sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Esperança não utópica


Esperança não utópica.
Por Gustavo Ranieri

Quando escreveu Trópicos utópicos, lançado no ano passado pe-la Companhia das Letras – mesma editora pela qual publicou outros títulos de grande repercussão, co-mo O valor do amanhã, Vícios privados, benefícios públicos? e A ilusão da alma –, o economista e professor Eduardo Giannetti se propôs em 124 microensaios, tendo o Brasil como perspectiva, apontar as causas da crise civilizatória que atravessamos, o que ela provocou e de que maneira poderíamos resolvê-la. Otimista que é, fez o livro “senão a chamar a atenção para o que há de valioso na cultura brasileira”.

Desde que Trópicos utópicos saiu do prelo, Giannetti, que em 2014 foi consultor de Marina Silva na campanha dela para a Presidência, presenciou, assim como todos, a cratera sócio-político-econômica ampliar seu tamanho enormemente, sendo constatado, delação após delação na Operação Lava Jato, como a corrupção foi institucionalizada por aqui. Certo é que, neste longo período de instabilidade que estamos a encarar, parecem ficar em segundo plano as transformações mais do que necessárias na principal área que poderá “salvar” o Brasil do amanhã: a educação.

Os baixos índices da qualidade educacional são comprovados, por exemplo, pelas estatísticas alarmantes do estudo do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa e divulgado em 2016. Ao entrevistar 2.002 pessoas, com idades entre 15 e 64 anos, residentes tanto de zonas rurais quanto urbanas, constatou-se que apenas 8% delas são proficientes em leitura, escrita, argumentação e operações matemáticas. Quando os dados são analisados dentro de grupos de escolaridade, conclui-se que, dos alunos do ensino médio, 11% são analfabetos funcionais e 48% dominam somente o elementar de leitura, escrita e realização de cálculos utilizados no cotidiano. Os números, que crescem exponencialmente para o lado negativo se falarmos do ensino fundamental, assustam mais ainda quando se discute o ensino superior. Daqueles que estão em uma faculdade, 4% são analfabetos funcionais, 32% estão no nível elementar, 42% são intermediários e apenas 22% são proficientes.

“As pessoas acham que têm ensino fundamental completo, ensino médio completo, superior completo e, na verdade, essas credenciais não têm realidade, são diplomas vazios. A principal tarefa da educação no Brasil é recuperar o laço das credenciais. Se tem o fundamental completo, então está com a alfabetização plena. Sabe ler, sabe escrever, sabe interpretar um texto, separar um fato de uma opinião, fazer as operações aritméticas básicas com certa desenvoltura. Mas isso não está acontecendo e é muito pior do que as estatísticas dão a entender”, enfatiza.

Na entrevista a seguir, Giannetti traça a trajetória que o Brasil precisará percorrer para estabelecer uma nova realidade política e educacional e reafirma sua absoluta crença e esperança na nação, a qual, para ele, é portadora de uma cultura da qual o mundo precisará.

Discutimos massivamente a crise sócio-políticoeconômica e a necessidade de a sociedade ter o discernimento para escolher seus representantes, assim como a necessidade do nascimento de uma nova classe política, de pessoas engajadas e responsáveis eticamente. Porém, nenhuma grande ação pela educação é colocada em prática ou se mostra efetiva. Assim, dentro desse panorama, como podemos desejar um país melhor daqui a dez, 20 ou 30 anos se não construirmos uma base educacional forte?
Considero a educação o principal desafio civilizatório do Brasil. O que prejudica muito o endereçamento dessa questão é o fato de que nós vivemos de emergência em emergência na política, e isso acaba absorvendo toda a atenção, não só dos governantes, mas da própria opinião pública, que poderia pressionar e trazer esse assunto como prioridade, pois ele certamente se justifica. Agora, estamos com 13 milhões de desempregados, vivendo a pior recessão da história econômica, o que não é pouca coisa; muitas empresas em recuperação judicial; uma absoluta incerteza em relação ao quadro sucessório político brasileiro e, como eu disse, essas questões emergenciais são muito absorventes da atenção da sociedade. Acabam desviando o foco das questões fundamentais a longo prazo. Educação está no mesmo barco de saneamento básico, transporte coletivo, infraestrutura, previdência, meio ambiente, ou seja, as questões que demandam agir no presente tendo em vista o futuro acabam ficando seriamente bloqueadas e prejudicadas por essa premência de resolver problemas que se impõe no curtíssimo prazo.

Mas, então, fica difícil acreditar em algo diferente.
Nós temos de sair do ciclo das emergências. Antigamente, eram os planos de estabilização fracassados, depois foram as crises financeiras, agora é a crise política, a corrupção e o descalabro que tomou conta da vida pública brasileira. A gente precisa sair dessa situação, de estar à beira do precipício, para poder olhar para o horizonte de outra maneira. O Brasil dá a impressão de ser um país que vive à beira de um ataque de nervos.

Mas, quando sairmos desse precipício, não encontraremos outro?
Então, precisamos tomar providências. Aqui tem duas alternativas: ou você consegue focar no longo prazo, mesmo à beira do precipício, o que acho difícil, ou você consegue resolver as questões para poder olhar para o futuro de uma maneira mais consequente, mais estruturada.

O precipício parece ser cada vez mais fundo.
Eu diria que a vertigem é cada vez maior (risos).

Mas você acredita que a tendência é melhorar?
Do ponto de vista lógico, a vida sempre pode ser pior. Outras sociedades, em outros momentos, passaram por coisas muito mais tenebrosas do que nós estamos passando, isso você pode ter certeza. Acho saudável saber a extensão que tomou a corrupção no Brasil. Por mais doloroso que seja e por mais que isso gere uma ferida narcísica na vida pública brasileira. Se você tem um câncer, a pior coisa é ele ser assintomático, você não perceber. Agora, estamos deparando com a extensão dessa metástase, e é uma excelente oportunidade de atacá-la e tratá-la para valer. Então, acho muito bem-vinda a apuração que a Lava Jato vem fazendo do que se tornou uma prática corrente da política brasileira, tanto no financiamento de campanha quanto na privatização do Estado. A Odebrecht privatizou o Estado brasileiro. O Estado entrou na folha de pagamento dela.

É uma via de mão dupla.
O governante usa o setor privado para se perpetuar no poder e o setor privado usa o governante para pegar um atalho para o crescimento do negócio. Agora escancarou. Vamos ver se a gente tem coragem de mudar as regras do jogo. O sistema político é uma combinação de duas coisas: a qualidade dos jogadores e as regras do jogo. Precisamos melhorar a qualidade dos jogadores melhorando o processo de recrutamento para a vida pública. Porque o recrutamento ficou viciado pela expectativa de enriquecimento, de favorecimento... Se não mudarem as regras do jogo, o jogo vai descambar de novo para algo parecido.

Todavia, a qualidade dos jogadores, dos futuros jogadores, depende, entre tantos fatores, do nível educacional de cada um. E o cenário educacional que observamos no país é uma catástrofe só. Como você observa esse panorama?
O Brasil ainda tem uma atitude muito ritualística do processo educacional. Os alunos brasileiros são treinados desde o início a reproduzir nas provas o que aprenderam em aula, mas não são estimulados a pensar por conta própria, a buscar o conhecimento, a ter um pensamento lógico, a fazer perguntas. Se você perguntar para o aluno brasileiro em prova o que foi dado em aula e o que está no manual, ele é um excelente aluno. Mas, se você sair um pouquinho do que foi dado em aula, ele fica completamente perdido. O processo educacional para esses alunos é a reprodução quase mecânica de algo que foi entregue a eles mastigado, e isso é muito cômodo para o professor e para o aluno.

E isso desde o ensino básico, não?
O aluno aprende a tabuada decorando um som, ele não entende a operação. A professora canta e ele aprende a decorar. Ele sabe quanto é 3 vezes 5, mas ele não sabe quanto é 5 vezes 3. Ele não chegou lá. Além disso, o professor e a professora dão aula de costas para a classe, copiando a lição na lousa. E o aluno copia no caderno e depois memoriza e reproduz na prova o que copiou. Não aconteceu rigorosamente nada. Eu faço uma analogia com a missa em latim. É incrível que no Brasil a missa católica era em latim até meados do século 21. E o que pode ser uma missa em latim para uma população que desconhece a língua? Estou generalizando, mas é muito básico. O professor tem de olhar para a classe, fazer os alunos pensar, plantar sementes de uma indagação, de uma dúvida real para ele entrar em movimento. Eu vejo isso na faculdade, que os alunos reclamam quando algo não foi visto em sala... Mas a vida não vai te pedir coisas que foram vistas na matéria, ele está ali para pensar. Não estou dando aula no momento, mas dei aula por 30 anos e dizia logo de cara para os alunos que, quando tivesse a prova, eu preferia uma resposta errada, mas que partiu dele, a uma resposta certa que é apenas a memorização do que está no livro, do que ele anotou no caderno. Para mim, tem mais valor um erro pensado, que mostre uma genuína disposição de trabalhar mentalmente, que um acerto que é uma foto mecânica e vazia. Nós temos de fugir da ritualização da missa em latim.

Creio que os dispositivos tecnológicos que temos hoje são um grande desafio também, no sentido de prender a atenção de um estudante na leitura extraclasse, por exemplo, ou em pesquisas mais aprofundadas sobre um determinado tema. Como você observa isso?
Acho que os jovens têm muita dificuldade com uma leitura reflexiva. É muito difícil hoje conseguir com que um jovem fique duas horas sentado, sem se expressar, diante de um texto que exija postura e concentração reflexiva. Está ficando cada vez mais complicado, e não só para os jovens, mas para mim mesmo está ficando difícil, porque são tantas pequenas distrações ligadas a e-mails, notícias, e acho que para qualquer ser humano hoje está muito complicado o grau de isolamento, de foco, de concentração, de disponibilidade para um momento mais contemplativo. Mas não sei para onde vamos. Realmente me pergunto se isso é só uma fase transitória até que encontremos uma outra maneira de lidar com essa realidade ou se será sempre assim. Pode ser que seja uma espiral enlouquecida de fragmentação e dispersão crescente da consciência.

Aí entra também o fundamental papel da família, não?
Se não houver suporte da família, por melhor que seja a escola, o processo educacional não se completa. Tem de haver uma boa harmonia e reforço mútuo entre escola e família. Lamentavelmente, as famílias brasileiras, até por conta dos percalços do seu próprio passado, não dão a atenção devida a esse acompanhamento e a essa formação que se dá no ambiente da casa, com leitura, com estímulo. E, em muitos casos, o jogo, o tablet virou a babá eletrônica, que entorpece o filho, que o deixa anestesiado.

Giannetti, como você observa a reforma do ensino médio?
Acho fundamental que o currículo cumpra o essencial. Não adianta ter um currículo maravilhoso no papel se você não tem corpo docente e se você não tem alunos que estejam preparados para assimilar e para tirar proveito da oportunidade de abrir o leque de matérias. O que mais realmente me incomoda hoje no ensino brasileiro é que os alunos não estão sendo devidamente alfabetizados e não estão aprendendo as operações aritméticas um pouco mais complexas. O analfabetismo funcional no Brasil hoje é uma coisa inaceitável. O Instituto [Paulo] Montenegro, ligado ao Ibope, faz uma pesquisa sobre analfabetismo funcional no Brasil, e os números são estarrecedores. Você tem muita gente no ensino superior que é analfabeto funcional. Vejo isso em sala de aula. Os alunos não têm capacidade de expressão, de escrita articulada, não sei como é que chegaram lá. A educação brasileira em boa medida pode ser resumida da seguinte forma: uns fingem que ensinam, outros fingem que aprendem e tudo termina em diploma. São credenciais sem lastro. O Brasil inflacionou credenciais educacionais e as pessoas acham que têm ensino fundamental completo, ensino médio completo, superior completo e, na verdade, essas credenciais não têm realidade, são diplomas vazios.

E como a gente analisa hoje a formação dos professores?
Pesquisas mostram que os países que têm melhores resultados educacionais são aqueles em que a profissão de professor é mais valorizada, não só financeiramente, embora também, mas socialmente. Professor tem prestígio social, ele é conhecido na sociedade como uma pessoa que cumpre uma missão, uma função decisiva para o futuro. Se o Brasil quer resgatar a educação como valor, ele tem de valorizar aqueles que exercem a docência, o que passa por melhor remuneração também, sem dúvida nenhuma. Porém, com mais remuneração, tem de vir mais resultado; é a contrapartida. Tem de haver mais cobranças de resultados. E passa por uma revalorização do valor social da função, para as pessoas reconhecerem que o professor está cumprindo algo decisivo, fundamental para a vida futura de uma sociedade e de uma melhoria contínua da vida que nós vivemos. E isso estamos longe de ver acontecer no Brasil.

