A ativista e jornalista Patrícia Galvão, a Pagu
As marcas e o legado do “furacão jornalístico” que foi
Patrícia Galvão, a lendária Pagu
Por Vanessa Gonçalves.
Fama de porra louca, tudo bem!", o verso da
música “Pagu, de Rita Lee, provavelmente representa o quanto a jornalista
Patrícia Galvão não dava importância para os comentários sobre seu pioneirismo
em diversas atividades: política, jornalismo, escritora, crítica literária,
feminismo entre tantas outras.
Porém, isso não apaga o fato de que, no início do século XX,
Pagu ousou deixar o espaço privado, local reservado ao público feminino, para
mostrar que a rua também pertencia às mulheres.
Com apenas 15 anos passou a colaborar com o Brás Jornal, um
veículo do bairro onde morava. No entanto, Patrícia passou a ter destaque no
cenário cultural brasileiro três anos depois, em 1928, “quando conhece o poeta
Raul Bopp, que a apresenta a Oswald de Andrade e aos intelectuais do
Modernismo”, afirma Lúcia Maria Teixeira, biógrafa da jornalista.
Segundo a escritora, “Patrícia se destacava pela ousadia,
exuberância e beleza, participando do Movimento Antropofágico, do qual até se
tornou musa e colaboradora”.
Com uma vida recheada de “escândalos” para a época, Patrícia
Galvão deu de ombros às críticas, assumiu o romance com o escritor modernista
Oswald de Andrade e mergulhou fundo na luta política, tornando a primeira
mulher presa política no Brasil. Como destaca a professora Maria Lygia Quartim,
“Pagu foi uma figura ímpar, corajosa. Pagou um preço muito alto pela coragem de
ter sido comunista sob a ditadura de Getúlio Vargas. E, principalmente por ser
uma transgressora”.
Mergulho político e jornalístico.
A carreira jornalística de Pagu ganhou força após sua união
a Oswald, quando juntos lançam o jornal "O Homem do Povo", que após
oito números acabou fechado pela polícia e empastelado por estudantes da
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Lúcia Maria Teixeira destaca que neste veículo Pagu “já
questionava a atuação das mulheres na sociedade, por meio das histórias em
quadrinhos e na coluna ‘Mulher do Povo’”.
Também é neste período que Patrícia publica seu primeiro
livro. Em “Parque industrial”, lançado em 1933, ela passa a ser alvo de
críticas, pois a obra considerada como panfletária, é carregada de um texto
inovador, quase “cinematográfico”.
De acordo com Maria Lygia, “coerente com suas heroínas
proletárias”, Pagu se filia ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e passa a
atuar na imprensa ligada ao “Partidão”, chegando inclusive a morar numa vila
operária.
Embora tivesse um filho pequeno, fruto de seu casamento com
Oswald de Andrande, Patrícia Galvão se joga de cabeça na militância política e
sai viajando pelo mundo como correspondente de jornais do Rio e de São Paulo.
Nessas viagens visita China, União Soviética e França. Ao
chegar em Paris, ingressa no Partido Comunista Francês e passa a militar sob a
identidade de Leonnie. Acabou sendo presa e repatriada para o Brasil.
O contato com o jornalismo produzido no exterior influenciou
bastante Pagu em sua produção para a imprensa brasileira. Segundo Lúcia Maria,
“vários textos refletem essa riqueza de experiências de uma mulher que deu a
volta ao mundo sozinha, fato pouco comum na época”.
Crédito:Reprodução
Patrícia Galvão, a Pagu
“Durante sua volta ao mundo, Patrícia registrou as
experiências, embora o partido não permitisse sua atividade”, diz a biógrafa.
Entretanto, a personalidade pronta para derrubar tabus não deixou por menos,
peitou o Partidão e colocou o bloquinho para funcionar. “Em Hollywood, ela
entrevistou diversas personalidades, como os atores Mirian Hopinks e George
Hafl, e em uma viagem de navio para China, até Sigmund Freud foi um de seus
entrevistados”, revela a escritora.
Já separada do escritor modernista, participou ativamente do
Levante Comunista de 1935 e acaba sendo detida, torturada e condenada a dois
anos de prisão. Como primeira presa política no Brasil, “amargou no cárcere o
status de inimiga pública do presidente Getúlio Vargas”, garante sua biógrafa.
No entanto, o período no presídio ofereceu elementos que
fortaleceram o trabalho de Pagu como jornalista posteriormente. “Essa foi a
primeira de suas 23 prisões. Essa e outras experiências a marcaram
profundamente e se refletiram em suas obras”, afirma Lúcia Maria Teixeira.
Pioneirismo ao estilo Pagu
Multifacetada, Patrícia Galvão é figurinha carimbada de
importantes momentos políticos, culturais e sociais do Brasil entre 1910 a
1962. É inegável sua busca pela vanguarda em todos os setores onde atuou,
especialmente no jornalismo e na literatura.
Num período em que jornalistas não precisavam ser
especializados em tudo, Pagu já abordava em suas colunas questões da área
cultural, política e da narrativa de fatos do cotidiano, passando por esses
temas como grande desenvoltura. “Grande parte da obra de Pagu exige do
pesquisador uma leitura dedicada e ampla, além, é claro, da atemporalidade dos
textos. Como sempre esteve à frente de seu tempo, Pagu é moderna e pós-moderna
nas suas críticas e expressões sobre o cotidiano social e no que trouxe ao
público brasileiro de autores estrangeiros de literatura e teatro, através de
suas colunas”, ressalta sua biógrafa.
Como crítica literária espantava por falar com propriedade
sobre autores desconhecidos no Brasil e até no restante no mundo, sem contar
seu papel como incentivadora cultural, apoiando o teatro amador.
Para as estudiosas sobre a vida e a obra de Patrícia Galvão,
“Pagu foi hostilizada e teve de suportar a solidao daquelas que estao muito à
frente de seu tempo”. “Ela abriu caminho em várias áreas, inclusive no
jornalismo. Se fosse viva, é claro que lutaria pelos direitos das jornalistas”,
acredita Maria Lygia.
Lúcia Maria Teixeira conclui analisando o papel e a
importância de Patrícia Galvão para o jornalismo brasileiro. “No jornalismo
cultural, trouxe autores ligados à inovação e ruptura, incentivou o surgimento
de talentos na literatura, no teatro, na arte. Em todos os momentos, foi
jornalista, na acepção da palavra, procurando registrar a atmosfera de sua
época, antecipar e trazer para o Brasil as tendências e discussões ligadas à
aventura do existir”.
Texto e imagens reproduzidos do site: portalimprensa.com.br
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