Mulher trans Pamela Belli posa nua para ensaio e diz:
“Ser mulher é mais que genital” (+18)
Por Neto Lucon
“Não nasci no corpo errado, nasci na sociedade errada”, diz
o cartaz que a cam girl Pamela Belli, uma mulher trans carioca de 22 anos,
segurou para uma sessão de fotos. Ela combatia as pressões sociais para se
encaixar num modelo e provar o que sempre foi. Uma mulher.
Corpo tá certíssimo!
Sim, uma mulher, independente do corpo ou do fato de ter um
pênis ou uma vagina. Ou de ter nascido com um pênis ou uma vagina. Mensagens
que passou por meio de um ensaio para o fotógrafo Marco Perna. Em fotos
realizadas ao ar livre e também em estúdio.
“Quis mostrar que mulher trans são mulheres sim,
independente da cirurgia ou não. Muitas sofrem e não se aceitam porque os
outros não a aceitam. Mas não há nada de errado conosco”, diz.
Pamela admite que durante muito tempo também cogitou passar
pela cirurgia de readequação genital, mas percebeu que era mais uma tentativa
de ser aceita. “Quando falamos que somos mulheres trans, a primeira pergunta
que fazem é ‘mas você é operada, né?’, ‘nossa, você é linda, tem que tirar isso
para virar uma mulher perfeita’. E não é bem assim. Isso é algo pessoal, não
imposto”.
Para ela, ser mulher está na forma como se vê, se reconhece
e se identifica – e também descobriu que é estar na luta diária contra o
machismo e a misoginia. “Sinto-me completa hoje em dia e sinto que posso
empoderar outras meninas que rejeitam seu pênis por pressão da sociedade, que
dizem que para ser mulher tem que ser operada”, afirma. “Ser mulher é muito
mais que genital”.
NÃO COLOQUE ROUPA DE MULHER
Pamela é aquela garota que pode estudar ao seu lado, ser sua
amiga e ser homenageada no Dia Internacional das Mulheres. Mas que descobriu
desde cedo que a sociedade cisnormativa não aprovaria sua identidade de gênero
e que seria alvo de um preconceito pouco abordado pela mídia, mas muito
presente no cotidiano: a transfobia.
“Podem falar o que quiser. Só não garanto abaixar a cabeça”
A começar dentro de casa. “Minha mãe disse: ‘Pode ser o que
quiser, mas não coloque roupa de mulher’”. Ela já era uma e aos 14 anos
enfrentou a família e teve que sair de casa. Ser excluída da família foi o pior
preconceito que poderia sofrer e, então, estava preparada para tudo.
“Cai para pista e aprendi que aquela foi a transfobia que
mais me doeu e o que viesse depois eu levaria de boa. Não me matando e não me
levando presa por ser quem eu sou, podem falar o que quiser. Só não garanto
abaixar minha cabeça por isso”.
Ela não só vestiu “roupa de mulher”, como começou a fazer o
tratamento hormonal, que lhe deram o belo par de seios. “Muitos comentam pelo
fato de ser ‘naturais’”. “Tenho silicone no bumbum, coloquei muito nova, hoje
em dia não colocaria”, pontua.
Nas ruas, aprendeu de tudo, as coisas certas e erradas.
Rodou de casa em casa – inclusive de cafetinas que aceitavam menores. E sempre
procurou ser uma pessoa traquila para se livrar de problemas e confusões.
NÃO ABAIXO A CABEÇA PARA HOMEM
“Quando conheci meu ex, com 17 anos, pude sair um pouco das
ruas e continuar meus estudos me afastando das ruas”, afirma.
“Não estou para aturar certas coisas de homem nenhum”
Hoje, se diz “encalhada”, muito por não abaixar a cabeça
para homem. Sobretudo os ciumentos e que acham que a mulher é mais uma posse
dele.
“Meu último relacionamento foi com um homem trans machista,
que queria me controlar. Chegou até a jogar bebida em uma balada com ciúmes.
Não estou para aturar certas coisas de homem nenhum, sendo cis ou trans”.
MULHERES TRANS NO PODER
Quando era mais nova, Pamela era encantada por Patricia
Araújo, travesti que faz participações especiais e que chegou a desfilar no
Fashion Rio e a estrelar a novela Salve Jorge, da TV Globo. Era a sua musa de beleza.
Hoje, ela se inspira em mulheres trans da moda, como Lea T,
Carol Marra e Valentijn de Hinh. E também nas manas do funk, como MC Xuxu e
Mulher Pepita. “Você já foi no show dessa mulher? Xuxu manda muito bem nas
letras”.
“Quando crescer quero ser igual a elas. Representatividade
total”, continua a carioca, bastante empolgada.
Pamela afirma que embora se identifique como mulher trans,
não se incomoda de ser tratada ou falar que é travesti para levantar bandeira.
“Somos todas mulheres, né? E queremos ser tratadas dentro do gênero feminino”.
Hoje, ela mora no Rio de Janeiro, trabalha como modelo
fotográfica (e nossa página é a primeira traz nudez frontal, sim, entrou para a
história do NLUCON) e em sites de strip tease virtual.
“O meu sonho é ter uma vida estável, tranquila, e que eu
passe das estatísticas de vida de mulheres trans no Brasil, que é de 35 anos.
Isso me assusta muito”, finaliza ela, lembrando que o Brasil é o país que mais
mata travestis e mulheres e homens trans no mundo.
Que você tenha muito sucesso, motivos para sorrir, histórias
de conquistas, anos de vida. E que continue sendo essa mulher incrível e cheia
de garra, levando a sua mensagem de empoderamento e representatividade para
mais mulheres.
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