Publicado originalmente no site Brasil El País, em 17 de março de 2016
A funerária que vela os mortos como se estivessem vivos
Mortos boxeando ou em cima da moto. As fotos de uma
funerária de Porto Rico viajam o mundo
Por María Sánchez Sánchez
“Os clientes nos pediram e tivemos de ser criativos”, afirma
Damaris Marín, presidenta de um serviço funerário de Porto Rico especializada
em um tipo de velório que mostra os mortos em poses que representam o que mais
gostavam na vida. Embora venham fazendo isso desde 2009, as imagens de seu
velório dão periodicamente a volta ao mundo, por isso quisemos remover as
dúvidas do que bem poderia ser um capítulo da série Six Feet Under.
Do outro lado do telefone, em San Juan, Porto Rico, responde
a gerente da Funerária Marín, um negócio familiar que emprega sete pessoas, e
que esta semana voltou a ficar entre os tópicos em destaque nas sociais e nas
manchetes da imprensa internacional. O motivo: Fernando de Jesús Díaz Beato, um
rapaz de 26 anos que, no momento da despedida, a família pediu que fosse
colocado sentado em uma cadeira com as pernas cruzadas, um cigarro na mão e os
olhos abertos sob óculos. Um detalhe, o dos olhos, que chamou especialmente a
atenção. “A ideia dos olhos abertos”, explica Damaris a Verne, “foi fruto da
criatividade de minha irmã, que considerou que ficava muito bem com o que a
família queria expressar. Quando viram tornar-se realidade, adoraram”. Segundo
Damaris, é o primeiro morto a ser velado com essa expressão: “Somos pioneiros,
mas nossa única intenção é agradar ao cliente. Começamos a fazer somente por
isso, e assim continuamos.”
Tudo começou há oito anos, quando Pedrito Pantojas, um
garoto do bairro, expressou a vontade de ser embalsamado de um modo não
tradicional. “Vivia perto da primeira de nossas funerárias”, lembra Damaris, “e
tínhamos muito contato com ele. Sempre nos dizia que quando morresse gostaria
de ser embalsamado de pé. A princípio pensamos que fosse uma piada e ríamos,
não lhe dávamos importância. Mas, quando morreu, sua mãe veio nos ver e disse
que essa era a vontade dele, sempre a havia expressado, e ela queria que a
tornássemos realidade”.
O trabalho mais complexo para a Funerária Marín: David
Morales,
em sua Honda 600. (VANESSA SERRA EFE)
Depois desse primeiro encargo chegaram outros, como o de
Jomar Aguayo, um rapaz de 23 anos que em 2009 foi velado no bar de sua mãe
jogando dominó; o de Christopher Rivera, um ex-boxeador cuja despedida foi em
cima de um ringue, ou o de David Moraes, um amante de motores, velado sobre sua
Honda. “Depois outras funerárias de Porto Rico começaram a imitar-nos”, recorda
Damaris, “e me consta que também se exportou a outros países”. Um exemplo foi
uma senhora de Nova Orleans que descansava no salão de sua casa tomando um copo
de vinho. A Funerária Martín reconhece que, apesar da notoriedade internacional
dos velórios não tradicionais, eles ainda representam um percentual muito
pequeno de seus serviços e é preciso levar em conta que não estão isentos de
polêmica.
Em 2010, a Junta de Examinadores de Embalsamadores de Porto
Rico fez uma denúncia contra a funerária e foi aberta uma investigação para
determinar se descumpria o regulamento, mas, segundo afirma a dona, não
encontraram irregularidades. “A lei não é desrespeitada de nenhum modo. Nem em
questões de salubridade nem de outro tipo. As pessoas são veladas num máximo de
três dias e depois – tal como determina a legislação de Porto Rico – enterradas
dentro de um caixão”. Ela acrescenta que o embalsamento é tão natural que
depois do velório não há nenhum tipo de problema para modificar suas posições”.
Esse tipo de embalsamento em posições pouco comuns costuma
absorver de dois a três dias de trabalho. “Depende de cada encomenda e da
complexidade que requeira. Há alguns, como o da moto, que são mais complicados,
mas sempre tentamos cumprir sua vontade”, explica Damaris. “A senhora que foi
velada em uma cadeira de balanço, por exemplo, pouco antes de falecer nos
explicou ela mesma tudo o que queria. Organizou todos os detalhes para que sua
despedida transcorresse tal como desejava”. A técnica utilizada?: “Não posso
revelá-la. É nosso segredo e o que nos permite obter um resultado tão natural,
mas a chave está no embalsamado”.
Christopher Rivera com seu traje e luvas de boxeador sobre o
ringue.
JORGE MUÑIZ - EFE
As tarifas da Funerária Marín, que conta atualmente com duas
sedes em San Juan, começam em 2.000 dólares (7.300 reais): “A partir daí o
preço varia em função do caixão escolhido”, especifica Damaris, “mas não
cobramos um extra por eles”.
Georgina Chervony quis uma despedida em uma cadeira de
balanço
e com seu livro favorito na mão. (RICARDO ARDUENGO AP)
As pessoas que se opõem a esses velórios incomuns costumam
destacar que para elas são mórbidos ou antinaturais. Damaris afirma que entende
os críticos, mas não os leva a mal nem considera que seja uma má publicidade
para seu negócio: “Vivemos em uma democracia. Cada um pode expressar-se
livremente e escolher como quer a sua despedida”.
Texto e imagens reproduzidos do site: brasil.elpais.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário