sábado, 16 de setembro de 2017

O Grand Finale da missão Cassini


 As últimas imagens foram tiradas na quinta-feira  (14) e chegaram por volta da meia-noite desta sexta-feira (15). Essa abaixo é a última delas:

Crédito das fotos: NASA/Cssini.

Publicado originalmente no site G1, em 15/09/2017

por Cássio Barbosa

O Grand Finale da missão Cassini

A missão Cassini, depois de 20 anos no espaço e 13 anos em Saturno, finalmente acabou. Um fato triste, mas esperado e necessário.

A sonda foi exaurindo seu combustível, o que estava deixando a manutenção da órbita cada vez mais difícil. O sistema de Saturno, com o satélite Titã e várias luas, não é um local muito tranquilo para uma nave permanecer estável.

"Muita gente" puxa a nave em direções diferentes com intensidades diferentes. Com o fim da reserva de combustível, a nave não teria como controlar sua órbita e o risco dela cair no satélite Titã ou na lua Encélado seria muito grande.

Qual seria o problema de manter a Cassini ativa?

O satélite Titã tem lagos de metano líquido e pesquisas em astrobiologia mostram que metano líquido pode ser uma alternativa à água no que concerne a criação e desenvolvimento de vida. Além dos lagos de metano, descobriu-se que há grandes reservatórios de água no subsolo de Titã, assim como na lua Encélado.

Havendo água, as chances de haver vida são grandes. Uma colisão da Cassini em um ambiente propício para desenvolvimento de vida poderia ser catastrófico caso já exista algum tipo de vida em desenvolvimento.

A Cassini passou por um processo de esterilização severo, mas ninguém garante que foi 100% eficiente. Há alguns casos que deixam bem claro que o processo não é mesmo totalmente garantido.

Peças recuperadas da sonda Surveyor na Lua e trazidas de volta à Terra mostraram que colônias de microorganismos sobreviveram ao processo de esterilização e às condições inóspitas do espaço, tais como alta radiação e baixa temperatura. O mais seguro era mesmo lançar a sonda para ser destruída em Saturno.

O legado científico deixado pela sonda é fantástico e mesmo com o fim da missão estima-se que durante uns 10 anos ainda teremos resultados sendo publicados baseados em seus dados.

Fim da missão

Na manhã desta sexta-feira (15), por volta das 07:30 no horário e Brasília, a Cassini enfim mergulhou na atmosfera de Saturno, no ponto indicado nessa imagem em infravermelho. A imagem em si foi tirada no dia anterior.  Durante toda a entrada em Saturno, a câmera não usada, pois iria consumir toda a banda de transmissão de dados, impedindo a transmissão do resto dos instrumentos.

Apesar das câmeras não estarem sendo usadas, quase todos os instrumentos estavam trabalhando freneticamente para obter o máximo de informações possíveis. O grande problema aqui era manter a antena apontada para Terra para transmitir os dados em tempo real. Normalmente, os dados são coletados e armazenados no computador central para transmiti-los depois. Neste caso, contudo, não haveria depois.

A nave recebeu instruções para usar seus motores para compensar o arrasto atmosférico para sustentar a orientação da antena até quando isso não fosse mais possível. E foi incrível ver o sinal de rádio mostrado em um monitor falhar quando a antena perdeu sua orientação, mas voltar rapidamente logo em seguida para desaparecer em definitivo. Essa sucessão de sinais mostrou exatamente a rotação da nave quando o arrasto se tornou forte demais para os motores compensarem!

Cassini trabalhou até o final

Na coletiva de imprensa que acabou agora há pouco, os cientistas e engenheiros da missão informaram que os instrumentos da Cassini funcionaram até o último segundo possível. Aliás, os mecanismos de compensação de arrasto fizeram com que ela se mantivesse apontada para a Terra quase 15 segundos a mais do que o previsto inicialmente.

Os dados estão sendo analisados e serão divulgados assim que as conclusões surgirem, mas em especial, os cientistas da missão destacaram o uso do espectrômetro que foi a bordo. A ideia era medir a quantidade de hidrogênio em relação ao hélio presente na atmosfera, fundamental para entendermos a atmosfera de Saturno.

Tudo o que a gente sabe a esse respeito tem como base modelos teóricos e simulações em computador. Até agora, em seu mergulho final, a Cassini coletou amostras da atmosfera e efetuou as medidas como se estivesse em um laboratório de química!

Por causa da imensa distância entre Saturno e a Terra, o último suspiro da Cassini ainda levou uns 80 minutos para chegar. Vimos o sinal das transmissões sumir, dar um breve retorno, para depois silenciar de vez. A missão de 20 anos estava finalizada. Pior do que a sensação de vazio é saber que haverá mesmo um vazio bem grande.

Com o fim da Cassini e, em breve, da missão Juno que está orbitando Júpiter, a próxima missão a um planeta do sistema solar exterior se dará, com sorte, em 2022. Trata-se da missão "Europa Clipper", que deverá estudar a lua Europa de Júpiter. Para quem se acostumou a ter novidades de Saturno e Júpiter quase que diariamente, será uma longa espera.

Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com/ciencia

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