Mas você acredita que no futuro teremos alunos diferentes?
Tenho esperança de que surja um estadista no Brasil que incendeie a imaginação dos brasileiros em torno do valor da educação, do conhecimento. Costumo usar uma analogia com Juscelino [Kubitschek], que incendiou a nação brasileira em torno do desenvolvimento, o desenvolvimentismo, mas muito calcado no capital físico, calcado na construção de Brasília, em uma modernidade. O Brasil está clamando por uma espécie de Juscelino, só que para o lado do conhecimento, da educação, do capital humano. Alguém que acenda nos brasileiros a chama do valor do conhecimento, de que a vida pode ser mais bela, pode ser mais plena, pode ser mais produtiva. E é muito melhor para todos nós valorizarmos o aprendizado, o conhecimento, o saber, a criatividade, a arte, a ciência, os valores ligados à mente.

Mas não é uma esperança utópica?
Não é totalmente utópica, porque sinto na sociedade brasileira uma demanda por isso. Os brasileiros, de modo geral, sabem disso. O problema é que a gente, e falo de todos nós, tem muita dificuldade de traduzir esse valor em ações no dia a dia. As pessoas até aceitam fazer algum sacrifício, mas, na hora do vamos ver, entre o prazer que o momento propicia e o sacrifício aparente de você pegar um livro e ficar estudando, as pessoas vão para o que é mais satisfatório circunstancialmente. Vi alunos em faculdade de elite, quando eu recomendava fortemente a compra de um livro, um clássico, pois era um livro que precisava acompanhá-los pela vida, e me diziam “é muito caro, não tenho dinheiro”. Pensava: “Bom, vai ver que não tinham”. Mas aí, estou saindo da faculdade, passo em frente ao boteco e eles estão lá bebendo, gastando uma fortuna em bebida. Como é que o dinheiro aparece na hora da bebida e não aparece na hora do livro? Leitura no Brasil acaba virando castigo. Só quando você não tem absolutamente mais nada para fazer que você vai ler.

E a identidade da nação sempre foi pautada por uma sociedade sem escolarização.
Educação nunca foi o valor central da vida do brasileiro, nunca foi. O que nós temos são saberes da vida prática, como a culinária, as artes, as relações pessoais. O brasileiro tem extraordinário know-how de sociabilidade, mas não somos muito bons em educação formal, nunca fomos. É o anacronismo chamado Brasil.

Giannetti, para muitas gerações, a política costuma ser associada desde sempre a más práticas. Muitos jovens então expelem desde o início qualquer vontade, por ínfima que seja, de ingressar nela, de se tornar uma liderança rumo a um país melhor. Como se cria um novo grupo de pessoas interessadas em fazer política com responsabilidade e ética?
O que você descreveu é o processo de seleção adversa. Ou seja, em vez de selecionar os melhores, você acaba dando incentivo para que os piores se interessem pelas atividades políticas. Tem de mudar as regras, ter outros tipos de incentivos. Hoje no Brasil você tem o incentivo para criar um partido, mesmo que ele não tenha nenhum programa. Porque, criando um partido, você tem fundo partidário e tempo de TV. Daí você entra em uma coligação e vende a preço de ouro seu tempo de TV e seu apoio. O Brasil precisa ter 35 partidos? Se nós tivermos quatro ou cinco correntes relevantes que justifiquem um partido, já é muito. Então virou um negócio abrir um partido, é um incentivo altamente perverso. O Brasil precisa ter 61 mil vereadores pagos pelo contribuinte? O que faz um vereador de uma cidade pequena? Nós temos 5.570 municípios, cada um com uma câmara de vereadores. Está cheio de municípios com câmara de vereadores e que não têm um posto de saúde, não têm saneamento. E, quanto menor o IDH do município, mais ele gasta proporcionalmente com o legislativo municipal. Exatamente o contrário do que deveria ser se usássemos bem os recursos públicos. Por que o dinheiro arrecadado nos municípios pela população precisa ir até Brasília para voltar, se é que volta? Temos de ter uma regra, que é a seguinte: o dinheiro público tem de ser gasto o mais perto possível de onde ele é arrecadado. A hora que a gente acabar com o passeio do dinheiro público para Brasília, eu garanto que vai melhorar. A população vai ter cidadania tributária, vai saber quanto está pagando, para onde está indo o dinheiro, tudo o que está sendo feito.

E mais uma vez voltamos para a questão educacional, já que boa parte da população é carente desse tipo de conhecimento.
Se o trabalhador souber quanto está pagando, se o cara souber que, do salário dele, um terço vai para o governo, se tiver consciência, perceber isso, garanto para você que ele vai se interessar pelo o que está acontecendo. Nós temos uma carga tributária hoje no Brasil de 35% do PIB. De cada R$ 100 que o brasileiro cria com seu trabalho, em média, R$ 35 vai para o governo, que gasta 10% a mais do que o PIB que arrecada, o chamado déficit nominal. Quarenta e cinco porcento da renda nacional brasileira passa pelo setor público. Cadê? Cadê?

Você foi conselheiro de Marina Silva na eleição de 2014. Você seria conselheiro de algum candidato em 2018?
Não está no meu horizonte. A campanha de 2014 foi muito violenta e deixou muitas cicatrizes que ainda não estão fechadas. Foi de uma violência, de uma maldade, mentirosa, caluniosa. Colaram na Marina que ela iria acabar com o Bolsa Família, e não há força no mundo que conseguisse convencer que não era, ainda mais vindo de onde ela veio, sabendo da realidade social do Brasil. Eu chamo de a cracolândia da internet, que é um problema em uma eleição. Fora dela também, mas, em uma eleição como foi em 2014, alguma coisa se rompeu no diálogo, na grande conversa da vida pública brasileira. Foi de uma virulência, um vale qualquer coisa. Atropelaram até o mínimo respeito pela verdade, pelas regras de uma convivência construtiva, que interditou o debate. Acho que toda a polarização que estamos vivendo ainda é fruto dessa ruptura que foi a campanha de 2014, principalmente depois que morreu Eduardo Campos e a Marina teve uma ascensão meteórica, que levou o campo governista a um total destempero de fazer qualquer coisa para manter o poder. Pagaram caro por isso, inclusive com o impeachment.

E é visível que a sociedade continua superaquecida e sem abertura para diálogos sensatos e saudáveis.
Como disse, as cicatrizes de 2014 ainda não foram sanadas. Nós entramos em 2014 em um mundo que dava para imaginar uma conversa produtiva entre forças da liderança brasileira, como Fernando Henrique Cardoso e Lula. Hoje não existe mais qualquer perspectiva para que isso aconteça. O que está virando é um salva-se quem puder da Lava Jato. É o que está dominando a pauta agora.

Mas você realmente tem confiança no Brasil?
Total. Tenho absoluta confiança em relação ao Brasil. Trópicos utópicos trata disso. Nós somos portadores de uma cultura da qual o mundo precisará, que é uma cultura que não se rende estreitamente aos valores estritamente utilitários e competitivos do Ocidente. É uma cultura na qual a sociabilidade, a afetividade, a alegria de viver são uma força dominante no dia a dia. E nós preservamos isso. O fundamental está aí: é a gente não se perder nessas emergências e nesse descaso com as ações de longo prazo. Se não tivesse essa base de uma cultura ameríndia e africana, que faz toda diferença, não teria esperança no Brasil. O Brasil carrega uma originalidade pelo modo como as culturas pré-modernas, ameríndia e africana, foram integradas e miscigenadas na vida brasileira. E não é multiculturalismo, porque multiculturalismo é cada um no seu canto fazendo o seu folclore. Aqui não é isso. É mistura total, é DNA que se fundiu, e isso é novo no mundo, isso é belo. Não se pode confundir o circunstancial da conjuntura, que é tenebroso, com o permanente da cultura, que é extraordinariamente valioso.

Texto e imagem reproduzidos do site: livrariacultura.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário