Crédito: Cesar Itiberê/Fotos Públicas
Publicado originalmente no site da revista ISTOÉ, em 11/12/18
‘Se fosse perfeito, não estaria nesta missão na Terra’,
afirma João de Deus
Estadão Conteúdo
A pequena Abadiânia, em Goiás, já recebeu ex-presidentes da
República brasileiros e estrangeiros – Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez e
Bill Clinton – e virou cenário para programa em horário nobre da TV americana.
O foco é a Casa Dom Inácio de Loyola, autodenominada “hospital espiritual”. Ou
melhor, a casa de João Teixeira de Faria, ou “John of God”, desde 1976.
Como relata a professora de História da Universidade de São
Paulo (USP) Maria Helena Machado, na biografia mais conhecida de João de Deus,
ele integra uma linha de médiuns que a partir dos anos 1950 aliaram as
tradicionais recomendações de ervas a cirurgias espirituais. O mais notável
seria José Arigó, mineiro que ficou conhecido por incorporar o Dr. Fritz e
curar doentes nos anos 1950 e 1960.
Mas ele teve a fama superada por Faria, que levou as
cirurgias com instrumentos domésticos, como facas e tesouras, e cortes e
incisões sem anestesia para TVs do mundo todo. Segundo João de Deus, os
procedimentos são realizados por entidades, sendo a mais conhecida Dom Inácio
de Loyola, santo católico do século 16.
João de Deus – que agora enfrenta dezenas de denúncias de
abuso sexual – ganhou fama mundial em 29 de março de 2012, quando a rede de
televisão Own, inaugurada um ano antes por Oprah Winfrey, levou ao ar o
programa “Next Chapter”. Ali, em um segmento chamado “Do You Believe in
Miracles?” (Você acredita em milagres?), Oprah acompanha uma das cirurgias. Mas
se sente mal e é obrigada a parar a gravação.
Depois, disse ter tido uma revelação. “Surgiram lágrimas de
gratidão. Gratidão pela jornada de toda minha vida e não apenas pelo que havia
dado certo, mas também pelo que não tinha.”
Trajetória
O médium nasceu em Cachoeira de Goiás, a cerca de 170
quilômetros de Goiânia, sendo o mais novo de seis filhos. Ele abandonou os
estudos no segundo ano do ensino fundamental, passando a trabalhar como
alfaiate e, depois, pedreiro e garimpeiro. Por isso, não sabe nem ler nem
escrever. “Passei fome e trabalhei muito para ter o que tenho”, disse o médium.
Inicialmente de formação católica, começou seus trabalhos
mediúnicos no fim da adolescência. Na sequência passou a peregrinar pelo País,
fazendo atendimentos, até aportar em Abadiânia – onde hoje nenhum serviço
comercial abre na via principal sem receber “aval” da entidade que ele recebe.
Apesar de destacar que são os espíritos que operam os
milagres que realiza, sua biografia na Casa Dom Inácio foca o João Teixeira de
Faria. “João de Deus é um homem nascido em família simples, que tem problemas
como qualquer homem comum. Tem defeitos, limitações e é capaz de errar e sofrer
como qualquer outro ser humano. Segundo o médium, se fosse perfeito, não
estaria nessa missão na Terra”, diz a biografia.
A polêmica também já é uma marca de sua biografia. Não é de
agora que seus atendimentos, sobretudo individuais, são criticados por
entidades espíritas. Em 1993, graves acusações de exercício ilegal da Medicina
tomaram forma.
Biógrafos e amigos contam que foi quando ele recebeu apoio
de um dos mais famosos ícones do espiritismo brasileiro, Chico Xavier. “Prezado
João, caro amigo, Abadiânia é o abençoado recinto de sua iluminada missão e de
sua paz”, dizia, enviando ainda uma foto em que aparecem os dois juntos, mais
jovens.
Chico, aliás, está entre as imagens distribuídas pelas
paredes da casa de Dom Inácio. Que destacam Jesus Cristo, santos e, é claro,
João de Deus. Ali se reúne a corrente, o grupo de orantes que move os atendimentos
semanais.
Indagado sobre o motivo de algumas pessoas ali obterem curas
e outras não, João de Deus limita-se a dizer que “isso depende da fé daquele
indivíduo em Deus”, que seria o real responsável.
Procurado todas as semanas por pessoas com diagnóstico de
câncer terminal – muitas que relatam melhoras em Abadiânia, após serem
desenganadas pelos médicos -, ele superou um tumor no estômago com um
tratamento médico tradicional em São Paulo. As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
Texto e imagem reproduzidos do site: istoe.com.br
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