As últimas imagens foram tiradas na quinta-feira (14) e chegaram por volta da meia-noite desta sexta-feira (15). Essa abaixo é a última delas:
Crédito das fotos: NASA/Cssini.
Publicado originalmente no site G1, em 15/09/2017
por Cássio Barbosa
O Grand Finale da missão Cassini
A missão Cassini, depois de 20 anos no espaço e 13 anos em
Saturno, finalmente acabou. Um fato triste, mas esperado e necessário.
A sonda foi exaurindo seu combustível, o que estava deixando
a manutenção da órbita cada vez mais difícil. O sistema de Saturno, com o
satélite Titã e várias luas, não é um local muito tranquilo para uma nave
permanecer estável.
"Muita gente" puxa a nave em direções diferentes
com intensidades diferentes. Com o fim da reserva de combustível, a nave não
teria como controlar sua órbita e o risco dela cair no satélite Titã ou na lua
Encélado seria muito grande.
Qual seria o problema de manter a Cassini ativa?
O satélite Titã tem lagos de metano líquido e pesquisas em
astrobiologia mostram que metano líquido pode ser uma alternativa à água no que
concerne a criação e desenvolvimento de vida. Além dos lagos de metano, descobriu-se
que há grandes reservatórios de água no subsolo de Titã, assim como na lua
Encélado.
Havendo água, as chances de haver vida são grandes. Uma
colisão da Cassini em um ambiente propício para desenvolvimento de vida poderia
ser catastrófico caso já exista algum tipo de vida em desenvolvimento.
A Cassini passou por um processo de esterilização severo,
mas ninguém garante que foi 100% eficiente. Há alguns casos que deixam bem
claro que o processo não é mesmo totalmente garantido.
Peças recuperadas da sonda Surveyor na Lua e trazidas de
volta à Terra mostraram que colônias de microorganismos sobreviveram ao
processo de esterilização e às condições inóspitas do espaço, tais como alta
radiação e baixa temperatura. O mais seguro era mesmo lançar a sonda para ser
destruída em Saturno.
O legado científico deixado pela sonda é fantástico e mesmo
com o fim da missão estima-se que durante uns 10 anos ainda teremos resultados
sendo publicados baseados em seus dados.
Fim da missão
Na manhã desta sexta-feira (15), por volta das 07:30 no
horário e Brasília, a Cassini enfim mergulhou na atmosfera de Saturno, no ponto
indicado nessa imagem em infravermelho. A imagem em si foi tirada no dia
anterior. Durante toda a entrada em
Saturno, a câmera não usada, pois iria consumir toda a banda de transmissão de
dados, impedindo a transmissão do resto dos instrumentos.
Apesar das câmeras não estarem sendo usadas, quase todos os
instrumentos estavam trabalhando freneticamente para obter o máximo de
informações possíveis. O grande problema aqui era manter a antena apontada para
Terra para transmitir os dados em tempo real. Normalmente, os dados são
coletados e armazenados no computador central para transmiti-los depois. Neste
caso, contudo, não haveria depois.
A nave recebeu instruções para usar seus motores para
compensar o arrasto atmosférico para sustentar a orientação da antena até
quando isso não fosse mais possível. E foi incrível ver o sinal de rádio
mostrado em um monitor falhar quando a antena perdeu sua orientação, mas voltar
rapidamente logo em seguida para desaparecer em definitivo. Essa sucessão de
sinais mostrou exatamente a rotação da nave quando o arrasto se tornou forte
demais para os motores compensarem!
Cassini trabalhou até o final
Na coletiva de imprensa que acabou agora há pouco, os
cientistas e engenheiros da missão informaram que os instrumentos da Cassini
funcionaram até o último segundo possível. Aliás, os mecanismos de compensação
de arrasto fizeram com que ela se mantivesse apontada para a Terra quase 15
segundos a mais do que o previsto inicialmente.
Os dados estão sendo analisados e serão divulgados assim que
as conclusões surgirem, mas em especial, os cientistas da missão destacaram o
uso do espectrômetro que foi a bordo. A ideia era medir a quantidade de
hidrogênio em relação ao hélio presente na atmosfera, fundamental para
entendermos a atmosfera de Saturno.
Tudo o que a gente sabe a esse respeito tem como base
modelos teóricos e simulações em computador. Até agora, em seu mergulho final,
a Cassini coletou amostras da atmosfera e efetuou as medidas como se estivesse
em um laboratório de química!
Por causa da imensa distância entre Saturno e a Terra, o
último suspiro da Cassini ainda levou uns 80 minutos para chegar. Vimos o sinal
das transmissões sumir, dar um breve retorno, para depois silenciar de vez. A
missão de 20 anos estava finalizada. Pior do que a sensação de vazio é saber
que haverá mesmo um vazio bem grande.
Com o fim da Cassini e, em breve, da missão Juno que está
orbitando Júpiter, a próxima missão a um planeta do sistema solar exterior se
dará, com sorte, em 2022. Trata-se da missão "Europa Clipper", que
deverá estudar a lua Europa de Júpiter. Para quem se acostumou a ter novidades
de Saturno e Júpiter quase que diariamente, será uma longa espera.
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com/ciencia
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