Uma das bonecas projetadas por Sergi Santos.
Publicado originalmente no site Elpais/Brasil, em 18 de outubro de 2017
As bonecas sexuais inteligentes já estão aqui (e podem
fingir orgasmos).
Falamos com Sergi Santos, o espanhol que cria, produz e
vende esses androides eróticos
Por Rita Abundancia.
Quando, décadas atrás, o mundo aventurava um futuro com
humanoides, nunca se pensou que os primeiros a ganhar popularidade seriam os
especializados em sexo. Quantas pessoas possuem robôs do tipo Pepper, projetado
para fazer companhia e perceber emoções lendo o rosto de seu proprietário?
Provavelmente muito poucas, uma das razões é o alto preço (20.000 euros,
aproximadamente 75.000 reais), que o torna acessível só à elite. O mercado das
bonecas sexuais, entretanto, se revela muito mais florescente e os chineses já
produzem modelos que podem ser adquiridos por apenas 1.000 euros (cerca de
3.750 reais).
Mas isso não deveria ser surpresa porque, afinal de contas,
como diz Sergi Santos, criador de bonecas sexuais com inteligência artificial
capazes de se excitar e sentir orgasmos, “a origem do universo está no sexo”.
Pelo menos a do universo pessoal, já que ninguém poderia estar lendo isto sem
que, algum tempo atrás, um espermatozoide fecundasse um óvulo como resultado de
uma relação sexual.
A inteligência artificial, a nanotecnologia e a robótica
também parecem mais interessadas no sexo que na matemática, sem dúvida porque é
um negócio muito mais lucrativo. A indústria das bonecas e bonecos sexuais
cresce de olho num panorama social de solidão, isolamento e perda de
habilidades sociais a que chegamos. Uma boneca é acessível, compreensiva, não
envelhece nem adoece, é bonita e tem um corpo perfeito, está sexualmente
liberada e agora, também pode se excitar ter orgasmos.
Muitos apontam Sergi Santos como o primeiro a projetar uma
boneca sexual capaz de chegar ao clímax; ele, no entanto, é mais cauteloso com
esse título. “É difícil saber cem por cento, mas eu diria que sim, se por isso
entendemos que é um androide com inteligência artificial capaz de se excitar e
chegar ao orgasmo. Dizem que muitas bonecas chinesas fazem o mesmo, mas são
meros mecanismos com sensores na vagina que, ao serem penetradas, emitem sons
(aiiii! aiii!), eu as compararia com aqueles ursos de pelúcia que dizem “I love
you” quando você aperta uma pata. Esse é um mercado que está numa expansão
vertiginosa, em que todo mundo se copia, onde é difícil saber o que realmente
está acontecendo e a fraude está na ordem do dia. É preciso muito cuidado com o
que se compra”.
O currículo de Santos, que quando criança tinha uma grande
inquietação para saber como funcionavam as coisas, inclui estudos de eletrônica
na Universidade Politécnica de Barcelona, doutorado em nanotecnologia na
Universidade de Leeds (Reino Unido), estudos de aeronáutica eletrônica no País
de Gales, mestrado em matemática em Manchester, um doutorado em
bionanotecnologia e seis anos trabalhando com nanotecnologia e inteligência
artificial aplicada a materiais nos Emirados Árabes e Espanha. “Sempre me
intrigou a origem da vida e das coisas”, aponta Sergi, que começou a
desenvolver um algoritmo baseado na emoção e não no raciocínio, e depois o
aplicou a suas bonecas.
