Gail Wiener, dona da Winner Auction House, em Jerusalém,
mostra dois bilhetes escritos a mão por Albert Einstein.
O monge budista Thich Nhat Hanh.
Publicado originalmente no site Huffpost Brasil, em 03/11/2017
Destruição ambiental, desigualdade e solidão. Por que o
capitalismo está quebrado
O bilhete de Albert Einstein sobre felicidade é uma
sabedoria que devemos lembrar.
Por Jo Confino (Excutive editor).
Quando tudo está mudando, é cada vez mais importante saber o
que dura.
Um lembrete disso veio essa semana, graças ao leilão em
Israel de um curto bilhete entregue pelo físico Albert Einstein a um entregador
japonês em 1922.
"Uma vida tranquila e modesta traz mais felicidade que
a busca do sucesso presa à inquietação constante", diz o bilhete escrito
no papel do Imperial Hotel Tokyo.
O bilhete vem à tona quando muita gente está reavaliando o
que significa o sucesso e qual é o propósito de uma vida cada vez mais
acelerada e complexa.
A mensagem manuscrita da Einstein também se alinha com um
crescente movimento da "nova economia", que observa que a atual forma
de capitalismo, que coloca a busca do sucesso e o lucro como grandes
prioridades, não só leva à destruição do meio ambiente como também a uma desigualdade
cada vez maior.
Essa desigualdade é um dos motivos pelos quais as pessoas
não parecem mais felizes, apesar da expansão econômica.
Em um estudo de 16 países desenvolvidos, Selin Kesebir,
professor assistente de Comportamento Organizacional na London Business School,
descobriu que, quando a desigualdade de renda é alta, um aumento no PIB per
capita não guarda "virtualmente nenhuma relação com a satisfação com a
vida".
Escrevendo na Harvard Business Review, ela concluiu que
"o que podemos afirmar com certeza é que é uma falácia igualar PIB com bem
estar. Não é uma conclusão óbvia que o crescimento da economia vá fazer ar as
pessoas mais felizes".
Ela também indica dados que mostram que, apesar do boom
econômico nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra, entre 1946 e 1970, pesquisas
não mostraram aumento nos índices de felicidade.
Isso segue sendo verdade hoje. Divulgado em março de 2017, o
Estudo Mundial da Felicidade, da ONU, mostra que os Estados Unidos ficaram em
terceiro lugar entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico em 2007, mas caíram para a 19ª posição no ano passado.
Isso não é surpreendente quando se considera que o país
enfrenta uma crise sem precedentes de dependência de opiáceos, enquanto uma
pesquisa apresentada na American Psychological Association mostrou que o
isolamento e a dependência causados pelas drogas podem ser um problema de saúde
pública mais grave que a obesidade.
Enquanto isso, os americanos estão enfrentando problemas de
saúde mental em números recorde.
Alguns economistas, como os britânicos Tim Jackson e Kate
Raworth, dizem que é preciso repensar como medimos o sucesso, trocando a
obsessão com o crescimento do PIB por uma preocupação com dados de felicidade e
estabilidade social.
Líderes espirituais também estão recomendando uma mudança
fundamental na forma de avaliar o sucesso. Eles indicam que o desejo de sucesso
tende a trazer somente sofrimento.
O Papa Francisco fez várias críticas duras ao atual sistema
capitalista.
"Não tenhamos medo de dizê-lo: queremos mudança,
mudança real, mudança estrutural", disse o papa, durante um discurso na
Bolívia em 2015. Ele acrescentou que o sistema capitalista "impôs a
mentalidade do lucro a qualquer custo, sem preocupação com a exclusão social ou
com a destruição da natureza".
"O sistema agora se tornou intolerável: trabalhadores do
campo o consideram intolerável, trabalhadores o consideram intolerável,
comunidades o consideram intolerável. A própria Terra – nossa irmã, a Mãe
Terra, como diria São Francisco – também o considera intolerável".
O mestre zen budista Thich Nhat Hanh ecoa as palavras sábias
de Einstein. "Se você tem um desejo saudável, como proteger a vida, ou
proteger o meio ambiente, o viver uma vida simples, com tempo para cuidar de si
mesmo e das pessoas que lhe são queridas, seu desejo lhe trará
felicidade", escreveu ele em seu livro "Calming the Fearful
Mind" (acalmando a alma amedrontada, em tradução livre).
"Se você busca poder, riqueza, sexo e fama, achando que
isso vai trazer felicidade, está consumindo um tipo de alimento muito perigoso,
que vai causar muito sofrimento. Você pode observar essa verdade olhando à sua
volta", acrescentou ele.
Nhat Hanh lembra de conversar com um executivo que liderava
uma empresa com mais de 300 mil funcionários.
"Ele disse que as pessoas que são muito ricas muitas
vezes são extremamente solitárias, pois suspeitam dos outros", escreveu
ele. "Elas acham que qualquer pessoa que queira fazer amizade só está
querendo dinheiro, só quer tirar vantagem. Elas também acham que não têm amigos
de verdade."
O mundo corporativo está acordando para a ideia de Einstein
de que o foco na busca do sucesso pode levar a uma inquietação constante.
O Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, que
represente mais das 200 maiores empresas do mundo, vem realizando pesquisas
sobre o que chama de "A Boa Vida".
Suas recomendações se alinham com o bilhete de Einstein.
Julian Hill-Landolt, diretor de Estilos de Vida Sustentáveis da organização,
pede que as marcas "repensem o retrato do mundo que pintam em sua
publicidade. Não estamos pedindo que parem de vender seus produtos, só pedimos
que parem de vender seus produtos num mundo que só quer saber de maior, mais
rápido, mais."
"O Manual [da Boa Vida] mostra como as pessoas já estão
obtendo prazer de um tipo de mundo diferente, no qual o tempo com os amigos e a
família, a saúde e a boa comida são luxos aos quais aspiramos", disse ele.
"No final das contas, não é tão complicado assim. Estamos sugerindo que
marcas chequem a integridade estrutural de suas mensagens."
Pode parecer tarefa impossível para quem procura transformar
o sistema capitalista e se afastar do mantra do curto prazo e da maximização
dos lucros.
Mas, para aqueles que podem começar a perder as esperanças
na criação de um sistema econômico que traga prosperidade para todos,
respeitando os limites da natureza, Einstein tem mais uma pérola de sabedoria.
Ele escreveu outro bilhete para o entregador japonês,
agradecendo pela entrega de uma mensagem. O bilhete também foi vendido no mesmo
leilão. Ele dizia: "Se houver vontade, há um caminho".
*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e
traduzido do inglês.
Texto e imagens reproduzidos do site: huffpostbrasil.com



Nenhum comentário:
Postar um comentário