Gabriel Garcia Marquez, em 1987, celebrando os 20 anos do romance "Cem anos de solidão", que se transformou em um símbolo da literatura latinoamericana. (STRINGER COLOMBIA / REUTERS).
Publicado originalmente no site do Huffpost Brasil, em 06/03/2017.
Seis coisas que você não sabia sobre Gabriel García Márquez (e
que vão te inspirar)
O escritor colombiano completaria 90 anos hoje.
Andréa Martinelli
Editora no HuffPost Brasil
Quando Gabriel García Márquez aceitou o Prêmio Nobel de
Literatura em 1982, ele se referiu a si mesmo como pertencente a uma linhagem
de "inventores de fábulas que acreditam em tudo" e que sentem
"o direito de acreditar que ainda não é demasiado tarde
para nos lançarmos na criação da utopia contrária. Uma nova arrasadora utopia da
vida, onde ninguém possa decidir pelos outros até mesmo a forma de morrer, onde
de verdade seja certo o amor e seja possível a felicidade, e onde as estirpes
condenadas a cem anos de solidão tenham, enfim e para sempre, uma segunda
oportunidade sobre a terra."
Morto em 17 de abril de 2014, aos 87 anos, ele deixou um
legado que foi capaz de levar leitores junto com ele e fazê-los acreditar em
qualquer coisa -- ou naquilo que o chamado realismo mágico pode cria.
O trabalho do autor colombiano baseou-se tanto em sua
vivência como jornalista na América Latina, a admiração por William Faulkner e
Mark Twain, quanto histórias vividas durante sua infância na casa de seus avós
em Aracataca, na Colômbia.
Antes de sua morte, já fazia mais de dez anos que o escritor
não publicava nada. Assim como Alice Munro, escritora e sua colega de Prêmio
Nobel, García Márquez disse que a escrita o desgastou e que queria mais tempo
para aproveitar a vida de outra forma.
E o fez.
Hoje, 6 de março de 2017, Gabo, como era conhecido pelos
mais íntimos, completaria 90 anos de idade.
Aqui estão seis curiosidades sobre o escritor que conseguiu
falar sobre amor, evocando a solidão (e que certamente vão te inspirar):
1. A crença no poder duradouro do amor
CHRISTIAN RAUSCH VIA GETTY IMAGES.
A dedicatória no livro que conta a história mais romântica
de García Márquez, Amor Nos Tempos Do Cólera, diz, simplesmente: "Para
Mercedes, é claro".
Ele refere-se a Mercedes Barcha, com quem se casou em 1958.
Gabriel e Mercedes se apaixonaram no momento em que se
viram. Mas não puderam ficar juntos de imediato. E a história dos amantes que
se conheceram na juventude, mas, por interferência da família e de outros
fatores externos, não puderam ficar juntos durante uma vida toda está retratada
no livro O Amor Nos Tempos do Cólera.
A história de duas pessoas cujo amor sobrevive a um longo
período de separação é o cerne do livro. Mas, de qualquer maneira, Florentino e
Fermina acabam juntos e apaixonados. O cólera pode ser interpretado como algo
que julga que a paixão não precisa ser obscurecida pela passagem dos anos - e
que sobrevive, justamente, porque o amor é uma parte fundamental da vida.
2. A reinvenção enquanto escritor
BETTMANN ARCHIVE.
Gabo (como era conhecido pelos íntimos), começou sua
carreira como colunista de um jornal. Lá, ele escrevia seus contos e ficou
reconhecido no meio literário. Depois, chegou a ser repórter e editor de
jornais na Colômbia. Ele chegou até a trabalhar em um jornal comunista com sede
nos Estados Unidos, mas diante de uma crise política foi obrigado a voltar para
seu país de origem.
Garcia Márquez escreveu ficção a maior parte de sua vida, e
não publicou seu primeiro romance até completar 40 anos. Na verdade, o que ele
sempre quis, foi ser escritor. Segundo ele, esta era "a melhor forma de
explorar a verdade dos fatos".
Porém, a matéria prima de muitos de seus romances e contos
era o factual, o palpável, o que acontecia no "mundo real" e,
principalmente, durante sua estadia em redações de jornais. Por exemplo, o
assassinato no centro de Crônica de uma Morte Anunciada e a inspiração para
escrever Do amor e outros demônios.
Transformar essas histórias verdadeiras em ficção permitiu a
ele "usar a fantasia para dizer a verdade", como a firma sua
principal tradutora, Edith Grossman. Ela completa: "Isso é o que a
literatura faz. Ele diz a verdade através da invenção e do fazer-se acreditar.
A magia estpa em encontrar um escritor que transforma tudo o que toca em ouro
de uma forma genial".
Não á toa Cem anos de solidão chegou e até hoje é
considerado a grande obra-prima do escritor.
3. Ele lutou para fazer o que gostava
COVER/GETTY IMAGES.
Garcia Marquez foi criado por seus avós, em Aracataca, na
Colômbia. E esta influência pode ser sentida em tudo o que ele já escreveu.
Embora o escritor não tenha inventado o estilo de ficção conhecido como
"realismo mágico", que combina os detalhes da vida comum com
elementos fantásticos da mitologia, ele foi considerado o grande "pai"
desse gênero literário após o sucesso de Cem anos de solidão.
Mas se ele é o pai do realismo mágico, sua avó, Dona
Tranquilina Iguaran Cotes, é literalmente a avó do gênero. García Marquez
creditou suas histórias, que "trataram o extraordinário como algo
perfeitamente natural", ajudando a definir seu estilo, á convivência com
ela.
De fato, talvez sejam os avós o maior presente de um
romancista, porque Garcia Márquez também disse que seu avô, o coronel Nicolás
Ricardo Márquez Mejía, foi um grande contador de histórias e que lhe ensinou
sobre a importância da história e da política. E foi a casa de seus avós em
Aracataca, que forneceu o cenário mítico para criar a cidadezinha de Macondo,
em Cem Anos de Solidão.
Mas nem tudo foi tão fácil assim.
O pai de García Marquez esperava que ele se formasse médico.
E ele, com uma inquietação interna, enfrentou as vontades da família para
deixar que a sua se sobressaísse. E, mesmo passando por momentos de extrema
miséria durante sua jornada, conseguiu se tornar um dos grandes escritores da
América Latina.
4. A inspiração em Falkner e Mark Twain
GETTY IMAGES
Foi na companhia de outros dois grandes homens da literatura
que Gabriel García Marquez cresceu: William Faulkner e Mark Twain.
Em sua biografia Viver para Contar, Gabo é constantemente
acompanhando por Luz em Agosto e também pelo clássico As Aventuras de
Huckleberry Finn.
Mesmo antes de dar nome ao "realismo mágico",
García Marquez se inspirava nesses dois para criar seus universos internos e
extravasá-los no papel. Uma escritora que entrou em contato e admirou muito?
Virginia Woolf.
Entre os outros autores preferidos dele estão Thomas Mann,
Alexandre Dumas, James Joyce, Herman Melville, Franz Kafka e Jorge Luis Borges.
Talvez da inspiração de todos esses tenha nascido o tão
aclamado realismo mágico criado em Cem anos de solidão.
5. A rivalidade com Mário Vargas Llosa
HERITAGE IMAGES/GETTY IMAGES
Sim. Gabriel García Márquez protagonizou um dos maiores
feudos da história recente da literatura. O episódio aconteceu com o seu também
colega de Prêmio Nobel e gênio da literatura latino-americana, Mario Vargas
Llosa.
Os romancistas, que se conheceram na Venezuela em 1967,
protagonizaram uma das rivalidades mais famosas no mundo literário desde que,
em 1976, no México, Vargas Llosa deu um soco no rosto de seu então amigo na
frente de testemunhas.
O motivo da disputa é um mistério desde então porque os
escritores mantiveram um pacto de silêncio de cavalheiros sobre o que
aconteceu.
Segundo a agência EFE, após a morte de García Márquez,
Vargas Llosa falou à emissora de TV peruana Canal N e disse:
"Morreu um grande escritor cujas obras deram grande
difusão e prestígio à literatura de nossa língua. Seus livros o sobreviverão,
continuarão a ganhar leitores. Envio meus pêsames a sua família"
6. A paixão por borboletas amarelas
AFP/GETTY IMAGES
Aparentemente pura e simplesmente porque gostava muito
delas.
Tanto que são elas que ilustram e seguem o personagem
sedutor e misterioso Maurício Babilônia em Cem anos de solidão:
"O cabelo-de-fogo norte-americano, que realmente
começava a lhe interessar, pareceu-lhe um bebê de fraldas. Foi então que
entendeu as borboletas amarelas que precediam as aparições de Mauricio
Babilonia. Vira-as antes, sobretudo na oficina mecânica, e pensara que estavam
fascinadas pelo cheiro da pintura. Alguma vez tê-las-ia sentido voejar sobre a
sua cabeça na penumbra do cinema. Mas quando Mauricio Babilonia começou a
persegui-la como um espectro que só ela identificava na multidão, compreendeu
quea s borboletas amarelas tinham alguma coisa que ver com ele. Mauricio
Babilonia estava sempre na plateia dos concertos, no cinema, na missa, e ela
não necessitava vê-lo para descobri-lo, porque o indicavam as borboletas."
Para lembrá-lo em seu primeiro aniversário de morte, Bogotá
fez uma série de homenagens: inaugurou um grande mural com a imagem do
escritor, as bibliotecas estão promovendo leituras no dia de hoje, e a
Biblioteca Nacional da Colômbia abriu exposição dedicada a escritor mais famoso
do país. E muitas, muitas, muitas borboletas amarelas voltaram a voar pelo
País.
Nascido em 6 de março de 1927, em Aracataca, Gabo foi a
figura mais popular da literatura hispânica desde Miguel de Cervantes. Só no
Brasil, segundo a editora Record, que publica suas obras no Brasil, seus livros
venderam, ao todo, 2,3 milhões de exemplares. O título que os brasileiros mais
compraram foi "Cem Anos de Solidão", com mais de 390 mil exemplares
vendidos.
Á época, a procura pelos livros de Gabriel García Márquez
aumentou com o anúncio de sua morte e a editora correu para imprimir novas
tiragens dos títulos de ficção do autor. Gabo deixou um inédito, "En
Agosto Nos Vemos", mas de acordo com a Record, a família não quer
publicá-lo, para a tristeza dos fãs.
Texto e imagens reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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