Fotos: Divulgação.
Publicado originalmente no site HuffPost Brasil, em 19/11/2017
'Tá achando que travesti é bagunça?': O documentário sobre a
vida de Luana Muniz
'Luana Muniz - Filha da Lua' é destaque do 25ª Festival Mix
Brasil, em São Paulo, e será exibido no Rio de Janeiro no fim deste mês.
Amauri Terto Repórter
de Entretenimento do HuffPost Brasil
Tá pensando que travesti é bagunça?!
Você já deve ter se deparado com essa pergunta sob a forma
de bordão, funk ou meme nas redes sociais. Mas talvez não se recorde da origem
dela. Foi em 2010 que essa frase foi dita por Luana Muniz em uma das muitas
esquinas da Lapa carioca.
Dita, não. Gritada.
Na ocasião, a travesti e prostituta conhecida como Rainha da
Lapa fez essa pergunta mais de uma vez enquanto dava tapas e pontapés em um
possível cliente que estava fazendo que ela perdesse tempo e dinheiro na madrugada.
A cena foi exibida pelo programa Profissão Repórter e deixou
uma mensagem clara: Luana era forte e não tinha problema em defender, no auge
dos 50 anos, sua dignidade enquanto mulher trans e prostituta.
É sobre essa figura lendária da noite carioca que o filme
Luana Muniz - Filha da Lua trata. Destaque na programação do Festival Mix
Brasil, em São Paulo, o documentário codirigido por Rian Córdova e Leonardo
Menezes propõe um resgate história da figura cujo peso na história dos LGBTs
nos Brasil se comparada à Madame Satã.
O filme foi exibido neste sábado (18) em São Paulo e será
apresentado ao público no Rio de Janeiro no próximo dia 29 de novembro.
"Luana era personagem muito controversa e intimidadora.
E também uma referência. Quando o assunto era travestilidade, drogas e sexo,
ela não tinha papas na língua", afirma Córdova.
Por meio de depoimentos de amigos de longa data, de
celebridades como Alcione e relatos da própria protagonista, o espectador
acompanha uma trajetória cheia de altos e baixos, num flerte contínuo com a
marginalidade que as pessoas trans estão fadadas no Brasil.
Adotada por uma família de classe média no bairro de Vista
Alegre, Luana saiu de casa ainda na adolescência para se prostituir. Modificou
corpo durante a ditadura e enfrentou o preconceito nos palcos de teatro antes
de percorrer mais de 30 países como prostituta.
O auge foi seguido por um abismo quase sem volta: o vício em
drogas fez que Luana retornasse ao Brasil como moradora de rua.
Com a ajuda de poucos amigos, ela se restabeleceu e não só
continuou trabalhando como prostituta como se tornou presidente da Associação
de Travestis do Rio de Janeiro, ativista humanitária e administradora do
Casarão na Lapa, que hospedava travestis.
No documentário, o espectador se dá conta de que não há
aparição de nenhum parente direto de Luana. "Eu queria que ela contasse a
história dela. Eu não queria que outras pessoas falassem sobre isso. Ela sempre
fez questão de dizer que a família dela era quem estava ao redor",
justifica o diretor.
Entre os pontos altos do documentário estão os depoimentos
da cantora Alcione, que se tornou amiga da travesti. Luana recebia ajuda de
Alcione em trabalhos sociais que realizava e frequentava o centro espírita da
cantora maranhense.
É Alcione também o elo entre a travesti e o padre Fábio de
Melo. No filme, o clérigo compartilha um relato sobre a inesperada amizade que
teve com Luana Muniz a partir de pedido de uma foto - algo que o fez refletir
sobre seus próprios preconceitos.
No último mês de maio, aos 59 anos, a Rainha da Lapa morreu
por complicações de uma forte pneumonia, tornando o documentário ainda mais
forte e carregado de simbolismo.
"Luana é uma daquelas personagens que vivem uma saga de
heroína e a gente torce para que ela vire o jogo e vença no final. Ela é uma
das pessoas mais humanas e contundentes que conheci. Espero que a fome de viver
dela inspire as pessoas", deseja o diretor.
Assista ao trailer de Luana Muniz - A Filha da Lua:
Texto, fotos e vídeos reproduzidos dos sites: YouTube e huffpostbrasil.com



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