Open Church Network/Vimeo.
Chalke é um líder cristão do Reino Unido.
Mario Laporta via Getty images.
Foto de 2006 de um afresco erótico de Pompeia. Restauradores recuperaram o que seria o mais popular bordel no complexo arqueológico da antiga cidade romana de Pompeia.
Reuters Photographer/Reuters.
Afresco erótico de um banho público de Pompeia recém-restaurado, 14 de novembro de 2001.
Ho New/Reuters - Afresco erótico de um banho público de Pompeia
recém-restaurado, 14 de novembro de 2001.
O Novo Testamento pode mudar a maneira como pensamos
cristianismo e homossexualidade?
Esse é o mundo em que foi escrito o Novo Testamento.
Por Carol Kuruvilla.
Editora associada de religião do HuffPost US.
As ruína preservadas da cidade de Pompeia são um tesouro
para quem está interessado em saber mais sobre o Império Romano. E um líder
cristão britânico está convencido de que Pompeia oferece lições importantes
para os cristãos – particularmente aqueles que querem usar a Bíblia para
perseguir os homossexuais.
Steve Chalke é um importante líder evangélico do Reino
Unido. Em um vídeo da Oasis Open Church Network, organização que defende a
inclusão da população LGBTQ que é liderada por Chalke, ele fala sobre a
importância de entender o contexto em que a Bíblia foi escrita.
"Há 500 anos, Martino Lutero e Calvino não tinham as
ferramentas que temos hoje para nos ajudar a entender contextualmente as
escrituras. Avançamos muito graças à descoberta dos Manuscritos do Mar Morto,
às descobertas arqueológicas na região de Pompeia, e demos vários outros saltos
adiante em termos culturais e linguísticos", disse Chalke ao The
Huffington Post. "Temos de usá-los, e acredito que, assim, nossos
entendimentos passados não se aplicam mais."
Há seis passagem na Bíblia que se fazem algum tipo de
referência a comportamentos do mesmo sexo. Os versos costumam ser mencionados
pelos cristão progressistas como "passagens de ataque" porque são
usados para rejeitar, degradar e atacar cristãos homossexuais.
Três das passagens estão no Novo Testamento, nos livros de
Romanos, 1 Corinthians e 1 Timóteo. Outra passagem a que se referem os cristãos
conservadores é Mateus 19, na qual Jesus fala sobre o divórcio. São estes os
versículos que Chalke usa para defender o homossexualidade entre os cristãos.
Chalke explica que Paulo escreveu numa época em que era
perfeitamente aceitável que pessoas das classes sociais mais baixas – escravos,
prostitutas, gladiadores e refugiados – fossem exploradas e abusadas
sexualmente pelos cidadãos romanos ricos e poderosos.
O pastor britânico afirma que era normal e até mesmo
esperado que os homens romanos tivessem "brinquedos" sexuais além de
suas mulheres. Isso significava transar com concubinas e meninos. Algumas
mulheres romanas também usavam pessoas de classes inferiores para obter prazer
sexual, diz Chalke. Mas uma coisa que os romanos não podiam fazer era abusar de
outro cidadão romano.
"Os meninos romanos eram protegidos, ao contrário dos
meninos escravizados. Para um homem romano, o sexo era parte legítima da vida,
mas você tinha de transar com alguém inferior e tinha de penetrá-lo, não era
permitido ser penetrado", afirma Chalke em sua palestra.
Para ilustrar o período em que essas palavras foram
escritas, Chalke menciona 24 de agosto de 79 A.C., dia em que os historiadores
acreditam ter ocorrido a erupção vulcânica do Monte Vesúvio que soterrou
Pompeia sob mais de 6 metros de cinzas vulcânicas. Foi mais ou menos nessa
época que os evangélicos acreditam que o apóstolo Paulo escreveu as cartas que
viriam a formar parte significativa do Novo Testamento.
Muito da arte recuperada em Pompeia e outras cidades
próximas é sexualmente explícita. Há cenas de ménages a trois e várias posições
sexuais. Quando escavações começaram, no século 19, o Rei Francisco 1º das Duas
Sicílias ficou tão chocado com a natureza sexual das obras de arte no Museu
Nacional de Arqueologia de Nápoles, que ordenou que tudo fosse guardado longe
da vista dos visitantes.
Chalke diz que é importante ter esse contexto em mente ao
olhar para as "passagens de ataque" do Novo Testamento. Para ele, a
arte erótica de Pompeia é sinal de que a sociedade romana estava "inundada"
em sexo. As classes superiores da época usavam o sexo de uma maneira que
ignorava a humanidade daqueles que as serviam.
Era contra esse tipo de exploração que Paulo e outros
autores do Novo Testamento se manifestavam nas escrituras, acredita Chalke. As
referências em 1 Timóteo e 1 Coríntios a homens que transam com outros homens
são parte de uma lista maior de exploradores – assassinos, negociantes de
escravos, mentirosos, ladrões, gananciosos, difamadores, estelionatários.
Chalke acredita que Paulo esteja alertando a nascente Igreja para os
relacionamentos humanos baseados em exploração, abuso e corrupção.
Por outro lado, diz ele, o Novo Testamento não tem nada a
dizer sobre o amor genuíno e cheio de compaixão entre pessoas do mesmo gênero,
como entendido nos dias de hoje.
"As pessoas de quem Paulo estava falando, ele disse que
elas tinham abandonado Deus, são mentirosas e enganadoras", disse Chalke
ao The Huffington Post. "De quem quer que ele estivesse falando, não pode
ser dos maravilhosos casais do mesmo sexo que estão na nossa igreja, do homem
gay ou da mulher transgênero que conheço. Simplesmente não pode ser deles [que
Paulo está falando]."
Chalke declarou em 2013 seu apoio a relacionamentos
monogâmicos de pessoas do mesmo sexo. Desde então, ele tem falado muito sobre
os "danos espirituais, mentais e físicos" que a população LGBTQ
enfrenta por causa da discriminação por parte dos cristãos. E ele defende que a
igreja acolha os gays cristãos – apesar de ter sofrido rejeição por parte de
evangélicos conservadores por causa dessa posição.
Chalke é ministro-sênior da Oasis Church Waterloo, que ele
diz ser a casa espiritual de vários cristãos LGBTQ. A ideia do vídeo veio de um
sermão que ele fez este ano em sua igreja.
Chalke disse ao The Huffington Post que, embora a tradição
seja importante, "o entendimento tradicional a respeito de algo nem sempre
é o correto". Assim como a Igreja teve de ajustar seus ensinamentos às
descobertas científicas de Galileu e Copérnico, ele afirma que é crucial que os
cristão usem recursos modernos para examinar essas "passagens de
ataque".
"Nosso mau entendimento do Novo Testamento causou
sofrimento, perseguição, opressão e rejeição para centenas de milhares, milhões
de pessoas LGBTQ", diz Chalke. "É hora de pedir desculpas pelos erros
que cometemos."
*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e
traduzido do inglês.
Texto e imagens reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário