Publicado originalmente no site da revista VIP, em 10 de julho de 2017.
Pornografia: quando o hábito acaba prejudicando o sexo real.
Tem certeza que não está perdendo a pegada com tanto
filminho de sacanagem ocupando seus momentos de ócio?
Por Daniela Venerando
Pornografia, claro, pode ser bacana – e é. Vai dizer que não
é relaxante chegar em casa cansado de mais um dia pesado de trabalho, ligar o
computador e assistir a um filminho sacana? Só que tem outro lado aí.
O pornô pode não ser essa maravilha toda. Talvez você não dê
bola para isso, mas a grande maioria da pornografia produzida no mundo é feita
por homem e para homem. E daí? E daí que você pode acabar achando que sexo é
para ser do jeito que aparece nos filminhos. E, ouça, é uma mulher dizendo: não
é, meu querido. Não é.
Uma enquete realizada pela VIP, com 697 leitores do nosso
site e com 127 leitoras do site da revista NOVA, mostra que há, pelo menos, uma
dissonância entre homens e mulheres sobre o impacto da pornografia na vida
sexual. E não se trata de moral (a grandíssima maioria deles e delas vê
pornografia). Trata-se de prazer, satisfação sexual.
Perguntados se as transas dos sites pornôs ensinam (muitas
coisas, desde posições novas a como fazer a parceira ter mais prazer) ou se
deseducam (as atividades, técnicas e posições do casal são pensados de modo a
privilegiar a captação de imagens, em detrimento do prazer real), mais mulheres
(57%) do que homens (43%) acham que os filmes deseducam os caras.
Com a pornografia, o homem realiza o sonho de transar com
quantas mulheres quiser (sem compromisso), da maneira que quiser. A intenção é
essa: a idealização do sexo. “Até porque, se fosse diferente, ninguém se
interessaria”, diz o antropólogo Jorge Leite Júnior, autor de Das Maravilhas e
Prodígios Sexuais: a Pornografia Bizarra como Entretenimento
(Annablume/Fapesp).
Talvez por isso a indústria pornográfica movimente tanta
grana: 97 bilhões de dólares por ano. E ela surge feito mágica – 2,5 bilhões de
e-mails com tema sexual são enviados por dia.
Se pensarmos que, em 1985, 92% dos garotos de 15 anos tinham
acesso a conteúdo erótico pela primeira vez com a revista PLAYBOY e, em 2008,
74% dos caras da mesma idade acessavam sites com sexo explícito (segundo a
Universidade de Arkansas, EUA), dá pra imaginar aonde isso vai dar.
Sexo idealizado
Quem consome pornografia pode passar a acreditar, por
exemplo, que toda mulher ama sexo anal, adora ser chamada de “minha cadela” e
está pronta para transar a qualquer momento. Ou então que todo homem tem
ereções de horas.
“O visual agrada aos homens, mas pode distorcer a realidade
e gerar expectativas, mitos e crenças a respeito do comportamento sexual. A
pessoa pode supor que a transa sempre acontece daquele jeito. Além disso, o
pornô não orienta os homens de fato sobre o que excita as mulheres”, afirma o
psicólogo Diego Henrique Viviani, do Instituto Paulista de Sexualidade.
Tem sujeito que acha que tem de ser uma máquina sexual e
transar em dezenas de posições e por horas intermináveis, como fazem os atores
bombadões que ele vê nos filmes. É o tipo de reclamação que a terapeuta sexual
Margareth dos Reis tem ouvido em seu consultório, em São Paulo.
“É muito comum o homem comparar a sua performance com a dos
filmes e isso interferir negativamente na sua vida sexual. Eles se sentem
frustrados quando comparam o tamanho do pênis, as longas ereções, os corpos
musculosos, os gemidos das mulheres que eles não encontram na vida real”, conta
a especialista.
Uma prova desse comportamento são as perguntas constantes
feitas ao apresentador do reality show da Casa das Brasileirinhas, Kid Bengala,
que tem no currículo 96 filmes pornôs. Assediado pelos fãs na rua, ele acaba
servindo como uma espécie de terapeuta sexual para os que o abordam.
A primeira pergunta que fazem a ele? Como faz para ter
ereções tão duradouras. “Isso acontece basicamente por falta de conhecimento
sobre sexualidade, que, aliás, é um dos fatores de risco para as disfunções e a
insatisfação sexual”, diz Margareth.
Esse, no entanto, não é o único problema, segundo a
americana Elizabeth Morgan, professora-assistente de psicologia na Universidade
Estadual de Boise, nos Estados Unidos. Os estudos da profissional mostram que a
resposta neurológica do homem à pornografia é especialmente forte.
Isso porque o conteúdo se adapta a interesses sexuais do
sexo masculino mais do que aos do feminino. “As pessoas olham para os outros como
modelos de comportamento. Só que no sexo isso não é possível, porque é uma
coisa íntima”, diz a especialista.
“Ao ver filmes com cenas explícitas de sexo, as pessoas
podem ter a ilusão de que não serão afetadas por tantos estímulos. Mas não há
dúvida de que as representações irrealistas em pornografia podem alterar as
expectativas sexuais dos homens e causar problemas no sexo real.”
Para Aderbal Vieira Junior, psiquiatra do Programa de
Orientação e Atendimento a Dependentes, da Unifesp, a pornografia pode ser
negativa ou positiva – dependendo da relação que se estabelece com ela.
“Se o homem quiser levar pra vida real um tipo de padrão que
ele encontra na fantasia, certamente não vai ser bem-sucedido. Se isso for
apenas um estímulo para o casal, pode ser uma boa ferramenta para enriquecer a
vida sexual dos dois”, afirma.
Pornografia em números
97 bilhões de dólares é quanto a indústria pornográfica
movimenta anualmente, no mundo
25% das pesquisas em ferramentas de busca envolvem sexo
35% dos downloads são pornográficos
2,5 bilhões de e-mails mandados diariamente têm conteúdo
sexual
89% da pornografia de toda a internet é criada nos EUA
1 em cada 4 pessoas que entram em sites pornôs é mulher
6,7 bilhões de dólares são gerados com o webporn em um ano
só nos EUA
70% dos homens com idades entre 18 e 24 anos visitam sites
pornôs ao menos uma vez por mês
40 milhões de americanos visitam regularmente sites pornôs
372 pessoas a cada segundo digitam a palavra “adulto” nos
sites de busca
*Fonte: revista americana The Week
Efeito colateral: mais sexo solitário
Os especialistas são unânimes em dizer que a pornografia
pode incrementar a vida sexual de um indivíduo. No entanto, o oposto também
pode acontecer – inclusive com homens em um relacionamento estável.
“As pessoas pensam que o sexo é sempre o mesmo, mas não é.
Você olha para um alimento de uma maneira bem diferente quando está com fome e
quando acabou de terminar uma refeição”, diz o neurocientista William
Struthers, autor de Wired for Intimacy.
Ele se refere à queda na frequência sexual dos consumidores
de pornografia.
“Realmente, o homem pode se afastar do sexo real e passar a
ficar isolado na masturbação. No entanto, isso não é generalizado. Só acontece
com pessoas que apresentam dificuldade em se relacionar, são mais tímidas,
retraídas e com baixa autoestima”, explica o médico-assistente do Instituto de
Psiquiatria, do Hospital das Clínicas, Marco de Tubino Scanavino, responsável
pelo Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos
Negativos Associados ao Comportamento Sexual.
Nessa circunstância, o homem fica preguiçoso e sente que tem
o controle nas mãos. Na tela, ele consegue realizar as fantasias com centenas
de imagens muito excitantes. Já na vida real, ele teria que se arriscar a levar
um “não” na conquista, se preocupar com o que a mulher gosta de fazer e se terá
uma performance boa. Nesse caso, deve-se procurar por ajuda profissional
especializada.
Inimigos da pornografia
Em julho de 2014, o Google proibiu anúncios que “apresentem
descrições gráficas de atos sexuais”. Eles incluem não só a “pornografia
hardcore” como qualquer representação de “masturbação” e “atividade sexual
genital, anal e oral”.
Isso significa que empresas com esse tipo de material não
podem mais anunciar usando a rede de publicidade do Google, que coloca anúncios
em resultados de buscas e sites externos.
Anúncios sem palavras explícitas, mas que ainda assim
apontem para sites explícitos, também não serão permitidos. Mas publicidade de
casas de striptease, “serviços de massagem não íntimos” e“sites de
relacionamento sexual” ainda serão veiculados. Não é só o Google que tomou
medidas contra a pornografia.
Empresas como a Apple, Instagram, Facebook, YouTube, Vine e
Vimeo também tentam banir conteúdos pornográficos. Mas, claro, o mercado sempre
acha um jeitinho de burlar as regras. Fãs do Instagram, por exemplo, que proíbe
conteúdo sexualmente explícito, têm o Pornostagram, que entrega conteúdo livre
e sem censura.
O vídeo e a vida
Dar tabefes no traseiro e gozar na cara das mulheres são
dois comportamentos comuns observados nos vídeos adultos, de acordo com um
estudo da Universidade de Arkansas. Conheça outros bem recorrentes:
1.Tamanho do documento
Nos filmes: nos vídeos pornôs, a maioria dos atores tem o
membro grande, com cerca de 18 cm ou mais. Acontece que esses atores são
escolhidos a dedo – isso, portanto, não reflete a realidade.
