domingo, 23 de julho de 2017

Pornografia: quando o hábito acaba prejudicando o sexo real


Publicado originalmente no site da revista VIP, em 10 de julho de 2017.

Pornografia: quando o hábito acaba prejudicando o sexo real.

Tem certeza que não está perdendo a pegada com tanto filminho de sacanagem ocupando seus momentos de ócio?

Por Daniela Venerando 

Pornografia, claro, pode ser bacana – e é. Vai dizer que não é relaxante chegar em casa cansado de mais um dia pesado de trabalho, ligar o computador e assistir a um filminho sacana? Só que tem outro lado aí.

O pornô pode não ser essa maravilha toda. Talvez você não dê bola para isso, mas a grande maioria da pornografia produzida no mundo é feita por homem e para homem. E daí? E daí que você pode acabar achando que sexo é para ser do jeito que aparece nos filminhos. E, ouça, é uma mulher dizendo: não é, meu querido. Não é.

Uma enquete realizada pela VIP, com 697 leitores do nosso site e com 127 leitoras do site da revista NOVA, mostra que há, pelo menos, uma dissonância entre homens e mulheres sobre o impacto da pornografia na vida sexual. E não se trata de moral (a grandíssima maioria deles e delas vê pornografia). Trata-se de prazer, satisfação sexual.

Perguntados se as transas dos sites pornôs ensinam (muitas coisas, desde posições novas a como fazer a parceira ter mais prazer) ou se deseducam (as atividades, técnicas e posições do casal são pensados de modo a privilegiar a captação de imagens, em detrimento do prazer real), mais mulheres (57%) do que homens (43%) acham que os filmes deseducam os caras.

Com a pornografia, o homem realiza o sonho de transar com quantas mulheres quiser (sem compromisso), da maneira que quiser. A intenção é essa: a idealização do sexo. “Até porque, se fosse diferente, ninguém se interessaria”, diz o antropólogo Jorge Leite Júnior, autor de Das Maravilhas e Prodígios Sexuais: a Pornografia Bizarra como Entretenimento (Annablume/Fapesp).

Talvez por isso a indústria pornográfica movimente tanta grana: 97 bilhões de dólares por ano. E ela surge feito mágica – 2,5 bilhões de e-mails com tema sexual são enviados por dia.

Se pensarmos que, em 1985, 92% dos garotos de 15 anos tinham acesso a conteúdo erótico pela primeira vez com a revista PLAYBOY e, em 2008, 74% dos caras da mesma idade acessavam sites com sexo explícito (segundo a Universidade de Arkansas, EUA), dá pra imaginar aonde isso vai dar.

Sexo idealizado

Quem consome pornografia pode passar a acreditar, por exemplo, que toda mulher ama sexo anal, adora ser chamada de “minha cadela” e está pronta para transar a qualquer momento. Ou então que todo homem tem ereções de horas.

“O visual agrada aos homens, mas pode distorcer a realidade e gerar expectativas, mitos e crenças a respeito do comportamento sexual. A pessoa pode supor que a transa sempre acontece daquele jeito. Além disso, o pornô não orienta os homens de fato sobre o que excita as mulheres”, afirma o psicólogo Diego Henrique Viviani, do Instituto Paulista de Sexualidade.

Tem sujeito que acha que tem de ser uma máquina sexual e transar em dezenas de posições e por horas intermináveis, como fazem os atores bombadões que ele vê nos filmes. É o tipo de reclamação que a terapeuta sexual Margareth dos Reis tem ouvido em seu consultório, em São Paulo.

“É muito comum o homem comparar a sua performance com a dos filmes e isso interferir negativamente na sua vida sexual. Eles se sentem frustrados quando comparam o tamanho do pênis, as longas ereções, os corpos musculosos, os gemidos das mulheres que eles não encontram na vida real”, conta a especialista.

Uma prova desse comportamento são as perguntas constantes feitas ao apresentador do reality show da Casa das Brasileirinhas, Kid Bengala, que tem no currículo 96 filmes pornôs. Assediado pelos fãs na rua, ele acaba servindo como uma espécie de terapeuta sexual para os que o abordam.

A primeira pergunta que fazem a ele? Como faz para ter ereções tão duradouras. “Isso acontece basicamente por falta de conhecimento sobre sexualidade, que, aliás, é um dos fatores de risco para as disfunções e a insatisfação sexual”, diz Margareth.

Esse, no entanto, não é o único problema, segundo a americana Elizabeth Morgan, professora-assistente de psicologia na Universidade Estadual de Boise, nos Estados Unidos. Os estudos da profissional mostram que a resposta neurológica do homem à pornografia é especialmente forte.

