Créditos - Brunno Rangel
Publicado originalmente no site da revista TRIP em 21.02.2018
Nas Curvas do Destino
Agatha Moreira abandonou as passarelas e abraçou a carreira
de atriz depois que um acaso a colocou nos palcos. Depois de estourar em
Verdades Secretas, ela estrela 2 longas e está em sua sexta novela
Por Jr Bellé
Da sinuosidade das curvas do destino e suas marés
desconcertantes é que se aprende a cartografar as decisões mais imprescindíveis
da vida e a mapear os desejos verdadeiramente sinceros do coração: Agatha
Moreira é a prova viva e deslumbrante de que tomar para si o quinhão que te
cabe vai além do entendimento dos ventos – por vezes é preciso soprar as velas,
especialmente nos dias de calmaria. Assimilar essa sabedoria, contudo, toma
tempo: até o dia em que o destino lhe pregou uma peça – uma peça de teatro chamada
Os sete pecados capitais –, ela não sabia o que queria fazer da vida, qual rumo
tomar, e deixou o barco do acaso seguir seu curso até que a bússola em seu
peito estivesse acurada.
Tudo começou em Olaria, no Rio de Janeiro, onde passava as
semanas da infância entre a casa do pai e a da irmã, logo em frente. “Minha
irmã morava com o marido e a família dele, então todos meus primos, que não são
de sangue, são na verdade irmãos. E tem também a família da minha mãe, com a
qual eu ia passar os fins de semana. Sempre tive muita gente ao meu redor,
guiando minha vida.”
Foi exatamente um dos membros da família, sua tia Lea, quem
a aconselhou, já aos 13 anos, a tentar um teste na agência Elite. “Aí fiz meu
primeiro book, participei do concurso e fui com outras 20 meninas para São
Paulo. Foi quando comecei a trabalhar. Mas foi tudo ideia da minha tia”,
lembra. “Era uma coisa que não tinha passado pela minha cabeça, mas, quando
entrei naquele meio, adorei. Até hoje eu gosto muito de fotografia, tanto de
fotografar quanto de ser fotografada. Virou uma paixão, muito além da vida de
modelo, mais pela fotografia.”
Sua carreira no mundo da moda a fez ancorar em portos
distantes e estranhos. Um deles foi na Coreia do Sul, onde passou seis meses
modelando, quando ainda tinha 18 anos. “Era tudo muito novo, uma cultura
completamente diferente. Só de ir para outro país, onde ninguém fala sua
língua, precisar se virar sozinha, isso já é uma experiência rica, um
amadurecimento.” Um lugar inédito tem suas peculiaridades: Agatha teve de
participar de treinamentos de evacuação, pois na época, como, aliás, ainda é
atualmente, as tensões entre as duas Coreias anunciavam um estalo bélico.
“Nunca imaginei que passaria por situações e sentimentos muito loucos como
esse, de achar que vai ter guerra, achar que uma bomba vai cair na minha
cabeça. Não me imagino passando por isso no Rio de Janeiro, com alguém vindo
dizer: ‘Ó, ferrou, a galera tá chegando aí e vai invadir’.”
Mas nem tudo foram más loucuras na terra de Psy e Shin
Kyung-Sook. Agatha participou do clipe de “Shut up!”, da banda U-Kiss, um dos
fenômenos do k-pop. “Foi muito louco, porque eu era uma anônima e de repente,
sem entender nada, ganhei vários seguidores do mundo inteiro. Só depois percebi
que existem muitos fãs de bandas coreanas ao redor do mundo, é um nicho que a
gente desconhece.”
Bichinho do teatro
De volta a seu cais seguro, o Rio, Agatha ainda molhava o
indicador com saliva e sentia o titubeio dos ventos de seu horizonte. “Quando
terminei o colégio, minha decisão foi continuar viajando o mundo, porque eu não
sabia o que queria fazer. Não queria prestar vestibular e fazer uma faculdade
que pra mim não faria sentido. Eu sabia que uma hora ia descobrir o que
realmente queria fazer pro resto da minha vida. Enquanto isso eu tinha uma
forma de ser independente, tinha a carreira de modelo como álibi. Mas então
aconteceu aquele ensaio”, ela conta.
A história é a seguinte: Agatha foi assistir ao ensaio da
peça de uns amigos, Os sete pecados capitais, no teatro Suassuna. Sentou-se na
plateia, mas essa não era a ideia da diretora, que no sopro decisivo, aquele
que mudou definitivamente o norte da ventania para onde lufariam os sonhos de
Agatha, a convidou para subir no palco. “Ela me chamou para fazer todos os
exercícios e então me deu um personagem. Para participar dos ensaios, tinha que
ir de Olaria até a Barra da Tijuca num ônibus lotado, bem na hora do rush. Mas
ia feliz da vida! Ali, o bichinho do teatro me picou. E fiquei pensando: ‘Como
eu não tinha pensado nisso antes?’. Ali eu soube que era aquilo que eu queria
fazer: eu não queria largar o teatro.”
Agatha traçou planos para fazer um curso de interpretação,
mas os bolsos estavam vazios e ela estava em casa, sossegada, finalmente. Os
dias de calmaria, no entanto, por vezes nos contam que é preciso desancorar,
levantar as velas e soprá-las, é preciso se apossar do timão – Agatha tomou a
decisão de fazer uma última viagem como modelo. O destino: Nova York. “Ficaria
lá o tempo que fosse necessário para conseguir juntar uma grana e voltar pro
Rio para estudar.”
Mas os meses se passaram e tudo que Agatha conseguiu juntar
foram boletos. “O mercado estava bem ruim pra mim, não foi como imaginava. Aí
surgiu o teste para Malhação, mas pensei que provavelmente receberia um não.
Como não tinha condições de pagar uma passagem e ir até o Projac, resolvi fazer
um vídeo, lá em Nova York mesmo, e mandar pra eles.” Aprovada poucos dias
depois para o papel de protagonista, e com o pedido para que retornasse ao Rio
imediatamente, ela correu até uma rua do Brooklyn em frente à sua casa, sentou
na calçada e chorou: “Posso me dar muito mal, mas vou me jogar de cabeça, é uma
oportunidade única”.
Nova velha rotina
Daquele pranto até hoje já foram cinco novelas na Globo –
incluindo Verdades secretas, que a alçou ao sucesso com a vilã Kika –, e a
sexta está engatilhada. “Não gosto muito de rotina, e meu trabalho na televisão
me dá todo dia algo diferente, uma cena diferente, um roteiro de gravação
diferente, e isso pra mim é o melhor dos mundos”, diz. Também participou de
dois filmes, ambos com lançamento previsto para 2018. No longa Pixinguinha – um
homem carinhoso, Agatha interpreta a dançarina parisiense Gabriela, por quem o
compositor se apaixona. “É como se fosse um amor de verão, logo ele tem que ir
embora e a deixa lá.” Já na comédia romântica Missão cupido, sua personagem é
uma velha conhecida da humanidade: a morte. “É uma personagem muito pragmática,
que está aqui há milhões de anos, e por isso tem muita preguiça, pouca
paciência, e isso faz ela ser bem engraçada.”
O sucesso deu a Agatha visibilidade e, ao mesmo tempo, um
ancoradouro e um norte, o que tem suas consequências: “No início é muito
estranho, no restaurante está todo mundo te olhando, pessoas completamente
desconhecidas vão falar com você de uma forma muito íntima, porque você está
ali, na casa delas, todos os dias. Só aos poucos é que a gente vai entendendo.
Mas a mudança mais drástica foi minha vida no Rio: eu vim morar na Barra, criei
novos amigos – claro que meus melhores amigos de infância continuam sendo meus
melhores amigos, e sempre vão ser, mas essa mudança de rotina foi radical”.
Texto e imagens reproduzidos do site: revistatrip.uol.com.br
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