Aprenda a discordar usando a lógica do papel-higiênico
Qual é a forma certa de se colocar um rolo de papel
higiênico no banheiro?
Por Wagner
Brenner
Por cima.
60% das pessoas têm a certeza absoluta que o certo é o
estilo “cachoeira”, com o papel saindo por cima. É mais fácil achar a ponta, dá
pra rasgar certinho no picote, não fica raspando a mão na parede (menos
bactérias!) e hotéis podem sinalizar aos seus hóspedes que o banheiro foi
higienizado, com dobras elaboradas ou colando selinhos.
Por baixo.
Mas, afinal, quem está certo e quem está errado?
Todo mundo. Não tem certo nem errado.
O papel higiênico é seu, e você usa do jeito que quiser. É
uma decisão totalmente pessoal, influenciada apenas por hábitos, com as duas
maneiras suportadas por motivos bastante pertinentes.
POR QUE ISSO INTERESSA?
Essa questão bizarra do papel-higiênico serve como dinâmica
para colocar o foco na nossa habilidade de argumentação e não para se chegar a
uma resposta, já que não tem o certo nem o errado.
Por exemplo, o professor de sociologia Edgar Alan Burns, do
Eastern Institute of Technology Sociology, usa esse truque no primeiro dia de
aula. Ele pergunta aos seus alunos:
“Como vocês acham que o papel higiênico deve ser colocado?”
E nos 50 minutos seguintes, os alunos naturalmente começam a
avaliar os MOTIVOS para suas respostas e acabam chegando sozinhos a questões
sociais muito maiores como:
• diferenças de papéis sociais entre homens e mulheres
• diferenças entre comportamentos públicos e privados
• diferenças entre classes sociais
• etc
São relações de construção social que nunca pararam para
pensar antes, mas que agora, sem que ninguém os orientasse, conseguiram
enxergar.
Sozinhos, começaram a raciocinar e perceberam correlações e
fatos. E, principalmente, começaram a argumentar.
No dia-a-dia, quase nunca fazemos isso. Geralmente, tomamos
um partido e passamos a defendê-lo de forma passional, enxergando só o que nos
interessa.
Somos bons de discutir, mas ruins para argumentar. Piores
ainda para mudar de ideia.
Mais para o boxe do que para o tênis.
O que parece ser uma estratégia não muito inteligente para
encarar essa nova sociedade em que conversamos com muito mais gente, sobre
muito mais coisas, todo santo dia.
APRENDER A DISCORDAR
A aula do papel-higiênico devia ser dada de cara para
crianças.
A escola ensina que existe o certo e o errado, e dá notas
baseadas nisso. Mas podia estimular abordagens diferentes, habilidade de
argumentação, capacidade de deduzir (algumas já fazem, eu sei, mas a maioria
ainda não).
Do mesmo jeito que tem nota para as melhores respostas,
deveria ter para as melhores perguntas também.
Senão a gente vai continuar crescendo com essa mania de
preferir estar certo do que aprender algo novo, do que parar pra pensar e
repensar sempre. Aproveitar a bagagem e o raciocínio do outro.
Já reparou como a maioria dos comentários feitos todos os
dias na internet não tem elaboração nenhuma? Ou é genial ou é a coisa mais
estúpida que já se viu em toda a a história da humanidade.
O programador Paul Grahan fez um gráfico bacana, que mostra
a “Hierarquia da Discordância”, do mais ao menos elegante, do mais ao menos
eficiente.
clique na imagem para ampliar
O design thinking é isso. A maneira de pensar de um designer
não é a do certo ou do errado, porque não existe certo ou errado na hora de
projetar um bule de café. Mas existe o melhor, o mais eficiente. É uma maneira
de pensar em que se evolui a realidade.
Quem sabe um dia a gente consegue argumentar sobre futebol,
política e religião. Dizem que não se discute, mas a recomendação só existe
porque somos meio trogloditas.
A propósito, o grande designer Don Norman coloca os rolos de
papel higiênico na sua casa… assim:
(mas na verdade ele só girou o problema em 90 graus).
Texto e imagens reproduzidos do site: updateordie.com
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