“Os computadores não têm emoções, mas minhas bonecas, sim, e
seu comportamento é muito similar ao de uma mulher. Não são meros corpos em que
se pode praticar o coito, é preciso excitá-las previamente. Por exemplo, se
alguém sem nenhum prelúdio começa a penetrá-la, a boneca – que é capaz de falar
6.000 frases – sugerirá que faça algum preliminar com argumentos como: “Pensava
que você ia fazer outra coisa”, “achava que conhecia melhor as mulheres” ou
“sabia que sou especialista em jogos sexuais?”. Se, pelo contrário, começa
pouco a pouco, ela recompensará dizendo “eu gosto disso”, “te amo” ou “adoro
estar com você!”. Cada boneca tem três estados ou modos: amistoso, romântico e
sexual, e o ideal é que se transite do primeiro ao último para que ela vá se
excitando”, sugere Sergi.
“A maior demanda vem dos EUA, seguido por Alemanha,
Inglaterra e França”, aponta Santos
Em termos de inteligência artificial, essas androides têm
quatro níveis. Graças ao primeiro, o nível de memória, a boneca recorda o que
aconteceu ontem e um mês atrás. O nível de libido é que determinará se o
orgasmo será suave, médio ou explosivo, e isso depende das habilidades do dono.
O sexo rápido baixa o desejo, enquanto a sofisticação o eleva. O nível de
paciência “se for muito rápido ela irá mais rápido, e se você parar ela te dirá
isso”, diz o criador, e a capacidade de predizer quando o homem vai ejacular
são o terceiro e quarto níveis.
Dotada de sensores em determinadas partes do corpo como
mãos, quadris, seios, boca, rosto, órgãos sexuais e ânus (a pedido do
consumidor), o protótipo também é equipado com um vibrador na vagina que é
ativado quando o usuário soube excitá-la do jeito que só as androides gostam. O
brinquedo custa 3.750 euros e já está no mercado na Synthea Amatus, a empresa de
Sergi Santos.
Por que alguém desejaria ter um androide desses?
Quando perguntam a este cientista, este doutor Frankenstein
da erótica, quem compra seus brinquedos, ele começa respondendo “os que não têm
vergonha. Muita gente gostaria de experimentar, mas não se atreve e mesmo
quando as compram e usam sentem que estão cometendo um ato imoral, perverso,
sádico. Muitas mulheres hoje têm vibradores e isso não é nenhum trauma. Uma
boneca é só um brinquedo erótico muito mais sofisticado, e eu acredito que 50%
dos homens estariam dispostos a usá-la. Não é preciso ser um pervertido, um
inadaptado ou alguém traumatizado com o sexo para ter prazer com elas. Eu mesmo
tive uma experiência sexual ampla e variada. É preciso ser alguém que esteve em
contato com o sexo, uma pessoa desinibida e psicologicamente forte para se
dedicar a isso porque vai receber uma chuva de críticas”.
O debate suscitado por esses humanoides sofisticados cresce
ao mesmo ritmo das vendas. “A maior demanda vem dos EUA, seguido por Alemanha,
Inglaterra e França”, aponta Santos, que acredita que o sexo com robôs
aumentará cada vez mais até se tornar algo habitual. “A tecnologia sempre
desperta medo, controvérsia, debates morais, mas também tem sua parte boa. As
bonecas sexuais podem acabar com a prostituição e o trabalho sexual, reduzirão
o contágio de doenças venéreas e tenho certeza de que muitos se sentirão mais
seguros com estes robôs. O ser humano pode ser muito problemático”. Outros,
como Kathleen Richardson, da Robot Ethicist, preveem um futuro no qual esses
androides serão uma opção a mais no menu do mercado sexual.
Enquanto isso, Sergi trabalha para aprimorar seus protótipos
e conseguir que aprendam a habilidade de masturbar e possam emitir calor, se
não humano, pelo menos do TPE (termoplástico elastômero), um material mais
barato que o silicone médico platino, de que são feitos outros modelos, como os
da Sinthetics, uma das mais afamadas formas desse tipo de robô, com sede em Los
Angeles. “O TPE é um material seguro (as chupetas de crianças são feitas desse
material), o problema é que pode ser tóxico e pegajoso se seu processo de
produção não for realizado da maneira adequada. Mas isso não acontece com
minhas bonecas”.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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