Isso porque o conteúdo se adapta a interesses sexuais do sexo masculino mais do que aos do feminino. “As pessoas olham para os outros como modelos de comportamento. Só que no sexo isso não é possível, porque é uma coisa íntima”, diz a especialista.

“Ao ver filmes com cenas explícitas de sexo, as pessoas podem ter a ilusão de que não serão afetadas por tantos estímulos. Mas não há dúvida de que as representações irrealistas em pornografia podem alterar as expectativas sexuais dos homens e causar problemas no sexo real.”

Para Aderbal Vieira Junior, psiquiatra do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes, da Unifesp, a pornografia pode ser negativa ou positiva – dependendo da relação que se estabelece com ela.

“Se o homem quiser levar pra vida real um tipo de padrão que ele encontra na fantasia, certamente não vai ser bem-sucedido. Se isso for apenas um estímulo para o casal, pode ser uma boa ferramenta para enriquecer a vida sexual dos dois”, afirma.

Pornografia em números

97 bilhões de dólares é quanto a indústria pornográfica movimenta anualmente, no mundo
25% das pesquisas em ferramentas de busca envolvem sexo
35% dos downloads são pornográficos
2,5 bilhões de e-mails mandados diariamente têm conteúdo sexual
89% da pornografia de toda a internet é criada nos EUA
1 em cada 4 pessoas que entram em sites pornôs é mulher
6,7 bilhões de dólares são gerados com o webporn em um ano só nos EUA
70% dos homens com idades entre 18 e 24 anos visitam sites pornôs ao menos uma vez por mês
40 milhões de americanos visitam regularmente sites pornôs
372 pessoas a cada segundo digitam a palavra “adulto” nos sites de busca
*Fonte: revista americana The Week

Efeito colateral: mais sexo solitário

Os especialistas são unânimes em dizer que a pornografia pode incrementar a vida sexual de um indivíduo. No entanto, o oposto também pode acontecer – inclusive com homens em um relacionamento estável.

“As pessoas pensam que o sexo é sempre o mesmo, mas não é. Você olha para um alimento de uma maneira bem diferente quando está com fome e quando acabou de terminar uma refeição”, diz o neurocientista William Struthers, autor de Wired for Intimacy.

Ele se refere à queda na frequência sexual dos consumidores de pornografia.

“Realmente, o homem pode se afastar do sexo real e passar a ficar isolado na masturbação. No entanto, isso não é generalizado. Só acontece com pessoas que apresentam dificuldade em se relacionar, são mais tímidas, retraídas e com baixa autoestima”, explica o médico-assistente do Instituto de Psiquiatria, do Hospital das Clínicas, Marco de Tubino Scanavino, responsável pelo Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos Negativos Associados ao Comportamento Sexual.

Nessa circunstância, o homem fica preguiçoso e sente que tem o controle nas mãos. Na tela, ele consegue realizar as fantasias com centenas de imagens muito excitantes. Já na vida real, ele teria que se arriscar a levar um “não” na conquista, se preocupar com o que a mulher gosta de fazer e se terá uma performance boa. Nesse caso, deve-se procurar por ajuda profissional especializada.

Inimigos da pornografia

Em julho de 2014, o Google proibiu anúncios que “apresentem descrições gráficas de atos sexuais”. Eles incluem não só a “pornografia hardcore” como qualquer representação de “masturbação” e “atividade sexual genital, anal e oral”.

Isso significa que empresas com esse tipo de material não podem mais anunciar usando a rede de publicidade do Google, que coloca anúncios em resultados de buscas e sites externos.

Anúncios sem palavras explícitas, mas que ainda assim apontem para sites explícitos, também não serão permitidos. Mas publicidade de casas de striptease, “serviços de massagem não íntimos” e“sites de relacionamento sexual” ainda serão veiculados. Não é só o Google que tomou medidas contra a pornografia.

Empresas como a Apple, Instagram, Facebook, YouTube, Vine e Vimeo também tentam banir conteúdos pornográficos. Mas, claro, o mercado sempre acha um jeitinho de burlar as regras. Fãs do Instagram, por exemplo, que proíbe conteúdo sexualmente explícito, têm o Pornostagram, que entrega conteúdo livre e sem censura.

O vídeo e a vida

Dar tabefes no traseiro e gozar na cara das mulheres são dois comportamentos comuns observados nos vídeos adultos, de acordo com um estudo da Universidade de Arkansas. Conheça outros bem recorrentes:

1.Tamanho do documento

Nos filmes: nos vídeos pornôs, a maioria dos atores tem o membro grande, com cerca de 18 cm ou mais. Acontece que esses atores são escolhidos a dedo – isso, portanto, não reflete a realidade.

Na vida real: o tamanho do pênis ainda é um mito e, por isso mesmo, uma questão muito discutida nos consultórios de psicólogos e sexólogos. É como se a dimensão indicasse o grau de masculinidade e potência de um homem. De acordo com o psicólogo Diego Henrique Viviani, pesquisas indicam cerca de 90% dos homens têm pênis entre 9 cm e 16 cm em estado ereto.

“O tamanho não irá necessariamente representar prazer para a parceria, pois a vagina é um músculo que se adequa ao objeto introduzido. Ainda de acordo com a ciência, a parte com maior sensibilidade na vagina é seu primeiro terço. Por isso, amigo, um pênis ereto com 5 ou 6 cm já seria suficiente para alcançar essa região.

2.Kama sutra

Nos filmes: há muito sexo-britadeira e posições pra lá de complicadas. Muitas mostradas repetidamentes são feitas porque simplesmente favorecem a câmera. A atriz pornô Cindy Butterfly, da produtora Brasileirinhas, diz que as mais comuns são a de quatro e a posição do frango assado, em que a mulher fica com as costas na cama e as pernas para cima. “Nos filmes, gememos bastante e provocamos o cara o tempo todo dizendo frases do tipo: ‘Machuca’, ‘Vai com força'”, conta.

Na vida real: a própria Cindy prefere ficar bem quietinha e acha irritante o sexo-britadeira. “Se a pessoa quiser imitar as posições, ótimo, desde que as estimule e seja confortável. Sexo não combina com desconforto. A melhor forma não é copiar e, sim, estimular o casal a descobrir novas possibilidades e brincadeiras, além de abrir um diálogo entre os dois. O sexo também depende de novidade para melhorar”, defende a terapeuta Margareth.

3.Gozo

Nos filmes: é o ápice e a cena final. “Sem exceção, o esperma é sempre para fora e, de preferência, na cara da mulher, para provar a realidade da cena e causar um impacto no expectador”, explica Kid Bengala.

Na vida real: “Na prática, algumas mulheres têm resistência, se sentem ofendidas ou acham nojento. Entretanto, outras até pedem ao parceiro. Por sua vez, os homens gostam de gozar dentro da vagina porque a sensação é bastante gostosa”, diz a terapeuta sexual Ana Canosa, colunista da VIP. Como é uma fantasia muito comum do homem, uma boa ideia é combinar previamente – assim, você evita possíveis constrangimentos.

4.Sexo anal

Nos filmes: as mulheres estão sempre dispostas à penetração pela porta dos fundos. Mais do que isso: o pênis dos homens entra sem nenhuma dificuldade no ânus feminino e num ritmo absurdo.

Na vida real: sexo anal ainda é um tabu. Apenas 15% das brasileiras já experimentaram, segundo um estudo sobre sexualidade conduzido pelo Hospital das Clínicas de São Paulo. Na prática, a penetração deve ser lenta e gradual e cada casal tem seu ritmo.

Segundo a sexóloga Jussania Oliveira, de São Paulo, o uso de lubrificante e camisinha é imprescindível. Antes da penetração, a sugestão é massagear a região do ânus com o dedo em movimentos lentos e circulares para soltar a musculatura. A língua também é uma ótima ferramenta. Na penetração, o melhor é colocar a glande lentamente. Quando sentir que ela relaxou, comece o vai e vem. Se ela pedir para parar, obedeça – você não destrói as chances de uma nova tentativa.

5.Ereções duradouras

Nos filmes: as cenas de sexo são longuíííísimas e as ereções, duradouras.

Na vida real: para apresentar uma cena é preciso gravar duas, três, até quatro horas, dependendo do preparo físico do ator. Outro detalhe é que alguns usam remédios para disfunção erétil para ter ereção. Um ator que prefere não ser identificado sofreu por duas vezes priapismo, dolorosa e indesejada ereção que dura horas ou dias. Para Jussania, não existe um tempo exato para uma transa de qualidade.

Cada casal tem a própria dinâmica. No entanto, diversas pesquisas já mostraram que o rala e rola dura, em média, 15 minutos, com as preliminares. Se quiser retardar a ejaculação, os especialistas indicam contrair os músculos da pélvis – como quando você quer prender a urina. Depois de um tempo treinando, é possível ter maior controle sobre o momento de gozar. Outra sugestão para aumentar a duração da transa é mudar de posição. Desde que você cuide para ela não broxar.

Texto e imagem reproduzidos do site: vip.abril.com.br

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