um
casamento indissolúvel:
"A felicidade real está na nossa capacidade de resolver
problemas – sabendo que, logo em seguida, outro problema surgirá. Problemas são
um fator permanente na vida de todas as pessoas. Milionários têm problemas, da
mesma forma como mendigos."
"todos têm problemas, eles apenas são diferentes para
cada pessoa. A felicidade é um exercício constante de solução de problemas, um chamado
à ação. É fácil negar a existência de problemas ou se vitimizar culpando os
outros por eles. É uma abordagem mais fácil e funciona em um primeiro momento,
mas a felicidade só se aproxima de quem decide resolvê-los".
Escolher as batalhas
O escritor toca em outro ponto importante das ideias que
defende: todas as pessoas deveriam aprender a resolver seus problemas e, ainda
mais importante, escolher suas batalhas.
O pensamento é simples – todos querem tudo de bom que a vida
pode oferecer: saúde, sucesso, criar uma bela família, manter um relacionamento
perfeito, estar em boa forma física, ser bem-sucedido no trabalho e ter
tranquilidade financeira.
No entanto, quantos estão dispostos a encarar os sacrifícios
necessários para se alcançar tudo isso?Para exemplificar essa questão, Manson
relembra um período da própria vida, também abordado no livro.
Na adolescência, ele queria ser um astro do rock - sentia-se
extasiado com bandas como Metallica e Megadeth. Com frequência, fantasiava
estar sobre um palco, com uma guitarra nas mãos em um estádio lotado.
"Pois é. Só que isso jamais aconteceu. Sabe por quê?
Porque eu nunca aprendi a tocar guitarra, nem tive a disciplina necessária para
praticar o instrumento, nunca montei uma banda, nunca me dispus a carregar
amplificadores e a me apresentar de graça em bares vazios durante a
madrugada."
"Eu jamais me motivei a percorrer o caminho longo e
sacrificado que todos os grupos que eu sempre amei tiveram que trilhar para
chegar ao sucesso. Eu estava apaixonado pelo resultado, mas não pelo processo
que levava até ele. O resultado não poderia ser outro: não me tornei um artista
de sucesso. Ou seja, no fundo essa era uma batalha que eu não escolhi - e
demorei muitos anos para admitir para mim mesmo que eu não queria aquilo de
verdade".
Ele conta que esse tipo de postura é muito comum e pode ser
vista em todas as áreas. Segundo ele, existem pessoas que querem ter corpos
incríveis, mas poucas estão dispostas a se dedicarem nas academias e controlar
a alimentação. "Muita gente quer empreender, mas a maioria não suporta ter
que lidar com os problemas diários que envolvem a administração de uma empresa.
Mais uma vez – é a paixão pelo resultado e não pelo processo."
"Chega a ser desumano, não? Cria-se uma pressão absurda
sobre as pessoas para que sejam felizes, brilhantes e especiais o tempo todo. A
verdade é a seguinte: a maioria absoluta da humanidade é, no máximo, medíocre
em quase tudo."
O problema, segundo o escritor, é que a sociedade criou uma
espécie de "tirania do excepcional": "Somos bombardeados por
notícias e imagens de gente que representa o extremo: temos a impressão de
estarmos o tempo todo cercados por pessoas super saudáveis, profissionais que
sempre acertam e sabem o que é melhor no trabalho, indivíduos que são muito
engraçados ou sedutores e irresistíveis."
"Ao se libertar deste fardo, de ser incrível e
brilhante em tudo e o tempo todo, você começa a dar atenção para as coisas que
são, de fato, importantes. Você vai se concentrar naquilo que faz bem, no
trabalho que desempenha com habilidade, nos tempo que passa com seus amigos e
família, no prazer de ler um bom livro. Nas práticas consideradas comuns – e
elas são mesmo comuns por um motivo: elas importam de verdade".
De onde veio esse título?
Capa do livro 'A sutil arte de ligar o f*da-se'
Foto:
Divulgação/Intrínseca
Pensado para se contrapor ao tipo de auto-ajuda que promete
milagres e conquistas infinitas para os leitores, "A sutil arte de ligar o
f*da-se" já nasceu com esse título como uma forma de provocação ao leitor.
Era importante deixar claro que não se tratava de mais um
livro de auto-ajuda. Segundo Manson, ao ver a obra sobre as prateleiras das
livrarias, muita gente olhava para o livro com desconfiança e atém mesmo
desdém.
Pensando no assunto, e já com mais de 1 milhão de cópias
vendidas apenas no Brasil, o autor acredita que isso deve muito a uma percepção
equivocada daqueles que viram a frase estampada na capa, mas não se deram ao
trabalho de conhecer o conteúdo.
"'A sutil arte de ligar o f*da-se' ao qual o título se
refere é, na verdade, uma série de pensamentos sobre como fazer o leitor se
livrar do que não interessa, todo esse peso de julgamentos e expectativas
alheias e dele próprio, fazendo-o aceitar seus defeitos e limitações para, a
partir daí, se concentrar no que importa de verdade. Se quem ler o livro
entender esse conceito fundamental, já estarei satisfeito".
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com
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