Imagem de Mathues Calafange.
Postado por MD, para ilustrar artigo.
Publicado originalmente no Portal Infonet, em 22/03/2017.
A era das redes e as novas visibilidades do corpo.
Com as redes sociais o corpo passa a ser objeto de exposição.
Anailza Guimarães Costa
E-mail: anailza@getempo.org
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente
(GET/UFS/CNPq)
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/
UFS)
Orientador: Dr. Dilton Cândido Santos Maynard (DHI/UFS).
Hoje vivemos a era da quebra dos tabus e de uma maior
tolerância em relação a sexualidade, maior inclusão e diversidades do que
séculos atrás. Enquanto no passado, em 1504, Isabel de Castela morria de uma
ferida que não queria mostrar aos médicos, recebendo a extrema-unção sob os
cobertores para não mostrar nem os pés, hoje nas bancas de jornal e revistas
exibem “mulheres frutas”, seminuas ou até mesmo nuas, sendo comum propaganda de
lingeries, casais trocando carícias nas telas do cinema e televisão e homens e
mulheres que conseguem assumir mais abertamente sua orientação sexual. A
exibição de várias formas nunca foi tão bem recepcionada quanto no nosso
século.
A internet abriu novos caminhos, trouxe universos de possibilidades
à sexualidade e aos comportamentos sociais. Desde sites de relacionamentos,
pornografia, tudo se encontra no mercado virtual. Pouco se fala ou se valoriza
a privacidade. O que interessa é jogar nas redes o que esta fazendo, para onde
vai e exibir o máximo possível sua vida pessoal. Na internet através de
mensagens começam-se paqueras, namoros, faz-se sexo por vídeos. Se antes se
pregava o pudor e recatamento por baixo de muitas vestes, hoje vivemos na era
do narcisismo em que se exibir de todas as formas é um padrão social.
Nas redes sociais o que mais temos é a valorização do
narcisismo, a exemplo das selfies, fotos tirado de si próprio, além da
necessidade de expressarem opiniões sobre todos os assuntos e de ser precioso o
rito de quanto mais curtidas melhor. A internet têm popularizado cada vez mais
as ações de cada um através das redes sociais e também tem sido reflexo da nova
educação do corpo que a sociedade atual criara.
Esta educação do corpo no passado foi modelada por processos
civilizatórios, que deram sanções corporais, acentuando seu refinamento,
desenrolando suas sutilezas e proibindo o que não parecia decente. Foram muito
comuns em séculos anteriores, manuais que surgiram como um conjunto de regras e
conselhos necessários para o bom desempenho da vida social por conta da
necessidade de adesão as práticas civilizadas.
Não fazer necessidades nas ruas, andar bem asseado, saber se
portar à mesa, ter cuidados com as vestimentas, ter cuidado com a intimidade
sexual eram os ensinamentos para a educação do corpo.
Haviam normas/comportamentos próprios para se mostrar no
público e os limites do que era reservado a esfera privada também eram claros.
No entanto, as redes sociais vêm reconfigurando os modos de se portar, há uma
nova “educação” para se sentir e perceber o corpo na relação público X privado.
Diante disso, em tempos de internet, podemos nos perguntar:
quais os limites entre o público e o privado? Quais os limites dessa nova
visibilidade do corpo? Em tempos de redes sociais, evoluímos ou retrocedemos?
Nem um e nem outro. Na verdade, estas mudanças fazem parte de um longo processo
de transformação social favorecidas por mudanças políticas, educacionais que
moldaram o comportamento da sociedade e, também fazem parte da nova educação do
corpo, reflexo da sociedade que valoriza mais as aparências.
Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs/getempo
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