segunda-feira, 2 de abril de 2018

Tabata Amaral: A dona do sonho gigante para mudar a educação no Brasil


Tabata Amaral: A dona do sonho gigante para mudar a educação no Brasil

"No Brasil o tamanho do seu sonho e até onde você pode chegar tem cor, gênero e CEP", disse, em entrevista ao HuffPost Brasil.

By Ryot Studio Brasil

Ela chega caminhando tranquila, com seus óculos de armação grossa e um sorriso simpático no rosto. O cabelo na altura dos ombros – "cortei esses dias", conta ela. Antes estava quase na cintura. O tom de voz é baixo e manso. Todos devem falar que ela parece muito jovem – aposto que não aguenta mais esse comentário – mas acena delicadamente com a cabeça quando deixo escapar essa percepção quase como um reflexo. Comenta que, mais tarde, vai mediar uma palestra com "mulheres mais velhas". Na semana anterior, ela é quem estava falando para uma plateia. Acostumou-se com esse lugar de inspiração.

Tabata Amaral, 24 anos, formou-se em Ciências Políticas e Astrofísica em Harvard há dois anos. A jovem nascida na Vila Missionária, periferia de São Paulo, conseguiu bolsa integral na universidade americana, uma das mais prestigiadas do mundo – e em outras cinco nos EUA. Pode até parecer uma história clichê da menina que foi "salva" pela educação, aquela velha conversa de que a mudança está nos jovens e precisa começar a ser feita em sala de aula. Mas foi o que aconteceu.

Via a ciência como uma grande oportunidade para mudar de vida e para mudar a vida da minha família.

A ciência e os estudos foram a grande porta que ela encontrou. "Todas as oportunidades que eu tive foram na área de matemática e ciência. Fui para cinco olimpíadas mundiais e via a ciência como uma grande oportunidade para mudar de vida e para mudar a vida da minha família". Filha de um cobrador de ônibus e de uma diarista, ela conta que não conhecia nada além de seu bairro. Até que participou de uma olimpíada brasileira de matemática de escolas públicas e foi premiada. Ganhou uma bolsa para estudar no Etapa.

"Foi a primeira vez que eu vi o tamanho da desigualdade do Brasil porque eu sou de uma comunidade periférica e nunca saía, só conhecia aquele ambiente e minha primeira sensação foi de revolta de ver que o lugar onde você nasce importa tanto. Percebi que no Brasil o tamanho do seu sonho e até onde você pode chegar tem cor, gênero e CEP".

Mas não se deixou tomar por essa revolta. Enfrentou preconceito, se dedicou, estudou ainda mais.
"Lembro de um rapaz falar que com certeza eu era um menino disfarçado de menina porque eu era boa em ciências. Mostrei que eu podia ser boa em ciência sendo uma menina. Me agarrei a isso, como uma pranchinha que podia me salvar. Estudava muito, acreditava que aquilo ia transformar minha vida".

Lembro de um rapaz falar que com certeza eu era um menino disfarçado de menina porque eu era boa em ciências. Mostrei que eu podia ser boa em ciência sendo uma menina.

Talvez não tivesse ideia do quanto. Conseguiu uma bolsa para estudar inglês e fazer as provas de inscrição nas faculdades americanas para realizar seu sonho de ser astrofísica. Teve muito apoio de amigos, professores, da família. "Muita gente me ajudou a realizar esse sonho. Fiquei sabendo que tinha sido aceita em Harvard quatro dias antes do meu pai morrer".

Na faculdade, começou a pensar em como poderia mudar de fato a realidade do seu País e de outros jovens. E foi quando passou a se dedicar a outra área. "Comecei astrofísica, mas passei a me questionar se aquele seria o melhor caminho... tinha acabado de perder meu pai para as drogas, super jovem, e mudei para estudar política pública de educação, que é minha grande paixão".

Paixão e missão. Hoje, criou e participa de dois movimentos sociais, o Mapa pela Educação, que tem o objetivo de levar educação de qualidade para os jovens, e o Acredito, um movimento de renovação política. Planeja fazer mestrado em políticas públicas e economia e sonha em mudar a situação da educação no Brasil.

Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com

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