Thaynna Dantas está fazendo sucesso no mundo do
fisiculturismo
Apesar de ter nascido como menino, Thaynna Dantas sempre se
sentiu mais conectada com o lado feminino. “Se tinha a bola ou a boneca eu
preferia a boneca e ninguém entendia”, conta a modelo. Apesar disso, junto com
o irmão mais velho, Thaynna era incentivada pelo pai a fazer atividades que
eram consideradas masculinas, como praticar esportes.
“ Quando eu olhava para um homem, eu sentia atração. E
quando eu olhava uma mulher, eu queria ser igual"
A mãe, percebendo que Thaynna estava cada vez mais feminina,
inclusive nas curvas do corpo, decidiu levá-la para fazer exames médicos e um
acompanhamento com psicólogo. Foi quando elas descobriram que a criança tinha
mais hormônios femininos em seu corpo do que era o esperado.
Nesta fase, com apenas 11 anos, a modelo conta que sofria
uma briga com ela mesma por não entender o que estava acontecendo. “Eu não
sabia o que era trans, travesti e gay. Eu não entendia o que estava sentindo
dentro de mim então me trancava no quarto e chorava. Quando eu olhava para um
homem, eu sentia atração. E quando eu olhava uma mulher, eu queria ser igual.”
Primeiro beijo e as primeira mudanças
Mas foi quando ele beijou um menino pela primeira vez que
tudo mudou. “Descobri o que era bom e que eu realmente gostava de homem”,
conta. Com a ajuda de amigos que eram assumidamente homossexuais, Thaynna
começou a se aceitar, mas ainda tinha medo da reação de sua família quando
descobrissem.
Logo depois de perceber que sentia atração por homens,
Thaynna foi para uma festa e beijou um menino no meio de várias pessoas - cena
que foi vista pelo irmão. No dia seguinte, ele contou para os pais o que tinha
visto, mas Thaynna negou. Desconfiada, a mãe foi falar com a Thaynna para
perguntar se era verdade o que o irmão tinha contado, e a filha contou que era
bissexual como forma de tentar amenizar a situação.
Primeira vez como mulher
Já namorando com um homem, ela não conseguiu esconder a
sexualidade por muito mais tempo e se assumiu como homossexual para a família
aos 15 anos. Ela, então, começou a frequentar uma boate LGBT, e foi lá que ela
conheceu uma mulher transgênero que olhou para Thaynna e disse que ela seria
trans algum dia. “Apesar de eu ser muito feminina, eu não me imaginava como
trans”. Nesta época, o namorado se vestia de drag queen e, um dia, aceitou
montá-la também.
“Quando eu me vesti de mulher pela primeira vez foi
surpreendente. Eu cheguei à boate e ninguém sabia se era mulher ou não”.
Thaynna começou a se montar com frequência e a fazer shows à noite, mesmo ainda
sendo menor de idade. “Comecei a identificar que era realmente aquilo que eu
queria fazer. Eu até levava roupas femininas para casa e minha mãe aceitava”.
Como elas só usava roupas femininas na hora de fazer shows, sua família não
reclamou. Foi nessa época, ainda na adolescência, que ela começou a ser chamada
de Thaynna Dantas.
Hormônios, mudanças no corpo e brigas com a família
Decidida a ficar ainda mais feminina, Thaynna começou a tomar
hormônios femininos aos 16 anos sem contar para a família. Mas a mãe começou a
desconfiar das mudanças no corpo da filha, como um crescimento em seus peitos.
Aí começaram também os piores conflitos em casa.
“Como eu não queria tirar a camiseta em casa, ela percebeu
que algo estava errado e perguntou o que estava acontecendo”, afirma Thaynna.
“Eu contei que estava tomando hormônios femininos porque eu não tava me
identificando com o corpo que eu tinha e que eu não estava me sentindo bem”. A
mãe não aceitou o que Thaynna estava fazendo e as duas passaram a brigar com
frequência.
“ Eu estava no ônibus, indo para uma boate, quando minha mãe
me viu e veio para perto de mim. Ela me disse que quando eu chegasse em casa
todas as minhas roupas estariam queimadas"
A situação ficou ainda pior quando a mãe viu Thaynna usando
roupas femininas em público pela primeira vez. “Eu estava no ônibus, indo para
uma boate, quando minha mãe me viu e veio para perto de mim. Ela me disse que
quando eu chegasse em casa todas as minhas roupas estariam queimadas”. E foi
isso o que aconteceu: quando Thaynna chegou em casa naquela noite, e suas
roupas femininas estavam queimando no quintal.
Indignada com a atitude da mãe, ela resolveu sair de casa
naquele momento, decidida a se vestir sempre como mulher. Mesmo tendo sofrido
com a situação, hoje a filha entende o comportamento da mãe. “É muito
complicado para uma mãe ver um filho como mulher pela primeira vez dentro de um
ônibus”. Para Thaynna, a atitude da mãe foi movida pelo medo do preconceito que
a ela sofreria nas ruas por ser trans.
Mas a situação foi determinante para que ela decidisse a se
vestir sempre como mulher. Com 19 anos, Thaynna fez uma cirurgia no nariz e
colocou a prótese de silicone nos seios. Além disso, ela deixou seu emprego em
uma loja de roupas que trabalhava em Natal e se mudou para São Paulo para
trabalhar como modelo fotográfica.
A entrada no mundo fitness
Para manter o corpo definido para o trabalho de modelo, ela
treinava frequentemente com acompanhamento profissional. “Meu treinador Roberto
Di Lello me chamou para uma avaliação física para eu poder secar. Eu pesava
91kg quando comecei a treinar e perdi 13kg em 3 meses, mas não pensava em competir,
era só para ficar com um corpo legal”.
Incentivada pela personal trainer, Thaynna começou a pensar
em entrar no mundo do fisiculturismo. “Ele perguntou se eu queria participar da
competição X Angel Championship, em junho, e me disse que a única coisa que eu
precisaria fazer no meu corpo era secar”, explica. Como era o primeiro concurso
de fisiculturismo do mundo com uma categoria para mulheres transgêneros, a
modelo percebeu que não poderia perder a chance de participar.
No dia do evento, Thaynna estava acompanhada de seus amigos
e seu treinador. “Era meu primeiro campeonato e eu estava muito nervosa”. Mas o
nervosismo não atrapalhou a modelo, que venceu na categoria Style e levou para
casa o prêmio de Overall, obtendo o primeiro lugar na competição. Isso fez com
que ela conseguisse mais visibilidade na mídia e trabalhos como modelo.
Apesar de ter conquistado os prêmios, Thaynna estava em
dúvida se queria participar de outras competições por causa do custo
financeiro. “Como não temos patrocínio, temos que gastar muito com academia,
personal trainer, roupas para apresentar, passagem e hospedagem”. Sem a ajuda
financeira, o gasto para participar de um concurso é de cerca de R$ 8 mil,
segundo a modelo. Ainda assim, ela decidiu participar novamente do concurso e
se preparar melhor. “Eu fiz aulas de poses para subir no palco. Saber que eu tinha
que subir melhor do que na competição anterior já era uma cobrança a mais”. E,
além disso, ela queria ser premiada como a melhor do ano.
Trans e o fisiculturismo
Thaynna segue carreira no mundo fitness e até foi destaque
em uma competição para pessoas sis. A WFF-WBBF, uma das confederações mais
importante do mundo de fisiculturismo, a homenageou em um evento em setembro
deste ano. Apesar de o concurso não ter uma categoria para transgêneros,
Thaynna subiu ao palco e recebeu muitos aplausos.
“Todo mundo ficou de cara quando descobriram que eu era
trans. Foi bom para eu ver que tinha conseguido ultrapassar várias barreiras e
iria conseguir conquistar meus objetivos”, conta a modelo. “A presidente do
evento no Brasil, Gianni de Almeida, até falou em criar uma categoria para os
transgêneros no ano que vem”. Na ocasião, Thaynna recebeu um troféu pela
apresentação, apesar de não ter competido.
Dura rotina fitness e reconhecimento no final
O evento também serviu como um treino para a edição do X
Angel Championship, que foi realizado no dia 15 de outubro. Além de treinar na
academia, Thaynna teve que fazer muitas restrições alimentares, principalmente
quando a data da competição se aproximava. “Três dias antes eu cortei
totalmente o carboidrato e fiquei só comendo proteína. Além disso, eu tinha que
tomar 8 litros de água por dia para desinchar”, conta a modelo. Um dia antes,
eu tomei apenas uns golinhos de água e no dia eu não comi nem bebi nada porque
eu queria subir seca. Eu sabia que alguém podia vencer, mas eu queria defender
o meu título”.
“ Com maquiagem, biquíni e asa me sinto realizada. Como se
estivesse no céu"
Para Thaynna, o momento que ela no palco é mágico. “Com
maquiagem, biquíni e asa me sinto realizada. Como se estivesse no céu”, afirma.
“Eu me sinto uma luz. Eu sei que estou preparada para aquilo” O esforço deu
certo e ela foi premiada novamente como Overall e, além disso, conquistou o de
“Angel Of The Year”.
A modelo parou de tomar hormônios femininos por sentir que
estava ficando muito inchada, o que poderia prejudicá-la nas competições. Além
disso, ela sentia que os hormônios alteravam sua personalidade. “Não sinto
falta porque me deixava mais triste e mais quieta. E eu não sou assim”.
Thaynna conta que, por não ter mais uma aparência tão
feminina por causa dos treinos, costuma ser julgada por outras mulheres trans.
“Perguntam se eu tenho vontade de voltar a ser como antes e dizem que eu estou
muito masculina”, revela. Mas, apesar disso, ela diz sofrer menos preconceito
agora do que quando era assumido como um homem gay.
“No mundo fitness, as pessoas não percebem que eu sou
transgênero porque as mulheres desse mundo já tem uma aparência mais masculina.
Isso abre portas para mim e eu fico lisonjeada em abrir portas para outras
meninas”, finaliza Thaynna Dantas.
Texto e imagem reproduzidos do site: igay.ig.com.br

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