Publicado originalmente no site UPPERMAG, em 12 de janeiro de 2017
A história da cerveja: O papel da cerveja na história
De Alexandre Abrahao
> A origem da Cerveja: Como surgiu, quando foi descoberta
> Civilizações antigas e o pão-liquido
> Roma, Grécia e breja
> Lúpulo e a reinvenção da fabricação de cerveja: A ciência e
as Lagers.
> A história nas principais escolas cervejeiras! República
Tcheca, Alemanha, Inglaterra e Holanda.
> A cerveja nos Estados Unidos
>A história da cerveja no Brasil
A origem da Cerveja
Como surgiu a cerveja? Quando a cerveja foi descoberta?
Civilizações antigas e o pão líquido
A história do liquido sagrado é extremamente vasta, rica e
fascinante. Seu início se deu por volta de 10.000 AC – logo após a última era
glacial. O povo neolítico, que vivia na região hoje chamada Curdistão,
localizado na Mesopotâmia, começou a usar a terra para o plantio para a
agricultura (inclusive de cevada e trigo), havendo todos os ingredientes
necessários para a produção de massa de pão e cerveja!
Daí é incerto o modo que foi descoberto pelos neolíticos o
processo químico que dá origem a cerveja – pela conversão de amido para açúcar
com o grão molhado. Provavelmente alguém esqueceu amido junto a água por alguns
dias e resolveu provar da mistura algum tempo depois, tendo a sensação de
EUREKA! Ocorreu o descobrimento da cerveja.
A primeira cerveja, ou ao menos as primeiras imagens e
figurações da bebida como elemento ativo na sociedade surgiu por volta de 3.000
AC na região da Suméria – pelas imagens deixadas pela população, a cerveja,
chamada kas, ou “o que a boca deseja”. A época já começaram a surgir variedades,
devido a abundância e variedade de cevada do povo, que permitia a produção de
cervejas vermelha, marrom e preta, algumas mais fortes outras mais fracas, e
até mesmo cervejas diet. O curioso é que os responsáveis pela fabricação e
venda de cerveja eram mulheres – e até mesmo o deus da cerveja, Ninkasi, era
mulher.
O costume foi passado para outros povos da época que viviam
em regiões próximos, como o povo da Mesopotâmia e Egito. Neste, haviam diversos
pontos de encontro e fabricação de cerveja de grande porte, e por vezes
próximos a templos. Há inclusive uma lenda do Egito Antigo em que Sekhmet, uma
mulher com cabeça de leão, e deusa da destruição e do sangue, filha de Ra,
grande deus egípcio, o qual via a decadência da humanidade pela falta de fé e
reza pelos deuses, e então envia Sekhmet para ensinar uma lição à humanidade.
Ela começa então a matar a população, e se continuasse poderia acabar com todos
os humanos; então os humanos tem uma ideia, e produzem um liquido (cerveja) de
coloração vermelha, que poderia confundir a deusa com sangue e distrai-la. Para
finalizar, foi oferecido a deusa uma raiz que lhe colocou em sono profundo. No
fim a cerveja salvou a humanidade e acalmou a deusa mais sedenta por sangue
(mais um ótimo motivo para cerveja na sexta-feira).
Roma, Grécia e breja
Existem dados e evidências da importância da bebida para o
povo da Africa, sobretudo no Sudão, e na Grécia. Durante o Império Romano, em
que o vinho predominava, o Império passou a encontrar, conforme avançava ao
norte da Europa, cada vez mais entusiastas de cerveja, em regiões em que o
cultivo de uvas para o vinho não era favorecido pelas condições climáticas. Em
Roma, a cerveja passa a ser associada com a Deusa Ceres, deusa da agricultura
(sobretudo dos grãos e arvores que brotam), sendo homenageada na ciência como
base para a denominação cientifica da levedura – Saccharomyces cerevisiae.
Já nessa época surge a distinção social entre os tomadores
de vinho – classes mais abastadas – e tomadores de cerveja – classes menos
favorecidas, estigma que ainda perdura.
Lúpulo e a reinvenção da fabricação de cerveja
A ciência e as Lagers
Mas somente em torno do ano 1.000 foi descoberto o tempero
perfeito para a cevada – o lúpulo, em uma região ao norte do que hoje se
conhece como Alemanha; o lúpulo, além de temperar e dar maior complexidade e
variedade a cerveja, ainda é excelente agente bactericida – qualidade essencial
a época. Por volta de 1.500 a cerveja já havia se disseminado por Inglaterra,
Holanda e Alemanha.
Houve então um fato histórico-econômico que deu um grande
boom para a cerveja, mudando seu valor social – a Revolução Industrial. A época
a Inglaterra estava em grandes e constantes mudanças, com a recepção de
matéria-prima até então inacessível para a produção do líquido. A época um
malte de cevada escuro estava sendo produzido em abundância no país, se
tornando o malte padrão dos ingleses, malte este que se tornaria base para o
estilo Porter, malte este que pode ser submetido a grande variedade de
temperaturas e potências, dando origem a cervejas de alto teor alcoólico e
bastante fortes e propicias para guarda.
Mas foi somente a partir do século XVIII, com a invenção e
desenvolvimento de equipamentos industriais, que o processo de fabricação de
cerveja ganhou escala industrial. Equipamentos como o termômetro, hidrômetro,
refrigeração, fermento e o processo de fermentação, propiciaram um gigantesco
desenvolvimento para o “pão-liquido”
A invenção desses equipamentos propiciou o surgimento de um
estilo de cerveja completamente novo, que séculos depois passou a dominar
amplamente o mercado cervejeiro – as LAGERS, cervejas fermentadas a baixa
temperadura. Diz a lenda que alguns monges da região da Bavaria na Alemanha
começaram a produzir cervejas em frias cavernas no país, apesar de haver poucas
provas em concreto do acontecimento.
Desenvolvimentos e conhecimento em ciências paralelas, como
o progresso na microbiologia por Pasteur, e trabalhos com fermentos, deram o
último empurrão para o fortalecimento das Lagers.
A história nas principais escolas cervejeiras!
República Tcheca, Alemanha, Inglaterra e Holanda
Eis que, em 1842, a República Tcheca deu sua grande
contribuição para o universo! Na cidade de Plzen foi desenvolvido o estilo
batizado com o nome da cidade – Pilsen. No local houve a combinação perfeita de
timing, ingredientes, temperatura e tecnologia, com a Pilsen surgindo como
evidência, e com o desenvolvimento de grande fábrica na cidade.
Paralelamente, a Bavaria se tornou parte da Alemanha em
1871, trazendo consigo a lei de pureza alemã – Reinheitsgebot – que passou a
ser nacional 8 anos depois. Até a data a escola alemã era muito próxima a
escola belga (método Ale e mistura de diversos aditivos/temperos à formula,
como coentro, laranja e mel). Contudo, com a lei, que só permite o uso de 3
ingredientes (malte, lúpulo e água – posteriormente foi admitido as leveduras
como 4 ingrediente), a escola Alemã precisou se readaptar, e encontrou na
Republica Tcheca sua inspiração
Na Bélgica, as famosas lambics, ou cervejas fermentadas com
leveduras selvagens e normalmente com sabores de frutas, já eram conhecidas e
populares entre os camponeses no século XV e, ao contrário do que parece e é
falado, as cervejas de estilos trapistas, como as Dubbels e Tripels só passaram
a ser fabricadas e conhecidas no século XX.
A cerveja nos Estados Unidos
Para o novo mundo levou-se mais tempo para a produção e
consumo de cerveja se consolidar. As razões eram diversas – necessidade de
importação de malte, devido a sua má adaptação ao solo americano; por essa
razão, e pela facilidade na produção de destilados, a cerveja passou séculos em
segundo plano para os americanos (o consumo de destilados baratos, como rum e
whisky era 10 vezes superior ao de cerveja em 1800!). O curioso é que diversas
personalidades e políticos americanos já apostavam e tinham gosto pela cerveja,
como George Washington e Tomas Jefferson (inspirações de Obama, que produz três
tipos de cerveja artesanalmente na casa branca!). Somente com o avanço da
imigração nos Estados Unidos de Europeus (sobretudo holandeses que foram para a
Nova Amsterdam – New York) já acostumados e demandando pelo liquido sagrado,
que a fabricação de cerveja no país teve um boom. Mas o mercado logo foi
interrompido pela lei seca americana, falindo e fechando os cerca de 1300
estabelecimentos de fabricação de cerveja a época.
No momento pós proibição, ocorreu inicialmente o
fortalecimento de cervejas do estilo Lite, com menor valor alcoólico e mais
adequada e fácil de se tomar no dia a dia e, posteriormente, o forte incentivo
e desenvolvimento de micro cervejarias, sobretudo de cervejeiros dispostos a
arriscar e inovar fortemente na fabricação de cervejas, criando estilos e
cervejas inéditos e inusitados.
A história da cerveja no Brasil
A cerveja é uma bebida muito consumida e presente no social
do brasileiro, havendo relatos datados do século XVII. Ocorre que, tal qual nos
Estados Unidos, tomou tempo para a bebida fermentada superar o consumo de
destilados baratos e populares nacionais, como a cachaça.
O cenário começou a se alterar em torno de 1840, época da
abertura dos portos para produtos estrangeiros e da primeira fábrica de cerveja
brasileira – Ritter de Nova Petrópolis/RS. Em 1882 ocorreu a abertura da
cervejaria que hoje é a maior do mundo, e de imensa relevância nacional –
Cervejaria Antarctica – a primeira cerveja com maior enfoque no Branding e consolidação
de marca.
Na mesma década, em 1888, um suíço amante de cervejas, de
nome Joseph Villiger, cansado de cervejas de qualidade inferior produzidas no
Brasil, deu origem a Brahma, que surgiu para rivalizar com a Antarctica.
A época foi de grande desenvolvimento e consolidação de
marcas e fabricas no Brasil; marcas como a Brahma já haviam registrado ao menos
10 marcas e cervejas. Para se ter ideia do potencial do mercado, somente no Rio
Grande do Sul haviam 130 cervejarias a data!
A rivalidade entre Brahma e Antarctica foi muito acirrada
durante todo o século seguinte, com a consolidação das marcas e a aquisição de
marcas menores e regionais por cada uma.
Mas em 1999 o universo cervejeiro recebeu notícia que
alterou completamente seu mapa – a criação da AMBEV, maior grupo cervejeiro do
mundo, através da união entre Antarctica e Brahma. Em 2004 outra surpresa, a
união entre AMBEV e Interbrew, histórica empresa de bebidas belga, responsável
por marcas como Stella Artois, Leffe e Becks, dando origem à INBEV.
Em 2006 a INBEV investiu forte no mercado chinês, maior
mercado consumidor mundial de cerveja, adquirindo a Fujian Sedrin, terceira
maior fabricante chinesa à época.
Eis que em 2008 a empresa dá sua última grande
cartada – a união com a Anheuser-Busch, maior fabricante americana de cerveja,
dona de marcas como Budweiser. E se consolida de vez como a gigante cervejeira
do mundo, com share global da bebida em 25%.
Texto e imagens reproduzidos do site: uppermag.com
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