Publicado originalmente no site do jornal Folha de S. Paulo,
em 11/12/2018
Por que acreditamos em absurdos?
Por Hélio Schwartsman
Não me surpreendem as acusações de abuso sexual contra o
médium João de Deus. Infelizmente, não é incomum que homens que interagem com
mulheres na condição de benfeitores sanitários se aproveitem de sua posição.
Outro caso célebre é o do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos de
prisão por estupros em série.
O que me parece mais difícil explicar é como uma pessoa que
proclama curar doenças graves invocando espíritos de mortos e realizar
cirurgias psíquicas encontre uma legião de clientes, incluindo gente habituada
a usar a razão profissionalmente. A lista de pacientes de João de Deus traz
presidentes, ministros do STF, além de várias celebridades nacionais e
estrangeiras.
É verdade que doenças fragilizam as pessoas, fazendo com que
se agarrem a tudo o que lhes traga esperança. Ainda assim, é preciso levar a
suspensão da descrença a extremos para achar que é possível operar alguém sem
usar anestesia nem antissépticos e obter resultados favoráveis.
A ciência até já olhou para esses fenômenos com a mente
aberta, mas décadas de investigação levaram à conclusão de que não passam de
fraudes. O próprio João de Deus teve suas supostas cirurgias analisadas pelos
céticos James Randi e Joe Nickell, que as classificaram como truques baratos.
E, se a parte verificável de seus métodos é um embuste, por que deveríamos dar
mais crédito à parte inverificável?
Um bom modelo para explicar por que as pessoas acreditam em
coisas improváveis é o proposto pelo psicólogo Michael Shermer. Para ele, o
cérebro é uma máquina de gerar crenças e, uma vez que elas estão estabelecidas
(quase sempre por motivações emocionais), nossa tendência é procurar as
evidências que as confirmam e descartar as que as desmentem.
“Pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas porque
têm capacidade para defender crenças às quais chegaram por razão não
inteligentes”, sentencia Shermer.
Famosos e João de
Deus
Texto e imagens reproduzidos do site: outline.com
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