Na vida real: o tamanho do pênis ainda é um mito e, por isso
mesmo, uma questão muito discutida nos consultórios de psicólogos e sexólogos.
É como se a dimensão indicasse o grau de masculinidade e potência de um homem.
De acordo com o psicólogo Diego Henrique Viviani, pesquisas indicam cerca de
90% dos homens têm pênis entre 9 cm e 16 cm em estado ereto.
“O tamanho não irá necessariamente representar prazer para a
parceria, pois a vagina é um músculo que se adequa ao objeto introduzido. Ainda
de acordo com a ciência, a parte com maior sensibilidade na vagina é seu
primeiro terço. Por isso, amigo, um pênis ereto com 5 ou 6 cm já seria
suficiente para alcançar essa região.
2.Kama sutra
Nos filmes: há muito sexo-britadeira e posições pra lá de
complicadas. Muitas mostradas repetidamentes são feitas porque simplesmente
favorecem a câmera. A atriz pornô Cindy Butterfly, da produtora Brasileirinhas,
diz que as mais comuns são a de quatro e a posição do frango assado, em que a
mulher fica com as costas na cama e as pernas para cima. “Nos filmes, gememos
bastante e provocamos o cara o tempo todo dizendo frases do tipo: ‘Machuca’,
‘Vai com força'”, conta.
Na vida real: a própria Cindy prefere ficar bem quietinha e
acha irritante o sexo-britadeira. “Se a pessoa quiser imitar as posições,
ótimo, desde que as estimule e seja confortável. Sexo não combina com
desconforto. A melhor forma não é copiar e, sim, estimular o casal a descobrir
novas possibilidades e brincadeiras, além de abrir um diálogo entre os dois. O
sexo também depende de novidade para melhorar”, defende a terapeuta Margareth.
3.Gozo
Nos filmes: é o ápice e a cena final. “Sem exceção, o
esperma é sempre para fora e, de preferência, na cara da mulher, para provar a
realidade da cena e causar um impacto no expectador”, explica Kid Bengala.
Na vida real: “Na prática, algumas mulheres têm resistência,
se sentem ofendidas ou acham nojento. Entretanto, outras até pedem ao parceiro.
Por sua vez, os homens gostam de gozar dentro da vagina porque a sensação é
bastante gostosa”, diz a terapeuta sexual Ana Canosa, colunista da VIP. Como é
uma fantasia muito comum do homem, uma boa ideia é combinar previamente –
assim, você evita possíveis constrangimentos.
4.Sexo anal
Nos filmes: as mulheres estão sempre dispostas à penetração
pela porta dos fundos. Mais do que isso: o pênis dos homens entra sem nenhuma
dificuldade no ânus feminino e num ritmo absurdo.
Na vida real: sexo anal ainda é um tabu. Apenas 15% das
brasileiras já experimentaram, segundo um estudo sobre sexualidade conduzido
pelo Hospital das Clínicas de São Paulo. Na prática, a penetração deve ser
lenta e gradual e cada casal tem seu ritmo.
Segundo a sexóloga Jussania Oliveira, de São Paulo, o uso de
lubrificante e camisinha é imprescindível. Antes da penetração, a sugestão é
massagear a região do ânus com o dedo em movimentos lentos e circulares para
soltar a musculatura. A língua também é uma ótima ferramenta. Na penetração, o melhor
é colocar a glande lentamente. Quando sentir que ela relaxou, comece o vai e
vem. Se ela pedir para parar, obedeça – você não destrói as chances de uma nova
tentativa.
5.Ereções duradouras
Nos filmes: as cenas de sexo são longuíííísimas e as ereções,
duradouras.
Na vida real: para apresentar uma cena é preciso gravar
duas, três, até quatro horas, dependendo do preparo físico do ator. Outro
detalhe é que alguns usam remédios para disfunção erétil para ter ereção. Um
ator que prefere não ser identificado sofreu por duas vezes priapismo, dolorosa
e indesejada ereção que dura horas ou dias. Para Jussania, não existe um tempo
exato para uma transa de qualidade.
Cada casal tem a própria dinâmica. No entanto, diversas
pesquisas já mostraram que o rala e rola dura, em média, 15 minutos, com as
preliminares. Se quiser retardar a ejaculação, os especialistas indicam
contrair os músculos da pélvis – como quando você quer prender a urina. Depois
de um tempo treinando, é possível ter maior controle sobre o momento de gozar.
Outra sugestão para aumentar a duração da transa é mudar de posição. Desde que
você cuide para ela não broxar.
Texto e imagem reproduzidos do site: vip.abril.com.br
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