segunda-feira, 12 de maio de 2025

Como surgiu minha paixão por cinema (e premiações)

Artigo compartilhado do site MONDOMODA, de 27 de fevereiro de 2025

Como surgiu minha paixão por cinema (e premiações)
Por Jorge Marcelo Oliveira

Lembro-me de ter assistido a um filme de terror pela televisão quando eu era bem pequeno. A trama era: um casal viajava de carroça e sofrem um acidente. A mulher se machuca. O casal é ajudado por uma mulher, que mora numa casa próxima. Depois de abriga-lo, ela se interessa pelo homem. Começa a recolher fios de cabelos da doente para fazer uma bonequinha de vodu. Conforme enfia espetos, a doente vai piorando. Não me lembro de como aquilo terminou, mas fiquei pensando naquela estória por um bom tempo.

Porém, nada se comparou com a primeira vez que pisei numa sala de cinema.

Não tenho certeza se foi Piracicaba (onde nasci) ou Americana (onde morei dos seis aos 15 anos), mas o filme era “Fuga da Montanha Encantada” (Escape to Witch Mountain, EUA). Como era uma produção de 1975, provavelmente foi exibida no Brasil no ano seguinte.

Eu deveria ter uns oito ou nove anos. Foi um impacto. O tamanho da sala… Da sala de cinema… Da quantidade de cadeiras… E as primeiras imagens que foram surgindo na tela! Foi uma emoção sem tamanho.

Além dos brinquedos, TV e música, nasceu minha paixão por cinema.

Oscar

A primeira cerimônia Oscar que assisti foi em março de 1980. Ano das vitórias de ‘Kramer vs Kramer’ (filme), Dustin Hoffman (ator) e Meryl Streep (atriz coadjuvante). Eu tinha 13 anos. Não tenho certeza, mas acredito que não tenha assistido qualquer um dos indicados. Tudo estreava com até um ano de atraso no Brasil.

Piorava o fato de quem eu morava em Americana, que contava apenas com uma única sala de cinema. Visitava Campinas nos finais de semana e nem sempre minha mãe tinha boa vontade de me acompanhar aos cinemas do centro da cidade, como os Cines Windsor, Regente, Jequitibá ou Ouro Verde.

Mesmo sem conhecer os filmes concorrentes, gostei da dinâmica da premiação. Gostei da ideia de um ator, atriz, etc, ser reconhecido por talento (pelo menos era assim que acreditei durante décadas).

Conforme o tempo foi passando, meu interesse também aumentou. Lembro-me de que, nas vésperas do Oscar, eu me programava para assistir tudo o que era indicado.

Quarta-feira era o dia mais barato. Cheguei a assistir até três filmes no mesmo dia. Percorria igual um maluco as ruas Regente Feijó (Cines Windsor e Regente), General Osório (Jequitibá) e Conceição (Ouro Verde) para não perder nenhum trailer. Quando surgiram as duas salas do Cine Serrador, no Iguatemi Campinas, as coisas ficaram um pouco mais complicadas.

Eu dependia de ônibus. Assim, antes de sair de casa, eu fazia um roteiro com os horários para não me atrasar em nenhuma sessão.

Conforme fui amadurecendo, comecei a me interessar pelas cinematografias do Brasil e de outros países. Assim, cineclubes entraram no roteiro.

Escrever sobre o assunto

Comprava revistas e livros sobre cinema – a saudosa Cinenim se tornou obrigatória. Esta revista foi um marco. Começou a encartar fascículos mensais sobre a História do Oscar. Finalizados, levara a uma gráfica para encaderna-los. Ainda hoje, é o mais completo livro sobre o assunto publicado no país. O jornalista, pesquisador e crítico de cinema carioca fez um trabalho incrível para escrever tal obra. Ele faleceu em agosto de 2006.

Certamente é o livro que mais li em toda a vida. Decorei cada premiado entre 1927 a 1992 – ano da segunda edição do livro. Pessoas próximas costumavam me testar sobre isso. Claro que com o tempo, fui me esquecendo de algumas coisas. Normal.

Também comecei a montar um arquivo organizado em ordem alfabética sobre atores, atrizes e diretores. No início da década de 2000, eu contava com dez caixas de papelão com folhas de sulfite tamanho A4. Eu me dedicava com afinco ao assunto. Um dia, coloquei tudo no meu carro e levei para doar para a Biblioteca Municipal de Campinas. Pedi para falar com o diretor. Fui mal atendido. Ele nem quis ver o que trouxe. Recusou. Segundo ele, não existia interesse naquilo. Tentei outro local. Também foi recusado. Sem saber o que fazer, meu arquivo que dediquei por 30 anos foi para o lixo.

Outra coisa que comecei a fazer foi escrever resenhas em cadernos. Inicialmente, eram diários pessoais. Porém, num determinado momento, parei de relatar meu dia-a-dia. Mudei o foco. Nas últimas páginas eram dedicadas a uma lista com datas, nomes dos filmes e diretores. Em dezembro, preparava minhas listas dos melhores. Estes cadernos ainda estão guardados.

A partir de 2017, com a criação do MONDO MODA, publico minhas resenhas. Eventualmente gravo para o You Tube e outras redes sociais.

Perda do romantismo

A partir de 1996, assinei o primeiro pacote de TV a cabo. Assim, tive acesso as cerimonias de entrega do Grammy, Globo de Ouro, Emmy, SAG, Tony, VH1 Fashion Awards, Billboard, etc. Com a evolução da internet e o surgimento das plataformas de Streaming, meu acesso aos filmes – e séries – aumentou.

Nas temporadas de premiações, assisto praticamente todos os filmes concorrentes em variadas categorias.

Depois de décadas acompanhando cerimônias de premiação e acesso ao vasto universo de informações, as coisas foram mudando. Quando conheci os sites internacionais especializados no mercado do entretenimento, que explicam de forma detalhada as matemáticas usadas pelos estúdios, campanhas, organizações, academias, associações e sindicatos envolvidos com a indústria do cinema.

Conforme fui entendendo os mecanismos do sistema fui perdendo o romantismo, a ingenuidade e a crença de que, ‘ganha quem realmente merece’. Não é nada disso. É um jogo de cartas marcadas!

Hoje (há alguns anos para ser mais exato), assisto premiações sabendo o que vai acontecer. Sei quem serão os vencedores em praticamente todas as categorias. Adoro me surpreender quando algo foge da regra. São os únicos momentos nos quais aquele menino ingênuo e apaixonado por cinema – que ainda habita em algum lugar no meu subconsciente – ganha vida e vibra! Infelizmente estes momentos são raros.

Eu gosto de assistir filmes no cinema, mas confesso que, faz muitos anos que este hábito tornou-se um processo.

Pessoas não sabem se comportar no coletivo. Numa sala escura de cinema, elas falam, cacarejam, relincham, grunhem, gemem, gritam, deixam o celular ligado… Comem iguais porcos. Elas se comportam da mesma forma que fazem dentro de casa.

Já discuti e briguei demais com este tipo de gente. Não quero mais. Sabe aquela ridícula pergunta: “O que você prefere? Brigar por sua opinião ou ter paz?” É lógico que quero paz!

Hoje, quando realmente desejo assistir a um filme numa sala de cinema, escolho um horário no qual sei que a sessão estará praticamente vazia. Nem sempre isso é possível, lógico.

Se puder assistir ao filme em casa, não penso duas vezes. Não tenho mais esta fantasia que filme é para assistir numa sala escura de cinema.

Outro ponto a considerar: o preço do ingresso e o valor do estacionamento. Dependendo do dia, o valor é surreal. Eu me recuso a pagar R$ 100 para assistir a um filme numa sala de cinema, no qual tenha que dividir espaço com algum imbecil.

Pensa: pagar caro para assistir um filme, para estacionar meu carro e ainda correr o risco de me irritar com pessoas sem educação? É muito masoquismo! E não é minha praia!

Quem gosta de cinema assiste em qualquer veículo. Até pelo celular, se for preciso!

Texto e imagem reproduzidos do site: mondomoda com br

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